GP Abu Dhabi F1: Q&A com Lando Norris
Lando Norris conquistou o seu primeiro título mundial de Fórmula 1 após uma época marcada por consistência, recuperação emocional e um desempenho de excelência na fase final do campeonato. Após a corrida decisiva, o britânico falou longamente sobre as emoções do momento, o percurso até ao título, o impacto na sua vida pessoal e o que espera do futuro enquanto campeão.
Q: Uma calorosa receção ao campeão do mundo de Fórmula 1, Lando Norris. Consegues começar por descrever o que sentes neste momento?
LN: Só me apetece rir. É difícil de descrever. É difícil pôr em palavras. Só quero ir passar algum tempo com a minha equipa, os meus engenheiros, a minha mãe e o meu pai. Nem sei o que vou dizer. Tanta coisa está por detrás daquilo que alcançámos hoje. Desde aqueles anos em que vi Fórmula 1 na televisão, quando vi um kart pela primeira vez — as minhas memórias nas últimas voltas foram isso mesmo: levaram-me de volta ao início, porque não estaria aqui sem os meus pais e os sacrifícios que fizeram. O meu irmão e as minhas irmãs, as vezes que me mandam mensagens e eu nem sempre respondo. Tudo. Tudo aquilo que contribuiu para alcançar o que conseguimos hoje. Este não é o meu campeonato do mundo. É nosso. É o momento em que posso dizer “Obrigado, mãe” e “Obrigado, pai”. Foram eles que sacrificaram tanto para que eu fosse o rapaz sortudo que sou hoje — para viver o meu sonho, fazer aquilo que amo desde criança, conduzir aquele kart pela primeira vez em casa. As melhores memórias de sempre. Tanta coisa é investida todos os anos e, pela primeira vez, posso realmente agradecer-lhes, fazê-los sentir que tudo valeu a pena. Talvez já sentissem isso quando cheguei à Fórmula 1 ou quando ganhei a primeira corrida em Miami, mas aquilo que me faz sorrir todos os dias é deixá-los orgulhosos — a eles, aos meus amigos e às pessoas que me apoiam, mesmo nos momentos difíceis deste ano. Hoje sinto que finalmente tenho algo para lhes oferecer, não apenas palavras, mas o peso de um campeonato, do qual eles fazem tanto parte quanto eu que estou em pista. Acompanham-me em cada passo. Hoje posso agradecer-lhes e fazê-los sorrir — e isso é tudo aquilo que quero: que sejam felizes e possam celebrar. E foi isso que consegui dar-lhes hoje.
Q: Durante o fim de semana pareceste muito descontraído. Era mesmo verdade? Quão difícil foi este fim de semana para ti, emocionalmente?
LN: Tive muitos momentos difíceis no início da temporada. Também tive grandes momentos — ganhar na Austrália deu-me um grande impulso. Mas rapidamente tive uma série de maus resultados e o Oscar fez um trabalho incrível, esteve consistentemente à minha frente. Tornou-se complicado. No fim, demonstra que a consistência ao longo da época é fundamental para alcançar aquilo que conquistámos hoje. Mas os momentos difíceis têm de ser compreendidos e estudados. Tive de ir mais além, alargar o meu grupo de trabalho, tanto na pista como fora dela. Há muitas pessoas no meu canto — amigos, família, treinadores e profissionais que me ajudam a pensar melhor e a desempenhar melhor. Foram essas pessoas que me permitiram acalmar, lidar com a pressão e ter a segunda metade da época que tive. Se olhar para trás, a primeira metade não foi brilhante — cometi erros, julguei mal algumas situações, como qualquer piloto admitiria. Mas a forma como consegui transformar tudo isso e fazer a segunda metade que fiz deixa-me muito orgulhoso, porque provei a mim próprio que estava errado. Tinha dúvidas no início do ano e superei-as. E isso deixa-me muito feliz. Disse no início que este momento era para agradecer a todos eles. Todo o trabalho que fazem por mim é retribuído aqui. Mas sim, senti-me calmo — até três curvas antes do fim. Aí comecei a tremer um pouco. Veio-me tudo à cabeça muito rapidamente e depois vi a equipa quando cruzei a meta. Esse é um momento que nunca vou esquecer.
Q: Como achas que vais crescer enquanto piloto depois deste título?
