FÓRMULA 1: TOPS & FLOPS DA FÓRMULA 1 2019

Por a 8 Janeiro 2020 16:42

Passados os efeitos das borbulhas do champanhe, assente a poeira de meses de estrada, acalmada a “guerrilha” entre os “tifosi” e os adeptos, feito o balanço da temporada e construído o “ranking” de pilotos, está chegada a hora de olhar para os “top & flop” da temporada 2019 da Fórmula 1 escolhidos pelo Autosport.

A temporada de 2019 da Fórmula 1 foi um excelente campeonato, com ultrapassagens para todos os gostos, acidentes espetaculares, comunicações rádio hilariantes, problemas nas boxes, provas á chuva com vencedores impossíveis, enfim, uma época que, apesar de tudo, foi espetacular.

O Autosport oferece-lhe os “top & flop” de 2019, algo que numa disciplina tecnológica e, apesar de tudo, com muita componente humana, oferece sempre surpresas.

TOPS 2019

Lewis Hamilton

Acreditamos que a nova dieta à base de plantas que ingere há dois anos – passou a ser vegan – possa ter ajudado Lewis Hamilton a estar num pico de forma constante. Acreditamos que a liberdade oferecida por Toto Wolff ao britânico, para viajar para os adorados Estados Unidos da América, para as sessões fotográficas e para os eventos de moda, também tenha ajudado. Mas nada seria possível sem o talento de um piloto que chegou ao sexto título, terceiro consecutivo, num ano em que a Mercedes não esteve tão dominadora como habitualmente. Ainda assim, arrecadou onze vitórias, cinco “pole positions”, seis voltas mais rápidas, 17 pódios, recorde de pontos e pontuação em todas as corridas. E contas feitas, terminou com 87 pontos de avanço sobre o seu delfim, Valtteri Bottas. Um domínio esmagador do britânico que promete não parar e tem tudo para em 2020, registar o sétimo título, quarto consecutivo, igualando Michael Schumacher, depois de deixar para trás Juan Manuel Fangio. Inevitavelmente, Lewis Hamilton é um dos “Top” de 2019.

Charles Leclerc

Colocar na sombra um penta campeão do Mundo não é tarefa fácil, mas foi isso que Charles Leclerc fez na sua segunda temporada na Fórmula 1, primeira com a Ferrari. Venceu o ceticismo dos mais fervorosos “tifosi” que não admitem jovens sem experiência na “sua” equipa, derrubou o muro da desconfiança na passagem da Alfa Romeo para a Ferrari e enviou uma mensagem a Lewis Hamilton: se a Ferrari acertar, o britânico vai suar as estopinhas para ganhar em 2020. Vettel já saboreou o “veneno” do monegasco: foi batido 11 vezes na qualificação, amealhou menos pontos que Leclerc e esteve menos voltas na frente, tendo apenas ganho nos resultados finais, com Vettel a acabar 10 vezes na frente de Leclerc. Mas venceu duas corridas – a de Monza ficará na retina de todos pela forma como se defendeu, com talento e qualidade, de Lewis Hamilton – e ficou com sete “pole positions” no seu bornal, batendo, uma vez mais, o piloto da Mercedes no seu “quintal”. Sim, foi “enganado” por Max Verstapen na Áustria, mas a lição ficou e o holandês dificilmente voltará a ter facilidades. E na luta de “galos” com Vettel, Charles Leclerc mostrou que tem voz grossa e não se importa de apontar o dedo ao alemão, quatro vezes campeão do Mundo. Porém, ainda comete alguns erros e não fosse isso talvez Leclerc tivesse lutado por algo mais que o terceiro lugar dos pilotos, “roubado” pela sua equipa ao desatinar com a estratégia.

