F1, Efeito Solo: March antecipou-se a Colin Chapman


A partir de 2022, os carros de Fórmula 1 utilizarão uma nova aerodinâmica pensada para promover corridas melhores e mais lutas em pista. Isso implicou uma simplificação da aerodinâmica dos carros e daí o aspeto mais “limpo”. A asa dianteira, peça fundamental na aerodinâmica (direciona o ar para as zonas pretendidas, além de criar apoio aerodinâmico), foi simplificada e as superfícies do carro são agora desprovidas de pequenas asas de controlo de fluxo de ar. Para compensar, os carros terão fundos planos pensados para aproveitar o “efeito solo”, amplamente usado, e com grande efeito, nos anos 70 e 80, e que pretende acelerar o ar por baixo do carro graças ao efeito Venturi, criando uma pressão negativa e com isso colar o carro ao chão.

Atribui-se a Colin Chapman o efeito solo na Fórmula 1, sendo muitas vezes apelidado de pioneiro nesta matéria. Conta a história, que Chapman terá tido uma epifania em 1975 e colocou Peter Wright a trabalhar, pondo em marcha o projeto que acabaria por se tornar o primeiro carro com efeito de solo na Fórmula 1: o lendário Lotus 78, desenvolvido em 1977 e pilotado, por exemplo, por Mario Andretti.

Mario Andretti, na entrevista concedida ao Auto Motor und Sport, “desmistifica” a tese da ideia ser apenas de Chapman.

“A ideia surgiu da minha experiência com o March 701 de 1970. Os sidepods pareciam asas. Durante um teste em Kyalami, removemos os sidepods para reduzir o arrasto. De repente, o carro ficou leve na frente”, explicou o antigo piloto, acrescentando que anos mais tarde, quando pilotou pela Lotus, “contei-lhes a história dos sidepods na March. (…) Colin Chapman sugeriu que construíssemos sidepods grandes em todo o comprimento da distância entre eixos e o selassem à pista para direcionar o ar para a asa. Por isso, o primeiro carro de efeito solo não foi uma ideia brilhante, mas a evolução de uma ideia que a March teve muitos anos antes. Claro que ninguém nunca disse nada sobre isso. Não se queria dar os louros à March”.

O próximo passo foi colocar o carro em pista, já que não havia outra forma de experimentar a teoria, e os resultados foram conclusivos. 

“Durante um teste em Hockenheim”, continuou Andretti, “notei numa curva rápida que de repente ganhei muito mais downforce a meio da curva. Aumentei o ritmo passo a passo e cada vez mais rápido. Ficou claro para nós que quanto mais próximas as extremidades dos sidepods estivessem da pista, melhor seria o efeito. Colin enviou um mecânico para ir a uma loja comprar tiras de plástico. Montamos nos painéis laterais. Quando saí, de repente estava um segundo e meio mais rápido.”

Não nos parece que seja retirado o mérito da ideia a Colin Chapman, que colheu os frutos em 1978 com a conquista do campeonato de construtores, para além de Andretti ter saído vitorioso entre os pilotos do pelotão. 

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