LN: Vou descobrir. Sinto-me orgulhoso, mas não porque amanhã vou acordar a pensar “bati toda a gente”. Não estou orgulhoso por poder dizer que sou campeão do mundo. Estou orgulhoso porque fiz muitas outras pessoas felizes — o meu engenheiro Will, o Jarv… eles quase não vêem a família e viram-me crescer mais do que vêem os próprios filhos. Sinto-me mal por isso. Mas o facto de colocarem tanto esforço em ajudar-me e de eu lhes poder dar algo que faça tudo valer a pena — isso deixa-me feliz. Espero que nada mude na forma como trabalho, penso ou corro. Acredito que ganhei este campeonato sendo eu mesmo — um piloto justo e honesto. Poderia ter sido mais agressivo? Claro. Talvez precise disso no futuro. Mas precisava este ano? Não. É assim que quero correr? Não é. Se compararem com outros campeões, não fui tão agressivo ou ousado, mas fiz aquilo que era preciso para ganhar. Fui consistente e entreguei resultados quando tinha de o fazer, especialmente depois de Zandvoort com vários bons fins de semana. É isso que importa. Há coisas que gostaria de voltar atrás e corrigir — como Montreal, onde me embaraçou o que fiz. Mas no geral sou melhor piloto agora do que era no início do ano. E quando corro contra Max, um tetracampeão, e contra o Oscar, que um dia será campeão, tenho de estar ao nível dos melhores. E estive. Quero continuar a aprender para enfrentar estes desafios outra vez no futuro.
Q: Em Zandvoort ficaste 34 pontos atrás. Isso retirou-te alguma pressão e ajudou-te a mostrar o teu melhor?
LN: Honestamente, não. Não me deixou mais relaxado. Ver 34 pontos de diferença para um piloto na mesma equipa, tão rápido como o Oscar, não me deu confiança. Não senti que tinha não nada a perder. Estava a fazer tudo o que podia antes e continuei a fazê-lo depois. Mas tive de elevar o meu nível fora da pista — trabalhar com mais pessoas, aprofundar o meu entendimento mental, perceber porque fazia certas coisas. A série de maus resultados cedo abriu essa porta. E se não tivesse tido essas dificuldades no início, talvez não tivesse evoluído tão depressa. No final, quando houve mais pressão do que nunca, foi quando me senti mais confortável, capaz de ir da brincadeira com engenheiros para conquistar a pole minutos depois. As dificuldades permitiram-me desbloquear o meu potencial mais tarde.
Q: Quão orgulhoso estás de ter conseguido manter-te fiel a ti mesmo, mesmo com quem dizia que “não se ganha um campeonato assim”?
LN: Obrigado. Fim. A sério — isso é algo que me deixa muito orgulhoso. Ganhei da forma que queria ganhar: sendo eu próprio, não tentando ser tão agressivo como o Max ou outros campeões. Venci à minha maneira — como o Andrea costuma dizer, “à moda do Lando”. Claro que poderia ter sido mais duro em alguns momentos, mas teria menos orgulho nisso. Sinto que mantive a calma, mantive-me focado e fiel ao meu estilo. Sei que às vezes digo coisas parvas — sobre o Max, ou comentários no calor do momento sobre o Lewis, de que me arrependo mal saem da minha boca. Mas tento ser genuíno, dizer a verdade. Não ganho nada em esconder o que penso. E sim, odeio quando escrevem disparates sobre mim, mas faz parte da vida. O que importa é que fiz as coisas à minha maneira, fui um bom colega de equipa e um bom profissional. E só quem está dentro da equipa sabe realmente o que se passa. Enquanto eu e a equipa soubermos que fiz um bom trabalho — e sei que fiz — isso basta.
Q: Na corrida, quão stressantes foram os momentos de tráfego e ultrapassagens? E como planeias celebrar?
LN: Pode ser a única vez que vivo este momento — espero que não, mas quero celebrá-lo como tal. Quero festejar com os meus amigos — espero que já estejam todos bem embalados, porque quero festejar com eles. Isto é mais sobre eles do que sobre mim. Os meus mecânicos e engenheiros também — embora tenhamos teste na terça-feira… Houve momentos na corrida em que sabia que o Tsunoda poderia tentar dificultar-me a vida, como o Pérez fez ao Lewis há uns anos. Já tínhamos isso previsto. Consegui passar rápido, mas foi apertado. Cinco centímetros mais perto e tudo acabava ali. Quando faltavam três voltas deixei de atacar os corretores — qualquer erro, qualquer peça solta, e tudo estava acabado. Pensei na volta mais rápida, mas não valia a pena. Tive de tomar decisões rápidas e firmes. Mas o campeonato não foi ganho hoje — foi ganho pela consistência ao longo de quatro meses. A corrida podia ter sido mais fácil ou mais difícil, mas tentei tratá-la como apenas mais uma e manter a calma. E acho que consegui.
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Pity
8 Dezembro, 2025 at 13:34
Acho que o Norris nunca falou tanto num só dia 🙂 Havia muito naquela alma e naquele coração a deitar cá para fora…