McLaren

Há detalhes que são “pormaiores” e quando Zak Brown percebeu que os seus talentos se esgotaram sem produzir efeitos, foi buscar Andreas Seidl á Porsche. O engenheiro alemão pediu carta branca e organizou tudo á sua maneira, rigorosa, como bom germânico que é. Com o americano ocupado a fazer aquilo para que foi esculpido – relações públicas e gestão – Seidl rapidamente colocou tudo no lugar, trouxe alguns elementos chave e deu à McLaren aquilo que lhe faltava desde que Ron Dennis deixou a equipa fundada por Bruce McLaren. A melhoria foi imensa, mas a equipa de Woking teve a felicidade de contar com dois pilotos brilhantes: Carlos Sainz e Lando Norris. O espanhol pode não ser uma estrela como Hamilton, mas fez uma excelente época e conseguiu marcar muitos pontos para a equipa. Os dois pilotos são tão bons que empataram no que toca à qualificação, 10 vezes na frente Norris, 10 vezes Carlos Sainz, o espanhol terminou mais vezes à frente do britânico (9 contra 5), quase fez o dobro dos pontos de Norris, o mesmo em relação às voltas na frente. A verdade é que a McLaren “roubou” o quarto lugar ao seu fornecedor de motores, a Renault, e os bons resultados e desafogo financeiro levaram a McLaren para os braços da Mercedes, fornecedora dos motores a partir de 2021, um regresso que admite muitas especulações, até a retirada da Mercedes oficialmente e o regresso à famosa dupla McLaren-Mercedes.

RedBul Honda

Os japoneses ouviram de tudo, até escutaram Fernando Alonso dizer que tinha um “motor de F2” no seu McLaren. Masashi Yamamoto esteve durante três anos a liderar a Honda Motorsport (nas 2 e nas 4 rodas), em 2019 recebeu a operação da Honda F1. No meio de tudo isto, foi instrumental em conseguir convencer a RedBull que a escolha da Honda era certa e iria dar resultados. Foi buscar ao programa Indycar o engenheiro Toyoharu Tanabe, concentrou-se, apenas, em fazer funcionar as coisas com a Red Bull, depois do tiro de partida com a Toro Rosso, e os resultados começam a aparecer. As lágrimas de Yamamoto quando Max Verstappen ganhou, pela primeira vez, com o motor Honda no Red Bull, foram o sublinhado perfeito para um trabalho competente e paciente da marca japonesa. A Red Bull e a Toro Rosso foram o palco perfeito para esta atuação da marca japonesa, perfeitamente empenhada em regressar aos bons tempos da McLaren e da Williams. Verstappen ofereceu três vitórias à Honda – Áustria, Alemanha e Brasil – e a Toro Rosso deu o seu contributo com Gasly a chegar ao pódio no Brasil, depois de uma “drag race” com Hamilton, provando que o motor Honda tem, já, muito “pulmão”. A química entre os homens de Hamamatsu e de Milton Keynes está cada vez melhor, as duas partes funcionam bem e se a esquizofrenia de alguns na Red Bull não estragar, 2020 pode ser um ano de aflição para os rivais.

GP da Alemanha

Pode parecer ridículo escolher uma prova como um dos “top” de 2019, porém… que corrida! E culpa de quem? Claro, da chuva! Sempre que a mãe natureza entra na equação, as corridas ganham interesse. O caos gerado pela chuva em Hockenheim, deu á prova germânica aquilo que o aborrecido circuito alemão não iria ter, certamente. Para lá da penalização, dura, imposta à Alfa Romeo, que ofereceu um improvável ponto a Robert Kubica e permitiu que Lewis Hamilton acabasse o ano a pontuar em todas as corridas, a corrida alemã estendeu armadilhas a vários consagrados e ofereceu a redenção a quem tinha sido humilhado em 2018. Traduzido, quer isto dizer que Lewis Hamilton fartou-se de cometer erros (estava doente, é verdade) e foi um sortudo ao conseguir chegar ao final da corrida e, mais sortudo ainda, por ter pontuado. Por seu lado, Sebastian Vettel fez uma recuperação absolutamente épica vindo da 20ª posição na grelha de partida até ao segundo lugar, redimindo-se do erro de 2018 que o tirou da luta pelo título. Já Charles Leclerc, pagou o preço da inexperiência e num erro semelhante ao de Vettel em 2018, destruiu contra a barreira de proteção uma possível vitória. Com todas as alterações devido à chuva, Daniil Kvyat levou o Toro Rosso até ao terceiro lugar, na prova em que recebeu a notícia que Kelly Piquet, filha de Nelson Piquet, sua namorada, deu à luz uma menina. Mostrando que é, realmente, um talento impressionante e que nestas condições será o único a dar que fazer a Lewis Hamilton, Max Verstappen ganhou a corrida. Para a Mercedes, “santos da casa não fizeram milagres”, e se Hamilton teve a “estrelinha” de campeão, Bottas saiu de pista e deixou a Mercedes sem ninguém no pódio.

