Fórmula 1 em ‘stand by’

Por a 3 Abril 2020 15:26

Por Fábio Mendes e José Luís Abreu

FOTOS Philippe Nanchino

Num momento em que a pandemia ataca em força nos EUA e não dá grandes sinais de abrandamento na Europa, o desporto motorizado mundial mantém-se em ‘stand by’, à espera que o COVID-19 dê tréguas e se possa ver uma luz ao fundo do túnel, que para já não existe. Mas também há boas notícias. Uma vem de Portugal, a outra da Aston Martin…

O mundo mantém-se em sobressalto com a pandemia de coronavírus, sendo que depois de tudo ter começado na China, depressa rumou à Europa, onde se instalou em força e está agora nos Estados Unidos, a ganhar uma dimensão que os seus responsáveis não anteviram. Também na Grã-Bretanha a ‘tática’ inicial foi uma, há poucos dias mudada para ‘encerramento total’. Neste contexto, os responsáveis de todo o desporto motorizado estão pacientemente à espera doutros sinais da pandemia, de modo a poder começar a traçar cenários.

Para já é ainda muito cedo para fazer qualquer tipo de planos e para que se perceba um pouco melhor o contexto de tudo isto, e dando como exemplo a F1, só poderemos ter uma ideia do que poderá acontecer quando se puder controlar um série de fatores chave da questão.

Como todos sabemos, a Grã-Bretanha é a ‘pátria’ da F1, é lá que a maioria das equipas estão sediadas. Depois dos ingleses, temos espanhóis, italianos, alemães, franceses e juntamente com os japoneses estamos a falar de cerca de 95% da população itinerante da F1, entre três e quatro mil pessoas. Portanto, saber quando estas pessoas vão deixar de estar isoladas como estão agora todos os europeus, é o primeiro passo, depois quando é que os aeroportos vão reabrir em grande escala. Quando isto suceder, a Europa estará a começar a voltar à normalidade e só aqui podemos começar a traçar cenários. Depois há ainda muitas questões com que lidar, como por exemplo o facto quase certo que tudo isto se vai fazer por fases. Depois há que saber, entre os países fora da Europa, quem aceitará receber gente vinda de países muito afetados como por exemplo Itália, Espanha e França.

Não sabemos o que vai suceder em Inglaterra, a Alemanha parece estar ‘bem’. Países como a China, Vietname e Singapura, por exemplo, que já passaram pelo grosso da crise, conhecem o risco duma segunda vaga, tal como pode suceder na Europa no outono. Vai certamente haver um período de ‘nojo’ dos asiáticos face aos europeus, os EUA estão agora a sofrer, e tudo isso vai ter influência no calendário que a FIA e a F1 vão colocar de pé.

Não vale a pena neste momento apontar para julho, muito menos para mais cedo. Portanto, há que esperar mais tempo, e talvez dentro de um mês já seja possível ver algum luz no que pode ser a F1 2020.

Seja como for, no meio deste turbilhão todo de acontecimentos, há boas notícias e curiosamente chegaram de Portugal. Paulo Pinheiro, administrador do Autódromo Internacional do Algarve, revelou que o ‘seu’ circuito acabou de receber homologação de grau 1, o que permite testes e corridas de Fórmula 1, acrescentando ainda ao 16Valvulas/AutoSport que tem agendado um teste de F1 em novembro. Sabendo-se que os testes de F1 são conjuntos, o que poderá estar a ser preparado? O segredo é alma do negócio.

É, como se percebe muito positivo que a pista portuguesa esteja agora preparada para receber os bólides, pois como diz Paulo Pinheiro: “O nosso papel é estar preparados para o que possa acontecer”. E o grau 1 é isso mesmo, estar preparado.

FIA toma mais medidas

Por outro lado, a A FIA continua a tentar encontrar mecanismos para atenuar a situação cada vez mais complexa da paragem de todos os campeonatos devido ao novo Coronavírus e tomou mais medidas para facilitar a tomada de decisão e limitar os custos das equipas nesta fase. Aprovou alterações nos Regulamentos Desportivos de 2020, para ter flexibilidade para reagir à crise e organizar um calendário que melhor proteja o valor comercial do Campeonato e contenha os custos possíveis. Começou por precisar ‘só’ do apoio de 60% das equipas, para a tomada de decisões ao invés da unanimidade, passa a poder mudar o calendário sem votação, fez alterações nos testes, irá reduzir i número de unidades motrizes caso o número de corridas tenha que diminuir.

