Indy500: Fim da relação McLaren/Alonso?
Já todos ouvimos falar de relações que por muito que as partes tentem, não dão certo. A relação da McLaren com Fernando Alonso é um desses casos e o mais recente fiasco na Indy 500 poderá ser o golpe final.
A história de Alonso com a McLaren começou mal. A primeira passagem pela equipa de Woking foi fugaz e depressa se deteriorou. Mas em 2015 deu-se uma improvável reconciliação… Ron Dennis iniciou o processo de recuperação da McLaren que andava à deriva e aproveitou o descontentamento de Alonso na Ferrari. O regresso do espanhol a Woking espantou muitos, mas no fundo qualquer chefe de equipa aproveitaria a oportunidade… afinal Alonso era, e ainda é um dos melhores.
Mas a entrada de Alonso na equipa talvez tenha tido o efeito contrário ao pretendido. A Honda demorou a encontrar o rumo certo e a paciência de Alonso depressa se esgotou. No período em que Alonso esteve na McLaren, a equipa registou as piores épocas e Ron Dennis foi “convidado” a afastar-se.
Embora a Honda tenha errado na sua abordagem à F1 moderna, a falta de paciência e a postura da McLaren terá piorado uma situação complicada… isto porque era preciso dar a Alonso um carro capaz. Assim que Alonso saiu da equipa, a pressão diminuiu e os resultados surgiram. Coincidência?
A primeira tentativa na Indy500 foi francamente positiva e apenas o motor Honda (ironia do destino) impediu o espanhol de conquistar um excelente resultado. A conquista de Le Mans foi feita “fora de portas” mas a McLaren, com vontade de entrar na Indy, aproveitou o efeito Alonso para entrar na competição americana. Mas quis entrar pela porta grande, sem a preparação suficiente e saiu vergada a uma humilhante derrota.
Erros crassos com um resultado inevitável
O projecto de entrada na Indy, nunca poderia começar na prova rainha. A lógica ditaria que a entrada no início da época para afinar os pormenores que inevitavelmente teria de ser rectificados era a solução ideal, mas Alonso nunca mostrou vontade de fazer uma época completa na Indy, estando apenas focado na Triple Crown. Mais uma vez a McLaren fez a vontade à Alonso e deu-se mal.
A equipa preparou-se mal e foram cometidos erros inaceitáveis a este nível. A McLaren associou-se à Carlin para o fornecimento do chassis, uma equipa que se iniciou na Indy apenas em 2018. Mais uma vez a lógica mandaria que a McLaren se associasse à Andretti, a quem se juntou em 2017 com sucesso. Mas o grande problema voltou a ser Alonso… A Andretti usa motores Honda e os comentários do espanhol à performance das unidades nipónicas na F1 complicaram o possível negócio.
Além da parceria improvável, a forma como o projecto foi gerido roçou o amadorismo. Segundo consta, a McLaren não tinha volante para o seu carro uma semana antes do teste e teve de ser o próprio Brown a tratar disso com a Cosworth. Seguiram-se problemas eléctricos, azar com o mau tempo e o resultado foi um chassis mal afinado, com apenas um terço do tempo de pista dos homens que conseguiram os primeiros lugares na qualificação.
Mais ainda, o acidente de Alonso terá revelado mais um aspecto chocante da desorganização… Os rumores dizem que o chassis suplente da equipa esteve à espera um mês para ser pintado e que isso atrasou o seu uso depois do acidente. Os erros continuaram e o uso de um sensor errado não detectou um furo no carro do espanhol na qualificação.
A situação ficou tão crítica que se diz que Brown e Gil de Ferran pediram ajuda à Andretti (que tem boas relações com Brown) e que no domingo, Alonso usou suspensões e afinação fornecidas pela equipa americana. As diferenças estão à vista e basta comparar os onboards para ver a diferença.
Apenas alguém como Alonso seria capaz de levar o carro como fez, sem voltar a bater no muro e no domingo vimos que o piloto não precisava de corrigir tanto o carro… ainda assim não foi suficiente e a McLaren foi afastada por uma equipa pequena que também enfrentou problemas.
Será a culpa de Alonso?
Indirectamente sim, mas o espanhol apenas seguiu os seus instintos de querer mais e mais. Quis ser campeão de F1 com a McLaren e entendeu que a curto prazo não o conseguiria enquanto a Honda estivesse por perto. Bateu o pé, conseguiu “expulsar” a Honda, mas quando viu que o problema era mais profundo que apenas uma troca de motor, desistiu da McLaren. Apostou na Indy e a McLaren quis acompanha-lo, mas a equipa não teve capacidade para lhe dar o carro certo. Se Alonso tivesse sido mais ponderado nas críticas à Honda este ano teria tido certamente um carro capaz de vencer, com o apoio da Andretti. Mais uma vez Alonso pagou pela sua postura.
Será a culpa de Zak Brown?
Em parte sim. Brown quis aproveitar o “efeito Alonso” ao máximo mas com isso perdeu o norte. Dispensou a Honda, que agora ocupa a terceira posição do campeonato com a Red Bull e com isso perdeu 100 milhões por ano e o fornecimento exclusivo de motores. Será difícil a McLaren chegar ao título com estes motores, sendo cliente.
Brown nunca escondeu a vontade de apostar noutras competições mas apenas depois de arrumar a casa, no que a F1 diz respeito. Esqueceu as suas palavras e apostou de forma precipitada na Indy, também para aproveitar a boleia do espanhol. Voltou a dar-se mal. Deveria ter consolidado o projecto F1 e só então apostar a sério na Indy. Brown sabe que tem um dos melhores talentos de sempre do automobilismo e quis aproveitar esse facto, mas talvez por causa disso tenha tomado decisões arriscadas que acabaram invariavelmente mal.
Divorcio inevitável?
Não é inevitável mas é o cenário mais plausível e talvez o melhor para ambas as partes. A McLaren não tem capacidade neste momento de dar a Alonso o que ele quer e já vimos que quando tenta dar-lhe isso, tudo corre mal pois é feito à pressa. Alonso estará cansado das sucessivas falhas da equipa britânica e quererá tentar algo diferente, longe dos fantasmas que foram criados nos últimos quatro anos. A relação Alonso/McLaren no papel tinha tudo para ser perfeita. Na realidade revelou-se um pesadelo para ambos, embora tenham tentado com todas as forças remar contra a maré. Talvez seja melhor “dar um tempo” e cada um seguir o seu caminho e talvez o futuro permita uma nova reaproximação. Mas a relação parece de certa forma amaldiçoada e dificilmente dará os frutos desejados.
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