FLOPS

Williams e Haas

Ambas as equipas estiveram tão mal em 2019 que não resisti a juntá-las. A Williams deu a entender que os problemas estavam resolvidos, mas a entrada em falso logo nos testes de Barcelona, com criticas dos pilotos e com Claire Williams a apontar o dedo a Paddy Lowe, deixaram claro que a temporada não ia ser fácil. E se o carro desenhado por Lowe se mostrou uma desgraça, a equipa nunca se encontrou e a escolha de Robert Kubica para estar lado a lado com George Russell foi um erro. O polaco nunca poderia ser o piloto brilhante que ameaçou ser antes do acidente com o Skoda Fabia em Andorra, “apanhou” com um talento fantástico que lhe deu valente “tareia”: 20-0 na qualificação, 16-2 em termos de classificação final, 906-245 voltas na frente. Apenas o ponto ganho na Alemanha foi melhor que os zero pontos de Russell. Mas a mediocridade da Williams foi impressionante.

No caso da Haas, Gunther Steiner ganhou cabelos brancos e problemas cardíacos com os seus dois pilotos e com o projeto do VF-19. Romain Grosjean e Kevin Magnussen foram uma fonte de instabilidade ao longo do ano, mas o chassis da equipa americana mostrou-se um “flop” e se ainda foi permitindo alguns brilharetes na qualificação, nas corridas os adeptos e os comentadores já faziam apostas para saber quando é que os Haas caiam para o final da classificação. Nunca conseguiram aproveitar as qualidades do motor Ferrari e só não foram piores que a Williams. Mas a equipa liderada por Gunther Steiner foi uma sombra da equipa que foi 5ª em 2018.

Q3 em Monza

Patético! Embaraçoso! Dispensável! Grotesco. A terceira ronda foi demasiado má para que se possa repetir. Começou por ser interrompida após seis minutos, devido a uma saída de pista de Kimi Raikkonen. Quando a qualificação foi retomada, os pilotos regressaram à pista tão devagar, tão devagar, mas tão devagar, que se foram juntando num pelotão, onde ninguém queria tomar a iniciativa de oferecer um reboque ao colega de equipa e permitir que um adversário ganhasse vantagem. Com este jogo do gato e do rato, perfeitamente dispensável, apenas Carlos Sainz se marimbou para o assunto e conseguiu passar na linha de meta com tempo para fazer uma derradeira volta rápida. Uma imagem ridícula que já tinha sucedido na qualificação da F3 com 17 dos 30 pilotos inscritos a fazerem a mesma cena e foram penalizados pela FIA. Na Fórmula 1, nada sucedeu. Um dos pontos baixos da temporada de 2019.

