Fórmula 1: Os recordes e o seu significado

Por a 30 Outubro 2022 15:56

Hoje, Max Verstappen poderá tornar-se no mais vitorioso piloto em apenas uma temporada, superando o recorde que presentemente reparte com Michael Schumacher e Sebastian Vettel, mas serão esses recordes verdadeiramente importantes?

Por natureza um recorde é uma comparação cronológica que vai evoluindo ao longo dos tempos, sendo absolutamente necessário que exista um conjunto de condições para que possa haver uma relação entre os feitos.

Por exemplo, no atletismo, o desafio da corrida de 100 metros manteve-se basicamente inalterado ao longo dos tempos.

Claro que algumas coisas mudaram desde que no Jogos Olímpico de 1896 foi realizada uma corrida com esta distância – o piso, o equipamento dos atletas, etc – mas o desafio continua a ser o mesmo – um ser humano fazer cem metros o mais depressa possível.

No desporto automóvel as coisas podem ser mais complicadas, dado que os regulamentos e os circuitos vão mudando ao longo dos anos, sendo impossível, por exemplo, comparar tempos realizado em cada um dos traçados.

Mesmo Monza e Monte Carlo, dois circuitos que estão muito próximos daquilo que eram quando foram estreados no automobilismo, apresentam hoje versões que tornam qualquer comparação completamente ineficaz.

Outro tipo de recordes que são muitas vezes mencionados por nós, aqueles que seguem de perto o fenómeno das corridas de automobilismo, são os feitos dos pilotos – número de títulos, de vitórias, pole-positions, voltas mais rápidas, pontos, etc.

São números absolutos e os resultados de hoje, de grosso modo, representam o mesmo que há setenta anos – para vencer um Grande Prémio, conquistar uma ‘pole’, um título ou uma volta mais rápida, continua a ser preciso bater toda a concorrência.

Porém, existem algumas nuances que complicam uma comparação directa entre, digamos, Max Verstappen, o mais recente Campeão do Mundo, e Nino Farina, o primeiro da história da Fórmula 1.

Se olharmos para a temporada de 1950, verificamos que o piloto italiano venceu 50% das corridas em participou – as 500 Milhas de Indianápolis faziam parte do calendário, mas era apenas para dar um sabor de mundial à competição, e ninguém da Fórmula 1 atravessou o atlântico para tomar parte na prova americana.

Este registo de Farina, aos comandos de um Alfa Romeo 158, é impressionante, nos dias de hoje, mas então, com ao nível de fiabilidade muito longe daquele que se verifica hoje, é verdadeiramente anormal, sendo por si só um feito.

Porém, esta performance de Farina, que foi replicada pelo seu colega de equipa Juan Manuel Fangio, significou o triunfo em apenas três corridas…

Hoje, este registo significava a vitória em onze Grandes Prémios e aqui reside a questão que se levanta com o recorde que Max Verstappen poderá reclamar – o de maior número de vitórias numa só temporada.

Presentemente, o piloto da Red Bull tem no seu nome treze vitórias esta temporada, o que o deixa em plano de igualdade com Michael Schumacher e Sebastian Vettel, mas o virtual Bicampeão Mundial teve, até agora dezanove oportunidades para triunfar, tendo ainda mais possibilidades para ficar sozinho com o recorde em questão.

No entanto, há vinte anos, o heptacampeão mundial teve apenas dezoito Grandes Prémios para assegurar o recorde que hoje partilha com o seu conterrâneo e o holandês.

Vettel, em 2013, teve apenas dezanove Grandes Prémios, ou seja, os mesmos que agora Verstappen teve para alcançar o mesmo número de triunfos.

Será, então, justo comparar o feito de Schumacher com estes dois pilotos, uma vez que o alemão de Kerpen teve menos corridas para vencer?

Para colocar a situação em perspectiva, Schumacher, em 2003, venceu 72,2% das corridas, ao passo que Vettel e Verstappen têm uma taxa de sucesso de 68,4% e para que que o holandês suplante o heptacampeão mundial, terá que vencer todas as corridas até ao final da temporada, somando dezasseis triunfos, 72,7%

Mas se olharmos para 1952, Ascari tem uma taxa de sucesso de 75% e se considerarmos apenas para as provas em que participou, esse número sobe para 85,7%. Porém, o bicampeão mundial, que conquistou os seus títulos aos comandos de um Ferrari, venceu apenas seis corridas, tendo a temporada oito eventos.

Isto demonstra que os recordes são cada vez mais inexpressivos. O aumento de corridas por época, basta perceber que no início dos anos 1950 havia oito Grandes Prémios numa época e em 2023 haverá vinte e quatro, tem vindo a esvaziar estas comparações e não só. O nível de fiabilidade que hoje se verifica, permite aos pilotos conquistarem maior número de resultados, para além de hoje as carreiras serem mais longas.

Tendo isto em consideração, é engraçado olhar para os livres dos recordes e verificar os registos, mas o seu significado é cada vez mais vazio. Hoje, se Max Verstappen vencer pela décima quarta vez, ultrapassando Vettel e Schumacher, subirá para o topo da lista dos pilotos com mais vitórias por temporada, mas isso não demonstra que foi mais dominador ao longo da época deste ano que o heptacampeão mundial em 2003, ficando ainda mais aquém do que Ascari fez em 1952.

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