FÓRMULA 1, TESTES BARCELONA: DAS Mercedes…

Por a 23 Fevereiro 2020 12:57

Para lá da rasteira que pregou a todos os rivais com um engenhoso sistema que altera a geometria da direção, a Mercedes não cometeu o erro do ano passado e entrou nos testes de 2020 a fundo, ‘triturando’ a concorrência e deixando Ferrari e Red Bull de cara á banda. A não ser que estas se tenham ‘escondido’…

Por José Manuel Costa

FOTOS Philippe Nanchino

Coisas que já sabemos: a Mercedes está longe de todos; a Ferrari está longe da Mercedes; a Red Bull parece estar em belíssima forma; a Racing Point conta com o Mercedes W10, perdão, o RP20 como aríete para contrariar o domínio habitual da Mercedes, Ferrari e Red Bull; a Williams parece renascida e todos sabemos que esta é a primeira semana de testes e nada se pode concluir do que aconteceu nos três dias de testes em Barcelona.

Como disse, a Mercedes esbofeteou a concorrência, não só com o DAS, mas com Valteri Bottas, que deixar o plantel a 1,3 segundos no final do último dia. Os mais otimistas dirão que o copo está meio cheio, pois o finlandês chegou a esse tempo com os pneus mais macios disponibilizados pela Pirelli, os pessimistas vão olhar e ver o copo meio vazio ao lembrarem que na primeira semana ninguém anda com os motores no máximo da sua performance. Tudo piora quando nas hostes da Mercedes, Vallteri Bottas diz que “não sentiu nada verdadeiramente negativo comparado com o ano passado” e na casa italiana da Ferreri, Mattia Binotto diz que “não temos carro para ganhar em Melbourne.” No meio destes extremos de otimismo e pessimismo, está a Red Bull, que não tendo dado nas vistas com o que fez nestes três dias, deixou Max Verstappen satisfeito. “Tudo está a acontecer de forma suave e tranquila e é exatamente isso que queremos, com o carro a mostrar-se mais rápido e fácil.” Vamos então olhar para o que aconteceu nos três primeiros dias de testes da Fórmula 1 2020.

Lewis Hamilton foi o mais rápido no primeiro dia de testes

Dia 1: Mercedes com o pé direito

O primeiro dia de testes em Barcelona pode ser resumido da seguinte forma: Lewis Hamilton foi o mais rápido do dia com o Mercedes W11, o Mercedes W10, perdão, o Racing Point RP20 de Sergio Perez foi a surpresa ao ficar muito perto do campeão do Mundo, a Ferrari entrou de pantufas e a Red Bull fez dois piões.

Pode parecer pouco, mas foi exatamente isso que sucedeu neste primeiro dia onde o número de voltas feitos foi bem mais impressionante que os tempos feitos pelos pilotos ao longo do dia que começou às 9 da manhã com George Russell a dar o mote e a afastar os rumores que diziam a Williams tão atrasada como em 2019. Com sol e algum frio, o pelotão usou estas primeiras horas para reencontrarem rotinas, enquanto que os engenheiros desenrolaram o papiro com o plano de trabalho, munindo-se de muito “flow viz” e de estruturas para colocar sensores que mediram tudo e mais alguma coisa.

Curiosamente, foi um dia sem interrupções, com uma mão cheia de piões, mas nada que fizesse sair uma bandeira vermelha que interrompesse os trabalhos. Contas feitas, a Red Bull e Max Verstappen “ganharam” o dia ao cumprirem nada menos que 168 voltas, praticamente, três GP de Espanha, ficando com o recorde do piloto com maior número de voltas cumpridas num só dia de testes, que pertencia a Daniel Ricciardo com 165 voltas ao traçado de Barcelona em 2018. Não escapou a dois piões na curva 13, mas sem problemas de maior.

Sozinho, o holandês fez quase tantas voltas como os dois pilotos da Mercedes, com Lewis Hamilton a cumprir 94 voltas e Valtteri Bottas 79 voltas, para um total de 173 voltas aos 4,655 km de perímetro do traçado catalão. Sem um único problema e com o campeão do mundo a ficar com o melhor tempo do dia com 1m16,976s.

Mas mais importante que tudo isto, é o facto da Mercedes ter mostrado o DAS e ter feito o melhor tempo da sessão com o segundo composto mais duro da Pirelli, o C2. Com os C3, Bottas ficou a 0,337 segundos, deixando dois Mercedes no topo. Meio Mercedes ficou com o terceiro lugar, graças à replica do Mercedes W10 feita pela Racing Point e que tem até motor… Mercedes, que com Sergio Perez ficou com o terceiro melhor tempo, deixando em pista menos de quatro décimos face a Hamilton com pneus C3, mais macios que os usados pelo campeão do Mundo.

