F1: Faleceu Sir Frank Williams

Por a 28 Novembro 2021 14:38

O final desta época de F1 fica ensombrado pela notícia do falecimento de Sir Frank Williams, fundador da equipa Williams de F1 e uma das figuras mais marcantes do desporto motorizado. Frank Williams pode ter-nos deixado, mas o seu legado e o seu exemplo perdurarão por muitos anos. Frank Williams faleceu aos 79 anos.

Frank Williams será para sempre lembrado pela sua resiliência e tenacidade, tendo enfrentado muitos desafios sem receios e com uma vontade férrea de vencer. A sua paixão pelo automobilismo e pela F1 foi o combustível para construir uma equipa que alcançou o sucesso e dominou uma era. O caminho foi duro e atribulado, quer no lado desportivo, quer no lado pessoal, mas as adversidades nunca o fizeram desistir. Cumpriu o seu sonho, construído com suor e sacrifício e nele viveu desde então. Por vezes o sonho chegou a ganhar contornos de pesadelo, mas nada que intimidasse um homem determinado e apenas focado num objetivo… vencer.

Além de ser um dos maiores nomes da Fórmula 1, Sir Francis Garbatt Williams foi um dos maiores ‘businessman’ que o desporto motorizado conheceu. Dele se conta que vendia pneus usados como se fossem novos, ou que chegou a fazer telefonemas de uma cabine telefónica quando a sua equipa não conseguia pagar as contas… Curiosamente, uma das suas primeiras paixões foi o rugby e chegou a representar a seleção escocesa de sub-15 (Williams foi educado num colégio escocês quando os pais se separaram). Após sair da escola foi ganhar 10 libras por semana como vendedor das famosas sopas Campbell, mas deixou rapidamente o emprego porque atrapalhava as corridas…

Desistir nunca foi uma opção para Williams mesmo quando ficou paralisado em 1986 devido a um acidente de carro quando regressava de Paul Ricard. Nomeado Sir pela rainha Isabel II, foi ainda condecorado com a Legião de Honra do governo francês. Uma lenda do automobilismo.

Num caminho por vezes demasiado sinuoso e duro, criou uma equipa que foi campeã do mundo várias vezes nos últimos 40 anos, com nomes como Alan Jones, Keke Rosberg ou Nigel Mansell. O percurso exigiu uma alma tremenda pois nos anos 70 a Williams era uma das coitadinhas da F1

A Williams F1 (ex-Williams GPE), foi fundada em 1977, tratando-se da segunda tentativa de criar uma equipa. A primeira, a Frank Williams Racing Cars, teve uma história mais tumultuosa e sem final feliz. Depois de algum sucesso na Fórmula 2, Williams deu o salto para a F1 inscrevendo um Brabham privado para o seu protegido, Piers Courage. O primeiro ano correu melhor que o esperado, com Courage a conseguir dois segundos lugares, o que lhe valeu um convite recusado para a Ferrari. Courage resolveu ficar com Williams, pois este conseguiu um contrato com a De Tomaso para 1970. Infelizmente, Piers Courage morreu nos treinos para o GP da Holanda e Alessandro de Tomaso resolveu acabar com a parceria, obrigando Williams a voltar a um chassis-cliente em 1971, adquirindo um March para Henri Pescarolo.

Em 1972, Williams conseguiu o patrocínio da marca de brinquedos Politoys para construir um chassis pela primeira vez, o FX3. O resultado foi que Pescarolo destruiu o carro nos treinos para a corrida de estreia. Em 1973, Marlboro e Iso financiaram a construção de um novo carro, o FW, mas o dinheiro não chegou e Williams foi obrigado a usar pilotos pagantes até ao final de 1975, quando vendeu a sua equipa ao magnata canadiano Walter Wolf, mas mantendo o cargo de director por mais um ano, altura em que Wolf pôs Frank Williams na rua. O pior é que em 1977 a Wolf começou a ganhar corridas, enquanto a nova Williams foi obrigada a começar do zero.

