Laboratório de inovação: quando a Fórmula 1 desafia os limites

Por a 28 Maio 2025 08:28

Na Fórmula 1, a busca incessante por desempenho leva as equipas e os seus engenheiros a inovarem constantemente. Esse espírito de superação e criatividade, aliado à pressão por resultados, gera um ambiente único onde soluções tecnológicas de ponta são desenvolvidas – muitas vezes antecipando o que só muito mais tarde chega à indústria automóvel. O que está a suceder com a McLaren este ano, é um exemplo claro disso.

A Fórmula 1 é – como se sabe – um laboratório de alta velocidade onde milésimos de segundo fazem – ou podem fazer – toda a diferença. Esta pressão faz com que os engenheiros procurem soluções criativas e não convencionais (“fora da caixa”), como o uso de sistemas de refrigeração integrados às rodas ou dispositivos, termo elétricos como o Peltier, numa tentativa de otimizar cada detalhe do carro.

Muitos conceitos desenvolvidos na F1 — como aerodinâmica ativa, materiais compostos em carbono, sistemas de recuperação de energia (ERS) e agora potencialmente os módulos Peltier – são aplicados pela primeira vez em carros de corrida, antes de serem eventualmente adaptados à produção em massa para carros comerciais.

Como se pode calcular, a indústria automóvel observa atentamente a F1. Tecnologias testadas neste contexto rigoroso acabam, mais cedo ou mais tarde, por ser adotadas em veículos de estrada, contribuindo para maior eficiência energética, segurança e performance.

Contudo, até se chegar lá, estes processos passam normalmente pela Zona cinzenta dos regulamentos, que normalmente estimula criatividade. A falta de clareza ou zonas cinzentas nos regulamentos (é impossível que as ‘cabeças’ que desenham regulamentos ‘fechem’ todos os ‘buracos’ de um regulamento, e as melhores “cabeças pensantes” do desporto motorizado, estão lá para aproveitar as oportunidades. É assim que o mundo pula e avança.

Agora, foi o uso do efeito Peltier (ndr, é um fenómeno termoelétrico descoberto em 1834 pelo físico francês Jean Charles Athanase Peltier que ocorre quando uma corrente elétrica passa pela junção de dois condutores ou semicondutores de materiais diferentes, provocando a absorção de calor numa junção e a libertação de calor na outra. Ou seja, uma das junções arrefece enquanto a outra aquece, dependendo do sentido da corrente elétrica aplicada), empurra as equipas a explorar até onde podem ir. Mesmo que algumas soluções acabem por ser banidas, o seu desenvolvimento já representa um avanço técnico significativo.

Em suma, a Fórmula 1 não é somente um desporto; é um motor de inovação. A cada temporada, os desafios técnicos propostos e as soluções engenhosas encontradas alimentam o progresso de toda a engenharia automóvel — mesmo que comecem como suspeitas de truques ou manobras de bastidores.

Este caso da McLaren ilustra perfeitamente como o “jogo” técnico e regulamentar da F1 pode ter consequências muito reais e positivas para a indústria na totalidade.

Resumindo, a possível descoberta tecnológica da McLaren — que certamente já está a ser analisada pelas restantes equipas — ganhou destaque devido ao impressionante desempenho da equipa em 2025, sobretudo pela forma eficaz como consegue controlar a temperatura dos pneus traseiros, algo que despertou suspeitas por parte da Red Bull.

Após uma investigação da FIA em Miami, a hipótese de uso de líquido nos travões foi descartada, mas novas questões surgiram, incluindo sistemas de arrefecimento nas rodas e injeção de líquido na estrutura de carbono.

Uma teoria ainda mais improvável sugere que a água destinada ao piloto poderia estar a ser desviada para arrefecer os travões, algo que não é explicitamente proibido pelos regulamentos.

A Red Bull levantou ainda a possibilidade do uso de módulos termo elétricos (dispositivo Peltier) para controlar a temperatura dos pneus e a FIA já reconheceu que isso não está tecnicamente coberto pela atual regulamentação.

É um dos ‘buracos negros’ do regulamento que sempre existiram e sempre irão existir. Para que estes não existissem seria preciso que as “cabeças pensantes” da FIA fossem melhores que as das equipas. E isso dificilmente sucede.

O que acontece é a FIA refugiar-se no “espírito do regulamento” e proibir a ‘descoberta’.

Seja como for, embora a FIA não considere favorável o uso dessa tecnologia e planeie proibi-la a partir de 2026, esta não é ilegal atualmente, mantendo o mistério sobre o possível segredo da McLaren.

FOTO MPSA/Phillippe Nanchino

Caro leitor, esta é uma mensagem importante.
O Autosport já não existe em versão papel, apenas na versão online.
E por essa razão, não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Desconto nos combustíveis Repsol
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI

4 comentários

  1. Pity

    28 Maio, 2025 at 13:47

    Não se esqueçam que foi a McLaren a introduzir a fibra de carbono na F1. Não se esqueçam também de Colin Chapman.
    Quero com isto dizer que F1 é inovação. Se os “iluminados” de hoje tivessem vivido a F1 nos anos 70 e 80, o automobilismo e o automóvel em geral, não tinham evoluído como evoluíram, porque os regulamentos não deixariam. Nessa época, copiavam as boas ideias, não se queixavam de irregularidades dos adversários. Sim, claro que tem de haver regulamentos, mas dêem espaço à criatividade, porque se não há criatividade, para que servem os engenheiros e projectistas?

    • asfonseca

      28 Maio, 2025 at 18:19

      A suspensão activa (ideia inicial do Colin Chapman e evoluida pale Williams), parvoice terem proibido, quando tantos carros “civis” hoje utilizam. A caixa sequencial lá deixaram ficar.e muitas outras inovações.
      Antes deste Peltier eram os materiais PCM,acho que ninguem sabe o que a McLaren desencantou e bem. Haja inovação!

  2. Nrpm

    28 Maio, 2025 at 14:29

    Temos de considerar que a indústria da F1 é responsável pela competição automóvel mais tecnológica e avançada de todas.
    Como tal a capacidade de R&D é imensa, recorrendo a recursos humanos e técnicos quase ilimitados. Como tal sempre houve grandes criações e invenções na F1.
    Umas ficam logo de fora pelas imposições regulamentares. As que ficam no limite são escrutinadas e validadas ou não. Muitas outras são os segredos da competência e genealidade de cada equipa. Tudo o que não é proibido e dá vantagem pode ser útil, vantajoso, inovador em suma para toda a indústria automóvel.

  3. Leandro Marques

    30 Maio, 2025 at 16:58

    Carro ventilador e carro com 6 rodas, apenas dois exemplos… Sempre houve queixas na F1, não é fenómeno recente.

Deixe aqui o seu comentário

últimas F1
últimas Autosport
f1
últimas Automais
f1
Ativar notificações? Sim Não, obrigado