Opinião: Dois predestinados, tão diferentes mas tão iguais

Por a 9 Dezembro 2021 11:38

2021. A época em que a F1 voltou ao que sempre deveria ter sido. A época em que o mundo voltou a olhar para a F1 com atenção e não apenas numa nota de rodapé com o nome do vencedor. A época em que dois talentos se enfrentaram, num duelo intenso, como há muito não se via.

Lewis Hamilton e Max Verstappen têm feito correr muita tinta este ano. Uma época emocionante em que os dois prodígios da F1 se enfrentaram numa luta tão renhida que 20 corridas depois, nada os separa. A igualdade de pontos para a derradeira prova do ano é talvez um prémio para todos. Para os pilotos que partem (quase) em igualdade de circunstâncias e para os fãs que mereciam um final apoteótico (esperamos nós) numa época que muitas vezes nos deixou de boca aberta.

Lewis Hamilton é o “Sr. F1”. O seu nome aparece nos recordes mais apetecíveis da competição e a sua marca perdurará para sempre na história deste desporto. O seu CV é impressionante com vitórias na Fórmula Renault UK, Fórmula E Euro Series, GP2, sete títulos conquistados, 103 vitórias e poles(36% de taxa de sucesso), 181 pódios (63% de taxa de sucesso). As piores épocas de Hamilton foram dois quintos lugares em 2009 e 2011 e em 15 épocas terminou fora do top 3 apenas por 5 vezes. Curiosidade, nunca foi terceiro classificado. Estreou-se na F1 com um vice-campeonato e no ano seguinte conseguiu melhorar, sagrando-se campeão. Enfrentou no seu ano de estreia um Fernando Alonso bicampeão e desde então tem se batido com alguns dos melhores nomes da F1, levando invariavelmente  a melhor. Lewis Hamilton é agora um piloto diferente e a idade fez-lhe bem. A instabilidade e inconsistência que por vezes o prejudicava nos tempos da McLaren nunca foi vista na Mercedes, casa que lhe deu a liberdade para ser ele mesmo, sem espartilhos, e onde o seu talento ganhou asas. Hamilton está perto de fazer história e conquistar um inédito oitavo título. Mas para isso terá de enfrentar outro prodígio. Max Verstappen.

Verstappen cresceu no meio das corridas, e o seu pai Jos também ele piloto de F1 permitiu ao jovem neerlandês subir até à F1 a um ritmo sem precedentes. Verstappen simplesmente dominou nos kartings, onde o seu talento despontou e espantou muitos. A sua preparação para a F1 foi diminuta, apenas uma época na Fórmula 3 Europeia. Saltou muitas etapas e a sua chegada à F1 foi questionada por muitos. O talento era claro e a forma como segurou o carro no seu primeiro treino em Interlagos deixou todos com a certeza que estava ali um miúdo especial. Mas a F1 exige mais do que talento. O crescimento de Verstappen não foi fácil e teve de aprender lições contra “os grandes” frente a milhões de pessoas, as mesmas lições que outros aprenderam nas categorias de iniciação, com muito menos pressão. Se fizermos uma comparação direta com o seu adversário na luta pelo título, os números são claros. 19 vitórias (14% taxa de sucesso), 12 poles (9%), 59 pódios (42%). Verstappen luta pelo seu primeiro título no automobilismo, não vence um “caneco” desde 2013 e nunca teve uma amostra da pressão que enfrenta este ano. É por isso que o #33 é espantoso. Todos os pilotos da sua geração (Leclerc, Russell, Norris), de uma forma ou outra, estiveram envolvidos em lutas pelo título nas categorias de iniciação e já sentiram a pressão dessa luta. Verstappen chega a Abu Dhabi sem qualquer referência. Surpreendentemente, tem encarado a época com uma leveza quase desconcertante e raramente acusou de forma clara a pressão de lutar contra o piloto mais bem sucedido da F1.

Hamilton e Verstappen são pilotos completamente diferentes. Além da diferença de idades, a sua postura em pista é distinta, com Verstappen a ser muito mais agressivo (apesar de ser mais frio) e Hamilton a ser mais ponderado (apesar de ser o que reage de forma mais emocional ao que acontece). Um contraste interessante entre dois pilotos tão diferentes mas… tão iguais. A sua sede de vencer é igual, o seu talento é equivalente, a forma como surpreenderam o mundo em tenra idade é semelhante.

Qual o melhor? Uma pergunta impossível de responder. Cada um tem muitos pontos fortes e poucos pontos fracos. Cada um sabe jogar os seus trunfos da melhor forma. Mas apesar de estarmos perante dois predestinados, este ano vimos o melhor de cada um e também momentos menos conseguidos, provando-nos que apesar de tudo… são humanos. A única certeza que temos, é que no final da corrida em Yas Marina, vai vencer o melhor. Hamilton e Verstappen estiveram a um nível à parte, onde ninguém se atreveu a tentar chegar. Foram efetivamente os melhores. Depois de anos a pedirmos um confronto que nos fizesse colar ao ecrã, as nossas “preces” foram atendidas e os deuses das corridas deram-nos um confronto de titãs, tão diferentes por fora… mas tão iguais por dentro. Que o final seja digno de uma época tremenda.

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2 Comentários
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can-am
can-am
2 anos atrás

O Vestappen, ao contrário do Hamilton,nunca teve a sorte de entrar pela porta grande na F1,ou seja ter logo de entrada um carro para ser campeão. ( e o titulo de 2007 escapou-lhe em circunstâncias “esquisitas”,nunca esquecer). Tem andado a pastar nestes anos todos, levando muita critica da media nos primeiros anos,sempre sem ter uma montada que fizesse a diferença,ao contrário do inglês. Apenas este ano, sendo pelo nº de provas que correu, já um veterano, dispôe de carro,pelo menos para tentar o titulo. Arrisca-se a ser uma espécie de Chris Amon moderno ( espero enganar-me). Quanto ao Hamilton,os números… Ler mais »

Last edited 2 anos atrás by Speedway
ZeCambota
ZeCambota
2 anos atrás

Gostei da forma habilidosa “este ano vimos o melhor de cada um e também momentos menos conseguidos”. Não falaram no pior de cada um porquê? Porque seria só sobre um?

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