Lando Norris – Uma estrela em ascensão

Por a 9 Agosto 2021 14:30

Lando Norris tem sido um dos destaques desta época, com o jovem piloto a ser elogiado de forma unânime, deixando o rótulo de esperança para se tornar numa certeza na F1.

Em 2019 chegou à F1 um miúdo franzino, de 18 anos, com sorriso fácil e cara de traquina. Lando Norris entrou no Grande Circo, sendo uma aposta pessoal da McLaren e em especial de Zak Brown, CEO da marca. Norris, desde cedo mostrou grande talento e potencial , com uma coleção de troféus que foi sempre aumentando. Foi campeão na F4 britânica (2015), na Fórmula Renault Eurocup e NEC (2016), Toyota Racing Series (2016), na F3 europeia (2017), sendo vice-campeão na F2 (2018) e segundo classificado no GP de Macau (2017), num reflexo do que vimos de Norris nos Karts, onde foi somando vitórias e títulos.

Começo tímido mas convincente

No entanto nem sempre uma excelente carreira nas categorias de iniciação é sinónimo de sucesso na F1 e são muitos os exemplos de pilotos que conseguiram evidenciar-se enquanto jovens, mas que chegaram à F1 e não conseguiram as mesmas performances. Lando Norris chegou com um ar tímido, mas algo irreverente, com muita humildade e com vontade de aprender. Entrou na equipa certa ,no momento certo. Depois de uma fase muito conturbada, em que desperdiçou o talento de Kevin Magnussen e Stoffel Vandoorne, a McLaren fez uma reestruturação, contratou pessoal chave para a sua área técnica e diminuiu as expetativas, olhando para a evolução a longo prazo, sem pressão. O ambiente na McLaren tornou-se mais leve, muito graças à entrada de Norris e da boa relação que criou com Carlos Sainz, o piloto contratado para substituir Fernando Alonso. Para ter sucesso é preciso uma ponta de sorte e Norris aterrou numa equipa de topo, com potencial para lutar por títulos, mas numa fase de ressurgimento, onde pôde crescer com a equipa, sem demasiada pressão.

A primeira época foi positiva para um estreante, com 49 pontos arrecadados (contra 96 de Sainz), sendo o segundo melhor rookie, atrás de Alex Albon. O segundo ano foi melhor, com 97 pontos conquistados e um pódio, contra 105 de Sainz, o que evidencia uma grande evolução. O miúdo que era tão tímido dentro de pista como fora dela, começou a arriscar um pouco mais, a ter mais confiança e a mostrar mais. No entanto, surgia a dúvida: seria Norris capaz de lutar por títulos? Seria a sua abordagem leve e bem disposta a ideal para ter sucesso na F1? A resposta surgiu este ano.

2021, o ano da confirmação

Sainz mudou-se para a Ferrari e para o seu lugar chegou o consagrado Daniel Ricciardo, considerado por todos como um dos melhores da atualidade. O desafio de Norris era grande, pois além de consolidar a sua evolução, tinha de se bater com um dos melhores da grelha. O ano até nem começou bem, com o piloto a apanhar Covid-19, o que atrapalhou ligeiramente a preparação. Mas vimos um Norris completamente diferente. Mais maduro, menos efusivo, por vezes a evitar alinhar nas brincadeiras de Ricciardo, Norris chegou a 2021 focado e determinado.

O resultado da mudança foi claro e nesta primeira metade de época os números são esclarecedores. Terceiro lugar no campeonato, à frente de Valtteri Bottas e Sergio Pérez, com carros melhores, três pódios e prestações fantásticas.

Lando Norris mostrou este ano o que realmente se pode esperar dele no futuro e não estaremos a errar muito se dissermos que Norris é um dos mais completos da sua geração. Em qualificação tem colocado o seu McLaren em posições que muitos consideravam impossível e em corrida tem mostrado uma compostura e uma velocidade ao nível dos melhores. Está cada vez mais agressivo na defesa da sua posição em pista e já não é olhado como o miúdo bem disposto. O #4 é agora respeitado por todos. Conseguiu aproveitar o bom ambiente da equipa para crescer de forma como talvez nenhum dos pilotos da sua geração conseguiu, de forma gradual mas certeira.

