MEMÓRIA: GP da Grã-Bretanha F1 2003, invasão de pista e vitória de Rubinho Barrichello

Por a 7 Março 2023 12:55

No ano em que um fanático invadiu a pista e por pouco não foi ceifado por Pizzonia, a vitória acabou por sorrir a Rubens Barrichello depois de um intenso duelo com Kimi Räikkönen. Já lá vão 20 anos, mas não foi a última vez que sucedeu, pois o ano passado em Silverstone, também, na primeira volta do Grande Prémio manifestantes invadiram a pista, mas a corrida já estava interrompida com bandeira vermelha após o grave acidente de Zhou Guanyu na partida.

O GP da Grã-Bretanha de 2003 teve um pouco de tudo, incluindo uma inesperada invasão de pista à 12ª volta por um fanático religioso, que só por pouco não foi atropelado pelo Jaguar de António Pizzonia, mas forçou a neutralização da corrida até ser retirado á força do circuito. Mas se foi isso que ficou na memória de quem não segue de perto a F1, para os adeptos o que ficou dessa edição da corrida de Silverstone foi a enorme emotividade que se viveu em pista.

Com as temperaturas a alternarem bastante durante a corrida, consoante o sol estava descoberto ou o céu nublado, o equilíbrio de forças entre os pneus da Michelin e da Bridgestone modificou-se por diversas vezes, provocando mudanças de posição quase permanentes.

Rubens Barrichello e Kimi Räikkönen foram os principais protagonistas da corrida, mas a Toyota também teve o seu dia de glória, pois ao não reabastecerem durante o período de Safety Car, Cristiano da Matta e Olivier Panis lideraram a prova durante 17 voltas. No final acabou por prevalecer o brasileiro da Ferrari, que teve o mérito de superar Räikkönen na pista por duas vezes, enquanto o finlandês acabou mesmo por cair para o terceiro lugar, depois de ter cometido um erro que facilitou a ultrapassagem de Juan Pablo Montoya.

Momento-chave

O momento decisivo da corrida não dependeu de qualquer reabastecimento e sim de uma grande ultrapassagem durante a corrida, à entrada para a última parte da prova, já depois de concluído o segundo reabastecimento dos primeiros. Foi magnífica a segunda ultrapassagem de Barrichello a Räikkönen, na 42.ª volta, que permitiu ao brasileiro da Ferrari assumir o comando de forma definitiva, provando que estava em dia muito inspirado e dispunha dum Ferrari muito competitivo, ao afastar-se do McLaren-Mercedes do finlandês ao ritmo de um segundo por volta.

Nesse dia ficou claro para toda a gente que Rubens Barrichello esteve soberbo, ao seu melhor nível, tendo feito a que passamos a considerar como a melhor corrida da sua já longa carreira na Fórmula 1. Depois de ter perdido dois lugares na partida, por ter os pneus frios após esperar demasiado tempo pela formação da grelha definitiva, Barrichello não tardou a mostrar que tinha carro para ganhar e, sobretudo, estava determinado a lutar pela vitória. Por isso, nem os lugares perdidos, aquando da caótica entrada nas boxes de 14 carros na mesma volta para reabastecerem, impediram o brasileiro de continuar a perseguir o seu objetivo, com uma combatividade e determinação que servem para mostrar que os seus detratores não tinha razão, e que ‘Rubinho’ era mesmo um dos melhores pilotos da F1. Com o companheiro de equipa atrasado, Barrichello cumpriu perfeitamente o seu papel, dando uma vitória à Ferrari e roubando a Räikkönen e às equipas rivais pontos que foram preciosos na hora de fazer as contas finais dos campeonatos.

Filme de uma grande corrida

“O Rubens fez uma corrida perfeita, com algumas ultrapassagens excecionais, por isso mereceu a vitória e estou feliz por ele.” Esta curta análise diz tudo, mas ganha um maior significado se considerarmos que foi Michael Schumacher que a fez, no final da melhor corrida dos últimos anos, marcada por dois incidentes pouco comuns.

