F1: ESTARÁ A RENAULT PRONTA PARA ALONSO?

Por a 18 Maio 2020 15:06

A semana que passou foi extraordinária na Fórmula 1, e veio trazer uma animação que a disciplina já não tinha há vários meses. Foram apenas três dias que ‘valeram’ por várias Silly Season. Ficou a saber-se que Sebastian Vettel vai sair da Ferrari no final de 2020. Para Maranello vai Carlos Sainz, oriundo da McLaren, e por fim, Woking recebe Daniel Ricciardo, que vai sair da Renault, equipa que fica com um grande problema para resolver.

Não demorou muito para se começar a falar do possível regresso de Fernando Alonso à F1 e à Renault, ou mesmo Sebastian Vettel, mas parece-me que a Renault não está ainda preparada para ter um piloto desta estirpe. Se olharmos para 2019, ter Alonso ou Vettel em 2021 é inútil, mesmo não sabendo neste momento o que pode valer a equipa. Não me parece que tenham dado o ‘salto’ necessário.

Todos sabemos que Daniel Riccardo não ‘vale’ o nono lugar do campeonato em que ficou, e embora isso não seja totalmente atribuível à Renault, é-o em grande percentagem. Por isso ir para lá Alonso ou Vettel, será mais do mesmo, o que a Renault tem que fazer é reconstruir como deve ser o seu edifício, porque há algo que ano após ano não está a resultar.

A Renault pura e simplesmente não está preparada para ter um ‘top driver’. Veja-se o que aconteceu com Fernando Alonso na McLaren. A ida de Daniel Ricciardo para a Renault não fez muito mais do que provar com grande clareza que a Renault continua muito longe de vencer na F1, e nesse contexto não acredito que Alonso arrisque voltar para lutar no meio do pelotão.

Não tenho a mais pequena dúvida que apesar destes dois anos de ausência da Fórmula 1, e da idade que já tem, Fernando Alonso ainda consegue ser competitivo. É claramente um piloto com classe mais do que suficiente para lutar por vitórias em corridas – desde que tenha o carro certo para isso- e é precisamente aqui que acho que a porca torce o rabo. Não duvido da vontade que a Renault possa ter em recebê-lo, pois será uma excelente forma para ‘motivar’ a administração da marca, que deve andar um pouco desgostosa com o que tem visto nos últimos tempos, especialmente o último ano.

Esperava-se que fosse um ano para dar o salto – foi para isso que Daniel Ricciardo foi contratado – mas as coisas não correram nada bem.

O progresso na ordem do campeonato que vinha tendo lugar foi travado, ironicamente pelos seus novos clientes, a McLaren, que despromoveu a equipa francesa para o quinto lugar na classificação, isto apesar de Daniel Ricciardo ter garantido o seu melhor resultado até à data (desde o regresso em 2016) com o quarto lugar em Itália.

Não restam dúvidas que a Renault nada ficaria a perder caso conseguisse contratar Fernando Alonso, bem antes pelo contrário, é, talvez, o melhor piloto disponível para a Renault neste momento, mas temo que Enstone e Viry, mais do que uma estrela como Fernando Alonso, precisem bem mais de meter ordem na casa.

Sabemos que a equipa foi sendo reconstruida ao longo destes últimos anos, em Enstone, a fábrica cresceu, o número de funcionários cresceram quase para o dobro, todas as áreas melhoraram, ou foram completamente transformadas. Ou seja, a Renault equipou-se com tudo o que precisava para ‘responder’ aos desafios que sabia um piloto como Daniel Ricciardo lhes iria colocar.

Estivemos em Enstone em 2018, quando já se sabia que Ricciardo iria chegar à equipa e uma das coisas que Jerome Stoll, presidente da Renault Sport disse foi: “O Daniel Ricciardo vai desafiar toda esta gente. Ele vai exigir muito de todos e todos têm que saber responder a isso.” E não parece que isso esteja a ser conseguido. Mas não foi isso que aconteceu.

Enstone já viveu muitos momentos de glória, era a casa da Benetton em 1994 1995 quando Michael Schumacher levou a equipa a dois títulos, era a casa da Renault quando Fernando Alonso foi Campeão em 2005 e 2006, e neste momento tem todas as condições, inclusivamente pilotos, para lutar bem mais acima do que sucedeu em 2019.

