F1:AINDA EXISTEM RECORDES PARA BATER EM 2020

Por a 22 Fevereiro 2020 13:45

Por José Manuel Costa

Se alguns ainda torcem o nariz à última temporada da primeira era híbrida da Fórmula 1, a verdade é que pode ser a mais excitante e interessante desde 2014, não sendo certo que os títulos estejam entregues por antecipação. É que, além do orgulho ferido da Ferrari e do desejo da Red Bull em dar (mais) glória a Max Verstappen, há uma série de recordes que podem ser batidos este ano.

Eu que sou um adepto das estatísticas desde que comecei a comentar as corridas Nascar na Sport Tv, estou como os homens que cuidam dos números da Fórmula 1: ansioso que o campeonato e inicie. Quando os motores roncarem em Melbourne, já ali ao virar da esquina, entraremos no 70º ano da Fórmula 1 e há ainda alguns recordes para bater. Portanto, nada melhor que recordar quais são e quais as probabilidades de serem batidos em 2020.

HÁ 70 ANOS QUE SE PROCURA SUPERAÇÃO

Não estarei a dizer nada de espetacular ao lembrar que desde que a Fórmula 1 “nasceu”, em 1950, os pilotos lutam pela glória da vitória e dos troféus, e se a temporada de 2020 correr de forma normal – nem precisa de ser extraordinária –, os livros de recordes vão ter de ser reescritos pelos homens das estatísticas. E neste particular há um nome que salta imediatamente: Michael Schumacher.

O piloto alemão, recordista de títulos mundiais de pilotos, com sete troféus, de vitórias na Fórmula 1 (91), de voltas mais rápidas (77) e de pódios (155), entre outros recordes menos conhecidos ou lembrados, está no ponto de mira do cada vez mais sólido e competente Lewis Hamilton. Chegado aos 35 anos, o britânico prepara-se como nunca e elegeu 2020 como o ano onde quer igualar o alemão como recordista de títulos. Depois, pelo caminho, pretenderá oferecer o pleno de títulos de construtores á Mercedes nesta primeira era híbrida da Fórmula 1. Recordo que Hamilton só perdeu um título desde 2014 – para um Nico Rosberg que ficou esgotado na luta com o seu companheiro de equipa e decidiu saltar fora para não ser humilhado no ano seguinte –, e, com mais ou menos fortuna, conseguiu ser uma barreira intransponível para Ferrari e Red Bull.

Naturalmente que Lewis Hamilton quer igualar o feito de Schumacher, quer ser o segundo sete vezes campeão, enfim, quer ser o símbolo maior da Fórmula 1. E se olharmos para a carreira dos dois pilotos, vemos muitas semelhanças.

A CATEDRAL DA VELOCIDADE

Monza é um circuito fabuloso e Kimi Raikkonen conseguiu fazer a “pole position” com um Ferrari em 2018, batendo o recorde de velocidade com a volta a ser feita a uma média de 263,588 km. Charles Leclerc esteve quase, quase a bater o veterano finlandês ao ter registado um tempo 0,625 km/h mais lento. Ou seja, o recorde está em perigo.

HAMILTON E SCHUMACHER: CARREIRAS SEMELHANTES

O piloto da Mercedes nasceu em 1985, em janeiro, o mesmo mês do campeão alemão, mas em 1969. Hamilton foi pela primeira vez campeão do Mundo com 24 anos (2008), Schumacher foi campeão do Mundo pela primeira vez com 26 anos (1994). O britânico foi mais precoce, pois foi campeão no segundo ano de Fórmula 1, enquanto o alemão só conseguiu o título à quarta vez. Hamilton conheceu um hiato de cinco anos para voltar a ser campeão, Schumacher venceu dois títulos consecutivos (1994 e 1995) e depois esteve quatro anos para voltar a ser campeão.

Finalmente, Michael Schumacher conseguiu o seu sétimo e último título com 35 anos, Lewis Hamilton pode conseguir o sétimo título… com 35 anos!

RECORDES PARA TODOS

Lewis Hamilton não terá vida fácil pois os jovens que estão a assentar arraiais na Fórmula 1 estão empenhados em arrumar com os “idosos” a um canto. Charles Leclerc quer passar a ferro Sebastian Vettel e deu um lamiré sobre as suas capacidades em Monza, onde não deu chances a Hamilton, defendendo-se com classe do inglês. Max Verstappen não tem oposição na Red Bull e já deu que fazer a Hamilton, nomeadamente, no Brasil. Ambos querem bater o recorde de Sebastian Vettel, o piloto mais jovem de sempre a sagrar-se campeão do Mundo de Fórmula 1, com 23 anos, quatro meses e 11 dias. Porém, para o fazerem, terá de ser… agora! É que tanto Verstappen como Leclerc ultrapassam essa idade este ano e, por isso, é uma ocasião de “ou vai ou racha”, mas quer-me parecer que este é um recorde que ficará mais alguns anos em vigência.

Sendo certo que os carros de 2021 serão mais lentos quase cinco segundos que os atuais, 2020 é a última oportunidade para bater recordes da volta mais rápida em todas as pistas e Hamilton aproximar-se do recorde de Schumacher. Recordo que o alemão fez a volta mais rápida em 25,08% das corridas disputadas com um total de 77 voltas. Hamilton está longe, com 44 voltas mais rápidas, ou seja, a 20 do alemão.