O Conselho Mundial chancelou o adiamento dos Regulamentos Técnicos de 2021 para 2022 para medidas de economia de custos. Medidas adicionais serão introduzidas para 2021 após novas discussões com as equipas, que incluirão a homologação da célula de sobrevivência (a partir de 2020) e alguns outros componentes. Os sistemas de direção com eixo duplo (DAS) não serão permitidos nos regulamentos de 2021.

Ainda não está decidido, mas a F1 deverá estender o período de encerramento das fábricas por mais semanas de modo a manter os custos o mais baixo possível. Para já não há pressa quanto ao prolongamento, os diversos departamentos não vão poder operar nas próximas três semanas pelo que há tempo, esperando-se pelo meio de abril de modo a poder ter dados mais consubstanciados para as decisões que se irão tomar por essa altura.

‘Lay off’ na Fórmula 1?

Quem o revelou foi Carlos Sainz (senior), dizendo que a Fórmula 1 pode estar perto de impor um ERTE (Temporary Employment Regulation File), ou Regulador Temporário de Emprego, uma espécie de ‘lay off’. Mas não só, pois a exemplo do que já tem vindo a suceder, por exemplo no futebol, na McLaren, Lando Norris e Carlos Sainz já aceitaram cortes no salário, depois de saberem que toda a restante equipa, bem como o pessoal da fábrica, iria ver os seus salários reduzidos durante, pelo menos, três meses. Este é um primeiro sinal de que as equipas começam a sentir os efeitos desta crise. Este exemplo irá muito provavelmente ser seguido por outras estruturas.

Noutro contexto, os efeitos de toda esta situação já se fazem sentir ao ponto da agência de rating Moodys ter atribuído nota negativa à F1. Portugal tem, infelizmente, conhecimento de causa do trabalho das agências de rating, que classificam o risco associado ao crédito concedido a instituições ou países. A F1 atravessa um mau momento e downgrade da Moody’s pode afetar ainda mais o campeonato: “A perspetiva negativa reflete os altos níveis de incerteza para a temporada de corridas de 2020 e as expectativas da Moody´s de aumentar a alavancagem e reduzir a liquidez em 2020. Isso resulta em riscos de que a empresa não consiga restaurar a alavancagem ajustada da Moody para abaixo de 7 vezes dentro de um ou dois anos após a crise do coronavírus. A F1 tem uma liquidez forte e uma base de custos suficientemente flexível para gerir durante uma temporada 2020 severamente reduzida, que a Moody’s considera que provavelmente seria capaz de suportar um cancelamento total”.

F1 ajuda na luta

Ninguém tinha dúvidas que na F1 estão alguns dos melhores engenheiros do mundo e os da Mercedes conseguiram criar em menos de uma semana, em colaboração com a University College London, um ventilador para ajudar o sistema de saúde britânico. A complexidade e a exigência da F1 coloca à prova a capacidade destes homens e mulheres de encontrar soluções nunca antes pensadas e se toda esta capacidade intelectual fosse colocada ao serviço de outras áreas, era fácil esperar resultados em pouco tempo. Os engenheiros da Mercedes criaram um ventilador menos invasivo para ser usado em casos menos severos de Covid-19. Os testes já começaram com 40 dos dispositivos CPAP a serem usados na University London College Hospital e em mais três hospitais de Londres. Se o teste for um sucesso, a Mercedes planeia produzir até 1.000 dispositivos por dia na sua fábrica de High Performance Powertrain dentro de poucos dias. O dispositivo já recebeu aprovação para uso pela agência reguladora de produtos de medicamentos e assistência médica.

Silverstone decide a 30 de abril

Quando faltam poucos dias para a decisão sobre um possivel adiamento do GP do Canadá, os responsáveis de Silverstone já têm data para anunciar se o GP da Grã Bretanha segue ou não. Será no fim deste mês que termos mais novidades. Até lá Canadá, França e Áustria também terão de decidir. Wimbledon é um dos grandes eventos que estava agendado de junho a julho que já foi cancelado pela organização. Os responsáveis de Silverstone ainda aguardam por novidades positivas, algo que parece difícil de acontecer.

