F1, James Vowles revela documento secreto da Mercedes: as regras que Hamilton e Rosberg não cumpriram

Por a 15 Março 2024 11:55

Todas as equipas balizam entre os seus pilotos o que pode e deve acontecer entre ambos, em pista, tendo em conta os mais altos interesses da equipa. As conversas multiplicam-se no início de cada ano, mas há casos em que a questão torna-se quase impossível de gerir.

Confrontos e polémicas entre colegas de equipa na Fórmula 1 sempre aconteceram e vão continuar a acontecer, pois a Fórmula 1 é um desporto de alta pressão e competição intensa, onde as rivalidades entre pilotos são comuns. No entanto, algumas rivalidades se tornam particularmente acirradas quando os pilotos competem pela mesma equipa.

O maior e mais mediático exemplo é claramente o sucedido em 1988 e 1989 entre Ayrton Senna e Alain Prost (McLaren, 1988-1989). A rivalidade entre Senna e Prost é considerada uma das mais intensas da história da Fórmula 1. Os dois pilotos enfrentaram-se pela liderança da McLaren durante a temporada de 1988, com diversos incidentes na pista e fora dela. A rivalidade culminou no controverso acidente no Grande Prémio do Japão de 1989, quando Prost colidiu com Senna e venceu o campeonato.

A outro nível, a rivalidade entre Fernando Alonso e Lewis Hamilton (McLaren, 2007) também foi difícil de gerir para Ron Dennis, que voltou a ‘levar’ com uma dupla ‘rabina’…

Em 2007, Alonso e Hamilton juntaram-se à McLaren como companheiros de equipa. O espanhol, um bicampeão mundial, era o piloto mais experiente, enquanto Hamilton era um jovem piloto na sua primeira temporada na Fórmula 1. A rivalidade entre os dois pilotos intensificou-se ao longo da temporada, com diversos incidentes na pista e fora dela.

Multi-21 ficou famoso com Sebastian Vettel e Mark Webber (Red Bull, 2010-2013). Vettel e Webber competiram pela Red Bull entre 2010 e 2013 e a rivalidade entre os dois pilotos intensificou-se em 2013, quando Vettel recebeu ordens da equipa para não ultrapassar Webber no Grande Prémio da Malásia, mas fê-lo na mesma e Webber ficou furioso. A relação entre os dois nunca mais foi a mesma.

Agora chegamos às polémicas netre Nico Rosberg e Lewis Hamilton (Mercedes, 2013-2016)

Rosberg e Hamilton competiram pela Mercedes entre 2013 e 2016. A rivalidade entre os dois pilotos intensificou-se em 2014, quando Hamilton venceu o campeonato mundial. Em 2016, a rivalidade entre os dois pilotos chegou ao ponto de colisões na pista, culminando na ‘reforma’ de Rosberg no final da temporada, depois de chegar ao título.

A ‘coisa’ foi tão complicada que levou mesmo a Mercedes a criar um documento de “regras de compromisso”. James Vowles partilhou agora detalhes sobre um documento secreto que a Mercedes utilizou para gerir a intensa rivalidade entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg.

Vowles passou uma parte significativa da sua carreira na equipa sediada em Brackley antes de se tornar Diretor de Equipa na Williams em 2023, tendo trabalhado em funções-chave de engenharia e estratégia antes de atuar como Diretor de Estratégia de Desportos Motorizados.

Durante o seu tempo na Silver Arrows, Vowles diz que aprendeu muito com aqueles que o rodeavam – incluindo o falecido Niki Lauda – em termos da sua abordagem, particularmente quando trabalhava com pilotos.

Falando no Podcast ‘High Performance’, Vowles explicou: “Começa por ser aberto e honesto com os pilotos, tão simples quanto isso. Demasiadas vezes não chegamos à verdade por detrás da questão e contornamo-la. Afinal de contas, eles são, em muitos aspectos, os melhores do mundo naquilo que fazem, pelo que se torna difícil ter uma conversa direta. A forma como sou publicamente, como sou aqui e como sou fora das câmaras é exatamente a mesma – é aberta, honesta, transparente e começa aí. Temos uma conversa aberta e honesta sobre o assunto, que inclui os comportamentos que prejudicam a equipa e se prejudicam a si próprios, em vez de ajudarem”.