Um dos recordes que vai cair, sem sombra de dúvidas, é o do maior número de pódios: Michael Schumacher tem 155 pódios, ou seja, 50,49% dos pódios possíveis, mas Lewis Hamilton já recolheu 151 pódios (60,4% dos pódios possíveis) e em 2020 ultrapassará o alemão. Schumacher vai manter, pelo menos mais um ano, o recorde de anos consecutivos a vencer: o alemão ganhou pelo menos uma corrida por ano durante 15 anos (1992 a 2006), o britânico ganhou pelo menos uma corrida por ano ao longo de 13 anos (2007 a 2019). Também não vai ser em 2020 que Lewis Hamilton vai conseguir igualar Michael Schumacher, ele que venceu cinco título consecutivos. O piloto da Mercedes triunfou em três (2017 – 2019) e está atrás de Sebastien Vettel (4) e Juan Manuel Fangio (4). Lewis Hamilton pode tentar quebrar o recorde do maior número de vitórias numa temporada: Michael Schumacher está igualado com Sebastian Vettel, com 13 vitórias nas épocas de 2004 e 2013, respetivamente.

Hamilton tem 11 vitórias nas temporadas de 2014, 2018 e 2019. Pode igualar ou superar, também, Sebastian Vettel no que toca ao maior número consecutivo de vitórias. Sebastian Vettel lidera a lista com nove corridas em 2013 (Bélgica, Itália, Singapura, Coreia do Sul, Japão, Índia, Abu Dhabi, Estados Unidos da América e Brasil), Lewis Hamilton conseguiu cinco na temporada de 2014 (Itália, Singapura, Japão, Rússia e Estados Unidos).

Michael Schumacher venceu por oito vezes o Grande Prémio de França, Lewis Hamilton pode tentar ultrapassar o alemão com oito vitórias nos GP do Canadá e Hungria em 2020. Ayrton Senna conseguiu fazer oito “pole positions” consecutivas entre o GP de Espanha de 1988 e o GP dos Estados Unidos de 1989. Lewis Hamilton só conseguiu sete pole consecutivas em 2015. Será que em 2020 iguala ou bate Senna? Se o piloto da Mercedes fi er a “pole position” no GP da Austrália, passa a ser o piloto que mais “poles” fez no mesmo Grande Prémio: o recorde é dele, de Ayrton Senna e de Michael Schumacher com oito voltas mais rápidas na qualificação.

Senna fê-lo no GP de San Marino, Schumacher no Japão e Hamilton na Austrália. Já agora, se fizer a “pole” na Austrália em março, Lewis Hamilton passa a ser o piloto com o maior número de “pole position” consecutivas no mesmo Grande Prémio (desde 2014 que é ele o primeiro a sair do primeiro lugar da grelha de partida na Austrália), em igualdade com Ayrton Senna (fez sete consecutivas em San Marino entre 1985 e 1991).

Outro recorde na mira de Lewis Hamilton está na posse de Sebastian Vettel. O alemão fez 15 “pole positions” em 19 corridas em 2011 com a Red Bull. O piloto da Mercedes fez 12 “pole positions” em 21 corridas no ano em que perdeu o título para Nico Rosberg, 2016. O britânico terá 22 corridas para bater este recorde. Se conseguir ficar no pódio em mais de 17 corridas em 2020, Lewis Hamilton passará a ser o piloto com o maior número de pódio numa só temporada. No mesmo registo, se o britânico conseguir 20 pódios consecutivos em 2020, bate Michael Schumacher, que fez 19 pódios consecutivos entre o GP dos Estados Unidos de 2001 e o GP do Japão de 2002. Hamilton fez 16 pódios consecutivos entre o GP de Itália de 2014 e o GP da Grã Bretanha de 2015.

Michael Schumacher conseguiu em 308 corridas disputadas – Lewis Hamilton “só” tem 250 corridas e está a 58 do alemão – pontuar em 221 delas. O campeão do mundo de 2019 já chegou às 213 corridas com pontos, pelo que em 2020 vai passar por Michael Schumacher e Kimi Raikkonen, este que se encontra empatado com Hamilton.

Uma vez mais, Schumacher na berlinda: o alemão é o piloto que mais voltas liderou, com 5111 voltas. Hamilton é segundo com 4486 voltas, ou seja, faltam-lhe 625 voltas e não será fácil destronar em 2020 o alemão. Nigel Mansell é o piloto que tem mais vitórias partindo da “pole position” – usando o fabuloso Williams ativo em 1992 -, mas Lewis Hamilton está a um passinho: o “brutânico” tem 9, o campeão do Mundo de 2019 conta com 8. Quanto ao “barba cabelo e unhas” – ou seja, pole position, vitória e volta mais rápida na mesma corrida – Michael Schumacher lidera ao ter registado 22, Lewis Hamilton está a sete e tem 22 corridas em 2020 para tentar passar Schumacher. Já no “Grand Slam” (pole, vitória, volta mais rápida e liderar todas as voltas da corrida), Jim Clark segura a liderança com oito “Grand Slam”, mas Lewis Hamilton tem seis, o último deles no GP do Abu Dhabi de 2019. Um recorde que está ao seu alcance.

Kimi Raikkonen, já com 40 anos, se tudo correr como o previsto, irá tornar-se no piloto com mais Grandes Prémios disputados.

Rubens Barrichello tem 326 provas disputadas, Raikkonen vai fazer, tudo indica, 22 corridas e passará a ter 333, mais sete que o brasileiro. O piloto da Alfa Romeo pode, também, bater Fernando Alonso no maior número de corridas terminadas: o espanhol tem 245, o finlandês tem 244. Portanto, basta a Raikkonen ver a bandeira de xadrez em Melbourne e no Bahrain para esse recorde cair. Se a Mercedes conseguir o sétimo título consecutivo em 2020, a equipa liderada por Toto Wolffultrapassará a Ferrari, depois de igualar o registo recordista da casa de Maranello com seis títulos de construtores consecutivos.

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