Aston Martin confirma regresso

O regresso da Aston Martin como equipa de fábrica está confirmado. A Racing Point lançou um comunicado em que confirma que a Aston Martin irá para a pista em 2021. Lawrence Stroll está à frente desta operação, liderando um consórcio que tem injetado capital na marca britânica. Apesar dos tempos conturbados que se vivem, o projeto do regresso da Aston Martin à F1 é para avançar já: “O processo de investimento nesta maravilhosa marca de carros exigiu toda a minha atenção e energia por vários meses. Certamente houve algumas noites sem dormir – disse Stroll. “Ao mesmo tempo, foi um dos acordos mais emocionantes em que já estive envolvido. Carros são a minha paixão, uma grande parte da minha vida, e a Aston Martin sempre teve um lugar especial no meu coração.”

“Estar aqui hoje e anunciar que o contrato está finalizado é um enorme privilégio e um dos momentos de maior orgulho da minha carreira.” “Com toda a papelada concluída, posso concentrar a minha atenção na implementação da estratégia para tornar esta marca fantástica ainda mais bem-sucedida nos próximos anos. Uma marca com o pedigree e a história da Aston Martin deve competir ao mais alto nível do automobilismo.”

“Acho que é a coisa mais emocionante que aconteceu na memória recente na Fórmula 1 e é incrivelmente emocionante para todas as partes interessadas no desporto, especialmente para os fãs. Não consigo pensar em um nome melhor para uma equipa de Fórmula 1.”

“A nossa estratégia de investimento coloca a Fórmula 1 como um pilar central da estratégia de marketing global e faz todo o sentido renomear o Racing Point para esse fim. A Aston Martin tem competido com muito sucesso em várias classes de automobilismo ao longo de sua história, mas agora temos a oportunidade de criar uma equipa de trabalho na Fórmula 1. “Os holofotes globais da Fórmula 1 são inigualáveis e aproveitaremos esse alcance para mostrar a marca Aston Martin em nossos principais mercados”.

Pacto da Concórdia transitório para 2021?

Apesar de estar em cima da mesa das negociações há muito, o novo Pacto da Concórdia, que era suposto vigorar durante cinco anos e com começo em 2021, está neste momento em ‘stand by’ pois como se pode calcular há assuntos bem mais prementes para resolver neste momento.

Contudo, com o atual Pacto da Concórdia a terminar no final de 2020 tem que ser encontrada uma solução ‘permanente’ ou de recurso e a ideia que está em cima da mesa passa por um acordo de transição com a validade de um ano.

Sem corrida e com o valor das ações da F1 a cair a pique na NASDAQ: “Antes de qualquer equipa se comprometer por cinco anos, todos nós precisamos saber se vamos conseguir sobreviver a esta crise. “Neste momento isto não é assunto, há coisas mais importantes a fazer neste momento, disse um chefe de equipa não identificado à Auto Motor und Sport.

Como se pode calcular, as discussões têm a ver com o que fazer este ano e como poderá ser 2021, que medidas de austeridade, como adiar o regulamento de 2021, etc. Por isso, acredita-se que um acordo provisório de um ano do Pacto da Concórdia para 2021 pode ser uma solução. O presidente da FIA, Jean Todt, e o diretor executivo da F1, Chase Carey, estão a pressionar para um limite orçamental inferior a 175 milhões de dólares para 2021, mas nem todos aceitam, especialmente Ferrari e Red Bull.

Novos regulamentos podem ser adiados para 2023

O adiamento para 2022 é já uma confirmação mas o adiamento para 2023 é uma possibilidade. Os novos regulamentos poderão ter de esperar mais antes de verem luz. 2021 era um ano de grande importância na F1, com os novos regulamentos, pensados para cortar custos e melhorar as corridas, a serem introduzidos. 2020 seria o ano de desenvolvimento dos novos monolugares, mas a situação atual não o permite. O adiamento para 2022 pareceu lógico e já foi confirmado, mas já se fala em apenas introduzir os novos regulamentos em 2023, como explicou Christian Horner: “Estamos a falar em adiar mais um ano as novas regulamentações, porque, na minha opinião, seria totalmente irresponsável ter o ónus dos custos de desenvolvimento em 2021”, disse Horner à BBC Sport em entrevista. “Parece haver um acordo razoável, mas precisa ser ratificado pela FIA para reduzir esses custos de desenvolvimento em 2022 e a introdução na temporada de 2023”.

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Pity
Pity
3 anos atrás

A questão dos testes é muito sugestiva, até porque, segundo li há uns tempos, Barcelona estaria fora. Mas isso foi antes da pandemia…

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