F1: Ferrari e a nova dor de cabeça chamada Leclerc
Era inevitável que acontecesse. Quando a Ferrari contratou Leclerc, sabia à partida que o clima de paz que se vivia na equipa iria mudar. Kimi Raikkonen é um excelente piloto mas já não “batia o pé” a Vettel da mesma forma como faria há 10 anos atrás. Com Leclerc, a musica iria sempre ser diferente.
Talvez a única coisa que não estava no plano, era que o jovem monegasco se adaptasse tão bem e mostrasse tanto andamento no início do ano. Leclerc foi uma aposta completamente diferente do habitual pois a Ferrari apostava preferencialmente em pilotos já “feitos” e não em jovens. Talvez por isso Mattia Binotto tenha dito sem grandes problemas que em situações de 50:50 a equipa beneficiaria o mais experiente Sebastian Vettel. Talvez por não contarem que Leclerc vinha para mostrar-se ao mundo e para questionar o status quo da equipa logo no início da época.
Em Melbourne Leclerc começou mal mas conseguiu recuperar terreno para o colega de equipa. Claramente com mais andamento que Vettel, Leclerc teve de levantar o pé nas últimas voltas e manter a posição.
No Bahrein, o #16 conseguiu uma merecida pole e apesar de um mau arranque, mostrou a compostura necessária para recuperar e se chegar a Vettel. Quando pediu autorização para ultrapassar o colega, a equipa pediu-lhe para aguentar por duas voltas, ordem imediatamente ignorada pelo piloto que tratou de mostrar que naquele dia, apenas um problema numa unidade de controlo electrónico o impediria de vencer.
Na China, Leclerc tratou de se colocar à frente de Vettel e os papeis inverteram-se. E a equipa tratou de abrir as portas ao alemão, para frustração natural de Charles. Em pista parecia claro que o carro de Vettel era o mais rápido, mas a equipa demorou muito tempo a tomar a decisão. Se era para usar ordens de equipa, o ideal seria usar o mais cedo possível e não deixar que os pneus de Vettel se deteriorassem. Assim, quando passou para a frente, Sebastian não teve argumentos para “descolar” do colega.
O pior estava guardado para depois, com a Ferrari a olhar apenas para Vettel, colocando Leclerc numa estratégia que lhe permitiu ficar apenas com o quinto lugar.
Os media fizeram o seu papel e trataram de tentar entender os motivos e o estado de espírito dos envolvidos:
“É difícil, como equipa, dar esta ordem porque entendemos a necessidade dos pilotos de lutar para ficarem na frente o máximo que puderem ”, explicou Mattia Binotto no domingo à noite.
“Certamente não foi uma decisão fácil. Tenho que agradecer ao Charles, pela postura, novamente mostrando que ele é um bom jogador de equipa. Haverá um momento em que a situação talvez seja invertida. Como equipa, precisamos sempre maximizar os pontos e, nesse aspecto, acho que fizemos a escolha certa.”
Mattia Binotto não está a ter um início de época nada fácil. Se esta “dor de cabeça” até é boa, pois pior seria se tivesse dois maus pilotos, esta pressão adicional não é positiva, tendo em conta os resultados nas primeiras provas do ano. Em três corridas, três dobradinhas da Mercedes, um dos melhores arranques da equipa de sempre.
Para Vettel também não é uma fase positiva. O piloto tem sentido dificuldades em encontrar a afinação certa para o seu carro e tem agora um colega de equipa que não tem a mínima intenção de lhe facilitar a vida:
“A prioridade está sempre na equipa. Charles está ciente e eu sei que estamos a lutar pela equipa. Geralmente, esse tipo de situações nunca é agradável e também é algo que acontece frequentemente, mas temos muitas corridas pela frente e o tempo dirá se tomamos a decisão certa ou errada. No momento, tentamos fazer o que nos parece certo, mas não é fácil para ninguém envolvido. Temos de tentar ficar mais fortes e lutar contra a Mercedes, que está um pouco à frente. Temos de entender o motivo e trabalhar nisso não podemos perder tempo a preocupar-nos com estas coisas “.
Perguntou-se a Vettel se ele achava que táticas semelhantes seriam a melhor maneira de conquistar o título, ao que respondeu: “Não sei, talvez seja melhor perguntar ao Lewis [Hamilton]. Acho que a Mercedes esteve em situações diferentes, mas não é a primeira vez que vemos algo assim. “
“Como o Mattia disse, tentamos fazer tudo como uma equipa. Duas semanas atrás o Charles era mais rápido e isso foi muito claro, mas talvez fosse um pouco mais fácil passar no Bahrein. O que incomoda depois da corrida é que não conseguimos terminar em terceiro e quarto.”
Do outro lado está Leclerc, em silencio, apenas afirmando que aceita a decisão da equipa. O jovem piloto conseguiu mostrar a sua valia e ganhou o respeito dentro da F1. Terá de ganhar agora outra “corrida”… a da prioridade na estratégia da Ferrari, algo que não deverá ser fácil de conquistar. A Scuderia vem de tempos conturbados, e talvez não precisasse de mais uma dor de cabeça. Mas o facto de ela acontecer é positivo… é sinal que podemos contar com Leclerc no futuro.
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