Sebastian Vettel

O alemão foi quatro vezes campeão do Mundo com a RedBull, mas desde que chegou à Ferrari, as coisas não têm resultado e depois de ter um companheiro de equipa “suave” como Kimi Raikkonen, Vettel viu a Ferrari instalar no segundo carro um miúdo com enorme talento chamado Charles Leclerc. E a sombra do monegasco foi crescendo, crescendo e Vettel foi acumulando erros. Alguns deles pouco justificáveis como a colisão com Max Verstappen em Silverstone, o pião em Monza que apanha Lance Stroll que chegava a 200 km/h. As coisas não foram piores por mera felicidade. Viu Leclerc, exatamente em Monza, ganhar com a Ferrari, fazer tocar os sinos de Maranello, algo que o alemão nunca conseguiu com a Scuderia. Perdeu para Leclerc na qualificação e viu o monegasco conquistar sete poles contra as duas que conquistou no Canadá e no Japão, fez menos pontos que Leclerc e esteve menos voltas na frente do seu jovem colega de equipa. O que sucedeu no Brasil deixou claro que Vettel tem grandes dificuldades quando está sob pressão e quem quer ser campeão do Mundo não pode errar tanto. O pior é que apesar de Mattia Binotto continuar a defender o seu piloto campeão do mundo, Charles Leclerc está cada vez mais ameaçador e o ano de 2020 não vai ser pera doce para Sebastian Vettel.

Renault

Custa a perceber a forma como a administração da Renault lida com o descalabro que tem sido a participação da Renault F1 Team no Mundial de Fórmula 1. Há um rosto que se destaca: Cyril Abitboul. O homem forte da Renault F1 continua a prometer, prometer, prometer, mas nada acontece. Tirou um às de trunfo da manga ao “roubar” Daniel Ricciardo à sempiterna rival RedBull – embora tenha sido o australiano a cair na equipa depois de perceber que saiu precipitadamente da Red Bull não tendo lugar na Ferrari ou na Mercedes – mas por muito bom que seja o australiano, sem chassis e sem motor, dificilmente a Renault podia ir longe. Abiteboul foi esbofeteado pela Red Bull, que com o motor Honda ganhou três vezes e ficou com o lugar mais baixo do pódio dos pilotos, viu a cliente McLaren renascer e roubar-lhe o quarto lugar. Monza e o 4º lugar de Ricciardo foram uma espécie de oásis numa temporada má. Alain Prost não trouxe nada de novo e 2020 será um ano fundamental: ou Cyril Abitboul, Alain Prost e toda a equipa dão o salto para diante – melhorando os procedimentos da equipa, a fiabilidade e a velocidade – ou perante o apertar de cinto generalizado da industria automóvel, os responsáveis da Renault podem acabar com a brincadeira na Fórmula 1. Bonitas as homenagens e as festas de despedida de Nico Hulkenberg, imolado na fogueira dos resultados e da necessidade de ter um francês na equipa. Ocon desligou-se da Mercedes – Bottas parece ser eterno… – e abraça o projeto da Renault, formando uma dupla forte com Ricciardo. Que está mortinho que Vettel se vá embora para poder entrar na Ferrari. Veremos se Hamilton não lhe vai estragar os planos…

Estrategas da Ferrari

Foi há nove meses que Mattia Binotto decidiu colocar Inaki Rueda como o responsável pela estratégia de corrida de Sebastian Vettel e Charles Leclerc. É ele o rosto da equipa de estrategas da Scuderia e tem enorme quota parte numa época completamente falhada pela Ferrari. Podem ser elogiados os trabalhos feitos em Spa e em Singapura, mas a temporada foi feita de equívocos estratégicos com amiudes vezes Vettel e Leclerc a serem chamados demasiado cedo para pararem nas boxes ou demasiado tarde, escolhas erradas de pneus para a estratégia desenhada, o que acabava por estragar as corridas da Ferrari. Várias vezes o engenheiro espanhol foi “enganado” por James Wolves e o seu “queijinho” de probabilidades e até Hannah Schmitz, a estrategista da RedBull deu que fazer a Inaki Rueda. Para 2020, o espanhol terá de melhorar, porque em 2019 até conseguiu irritar Leclerc ao fazer um “undercut” para favorecer Vettel em Singapura, algo que não ajuda muito à paz dentro da equipa.

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