Grande Prémio de Portugal Heineken de Fórmula 1: Sonho tornado realidade

Por a 27 Julho 2020 07:21

Está confirmada oficialmente a realização do Grande Prémio de Portugal Heineken de Fórmula 1, no fim de semana de 23 a 25 de outubro no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão. Paulo Pinheiro, CEO do AIA e Ni Amorim, Presidente da FPAK, viram abrir-se uma janela de oportunidade e trouxeram a F1 de volta, passados 24 anos.

Na verdade o sonho é mesmo uma constante da vida, muitas vezes concreta e definida, como outra coisa qualquer, e por vezes o sonho comanda a vida, e há alturas em que sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança. Descobriu-se mesmo uma Pedra folosofal com esta vinda da Fórmula 1 para Portugal. É um produto do sonhos de várias pessoas que viram nascer uma oportunidade, foram atrás dela e concretizaram esse sonho. Um dia, em fevereiro deste ano, quando se ficou a saber do cancelamento do GP da China, devido ao surto de coronavírus que já se vivia no País, Eduardo Freitas (diretor de Corrida do WEC) telefonou a Paulo Pinheiro (CEO do AIA), que por sua vez falou com Ni Amorim (Presidente da FPAK). O líder do AIA de imediato começou a fazer contactos ‘exploratórios’, Ni Amorim mandou uma carta para a FIA e a partir daí só lhes restava esperar e darem as melhores respostas possível às questões que viessem do “outro lado da linha”.

O processo avançou, a Liberty Media e a FIA entraram numa espiral de avanços e recuos que explicaremos mais para a frente, e todo este processo teve o seu epílogo com a confirmação da realização do Grande Prémio de Portugal Heineken de Fórmula 1, no fim de semana de 23 a 25 de outubro no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão.

A ‘prenda’ dos seus 12 anos, o AIA recebe-a oito dias antes da data do seu aniversário, (oficialmente o AIA nasceu às 10h40m do dia 2 de novembro de 2008) com a realização do Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1.

Nesse dia, 25 de outubro, não sei se Rita Guerra vai novamente cantar o hino, ‘A Portuguesa’ como fez no dia da inauguração do AIA, mas sei que Paulo Pinheiro, o maior obreiro de tudo isto, vai-se emocionar-se novamente, vai lembrar-se da avó, mas vai também cumprir o sonho de ver a F1 no ‘seu’ AIA.

Confesso que tendo em conta todas as condicionantes, sabia ser muito difícil, em condições normais o regresso da Fórmula 1 a Portugal, pois os valores hoje em dia necessários para ‘comprar’ a F1 são perfeitamente incomportáveis para um País pequeno e periférico como o nosso. É verdade que há várias corridas europeias que não pagam os ‘tais’ 30 ou mais milhões pelas corridas, Mónaco, Monza, Silverstone, Spa, por exemplo, porque a FIA e a Liberty precisam de herança histórica, mas Portugal há muito estava esquecido para a F1.

Só que o arrojo e a persistência de Paulo Pinheiro, conseguiram colocar de pé uma obra fantástica, o AIA, que muitos achavam megalómana e que o tempo veio a provar que não. Apesar das muitas pedras no caminho, que ainda não desapareceram todas, Paulo Pinheiro soube tornar o Cabo das Tormentas em Cabo da Boa-Esperança, dobrá-lo, e lá está, sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.

Com este perpétuo movimento de 340 dias de taxa de ocupação anual, o AIA prepara-se agora para chegar ao pináculo da sua existência com um Grande Prémio de Fórmula 1. Se por lá se vai manter, é história para outra altura, mas para já há que desfrutar do momento.

A verdade é que 24 anos depois, Portugal vai voltar a ter um Grande Prémio de Fórmula 1 e a pista, de 4.6 km que já teve testes de Fórmula 1 em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, com a Ferrari, McLaren, Renault, Williams, Toyota e Toro Rosso a marcar presença vai agora receber as 10 equipas do Mundial de F1 ao mesmo tempo.

Curiosamente, o único piloto da atual grelha de Fórmula 1, que já rodou com um F1 em Portimão é Lewis Hamilton, o Campeão em título. Mas há outros pilotos do atual plantel que já ali correram: Sergio Pérez (GP2), Daniel Ricciardo (Renault 3.5/F3 inglesa), Valtteri Bottas (F3 inglesa). Alex Albon, Charles Leclerc, Antonio Giovinazzi, George Russell e Lance Stroll correram ali na F3 em 2015.

O último Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 realizou-se no Estoril a 22 de setembro em 1996, o próximo está agora agendado para 25 de outubro de 2020. 24 anos, um mês e três dias depois, 8.799 dias, se preferir.

Há muito tempo que sabíamos que a Fórmula 1 estava bem encaminhada para regressar a Portugal, havia muitos dados que apontavam para isso, as equipas sempre de mostraram entusiasmadas com a possibilidade, e apesar de haver três países, Alemanha, Itália e Portugal na luta, sempre soubemos que não era apenas por um lugar, mas o que se desenhava era haver espaço para três ou mais corridas.

Neste momento já se sabe que a Fórmula 1 não irá ao continente americano. Não vai haver corridas americanas nos Estados Unidos da América, México, Brasil e Canadá, sendo que esta última a razão tem mais a ver com o risco meteorológico de realizar uma prova no Canadá em outubro, e também o facto de se tratar dum ‘one off’ no continente americano.

