Fórmula 1: Novas rivalidades para 2020

Por a 21 Fevereiro 2020 17:30

Por José Manuel Costa

Uma competição sem rivalidades não tem sal e a Fórmula 1, que atravessa há muito tempo uma crise de ídolos, mitigada com a chegada de Max Verstappen, precisa daquilo que a época de 2020 está carregadinha: jovens talentos de sangue na guelra!

Queria resistir à tentação de usar a frase estafada “eu sou do tempo”, mas abordar este tema das rivalidades sem olhar para o retrovisor é impossível e, por estar nestas andanças há mais tempo do que devia, lembro-me de algumas das mais belas rivalidades da Fórmula 1, da época em que havia heróis e ídolos. Evidentemente que o “mundo pula e avança sempre que um homem sonha” e hoje a Fórmula 1 está muito diferente dos tempos das grandes rivalidades.

Para 2020, na 70º ano de competição, a Fórmula 1 conhecerá um surto de juventude como há muito não se via. Para lá do “jovem” Kimi Raikkonen – que aos 40 anos se diz em perfeita forma e vai tentar ficar como o piloto com o maior número de GP disputados –, olhando para a grelha de partida temos Alexander Albon (23 anos), Pierre Gasly (24 anos), Nicholas Latifi(24 anos), Charles Leclerc (22 anos), Lando Norris (20 anos), Esteban Ocon (23 anos), George Russell (21 anos), Lance Stroll (21 anos) e Max Verstappen (22 anos). Wow! Temos aqui um plantel de nove pilotos que vão querer continuar a dar nas vistas em 2020. É isto que faz falta à Fórmula 1 e que a temporada fi al da primeira era híbrida da disciplina tem a rodos. Por isso, não custa encontrar uma mão cheia de rivalidades para este ano de 2020. Mas, vamos um pouco ali ao passado e recordar as cinco maiores rivalidades da Fórmula 1. Depois, vou-lhe revelar quais são as cinco maiores rivalidades para 2020.

AS CINCO MAIORES RIVALIDADES DA FÓRMULA 1

Recuamos até 1986, quando a Williams, apoiada num fabuloso motor Honda e muita eletrónica, dominava a Fórmula 1. Frank Williams e Frank Dernie decidiram acabar com a paz interna e contrataram Nelson Piquet, um bicampeão do Mundo com a Brabham de Bernie Ecclestone.

Por via desse estatuto, o brasileiro assumiu que seria o primeiro piloto. Mas do outro lado estava aquele que foi alcunhado de “brutânico”, Nigel Mansell, e que pensava exatamente o oposto. Os dois não conseguiram apagar o fogo da vaidade, não se entenderam em pista nem fora dela e tudo azedou. Mansell pilotava como um louco, mas Piquet era mais astuto e foi minando a confiança do inglês, ao ponto de recusar a partilha de informação técnica.

As coisas foram piorando e perderam o título de 1986. Mas pouco ou nada mudou em 1987, ficando o GP da Grã Bretanha, em Silverstone, como o ponto de exclamação: Mansell arrancou uma exibição fabulosa, amarfanhando Piquet de uma forma que o brasileiro não esqueceu. Por via disso, e apesar de se sagrar campeão, mitigando aquela humilhação, no final do ano, o brasileiro bateu com a porta e foi para a Lotus. Mas a rivalidade entre os dois não acabou e manteve-se ao longo dos anos.

ALEMANHA VS FINLÂNDIA

Michael Schumacher colecionou inimizades graças ao seu talento misturado com arrogância, que se traduziu em sete títulos, cinco deles consecutivos. Por isso tudo, Fernando Alonso, Damon Hill e Jacques Villeneuve poderiam fazer parte desta lista de rivalidades. Porém, aquele que mais mexeu com a estabilidade de Schumacher foi o fin andês Mika Hakkinen, apelidado de “finlandês voador”, piloto que escolheu a velocidade quando os seus compatriotas dominavam nos ralis e com isso deu muito que fazer ao alemão. Curiosamente, ambos se respeitavam muito e mantiveram a rivalidade nas pistas num braço de ferro de talento.

Em pista eram ferozes, intrépidos, mas com muito respeito, discutindo as questões da pista no “paddock” com educaçãoe respeito, tendo Schumacher ficado deveras preocupado com os acidentes de Hakkinen em Adelaide, em 1995 e 2001. O tal braço de ferro de talento ofereceu-nos alguns dos melhores momentos da Fórmula 1, dos quais recordo dois: a épica luta pela “pole position”, no GP do Japão de 2000 que Hakkinen perdeu por 79 milésimos, e a fabulosa ultrapassagem de Hakkinen a Schumacher, em Spa, na reta Kemmel, igualmente em 2000, e que lhe deu a vitória. Ficou famosa a imagem de Hakkinen a explicar a Schumahcer como passou pelo alemão com um carro pelo meio e no limite da relva. Momentos inesquecíveis!

