Opinião: Já tinha saudades do Mónaco

Por a 18 Maio 2021 15:30

O GP do Mónaco está de volta depois da interrupção forçada em 2020. As ruas do principado voltam a receber os carros mais rápidos do mundo, num espetáculo único.

Já tinha saudades do Mónaco. Por muito que se diga que as corridas são aborrecidas (nunca o serão), que a pista já não se adequa aos carros atuais, ou que o espetáculo é de pouca qualidade, tudo isso não faz sentido quando se vê homem e máquina em perfeita harmonia, a velocidades que não fazem sentido.

O GP do Mónaco 2021 é a primeira corrida num citadino puro desde 2019. É preciso recuar até 22 de setembro de 2019 para nos lembrarmos da última visita a um traçado citadino, na ocasião o de Singapura. Sochi pode ser considerada uma pista citadina, mas não tem os ingredientes que tornam os verdadeiros citadinos únicos. É verdade que os citadinos não oferecem muitas oportunidades de ultrapassagem e que as corridas podem tornar-se em procissões, mas a emoção, a exigência nas máquinas e nos pilotos tornam esse argumento pouco lógico para quem gosta verdadeiramente de corridas.

Num mundo em que tudo gira à volta de números, satisfação imediata e da necessidade do drama, já poucos dão valor a uma corrida de F1 se não tiver no mínimo 50 ultrapassagens, três acidentes e uma aparição de um Ovni. A corrida de Barcelona, por exemplo, não foi emocionante como as duas primeiras do ano, mas esteve longe de ser uma má corrida ou desinteressante até, com a luta estratégica a dar-nos uma outra dimensão do que pode ser uma corrida de F1. Quem passou pelas redes sociais e viu os comentários ficou com uma ideia muito diferente da realidade. É por isso que os citadinos têm uma beleza única, pois forçam-nos a valorizar pormenores que tendem a ser esquecidos mas que são importantes. 

Ver uma volta de qualificação num citadino é ver os pilotos a atingirem a excelência que tantas vezes procuram. Não é por acaso que algumas das melhores voltas de sempre foram feitas em citadinos. Lewis Hamilton em Singapura, Ayrton Senna no Mónaco, apenas para dar os exemplos mais sonantes. O sábado, que já é uma parte importante do espetáculo da F1, torna-se ainda maior num citadino.

Regressar ao Mónaco é regressar ao palco onde os grandes pilotos se tornaram ainda maiores, onde apenas os melhores conseguem ir buscar o décimo de segundo extra e não cometem um erro durante as quase 80 voltas ao traçado recheado de solavancos, curvas apertadas e sempre com as proteções demasiado perto. É regressar a um lado mais puro da F1 e das corridas, algo que acontece invariavelmente nos citadinos, em que a qualidade da corrida não é avaliada apenas pela estatística. É a coragem de tentar travar mais tarde que os outros, a inteligência de escolher o sítio certo para ultrapassar e a magia de ver máquinas a alta velocidade onde no resto do ano há trânsito parado.

Por muito que digam que os citadinos não são adequados para corridas, irei sempre defender a sua existência pois são eles que nos levam de volta a um tempo onde os limites de pista não eram tema de conversa e as escapatórias não existiam. Um mundo onde apenas os melhores podem singrar e onde nos mostram o melhor que têm para dar. Pistas onde a expressão “Pure Racing” faz mais sentido.

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Homem_do_Leme
Homem_do_Leme
2 anos atrás

Pois eu não! Tirando os treinos a corrida é uma autentica seca.

917/30
2 anos atrás

Adoro o GP do Mónaco, belas recordações de corridas míticas, 1970,1981/2/3/4/5,1992/6, 2018 etc., tem um ambiente diferente e como dizia o saudoso Vasco Sameiro “é lá que se vê quem guia”.

jcf
jcf
2 anos atrás

Sem dúvida. É um dos poucos locais onde o paradigma pelo qual as corridas de automóveis foram criadas – testar pilotos e máquinas em circuitos difíceis para pilotos e máquinas – ainda existe em todo o esplendor. Mónaco é o circuito onde é mais alta a percentagem de influência do piloto no desempenho do binómio homem-máquina. Circuito desafiante, desgastante física e psicologicamente para os pilotos, imperdoável. É uma maravilha assistir ao trabalho dos pilotos no Mónaco. Uma das poucas corridas de F1 que ainda merece que a veja em direto.

can-am
can-am
2 anos atrás

Na última década,e salvo alguma excepção,os GPs no Mónaco têm sido monótonos. Há 2 anos ao que julgo,o Hamilton conseguiu lá uma das mais incriveis vitorias,ao aguentar-se “sem pneus” uma série de voltas,que quase ninguém na equipa acreditava ser possível.Mas é nisso que se vê os realmente grandes. O circuito é realmente ridículo,para mais com os trailers que são os carros de hoje em dia.Mas a tradição manda e ainda bem.Pelo menos aqui os erros pagam-se caro, coisa que infelizmente não sucede com as pistas de plástico que formam o resto do calendário, com excepção duma Monza,dum Baku e pouco… Ler mais »

Lagaffe
Lagaffe
2 anos atrás

Texto muito bonito mas se esse citadino não se chama Mónaco não tem interesse algum.
95% da coragem e arte só é necessário no Sábado, no domingo até de pneus carecas consegue-se ficar à frente dos adversários.
É perigoso quando um jornalista especialista consegue ver beleza numa corrida como a de Barcelona. Não fosse uma estratégia de pneus distinta por parte da Mercedes era uma corrida para dormir.

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