Para além do Grande Prémio de Portugal, no AIA, também Imola e Nurburgring foram confirmados no calendário deste ano do Mundial de Fórmula 1, aumentando para treze o números de corridas asseguradas no calendário de 2020. O Grande Prémio de Eifel, que terá como palco Nurburgring, será realizado a 11 de outubro, seguido pelo Grande Prémio de Portugal, a 25 de outubro. O Grande Prémio da Emilia Romagna, em Imola, realiza-se a 1 de novembro, num evento que terá apenas dois dias, com treinos livres e qualificação no sábado, e corrida no domingo. Não há treinos livres na sexta-feira.

Aqui, um parênteses para referir o risco que será realizar um Grande Prémio junto das montanhas de Eifel no outono, quando a temperatura média em outubro é de apenas 7.8ºC. Chuva é quase certa, se o sol aparecer é uma enorme exceção.

Para lá disto a FIA e a Liberty continuam a trabalhar para ter mais corridas, sendo que o objetivo é ter um calendário entre as 15 e 18 corridas, algo que não será nada fácil de concretizar.

Na verdade, Portugal foi hipótese para abrir a época europeia, simplesmente o tempo passou e naturalmente os promotores com contrato com a FOM tiveram prioridade. E porquê tanto tempo para confirmar a corrida portuguesa? Ironicamente, pelo facto da Liberty e da FIA estarem confortáveis com quase todos os itens da prova lusa. Em teoria, a meteorologia é muito mais segura seja em que data for. Logicamente não faria era sentido uma corrida no verão na época alta do Turismo, ainda que como sabemos, nem isso seria problema neste momento. Portugal, ao contrário de Mugello, Imola ou Nurburgring/Hockenheim, podia permitir-se encaixar a corrida num lapso de tempo maior.

Por outro lado, se fosse necessário correr sem público, a pista é bem isolada, o que não sucede tanto com Nurburgring e muito menos Imola ou Mugello. Ou seja, se havia uma corrida que era praticamente certa, era a nossa.

Agora, a corrida está confirmada, com o Autódromo Internacional do Algarve preparado para se tornar no quarto circuito luso a albergar o Grande Prémio de Portugal, depois do Circuito da Boavista (1958 e 1960), Circuito de Monsanto (1959) e Autódromo do Estoril (entre 1984 e 1996).

Cronologia de um regresso

Voltando um pouco atrás, desde que teve de cancelar o GP da Austrália (e já tinha antes adiado o GP da China, ainda em fevereiro) que a FOM se preparou para delinear um esboço do calendário ‘possível’, deste ano. A ideia era ter, pelo menos quinze eventos, e logo aí se perspetivou que o o AIA pudesse assumir o papel de prova de reserva. Cedo se projetou o primeiro fim de semana de julho no Red Bull Ring, rumando, posteriormente para Silverstone. Não foi, como se sabe, assim que ficou, pois a Hungria ‘meteu-se’ pelo meio.

Na altura, o Governo do Reino Unido pretendia implementar medidas que poderiam entrar em rota de colisão com as ambições da FOM, ams as coisas resolveram-se. Nesta altura, caso a prova britânica não pudesse avançar, poderia ser o AIA a tomar-lhe o lugar, albergando as duas corridas que se seguiriam às do Red Bull Ring. Curiosamente, seria precisamente agira que isso estaria para acontecer.

Nessa altura, tivemos acesso a três versões diferentes de calendário, todos eles esboçados pela FOM, e aí percebemos que tudo podia mudar rapidamente.

Uma coisa sabíamos: o AIA continuava a ser uma opção para a FOM. Pelo meio, foram caindo corridas, Paul Ricard, por exemplo, mas o que nos importava mesmo era se havia lugar para Portugal.

O tempo pssava e cada vez era mais forte a probabilidade do Mundial de Fórmula 1 regressar a Portugal. Já em junho, o AutoSport sabia que, apesar de ainda não estar certo, as conversações com o AIA e a FPAK estavam muito avançadas. Havia ainda fatores que podiam fazer mudar as coisas, mas nesse momento as hipóteses de voltarmos a ter um Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 em Portugal eram muito fortes. E que dados apontavam para isso.

Havia uma maior preferência da generalidade das equipas por Portugal, e apesar de se pensar que três países, Alemanha, Itália e Portugal lutavam por uma corrida, na prática, como as coisas estavam, a FOM não tinha garantias que conseguisse realizar corridas nos EUA, México e Brasil, por exemplo, e não só.

Tal como se confirmou agora. Nem aí, nem na China, Vietname e Canadá por ‘arrasto’ das outras corridas no continente americano.

Por essa altura, Ross Brawn levantou o véu ao admitir que Portugal era um dos países que estava a ser equacionado como alternativa para fazer parte do calendário do Mundial de 2020, caso falhasse os promotores com os quais a Formula One Management já tinha contrato. Ross Brawn falou em Imola (Itália), Portimão (Portugal) e Hockenheim (Alemanha). Este último ‘caiu’, avançou Nurburgring. Não mudou muito…

Felizmente para nós, tudo se concretizou, há hipóteses de haver público, entre 40 a 60% da lotação, o que equivale mais ou menos a 40.000 a 60.000 espectadores no AIA, que tem espaço de sobra para isso e muito mais. Estamos precisamente a três meses da corrida, por isso muita coisa pode mudar até lá. Esperemos que para melhor e era ótimo que dentro de dois meses se concluísse que podíamos ter um AIA com 100% de público. Que lindo seria ver 100.000 pessoas a encher o circuito. Talvez aí algumas pessoas deixassem de dizer que um autódromo tão grande ali nunca encheria. Talvez nesse momento percebessem. E se já lá tivessem ido ver as SuperBike já tivessem mudado de opinião e quando lá forem ver o MotoGP em breve, a mesma coisa.

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