FÓRMULA 1: Um calendário de 180 dias?

Por a 27 Março 2020 12:49

Por José Manuel Costa

O Coronavírus ajoelhou o mundo, quase partiu as rótulas à Fórmula 1 e conseguiu amputar-lhe a prova emblemática, o GP do Mónaco. Certezas? Nenhuma, apenas que os carros de 2020 vão ser usados em 2021 e que as regras daquele ano passam para 2022. Mas, e se o calendário tivesse 19 corridas em 180 dias?

Phileas Fogg era um londrino comum que Julio Verne imaginou barbudo, amante de chá e eternamente garoto, rico como poucos, sem visível aptidão para outra coisa que não a sobrevivência. Enfim, era um homem comum pouco comunicativo e que falava pouco. Juntava dinheiro para um fundo de caridade, não era casado e era dos mais honestos do Mundo. Ainda assim, foi capaz de dar a volta ao mundo em 80 dias.

A Fórmula 1 é totalmente diferente de Phileas Fog, exceto na riqueza, pois o topo da competição automóvel é espalhafatoso, dá nas vistas, é amado por milhões, tem nervo, carácter e iniciativa, abraça talento de engenheiros, artesões, pilotos, mecânicos, gestores, enfim, transborda talento e qualidade.

Se Phileas Fogg apesar de ser introvertido conquistou o Mundo em 80 dias, á Fórmula 1 pede-se que não cancele o espetáculo e dê a Volta ao Mundo em 180 dias… seis meses para fazer 19 corridas perdido que está o GP do Mónaco. Se a tarefa de Phileas Fogg era hercúlea, a da Fórmula 1 não é menor! Será possível? Confesso que não faço a menor ideia, mas tenho a sensação que este assassino invisível, natural ou a soldo de alguém ou de algum interesse, vai mesmo atirar ao chão um dos maiores eventos mundiais. Os especialistas acreditam que a pandemia do Covid-19 provocado pelo SARS Cov.2, ou Coronavírus, não desaparecerá antes de chegarmos a junho, levantando onda gigante que destruirá tudo onde tocar no que toca á economia.

Portanto, ninguém sabe como é que o Mundo se vai levantar depois de ser esbofeteado por um inimigo invisível: com um olho negro e ossos partidos ou em estado de coma crítico? Eu não sei, você não sabe, caro leitor, e tem tantas dúvidas como eu.

Certo é que a Fórmula 1 foi apanhada com as calças na mão: deixou que toda a gente fosse para a Austrália, ignorou todos os sinais ufana da sua inexpugnabilidade, para tudo se desmoronar como castelo de cartas assim que foi dado o alarme de um infetado na McLaren. Zak Brown anunciou que iria voltar para Europa, qual galinha sem cabeça a Liberty Media e a FIA andaram de um lado para o outro em reuniões e minutos antes de começar o circo… veio a anulação da prova de abertura do campeonato e começou a corrida de regresso ao Velho Continente.

A bola de neve começou a rolar e quando se pensava que tinha parado no Mónaco, já saltou até ao Azerbaijão e acredita-se que seja capaz de continuar a engrossar até ao Paul Ricard, em França. Quer isto dizer que a Fórmula 1 não terá de dar a volta ao Mundo em 80 dias, mas em 180 dias. Como? É isso que vou tentar explicar.

Situação excecional

O que vou dizer não é nada de inovador ou de transcendente e a Liberty Media e a FIA já têm, neste momento – como sucede com a UEFA e a FIFA – vários planos de contingência. Seja como for, não gostava de estar calçado com os sapatos de Chase Carey e de Ross Brawn – já que Jean Todt faz jus ao cognome de Napoleão e está sentado no trono dourado da FIA à espera do que fará a Liberty – perante algo que pode ser desastroso ou a salvação da temporada de 2020.

Ambos estão aos comandos de uma nau Catrineta de dimensões gigantescas que, naturalmente, quanto maior a borrasca, mais complicado se torna de controlar o leme, ainda por cima, sem se ter terra á vista!

As equipas não estão melhor, pois muitas estão paralisadas devido aos estados de emergência que a maioria dos países europeus estabeleceu, com particular acuidade na Ferrari, sedeada no centro da pandemia, Itália. O primeiro plano de contingência, que dizia estar a F1 em quarentena até 28 de março, já voou pela janela juntamente com todos seis seguintes e a Fórmula 1 arrisca a estar parada até julho.

Entretanto, a Fórmula 1 desenhou um acordo com as equipas que previa a antecipação da pausa de Verão, uma interrupção de três semanas tal como diz o regulamento para o mês de agosto. Porém, também esse acordo foi rasgado e ficou ao cargo das equipas decidirem que semanas escolherem para fazerem a paragem. Tudo ultrapassado com o Estado de Emergência imposto em Italia e Reino Unido, com toda a gente obrigada a ficar em casa.

Com todas estas alterações a sucederem-se a cada semana, tudo aquilo que foi dito há um mês já está profundamente desatualizado e a verdade é que a Fórmula 1 vai ter de reescrever o regulamento de 2020.

Calendário atípico será possível?

