F1: Zak Brown nas pegadas de Ron Dennis

Por a 2 Janeiro 2021 10:45

Zak Brown não tinha uma tarefa fácil quando assumiu o comando da McLaren, mas depois de um começo francamente negativo, encontrou o caminho do sucesso.

Ron Dennis é um nome mítico da F1, que transformou a McLaren numa equipa de topo e numa marca globalmente conhecida. A McLaren está associada a grandes nomes da F1, a grandes feitos no desporto motorizado e a máquinas de sonho. O contributo de Dennis é inquestionável e deu uma dimensão ainda maior ao legado de Bruce McLaren, fundador da equipa que ainda hoje, passado tantos anos é recordado com saudade pela sua tenacidade, caráter e talento.

A McLaren estava destinada a grandes feitos com homens de visão, que não olharam a meios para atingir os fins. Foi esta herança pesada que Zak Brown começou a carregar em 2016, quando os acionistas da equipa decidiram que o reinado de Dennis tinha chegado ao fim e que era tempo de um novo homem do leme. Brown chegou com a missão de reerguer uma equipa perdida, sem patrocinadores de monta, sem competitividade e sem ânimo. Encontrou um cenário longe do ideal, mas veio determinado em usar todo o seu vasto conhecimento no automobilismo para ter sucesso.

Mas os primeiros tempos foram duros para Brown. A equipa estava convencida que tinha o melhor chassis e que apenas a deficitária unidade motriz da Honda impedia que Alonso lutasse pelo título. O foco passou a estar em Alonso e em dar-lhe as ferramentas mínimas para regressar ao topo o mais rapidamente possível. Mas os problemas eram mais profundos. As lacunas a nível estrutural ficaram expostas quando a McLaren apostou nos motores Renault para finalmente começar lutar por pódios… a performance de 2017 mostrou de forma clara que o problema da McLaren não era o motor. Uma organização hierárquica que não permitia avanços rápidos, uma infraestrutura a precisar de melhorias e uma abordagem que tinha de ser repensada. Alonso bateu com a porta no fim desse ano, apesar de ter renovado no começo da época e a McLaren ficava sem a sua estrela e sem argumentos.

Foi o momento de definição para Brown e agora com já pouco menos de duas épocas de experiência tratou de fazer as mudanças necessárias. Foi inteligente na abordagem e ao invés de rasgar tudo e começar do zero deixou que numa primeira fase o muito talento que reside em Woking estabelecesse as fundações enquanto procurava soluções para o futuro. As adições de James Key para diretor técnico, um nome já há muito falado para grandes equipas, depois do excelente trabalho na Toro Rosso e de Andreas Seidl para diretor da equipa trouxeram a clarividência e o rumo que a equipa precisava.

O trabalho feito pelos homens da casa merece destaque e o carro de 2019 já apresentava uma base interessante, muito graças ao trabalho de Pat Fry, que foi chamado para assumir a batuta enquanto as mudanças aconteciam. Mas Key e Seidl foram duas apostas em cheio, em especial o alemão que foi arrancado do reino da Porsche para reeditar o seu excelente trabalho no projeto de endurance da marca alemã.

Brown teve também a estrelinha da sorte do seu lado e a aposta numa dupla jovem para esta nova era parecia demasiado arriscada, mas Carlos Sainz integrou-se de forma perfeita na equipa, criou uma ligação raramente vista com Lando Norris que se mostrou um jovem talentoso, irreverente mas com capacidade para assumir o desafio. A atmosfera sem pressão permitiu que ambos mostrassem o melhor de si desde cedo e o trabalho conjunto da equipa foi melhorando a cada corrida.

A McLaren ainda não é aquela equipa poderosa que víamos no início desta década. O tempo perdido e os erros cometidos de 2012 a 2017 custaram caro e ainda se farão sentir por algum tempo. Mas Brown parece ter agora encontrado a fórmula do sucesso. Mais que isso tem a ambição de tornar a McLaren uma equipa global com a aposta na Indy, o interesse no endurance numa filosofia que não é seguida por mais nenhuma equipa da F1 mas que tem o potencial de dar muito mais valor à marca. A tal herança de Bruce McLaren é assim honrada de forma ainda mais séria, ele que nunca teve medo de competir em diferentes categorias.

Brown sabe atrair patrocinadores e depois desta reformulação pode dedicar-se àquilo que sabe fazer melhor. Mas tal como Dennis, pegou numa McLaren a passar por momentos negros e deu-lhe um rumo… qual o resultado desta caminhada? Só o futuro dirá, mas se Brown conseguir, à sua forma e dentro de um cenário completamente diferente, imitar o sucesso de Dennis, a McLaren voltará ao topo por muito tempo.

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3 Comentários
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mindgamesracing
mindgamesracing
3 anos atrás

Ron Dennis tinha um motor de “fábrica” e ainda encaixava 100 milhões por época vindos da Honda.
Está (quase) tudo dito.

Cágado1
Reply to  mindgamesracing
3 anos atrás

Quando o Ron Dennis pegou na McLaren tinha um Cosworth e passou de uma equipa que tinha conseguido ‘meia dúzia’ de pontos em 1979 para uma equipa que venceu GP em 1981 e foi vice-campeã em 1982. Só depois vieram os motores de fábrica, quando a inovação (primeiro chassis de carbono) e a competitividade já estavam restabelecidas. Mesmo assim, o motor TAG-Heuer, que dominou 1984 e 1985, não era um verdadeiro motor de fábrica – o mérito foi todo do Ron Dennis de ter convencido o Mansour Ojeh a abrir os cordões à bolsa a Porsche a fabricar o motor.

Pity
Pity
3 anos atrás

O problema da McLaren começou quando Ron Dennis perdeu o controlo accionista da equipa. Com o feitio dele, tornar-se “apenas” um gestor, que é o que é o Zak Brown, não dava. E assim começou o descalabro. Afastaram o Ron, foram buscar o Wilhmarsh, que foi grande asneira, tanto que voltaram a ir buscar o Ron Dennis. Só que a ambição dele em tentar voltar a controlar a equipa, como accionista, o que não conseguiu, e a falta de paciência dele e de um piloto com a Honda, levou a McLaren para o fundo e acabou, de vez, com a… Ler mais »

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