A Alpha Tauri bateu a McLaren e a Renault, com Daniil Kvyat a ficar na frente de Carlos Sainz e de Daniel Ricciardo, todos a rodarem no mesmo segundo. Mais para trás, mas bem mais perto que no ano passado, o resto do pelotão, com destaque para a estreia de Esteban Ocon na Renault e para o nono lugar do Williams de George Russell, que quando fechou o dia não deixou de exclamar com um sorriso de orelha a orelha “o novo carro é um enorme passo em frente!”

A Ferrari foi a surpresa, mas pela negativa: Vettel esteve engripado e não rodou, Leclerc não foi além do 11º tempo, fazendo 123 voltas em grandes problemas, mas saindo do SF1000 a absolutamente inesperados 1,3 segundos de Lewis Hamilton. E as equipas com motor Ferrari parece que apanharam o vírus e também não conseguiram tempos interessantes, com Robert Kubica (Alfa Romeo) a ficar atrás do Racing Point RP20 de Lance Stroll e Giovinazzi a fechar o dia em último. A Haas escapou ao último lugar com Kevin Magnussen a fazer 106 voltas, mas com tempos dececionantes.

Foi assim que os adversários viram Kimi Raikkonen no segundo dia…

Dia 2: Velhos são os trapos, verdade Kimi Raikkonen?

Poderá parecer que a Alfa Romeo encontrou o caminho das pedras e com o melhor tempo rubricado por Kimi Raikkonen (1m17.091s com pneus C5, os mais macios da Pirelli), embandeirar em arco. Mas a equipa suíça nem teve oportunidade de soltar as rolhas das garrafas de champanhe, já que a manhã de quinta feira, segundo dia de testes, foi dominada pelo DAS e pelas imagens que mostravam Hamilton a puxar e a empurrar o volante em plena reta da meta.

Tudo isto num dia em que as equipas dedicaram o seu tempo a recolher e a comprovar dados e a Mercedes “acelerou” o conta voltas para perto das duas centenas de voltas (o que seria a distancia de três GP de Espanha!), mas ficou aquém do objetivo devido a um problema elétrico sentido no turno de condução de Hamilton e um meio pião de Bottas na curva 13 (ficou sem espaço e sem talento…).

A Ferrari voltou a não impressionar, com Vettel a regressar ao volante do carro, mas sem autorização para fazer voltas rápidas, o mesmo se passando com Leclerc. Um segundo dia frustrante para os pilotos, mas interessante para os engenheiros.

O mesmo se passou com a Red Bull que, ainda assim, rubricou o quarto melhor tempo com Alex Albon. O trabalho estava concentrado em outras áreas e por isso o tailandês nascido em Inglaterra “´só” fez 134 voltas, pois da parte da tarde o carro esteve muito tempo nas boxes.

Ao contrário do primeiro dia, a segunda jornada dos testes de Barcelona conheceu interrupções. Uma delas causada por Kimi Raikkonen que foi mandado para a pista com gasolina a menos, propositadamente, para calibrar os sensores do nível de combustível, e o finlandês ficou parado na curva 9. Isto a 15 minutos do fim do dia de testes.

A Racing Point confirmou que a cópia do W10 funciona de forma perfeita, ficando com o segundo tempo, enquanto Daniel Ricciardo acaba o dia com um enorme sorriso nos lábios graças ao terceiro tempo mais rápido do dia. Uma glória de Pirro e apenas para o ego, pois todo o pelotão andou a evitar voltas rápidas. Destaque ainda para as 158 voltas que Romais Grosjean deu neste segundo dia ao volante do Haas, não tendo evitado, claro, um pião na curva 4 que ofereceu uma das melhores imagens do dia e da semana de testes. Também Pierre Gasly fez um pião, igualmente sem consequências.

Valtteri Bottas fez tremer a concorrência

Dia 3: Mercedes “uber alles”

Foi uma verdadeira bofetada que a Mercedes deu á concorrência, num terceiro dia onde houve liberdade de procurar o tempo mais rápido da semana e Valtteri Bottas fez 1m15,732s, muito perto do tempo da “pole position” de 2019 em Barcelona, deixando Lewis Hamilton a 0,784s e Esteban Ocon, com o Renault, a 1,370s. Mas mais preocupante, num dia que conheceu muitas paragens (4 bandeiras vermelhas), foi a Ferrari, com Sebastian Vettel, terminar o dia a 2,652s de Bottas.