Não teve medo de recomeçar e usou o conhecimento adquirido para fazer melhor e desta vez a sorte começou a sorrir. Com a preciosa ajuda de Patrick Head, a Williams começou a fazer-se notar, a vencer, a chegar ao topo do automobilismo e a dominar uma era. Os tempos de ouro foram brilhantes, mas mesmo assim ensombrados com azares e fatalidades. Williams, como sempre, nunca virou a cara à luta e depois do melhor momento da equipa, nos anos 90, com cinco títulos e dois vice-campeonatos em 10 anos, a equipa começou a perder fulgor, atravessando uma época de maus resultados de 2004 a 2013. A nova era híbrida trouxe um novo fôlego, numa altura em que Frank se ia afastando aos poucos, com a sua saúde a não acompanhar o seu ímpeto, mas a sua filha Claire tentou levar o barco a bom porto e os dois terceiros lugares em 2014 e 2015 pareciam ser um bom sinal. Foi, no entanto, sol de pouca dura e os maus resultados voltaram assim como os problemas financeiros, até que em 2020 a família vendeu a equipa ao fundo de investimentos Dorilton Capital, saindo de cena, mas salvando a equipa e os seus funcionários.

Mesmo nos anos em que tinha uma nítida falta de sorte, Frank Williams quis continuar a dar oportunidades a muitos pilotos para se estrearem na Fórmula 1. Passaram por esta escola pilotos como José Carlos Pace ou Jacques Laffite, que depois tiveram sucesso na F1, bem como outros ases do volante que se deram melhor noutras disciplinas, como Gijs van Lennep (duplo vencedor de Le Mans), Graham McRae (campeão da Tasman Series) e Tim Schenken (fundador da marca Tiga). Nomes como Nigel Mansell, Jacques Villeneuve, Damon Hill, Allan Jones, Alain Prost, Nelson Piquet, Keke Rosberg, Juan Pablo Montoya, Clay Regazzoni, Ayrton Senna, Mark Weber, Nico Rosberg, Jenson Button, Valtteri Bottas, George Russell entre tantos outros representaram uma equipa mítica.

Mais do que a estatística, mais do que os nove títulos de construtores e os sete títulos de pilotos, fica para a história um homem de caráter forte, que deu tudo o que tinha e muito mais a uma paixão louca pelas corridas. Que caiu inúmeras vezes, mas que nunca desistiu, reerguendo-se sempre pronto para lutar pelo seu sonho, sempre com um sorriso. Deixou-nos um dos grandes da F1, um dos maiores exemplos do automobilismo. O seu legado será eterno, tal como era a sua paixão. 

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17 Comentários
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thewing
thewing
2 anos atrás

RIP
WILLIAMS FOREVER.

Frenando_Afondo™
Frenando_Afondo™
2 anos atrás

Condolências à família. Que descanse em paz. É um dos grandes nomes da F1 que marca uma era.

917/30
2 anos atrás

Um verdadeiro “racer”! É sempre uma pena notícias como esta.

Last edited 2 anos atrás by Haters...coisa mais estúpida não há!
jose-sousa-dias
jose-sousa-dias
2 anos atrás

Mais que tudo, era um apaixonado pela fórmula 1.
Diferente de Chapman, diferente de Ken Tyrrel, diferente de Ferrari mas tinham a mesma paixão.

jem
jem
2 anos atrás

A minha homenagem a um senhor da F1.

FormulaTwo+1
2 anos atrás

Fui e sou um admirador Williams. Lembro- me bem de corridas fantásticas de Alan Jones, Keke Rosberg, Nigel Mansell e tantos outros grandes pilotos com carros do garagista britânico! Obrigado Frank Williams!

ricfil
ricfil
2 anos atrás

Talvez o último (?) dos “garagistas puros”. Marcou imensas pessoas e pessoalmente a minha interação com a modalidade por via de ter começado a assistir “a sério” à F1 durante meados dos anos novento (quando a Williams estava no auge). Dedicado a 100% e com motivação ganhadora, explorava tudo o que a técnica e as regras permitiam (sendo o exemplo da qualidade extraordinária daqueles chassis com suspensão ativa dos anos 90 o expoente maximo nesse quesito). Recordo também a sua faceta implacável quando despediu o Hill antes de meados da época de 96 com a disputa do titulo bem acesa.… Ler mais »

Last edited 2 anos atrás by Ricfil
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