O RIGOR E O “BOM VIVANT”

Ambos já desapareceram, infelizmente, sendo dos mais talentosos pilotos que já surgiram na Fórmula 1. Ficaram imortalizados no fil e “Rush” e construíram uma rivalidade que parecia ser um choque de titãs, mas acabou por ser uma relação de respeito entre alguém rigoroso e metódico e um “bom vivant” que gostava de fumar, beber e sexo. Foi em 1976 que a rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda atingiu o píncaro. O ego gigante de Hunt e o desejo de ser bem sucedido a todo o custo de Lauda fê-los embarcar numa luta que quase os liquidou.

Apesar disso, tal como acontecia entre Hakkinen e Schumacher, o respeito entre os dois era grande. Mas pelo talento que cada um exibia, pois as coisas azedaram quando Lauda foi para a Ferrari e Hunt se arrastava na Hesketh. James Hunt já tinha batido o austríaco nas fórmulas inferiores e entendeu que seria capaz de fazer o mesmo na Fórmula 1, pelo que assim que vagou um lugar na McLaren, tudo fez para ficar com o lugar na equipa.

Equilibrados ao nível do material, o talento de ambos fazia a diferença para os outros e colocou-os lado a lado muitas vezes, ora ganhando um ora ganhando o outro, até que chegou Nurburgring. Lauda exagerou ao querer ganhar a Hunt e alargar a vantagem para o britânico e acabou por se despistar, sofrendo o horrível acidente que quase o matou. Sobreviveu horrivelmente queimado, mas resiliente regressou o mais rápido que pode para tentar lutar pelo título.

James Hunt aproveitou para reduzir distâncias e tudo se decidiu em Fuji que, para não ser diferente, estava banhado por uma chuva copiosa. Lauda entendeu que não havia condições para continuar em pista a arriscar a vida. Hunt venceu a corrida e o campeonato… dedicando a vitória ao seu rival. Um gesto nobre que Lauda nunca esqueceu.

ALEMANHA VS AUSTRÁLIA

Quando lhe acertou em cheio com o Sauber na traseira do seu Red Bull, no meio da alagada pista de Suzuka, ficou marcado para a vida, e quando se encontraram na Red Bull estalou a rivalidade.

Sebastian Vettel não passava pela garganta de Mark Webber e em 2010 as coisas, literalmente, explodiram quando ambos colidiram na reta oposta do circuito de Istambul, Turquia, quando lutavam pela vitória. E quando a RedBull se colocou ao lado do alemão, quando todo o “paddock” apontava o dedo a Vettel, deixou Webber lívido. Os dois mantiveram-se na equipa com o australiano a ver Vettel ganhar títulos e tudo chegou ao limite quando Vettel ignorou as ordens de equipa (Multi 21 Seb, Multi 21 Seb), passou Webber e ganhou na Malásia. O australiano saiu da equipa e anunciou a sua retirada da competição.

GLORIOSOS TEMPOS DA LUTA ENTRE SENNA E PROST

Dois galos para o mesmo poleiro, nunca deu bom resultado, mas Ron Dennis não pensava assim e juntou Ayrton Senna e Alain Prost na McLaren-Honda. Uma relação tumultuosa que teve vários episódios: desrespeito pelo acordo antes da corrida de San Marino de não ultrapassagem depois da primeira curva, quando Prost estava na frente, culminando no Japão quando Prost estava na frente do campeonato e Senna tinha de ficar à sua frente para ser campeão, acabando tudo na chicane de Suzuka quando Prost e Senna colidiram e o brasileiro acabou por ser desclassificado. A rivalidade prolongou-se pelos anos, com palavras

duras de parte a parte, tendo tudo culminado quando o francês foi para a Ferrari e chegaram ambos a Suzuka a discutir o título. À chegada da curva

um Prost estava na frente e, quando viu Senna, tentou bloquear a manobra do brasileiro que não se coibiu de manter a trajetória e o atirar para fora da pista. Ficaram ambos na gravilha, mas Senna foi campeão.