Ficou toda a gente de cara à banda com a performance dos Mercedes, com os mais otimistas a pensar que isto não reflete o verdadeiro valor do resto do plantel, lembrando que o tempo foi feito com os pneus C5, os mais macios da Pirelli, os mais pessimistas a acreditar que 2020 vai ser um passeio pelos bosques da Mercedes.

Mas convirá lembrar que em 2019 a Mercedes rodou, na primeira semana, um segundo mais lento e que acabou por ganhar o campeonato.

Para juntar a incapacidade de andar depressa à falta de fiabilidade, a Ferrari viu um motor que deveria fazer mais de 4 mil quilómetros (ou seja, os seis dias de testes) quebrar com pouco mais de 1700 km feitos, sem puxar pelos modos mais intensos. Após 90 minutos de presença em pista, o SF1000 calou-se e Mattia Binotto ficou com aquela cara inexpressiva, mas certamente preocupado com o que se passou. O motor, esse, foi enviado diretamente para Maranello para se perceber o que aconteceu. Foi a primeira bandeira vermelha do dia, com Vettel a regressar à pista três horas depois dos mecânicos da Ferrari terem feito um extraordinário trabalho na troca do motor danificado. Vettel ainda cumpriu 99 voltas.

A Mercedes também teve um motor partido, mas no Williams de Nicholas Latifi, quando o jovem canadiano estava no seu turno matinal. Parou na saída das boxes, mas a bandeira vermelha saiu. Aqui os mecânicos da Williams, sempre rápidos na troca de pneus, levaram muito tempo para trocar a unidade danificada e o carro só regressou na última hora do dia. Ou seja, Latifi parou uma hora antes do almoço e sºo regressou a uma hora do fim da semana de testes. O “rookie” que tinha todo o interesse em fazer o maior número de voltas, fechou o dia com 71 voltas cumpridas.

A sessão voltou a ser interrompida com um despiste de Kevin Magnussen, que perdeu o controlo do Haas entre as curvas sete e oito, depois de um furo súbito ter desequilibrado o carro. A quarta e última interrupção foi cortesia de Daniel Ricciardo, que teve de estacionar o Renault na curva 9 devido a um “gremlin” elétrico, resolvido na box sem grandes problemas. O que permitiu à equipa francesa bater o recorde de voltas no terceiro dia, com Ricciardo e Ocon a fazerem, entre os dois, 169 voltas. Recorde partilhado com os rapazes da RedBull, Max Verstappen e Alex Albon, a cumprirem, também, 169 voltas ao traçado de Barcelona.

Este dia final de testes confirmou que a Ferrari está num território desconhecido. Permaneceu longe da Mercedes e da Mercedes B, a Racing Point, e este último dia não ajudou nada à causa italiana. A Red Bull, pelo visto, também não quis mostrar o jogo nestes primeiros três dias e particularmente na derradeira jornada.

Contas feitas, a Mercedes sabe que tem um carro já rápido e fiável com um elemento de distração chamado DAS; a Ferrari parece que mudou de paradigma na abordagem aos testes, mas parece que o SF1000 precisa de muito trabalho; a Red Bull esteve tranquila, mas também parece que andou a esconder o jogo, num plantel onde a cópia perfeita do Mercedes W10 feita pela Racing Point parece ser competitiva e todas as outras equipas estão ainda mais perto umas das outras, com destaque para a Williams. Para a semana saberemos mais alguma coisa sobre o GP da Austrália que vamos ter em março.

Este gráfico dá uma ideia dar diferenças entre cada piloto, mas há muito mais para além disso que o gráfico não diz. Quantidade de combustível e programas específicos que as equipas tenham estado a fazer.
Nesta primeira semana de testes não houve grandes problemas mecânicos ou ‘azares’ a manter os carros nas boxes, mas ainda assim, sucederam alguns percalços, por exemplo com a Haas, Williams e Ferrari. Desta forma, a Mercedes, para além da mais rápida foi a equipa que mais rodou, com 491 voltas, mais 46 que a Red Bull. Já a Ferrari andou menos 139 voltas que a Mercedes, e a equipa que menos rodou foi a Haas.
Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas Destaque Homepage
últimas Autosport
destaque-homepage
últimas Automais
destaque-homepage