F1: Olhar para o futuro… sem ilusões

Por a 13 Julho 2018 12:13

2018 tem sido um ano duro para a McLaren. Os resultados são melhores, a performance é ligeiramente superior e o número de pontos bem maior. Mas 2018 seria o ano do tudo ou nada em que não haveria mais desculpas e o resultado não podia ser mais esclarecedor… a McLaren andou a enganar-se durante 3 anos.

O regresso de Ron Dennis em 2014 foi visto com bons olhos pela maioria. Depois de anos a fazer crescer o departamento de carros de estrada da marca, que se revelou um grande sucesso, o grande mentor da equipa voltava à F1 para tomar as rédeas da situação. A equipa não vencia desde 2012 e nem com motores Mercedes mostrava capacidade para chegar ao topo. Dennis não perdeu tempo, foi buscar Boullier para o comando das operações e tratou de arranjar um acordo com a Honda. Além  do impacto ao nível de marketing (talvez não tão bem aproveitado quanto seria desejável) o acordo traria 100 milhões por ano para a equipa de Woking e motores Honda, que forneceria em exclusivo a McLaren. No papel a ideia fazia todo o sentido.

Na prática tal não aconteceu pois a Honda não estava preparada para um desafio desta dimensão. O primeiro ano foi catastrófico, com uma falta de fiabilidade das unidades motrizes japoneses gritante. A McLaren ficava assim “refém”  da Honda, que passou a ser o bode expiatório, enquanto a equipa gritava aos ventos que tinha um dos melhores chassis e justificava isso com os dados das velocidades em curva do chassis, Os resultados demoraram a aparecer e o impensável aconteceu… Ron Dennis foi afastado. O mentor do projecto e o homem que fez renascer a McLaren para a tornar numa das maiores equipas de sempre, viu-se empurrado para fora da equipa.

Mas isso não resolveu os problemas e os resultados teimavam a não aparecer e nem a habilidade de Zak Brown, substituto de Dennis, foi capaz de minimizar os estragos. A separação tornou-se inevitável e a Honda saiu como a maior culpada destes anos negros da equipa, numa relação que nunca chegou a ser saudável. A Renault entrou em cena, e o motor francês dava garantias de alguma competitividade. Finalmente íamos ver a capacidade do poderoso chassis McLaren, que apontava para o top3. A realidade está muito longe disso.

A época começou mal, e o atraso no acordo com a Renault provocou também atrasos no desenho do chassis (três semanas).  A integração da nova unidade motriz demorou tempo e a equipa chegou a Barcelona com o chassis do ano passado com algumas melhorias, os resultados não eram animadores, mas foi prometido que o chassis de 2018 entraria em competição a partir de Barcelona e aí sim tudo iria melhorar. Foi precisamente a partir de Barcelona que tudo piorou e a McLaren começou  a chegar a conclusão que o problema não era do motor…

Os problemas no chassis da equipa estão identificados mas não aparecem no túnel de vento. Ou seja a equipa não pode tentar melhorar certos aspectos aerodinâmicos “em casa” e tem de usar o sempre demorado método tentativa / erro em pista, para chegar a uma solução… que ainda não chegou. Isso atrasa o programa do fim de semana e a procura da afinação ideal para o carro.

O problema da McLaren é bem mais profundo que apenas um mau chassis. Toda a organização interna está agora em causa. Martin Whitmarsh implementou um sistema de liderança horizontal, onde todos os departamentos são consultados antes da tomada de decisão. Isso implica que a maior parte das decisões demoram a ser tomadas e ninguém tem a autonomia para avançar sem o acordo de todas as partes. Numa equipa que quer evoluir de forma rápida torna-se incomportável.

“A estrutura não permite que certos indivíduos sejam tão empreendedores quanto eu gostaria que fossem”, disse Brown. “Acho que isso não lhes permite tomar decisões com rapidez suficiente. Há um momento apropriado para a decisão em conjunto, e há outros momentos em que devem ser tomadas decisões por parte dos indivíduos. O nosso processo de tomada de decisões fica assim  paralisado. Isso tem de ser mudado e acho que nosso maior problema tem sido estrutural e organizacional. Há um grande talento que precisamos libertar e que no ambiente actual não foi capaz de florescer. Temos  também  de trazer pessoas de fora que têm outras experiências para ajudar a contribuir para moldar uma organização mais rápida.”

O desafio é de tal ordem que Brown abandonou completamente o discurso ambicioso e já disse que serão precisos cinco anos para colocar a equipa no caminho do sucesso.

Em 2013 a equipa deitou fora um chassis que deu 7 vitórias (o de 2012) e fez do zero um novo chassis naquela que seria a última época com aquele conjunto de regulamentos. As chefias na altura explicaram que o carro de 2012  era bom mas havia alturas que nem eles percebiam como era tão bom e por isso resolveram fazer um novo para entender melhor o seu funcionamento. O chassis feito foi mau e resultou numa época mediana (na altura com Button e Pérez). 2014 chegou e mesmo com o melhor chassis disponível, a equipa suou para fazer melhor que a Force India. Estava criada uma tendência que Dennis entende e tentou inverter com a entrada de Peter Prodromou, o braço direito de Adrian Newey na Red Bull.  Mas parece agora claro que a equipa se escudou nas falhas da Honda e se recusou a olhar para os seus problemas que ainda persistiam. Há quem diga até que os McLaren conseguiam as tão famosas velocidades em curva graças a uma elevada carga aerodinâmica e que desculpavam a inevitável falta de velocidade em recta com a falta de potência.

Onde está o maior erro? Sendo esta uma opinião pessoal, a saída de Ron Dennis terá sido o ponto de viragem. Com todos os defeitos que tinha, era o único com sentido de liderança que poderia ter operado esta revolução. E a sua ideia da Honda não é tão descabida assim pois a Red Bull vai agora tentar o mesmo. Dennis esteve de 2014 a 2016 e não foi capaz de ver (ou não conseguiu resolver)  esse problema, talvez demasiado focado na situação da Honda e na procura de novos parceiros. A Honda também não entrou preparada para esta F1, e demorou a entender as exigências (talvez uma postura menos hostil da McLaren tivesse ajudado).

Boullier numa das primeiras intervenções disse que a McLaren precisava de agilizar o seu processo de decisão e que tal estava a ser tratado… pelos vistos não foi. Zak Brown tem agora a missão de reerguer uma equipa que continua a cair. Uma equipa que desperdiçou o talento de Button, Magnussen, Vandoorne e Alonso. Uma equipa com recursos técnicos fantásticos que estão a ser também desperdiçados.  Não será uma mudança fácil mas a McLaren tem de começar a olhar para 2021 como um novo começo. Mas para isso terá de reinventar-se, sem falsa ilusões e sem se enganar a si própria.

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