Provavelmente, a administração da Renault teria preferido que o percurso de 2016 para cá tivesse sido feito de forma mais fluída, mas a verdade é que para lá dos muitos equívocos, provavelmente, o facto de sabermos que se tratava da Renault não nos permitiu ter o necessário distanciamento para perceber a enormidade de diferenças que existem entre as estruturas de Brackley/Bixworth (Mercedes) Maranello (Ferrari) e Milton Keynes (Red Bull), face ao eixo Enstone/Viry Chatillon. Elas existiam, e foram sendo colmatadas ao longo dos anos.

Olhando friamente, percebemos que só mesmo o ano de 2019 ficou abaixo do esperado, e ironicamente as palavras de Christian Horner a Cyril Abiteboul foram pouco menos que proféticas: “Se vais gastar tanto dinheiro a pagar a Ricciardo como vais tê-lo para desenvolver o carro?”. Terá sido este o desafio da Renault em 2019? Não nos parece. Mas muita coisa correu mal.

Na verdade, o discurso de Cyril Abiteboul parece sempre um pouco desfasado do que está realmente a acontecer. Depois de ter ‘roubado’ um às de trunfo à Red Bull – na prática, e em condições normais, Daniel Ricciardo iria retirar diretamente pontos à Red Bull e acrescentá-los à Renault – mas isso não aconteceu, não houve efeitos práticos, bem antes pelo contrário.

Cyril Abiteboul reconheceu ainda que 2019 expôs as fraquezas da equipa e que isso permitiu entender o que era preciso para encontrar o caminho do sucesso e a chegada de Daniel Ricciardo foi um dos fatores mais importantes: “Para mim, 2019 foi um ano em que ficámos sem nada para esconder. Com ótimos pilotos e um motor muito melhor, não havia como nos escondermos. Assim, fomos capazes de ver novamente que medidas precisamos tomar. Acho que os problemas que vimos já existiam no ano anterior.

Talvez não fossem tão visíveis porque 2018 foi uma progressão em relação ao ano anterior. Passámos de nono para o sexto, para o quarto lugar e acho que esse foi um resultado um pouco lisonjeiro. Precisávamos de um ano como este para entender as fraquezas da equipa, porque algumas delas estão aqui desde os tempos da Lotus, e não foram tratadas com cuidado e atenção suficientes. É isso que me faz dizer que não foi um ano para esquecer. Acho que nunca conseguiríamos ir mais longe se não tivéssemos as dificuldades e também as reações que as acompanham. Em resumo, tendo feito tudo o que fizemos, só o fizemos porque passámos pelo que passámos. E passámos por isso também por causa das pressões infligidas a nós mesmos. Acho que foi realmente bom expor-nos assim” disse Abiteboul.

O que salta à vista é que a Renault não conseguiu um carro compatível com a categoria de Daniel Ricciardo, embora o seu nono lugar final no campeonato de 2019 também não possa ser totalmente atribuído à falta de qualidade do carro. Tratou-se provavelmente de um pouco das duas coisas.

A verdade é que a Red Bull, com o motor Honda, ganhou três vezes e ficou com o lugar mais baixo do pódio dos pilotos e a Renault viu a cliente McLaren renascer e roubar-lhe o quarto lugar. Monza e o quarto lugar de Daniel Ricciardo foram uma espécie de oásis numa temporada má.

Por isso, 2020 será um ano fundamental: ou Cyril Abiteboul, Alain Prost e toda a equipa dão finalmente um bom salto adiante, ou tão cedo não vale a pena ter um piloto como Alonso ou mesmo Riccardo. Acredita-se que o australiano e Esteban Ocon, sejam uma boa dupla este ano, mas o que vão conseguir fazer vai depender do carro. Se estiver ao nível de 2019, esqueçam. Os sinais dos testes não foram nada maus. Mas são testes…

Resumindo muito a questão: a única coisa que a Renault conseguiu com a contratação de Ricciardo foi deixar claro que não está preparada para ter um piloto de topo. Pensava-se que isso resolvesse muita coisa, mas a realidade foi totalmente distinta.

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