F1: E agora Vettel?

Por a 31 Outubro 2018 12:24

Sebastian Vettel tentou mais uma vez, mas não conseguiu roubar o título a Lewis Hamilton. Uma segunda tentativa frustrada e desta vez ainda mais amarga que em 2017.

A pressão de 2017 foi menor do que a colocada pelo piloto e pela equipa este ano. Se na época anterior vinham de um 2016 menos bom e foi com alguma surpresa que a Ferrari se mostrou tão forte no início da época, em 2018 o mundo da F1 sabia que a Ferrari tinha uma excelente base e que finalmente poderia lutar com armas equivalentes com os Mercedes.

O problema de 2018 foi semelhante ao de 2017… a luta só durou meia época. O ponto de viragem foi o GP da Alemanha, em que Vettel desperdiçou uma vitória mais que assegurada com um pequeno erro pelo qual pagou caro. Mas o episódio de Hockenheim foi apenas mais um de uma série de erros que já foram detalhados vezes suficientes e que continuaram até ao GP dos EUA. Também nisso é preciso ter sorte e enquanto outros, com toques semelhantes continuaram com danos menores, Vettel acabou invariavelmente a olhar para onde veio.

Para piorar a situação, o Vettel menos eficaz enfrentou o Hamilton mais forte de sempre, e a Ferrari meteu os pés pelas mãos desde Singapura até aos EUA, com um pacote de melhorias que não resultou e que a equipa demorou três corridas a entender. Bastou voltar para as especificações antigas para a Scuderia ficar novamente com vantagem competitiva.

Se olharmos para os erros de Vettel, poderemos dizer que foi o alemão a desperdiçar o título. Tal como Hamilton, apenas teve uma desistência, mas na fase em que Hamilton foi nove vezes ao pódio, 6 dessas vezes no lugar mais alto, Vettel falhou o pódio por três vezes. Hamilton foi tão forte esta época que apenas falhou o pódio por três vezes, enquanto Vettel falhou a cerminónia do champanhe por… oito vezes, o mesmo número de vezes que o seu colega de equipa, Kimi Raikkonen. A forma como reagiu no final do GP do México mostra bem que o piloto sabe que teve o pássaro na mão e que o deixou escapar.

“Eu acho que Sebastian passou do auge e Lewis ainda está ainda a chegar o seu”, disse Jakie Stewart disse ao Bild. “Não há nenhuma razão para o Sebastian não voltar, mas será muito difícil porque depois de uma temporada como esta, tornamo-nos mais crítico de nós mesmos. Ele chegou à Fórmula 1 aos 20 e foi quatro vezes campeão mundial até aos 26.  Eu gosto muito de Sebastian e ele é um piloto muito bom. Muito emotivo e tecnicamente talvez ainda seja o melhor, mas ele não tem uma mente clara como costumava ter.”

Será correto pensar que Vettel, aos 31 anos passou da sua melhor fase? Pessoalmente acho que não.  Stewart está certo quando diz que este Vettel não é o mesmo Vettel da Red Bull. Este Vettel tem o sangue mais quente, não é ponderado e vai de faca nos dentes mesmo quando não o deve fazer. A pressão da Scuderia talvez seja a raiz do “problema”. Vettel chegou como tetracampeão e cedo assumiu uma posição de destaque na recuperação da equipa. E foi para ele que os holofotes da marca italiana se viraram mas a luz desses holofotes é muito mais forte do que os que teve de enfrentar na Red Bull.

Lewis Hamilton, sabe o que é estar num ambiente onde a pressão é grande. O próprio piloto admitiu isso quando saiu da McLaren com um rígido código de conduta e com uma exigência elevada. Quando chegou à Mercedes e teve carta branca para fazer o que queria num ambiente de menor pressão, o talento do britânico floresceu e desde então não tem parado de melhorar.

“Ele [Vettel] é um justo tetra- campeão mundial”, disse Lewis Hamilton “e este ano, se olharmos para a pressão que ele sofreu na Ferrari, que não vence um campeonato há muitos, muitos anos … é um peso grande para carregar. Acho que este ano, apesar de ter tido alguns momentos difíceis, ele recuperou e essa é a verdadeira prova de um campeão”, admitiu o britânico. “Eu tive muita sorte de correr contra muitos pilotos e a diferença que nos separa é pequena. É isto que torna este desporto especial. Ele lutou muito bem este ano, sei que ele pilotou de forma fantástica no México e eu sei que ele vai ficar mais forte, e eu tenho de continuar a melhorar.”

Ninguém chega a tetracampeão do mundo por acaso. Por muito que se tente menosprezar esse facto, é preciso ser perfeito, num desporto que exige muito. É verdade que teve o melhor carro da F1 daquele tempo, mas soube tirar partido dele da melhor forma e adaptar-se para ser imbatível. Como ouvi dizer em Portimão da boca do atual campeão nacional, a sorte dá muito trabalho. E a sorte de Vettel na Red Bull deu muito trabalho, quer na Red Bull (a forma como se forçou a adaptar-se a conduzção contranatura nos tempos dos “blown diffusers” é uma prova) quer na Ferrari (foi muito graças ao seu trabalho que a Scuderia pôde voltar ao topo). Vettel tem agora pela frente talvez o grande desafio da sua carreira… tem de se reinventar. Terá de colocar tudo em perspetiva e analisar friamente onde falhou, onde pode melhorar, e o que tem de evitar. Terá também de se adaptar a uma nova dinâmica, com um novo companheiro de equipa, um jovem com toda a vontade do mundo de chegar ao topo.

Ross Brawn com a sua grande experiência e sabedoria deu uma dica valiosa:

“A Ferrari e Vettel devem começar de novo, entendendo o que correu mal e melhorando, sem pânico e sem reações precipitadas.  Em apenas duas temporadas, a Ferrari tornou-se candidata ao título, algo que parecia difícil de imaginar no início desta era híbrida, tal o poderio da Mercedes. Agora a Ferrari tem que seguir em frente, sem atirar ninguém borda fora. Na conferência pós-corrida, Vettel parecia desanimado e eu posso entender porquê. Quando o objetivo que você perseguiu durante toda a temporada está definitivamente fora de alcance, há muito arrependimento se olharmos para as corridas anteriores, e olharmos para o que poderia ter sido melhorado. São situações que conheço bem. Eu vivi-as em primeira mão na mesma equipa do alemão.”

O desaparecimento de Sergio Marchionne terá também sido um dos fatores de desequilíbrio na equipa e a instabilidade sempre foi o calcanhar de Aquiles da equipa. A Ferrari tem de encontrar o seu equilíbrio e tal como Brawn disse, não é com mudanças radicais que o sucesso virá. E Vettel tem também de encontrar de novo o seu equilíbrio. E se olharmos para o fim dos anos 90 e início da década seguinte, a Scuderia também demorou a chegar ao sucesso desejado. 2019 será provavelmente o maior desafio de Vettel. Terá de expulsar fantasmas e começar de novo. O talento do alemão é inquestionável, mas terá de ser ele a encontrar os mecanismos para o colocar em prática. Resta saber se será capaz de o fazer. A conquista (improvável) do título de construtores poderá ser um bálsamo que a equipa e o piloto precisam.

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