Não podemos escrever sobre Lando Norris sem abordar os pilotos da sua geração que também entraram na F1. George Russell, Charles Leclerc e até mesmo Alex Albon (Max Verstappen é da mesma geração, mas tem muito mais anos na F1), são pilotos com menos de 25 anos, que seguem as suas carreiras juntos desde os karts e fazem parte do grupo que Fernando Alonso afirma, sairá um ou mais campeões do Mundo. Leclerc foi quem deu o maior passo da sua carreira num primeiro instante. Apesar disso, teve o azar de chegar a Ferrari no momento menos bom da equipa, lutando agora pelas posições com alguns dos pilotos da mesma geração que pertencem a equipas do meio do pelotão. Neste momento, entre os pilotos das equipas do chamado “segundo pelotão”, é Norris quem parece estar um pouco mais à frente, conseguindo mesmo intrometer-se na luta entre Mercedes e Red Bull. Ficará para sempre na memória de quem assistiu ao Grande Prémio da Áustria, o facto de se ter qualificado no segundo posto, saindo da primeira linha da grelha ao lado de Verstappen e ter conseguido rodar na frente de Lewis Hamilton, o atual campeão do Mundo. Ainda que a McLaren não esteja no topo das equipas da Fórmula 1 neste momento, tem tido em Lando Norris o pilar daquilo que se pretende ser o ressurgir da estrutura britânica, banalizando um Ricciardo, perdido e longe do que esperávamos.

Elogios dos seus pares

Quando Lewis Hamilton teve de suar para ultrapassar o jovem britânico no Red Bull Ring, comentou via rádio com equipa “grande piloto este Lando”, um claro elogio ao piloto da McLaren. Damon Hill, campeão do Mundo em 1996, depois dessa mesma corrida, afirmou que, “Lando é muito, muito especial. Não há dúvidas quanto a isso”. Outro apreciador das qualidades de Lando Norris é Karun Chandhok, atual comentador da Sky Sports e antigo piloto de F1. Para Chandhok, “o jovem britânico tem sido uma verdadeira estrela da época até agora. Vou ser honesto, quando soube que Daniel Ricciardo ia juntar-se à McLaren, pensei que Lando estaria em apuros, mas na verdade, esta temporada cimentou a sua reputação como uma das estrelas da Fórmula 1 para a próxima década. O facto de ele estar a cumprir a sua missão e a equilibrá-la com uma humildade maravilhosa, humor e carisma fora das pistas, tem cativado fãs em todo o mundo. Está definitivamente a fazer algo certo quando vende mais merchandising do que qualquer outro piloto no Grande Prémio da Grã Bretanha. É um Lando muito diferente, este ano. Os comentários de brincadeira na rádio acabaram e em vez disso há um grau de maturidade combinado com um ambiente de trabalho que a McLaren criou e que desbloqueou grande velocidade. Apesar do facto de ter ultrapassado os limites de pista na sua volta de Qualificação em Imola por alguns centímetros, eu diria que o fim-de-semana foi indiscutivelmente o melhor desempenho de qualquer piloto nesta temporada”.

Lando Norris vs Daniel Ricciardo

Depois de conquistar o seu primeiro pódio na Áustria em 2020, Lando Norris subiu tanto de forma, que regressou aos lugares de pódio por 3 vezes este ano: Imola, Mónaco e Áustria. Por muito que possa ter ajuda de um melhor chassis entregue pela equipa, a verdade é que o seu companheiro de equipa, mais experiente, não o consegue bater. É o primeiro ano de Daniel Ricciardo na McLaren e é normal sentir algumas dificuldades, mas o piloto australiano já teve de se acomodar a carros diferentes mais vezes no passado e este ano, até começou melhor que Norris.

Nas duas primeiras qualificações do ano, no Bahrein e no GP de Emilia-Romagna (Imola), Ricciardo qualificou-se à frente de Norris. O problema é que nas duas corridas, o britânico ficou na frente do companheiro de equipa. Em qualificação Norris bate Ricciardo em 8 melhores posições, contra apenas 3 do australiano. Em corrida, 9 melhores resultados para Norris e 2 para Ricciardo (já contando com o abandono de Norris na Hungria).

Foram 15 corridas consecutivas a pontuar para o jovem de 21 anos da McLaren, apenas interrompidas pelo abandono devido ao toque sofrido em Hungaroring.

Cada vez mais acarinhado pelos fãs

Mas além de ser um grande talento e um potencial campeão, Norris tem algo de especial. A sua postura leve e bem disposta no inicio da sua carreira na F1 valeram-lhe uma legião de fãs cada vez maior. Uma prova desse crescimento é o número de artigos de merchandising vendidos em Silverstone, com Norris a ser o piloto mais procurado, mais que Lewis Hamilton. Na Hungria os aplausos cada vez que surgia mostram bem que se está a tornar num caso sério de popularidade.

Lando Norris é o futuro da McLaren, pelo talento e pela sua capacidade em pista, mas é também o futuro da F1 pela sua postura e pela forma como interage com os fãs. Todos ansiamos pelo duelo Verstappen vs Leclerc, que certamente irá apaixonar os fãs, se chegar a acontecer, ou até ver o que Russell será capaz de fazer numa equipa de topo, mas Norris tem tudo para ser uma referência dentro e fora de pista e já provou que o pode fazer.

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