Instado a dar um exemplo disto, Vowles detalhou como ele e a equipa trabalharam para criar regras e limites para Hamilton e Rosberg, que partilharam uma rivalidade cada vez mais tensa durante o tempo em que foram companheiros de equipa na Mercedes, entre 2013 e 2016.

“O maior problema que tivemos com os pilotos [em] 2014 foi que ambos sabiam, tanto Nico quanto Lewis, que um dos dois venceria o campeonato nesse ano”, disse Vowles. “Eles sabiam, aliás, antes de virarmos a primeira roda na primeira corrida.

“Demorou algum tempo, mas o meu papel neste processo foi elaborar um documento que criava algumas [directrizes] muito claras sobre ‘como vamos trabalhar uns com os outros, como vamos lutar uns com os outros’, o que na altura se chamava ‘regras de empenhamento’ – mudadas mais tarde para outro termo menos militar, mas com intenções de corrida.

Mas, independentemente disso, eram limites muito claros sobre “é assim que nos vamos comportar e é assim que vamos atuar”, e havia muito a fazer.

“Começou com isto, e começa com uma ética em que acredito hoje em dia, mas toda a primeira página era sobre ser um desportista e, para o explicar, podemos ganhar um campeonato do mundo, mas se o fizermos de uma forma que não seja justa e desportiva, vamos arrepender-nos para o resto da vida.

Sim, o campeonato é teu, mas fica manchado, fica enlameado, não fica puro.

No início de 2014, era evidente que a Mercedes teria de enfrentar uma luta entre equipas pelo campeonato de pilotos: “Nós, na altura, queríamos ganhar as coisas fazendo-as melhor do que todos os outros, não porque tivéssemos encontrado outros mecanismos – queríamos apenas ser melhores do que todos os outros, e isso aplica-se tanto aos pilotos como aos engenheiros da equipa e aos designers.

“E foi muito importante levá-los a essa viagem e garantir que estão cientes de que se pode tornar o melhor desportista do mundo, o que criará um legado para muitos e muitos anos, ou que se pode ganhar uma corrida fazendo algo que talvez tenha forçado, magoado ou prejudicado o seu colega de equipa. Qual é o caminho que queres seguir?

“E é uma escolha muito simples quando a apresentamos a um desportista – em última análise, ele quer aquela que cria um legado para muitos anos. Michael [Schumacher], um homem incrível, mas ainda marcado por 1997 em muitos aspectos [o ano em que foi desclassificado do campeonato].

“Isso fica na memória de todos e criámos a mentalidade de que não é assim que quero ser recordado. Quero ser recordado por termos sido uma força dominante a trabalhar em conjunto e, entre os dois, dentro destas regras, o piloto mais rápido em 20 corridas vencerá: “Não o piloto mais rápido num fim de semana, não aquele que fez algo que talvez o tenha beneficiado a curto prazo – o piloto mais rápido em 20 corridas, e nós vamos construí-lo e garantir que é construído dessa forma e vamos dar a cada um de vós oportunidades iguais, e eles aceitaram e isso criou um bom ambiente”.

No entanto, Vowles reconhece que isso não impediu completamente os incidentes entre Hamilton e Rosberg, uma vez que ocorreram vários confrontos entre eles em 2016, começando com a colisão no Grande Prémio de Espanha.

“Não quer dizer que, com o tempo, não tenhamos tido problemas”, continuou Vowles. “Toda a gente se vai lembrar do Barcelona de 2016. [Ainda hoje me vem à cabeça, porque estamos a falar de dois desportistas de elite que estavam limitados pelas suas capacidades e ficaram frustrados. Mas, na verdade, o que se faz na altura é não recuar – redobra-se a aposta e diz-se: ‘é assim que vai ser’.”

A rivalidade chegou ao fim quando Rosberg optou por se retirar do desporto no final de 2016, tendo ganho o seu primeiro e único campeonato do mundo nessa época.

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