Há muito tempo que não se assistia a uma corrida tão movimentada e com tantas ultrapassagens, e fazendo jus à competitividade que o levou à vitória, Barrichello contribuiu para o espectáculo com cinco ultrapassagens magníficas, duas delas a Räikkönen, que noutras corridas se mostrara uma barreira intransponível para o brasileiro. Na corrida de Barrichello houve apenas um ponto menos positivo, que foi a partida, uma vez que o brasileiro estava na pole e perdeu duas posições para Trulli e Räikkönen: “Durante a volta de aquecimento, apesar de ter arrancado devagar, quando acelerei um pouco para aquecer os travões e os pneus, o Jarno não me acompanhou e deixou abrir um grande espaço, quando deveria ter-se mantido próximo de mim. Assim, tive que reduzir bastante a velocidade perto do final dessa volta, e depois esperei ainda bastante tempo na grelha, pelo que os meus pneus ficaram frios e não tinham aderência quando arranquei.” Pormenores…

Quando os pneus voltaram a aquecer, Barrichello recuperou rapidamente os quase dois segundos que perdera para Räikkönen nas duas primeiras voltas e ainda conseguiu ultrapassá-lo antes da segunda intervenção do Safet Car e do “reabastecimento coletivo” que se seguiu.

Deste resultaram grandes alterações no ordenamento dos pilotos, levando Barrichello a cair para oitavo, mas sem que isso o impedisse de se lançar em recuperação do segundo lugar, por forma a tentar chegar ao comando. O que veio a conseguir após o segundo reabastecimento, que Barrichello “preparara” com uma série de cinco voltas muito rápidas, em que bateu sucessivamente o recorde da pista, para reduzir de 9,4 para 1,1 segundos a sua desvantagem para Räikkönen, o que deixou o finlandês ao alcance do Ferrari e à mercê dos ataques do brasileiro, que acabou por concretizar a ultrapassagem a 18 voltas do final da corrida.

Montoya também contribuiu para roubar dois pontos a Raïkkönen e permitir que Michael Schumacher só perdesse um ponto para o finlandês, apesar de ter terminado em quarto, mas após uma boa recuperação a partir do 15.º lugar, posição em que ficou após o primeiro reabastecimento. Depois foi a luta no meio dum pelotão muito aguerrido.

Má segurança do circuito

Deixar entrar um espetador na pista, no decurso de um Grande Prémio, é pouco abonatório para a capacidade e competência dos controlos de segurança de qualquer circuito. Já acontecera em Hockenheim, em 2000, voltou a suceder em Silverstone, com um desequilibrado a colocar em grande risco a própria vida e, sobretudo, a ameaçar igualmente a integridade dos pilotos, que apesar de muito bem protegidos, também poderiam sofrer consequências graves se não conseguissem evitar uma colisão com o ‘invasor’, um irlandês que foi muito infeliz, afinal, na escolha do lugar em que resolveu fazer exortações religiosas e aconselhar a leitura da Bíblia…

Classificação

Cla. Piloto Carro Tempo/Dif.

1º Rubens Barrichello Ferrari F2003-GA/Ferrari V10 1h28m37,554s

2º Juan Pablo Montoya Williams FW25/BMW V10 a 5,462s

3º Kimi Räikkönen McLaren MP4-17D/Mercedes V10 a 10,656s

4º Michael schumacher Ferrari F2003-GA/Ferrari V10 a 25,648s

5º David Coulthard McLaren MP4-17D/Mercedes V10 a 36,827s

6º Jarno Trulli Renault R23B/Renault V10 a 43,064s

7º Cristiano da Matta Toyota TF103/Toyota V10 a 45,085s

8º Jenson Button BAR 005/Honda V10 a 45,478s

9º Ralf Schumacher Williams FW25/BMW V10 a 58,032s

10º Jacques Villeneuve BAR 005/Honda V10 a 1m03,569s

11º Olivier Panis Toyota TF103/Toyota V10 a 1m05,207s

12º Heinz-Harald Frentzen Sauber C22/Petronas V10 a 1m05,564s

13º Ralph Firman Jordan EJ13/Ford V10 a 1 volta

14º Mark Webber Jaguar R4/Cosworth V10 a 1 volta

15º Jos Verstappen Minardi PS03/Cosworth V10 a 2 voltas

16º Justin Wilson Minardi PS03/Cosworth V10 a 2 voltas

17º Nick Heidfeld Sauber C22/Petronas V10 a 2 voltas

Abandonos

Fernando Alonso (Renault R23/Renault V10)

Giancarlo Fisichella (Jordan EJ13/Ford V10)

Antonio Pizzonia (Jaguar R4/Cosworth V10)

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