RIVALIDADES PARA 2020

A maior rivalidade será entre Mercedes, Ferrari e Red Bull, pois os homens de Maranello e de Milton Keynes não querem oferecer aos alemães o recorde de vitórias consecutivas em campeonatos, dominando a primeira era híbrida da Fórmula 1. O facto de termos novas regras em 2021 e das regras de 2020 estarem estáveis, vai permitir uma maior rivalidade entre as três equipas que dominam o Mundial. Tudo vai depender do que a Ferrari e a RedBull conseguirem fazer, tendo a Mercedes já deixado escapar que tem sentido alguns problemas com o motor de 2020. Certo é que todos os anos dizemos a mesma coisa: é desta que a Mercedes vai perder e, contas feitas, como em 2019, venceu dezena e meia de corridas deixando meia dúzia para dividir entre a Ferrari e a RedBull. Mas vamos acreditar que teremos uma luta ainda mais intensa pelo título em 2020.

MOTORES RENAULT NO MEIO DA MCLAREN E RENAULT

O último ano do acordo entre a McLaren e a Renault promete ser “quentinho”. A equipa britânica vai regressar aos braços da Mercedes em 2021, mas vai ter de se assoar a um motor que a Renault diz estar no topo. A casa francesa está numa encruzilhada e Cyril Abiteboul tem um caso complicado entre mãos: terá de ter resultados ao nível de 2018, evitar o desastre de 2019, manter Daniel Ricciardo motivado e focado e bater a McLaren. A formação de Woking esbofeteou a casa francesa com o mesmo motor, deixando as coisas num patamar complicado, Abitboul já não tem de se enervar com Christian Horner, mas não terá descanso face a Andreas Seidl. A Renault mudou muito, investiu em recursos humanos juntando Dirk de Beer (aerodinâmica) a Pat Fry, um ex-Ferrari que veio da… McLaren. Tudo isto embrulhado por um par de pilotos de excelência: Daniel Ricciardo e Esteban Ocon. Do outro lado, a McLaren verá a cobrança ser grande, depois de um 2019 de grande qualidade que a tornou a melhor “dos outros”. Se o MCL35 foi bem nascido, tendo já o dedo de James Key, saído da Toro Rosso, acredita-se que o carro de 2020 mantenha essa qualidade nas mãos de uma dupla que funciona muito bem: Carlos Sainz e Lando Norris. Mas, atenção, a Renault e a McLaren não vão estar sozinhas e veremos o que fará a Racing Point, por exemplo.

FOGO PERTO DA ESTOPA

Diz o povo com alguma razão que “o fogo ao pé da estopa” não dá bom resultado. No passado, como leu acima, outras duplas de pilotos com demasiado talento e egos enormes acabaram por se dar mal. Mas a Renault não quis saber e depois de “roubar” Daniel Ricciardo à Red Bull, trouxe um menino francês “roubado” à Mercedes, Esteban Ocon. E o pobre do Cyril Abitboul já veio dizer que “gerir estes dois será um problema”. Ocon já deu mostras de ter um feitio complicado quando andou “à porra e à massa” com Sergio Perez na Force India. Não gosta de perder e, tendo na equipa um piloto do calibre de Ricciardo, vai querer dizer quem manda na equipa francesa. Se de um lado temos um australiano brincalhão, mas maduro em pista e extremamente rápido, do outro surge um francês veloz que parece não ter medo de ninguém nem fazer amigos na competição: chateou-se com Pierre Gasly no karting, não conseguiu suportar Sergio Perez e já se “meteu” com Max Verstappen quando lhe bateu em Interlagos em 2018. Portanto, na Renault temos “o fogo ao pé da estopa” e não custa nada adivinhar que, no balanço fi al da temporada de 2020, serão vários os episódios entre

Ricciardo e Ocon.

MIÚDOS NA LUTA PELO PROTAGONISMO

Andaram juntos no karting em 2013 e os duelos faziam faísca. Um chegou precocemente á Fórmula 1, mas fê-lo em fanfarra dando nas vistas pelo talento, pela ousadia e pela arrogância própria dos jovens. O outro andou a maturar, seguindo o canal habitual para chegar á Fórmula 1. Já se encontraram em pista em Spielberg, no RedBull Ring, e o holandês moeu-lhe o juízo com uma manobra musculada. Max Verstappen não tem rivalidade interna, Charles Leclerc tem um adversário duro de roer em Sebastian Vettel. Verstappen quer ser campeão do mundo e ganhar corridas, Leclerc ganhou duas vezes, uma delas num duelo intenso com Lewis Hamilton. Não há dúvidas nenhumas sobre o talento dos dois pilotos e acredito que, se a Mercedes vacilar, teremos duelos muito interessantes entre estes dois e, quem sabe, poderá um deles imitar Nico Rosberg em 2016.

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