Não há um calendário, pois os responsáveis da Fórmula 1, conforme anunciou Chase Carey, tinham um esboço que fazia a competição iniciar-se no dia 7 de junho no Azerbaijão, mas essa prova já foi adiada e por isso, mais um plano teve de ser mandado pela janela. Perante esta situação e olhando ao progresso do Coronavírus, mais rápido que um Fórmula 1 a infetar e chacinar pessoas no Velho Continente, não custa muito acreditar que o Canadá – que antes do Comité Olimpico Internacional (COI) ter determinado o adiamento dos Jogos Olimpicos para 2021, já tinha dito que não iria estar presente no Japão – e a França (a braços com mais de 22 mil casos e mais de um milhar de mortos) vão anular as provas previstas para os seus territórios.

Portanto, na melhor das hipóteses, teremos o inicio do campeonato em julho, ou seja, teremos 180 dias para realizar 19 provas, já que o GP do Mónaco não foi adiado, foi mesmo cancelado.

Lembra-se das corridas em três fim de semana seguidos? Lembra-se do cuidado com a não sobreposição de provas? Às malvas com tudo isso! Teremos um calendário com corridas em fins de semana sucessivos e não se espante se tivermos quatro provas em quatro semanas consecutivas. Para isso teremos de alinhar por continente as diversas provas. Vamos então ao exercício virtual de um Campeonato do Mundo de Fórmula 1 com 19 corridas em 180 dias.

Muitas alterações

Em primeiro lugar, as equipas podem rasgar os planos de evolução dos carros e vão ter de se assoar ao papel que a Liberty lhes dará daqui a umas semanas. Ou seja, fazer peças novas, evoluir os carros, enfim, aquilo que se faz normalmente, não acontecerá, não haverá tempo e nem sequer é uma boa ideia. Caso a competição comece antes do GP da Áustria (7 de julho) as mudanças começam a partir do GP do Grã Bretanha, no dia 19 de julho. O GP de Espanha terá de ser “entalado” entre Silverstone e Budapeste (2 de agosto), criando um trio de provas seguidas. Mas há mais.

Novo trio de corridas seguidas pode acontecer no final de agosto e inicio de setembro: o GP da Holanda no dia 23 de agosto, imediatamente antes do GP da Bélgica (30 de agosto) e do GP de Itália (6 de setembro). A partir daqui a coisa complica-se.

O GP do Vietname poderá encaixar-se antes do GP do Japão (1 de outubro), mas isso irá formar um grupo de quatro corridas: Singapura (20 de setembro), Rússia (27 de setembro), Vietnam (4 de outubro) e Japão (11 de outubro).

Para que isso seja possível, a Liberty está a pensar alterar o formato das provas para apenas dois dias com os treinos livres e a qualificação no sábado e a corrida no domingo.

Olhemos, agora, para o final do campeonato. Continuará a ser no Abu Dhabi, mas caminhará uma semana mais para ser realizado no dia 6 de dezembro. Isso permitiria fazer o GP do Bahrain no dia 29 de novembro, uma solução interessante e simples em termos de logística, pois entre o Bahrain e o Abu Dhabi, estão, apenas, 420 quilómetros, servidos por ótimas estradas.

O elefante no meio da sala é a China. Dificilmente se encontrará uma forma de encaixar uma viagem até ao Império do Meio, sendo pouca a vontade de demandar a China, onde o Coronavírus decidiu eclodir e se espalhar pelo mundo. Portanto, dificilmente haverá GP da China em 2020. Também a Austrália terá muita dificuldade em encontrar um “buraco” para ser realizado, pois é preciso seis semanas para montar tudo e esse é um tempo que não existe. Além disso, seria um pesadelo logístico “dar um salto” até “Down under” para fazer uma corrida. Como o Mónaco já cancelou a sua prova de 2020, o calendário poderá ficar com 18 corridas. Mas, e nestas coisas há sempre um mas!, pode não ser assim.

Imaginemos que Canadá e França (já acima expliquei porquê) decidem adiar as suas corridas. Imaginemos o cenário muito provável da Itália ainda não estar livre do cachorro que lhe morde a jugular em setembro e cancelar a sua prova. Imaginemos, ainda, que a crise económica profunda que este assassino silencioso e invisível vai provocar, arrase de tal maneira a economia que não haja forma de realizar as provas. Não quero imaginar mais nada, pois quero que tudo corra bem e que tenhamos Mundial de Fórmula 1 de 2020. Porém, este é um cenário absolutamente plausível e se assim fosse, teríamos um Mundial com apenas 15 corridas a começar em julho e a acabar em dezembro. Afastemos a nuvem negra das nossas cabeças e olhemos, então, para o que poderá ser o calendário do Mundial de 2020.

Calendário Fórmula 1 2020 (possível)

14 junho GP Canadá () 28 junho GP França ()

05 julho GP Áustria

19 julho GP Grã Bretanha

26 julho GP Espanha

02 agosto GP Hungria

23 agosto GP Holanda

30 agosto GP Bélgica

06 setembro GP Itália

20 setembro GP Singapura

27 setembro GP Rússia

04 outubro GP Vietname

11 outubro GP Japão

25 outubro GP EUA

01 novembro GP Mexico

15 novembro GP Brasil

29 novembro GP Bahrain

06 dezembro GP Abu Dhabi

(*) Muito provavelmente serão cancelados/adiados

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