F1, Documentário Pironi/Villeneuve: a história e o mito (vídeo)

Por a 26 Março 2023 11:38

Muito se escreveu sobre o G.P. de San Marino de 1982. Desde o ridículo da greve das equipas da FOCA ao duelo fratricida que acabaria com a ‘facada nas costas’ de Pironi a Villeneuve. Tentemos analisar brevemente os factos de uma forma mais moderada, para que esta corrida não mantenha a aura tão negativa que habitualmente carrega.

Na verdade, segundo testemunhos de três dos quatro pilotos presentes, tanto os pilotos da Ferrari como da Renault acordaram, antes da largada para o G.P. de San Marino, que iriam rodar mais devagar na primeira parte da prova, para que na segunda disputassem arduamente a vitória. Com apenas 14 pilotos em pista, este acordo permitiria que a primeira fase da prova fosse artificialmente disputada para entreter os espetadores, sem correr os riscos de quebrar as mecânicas, para depois a segunda parte ser ‘cada um por si’. Enfim, uma corrida a sério no meio de todo aquele desastre. O acordo feito entre os pilotos e mecânicos da Ferrari e Renault seria que poderiam trocar posições na primeira metade, contando que todos concordassem que, a partir da segunda metade da prova, ocupassem os seus respetivos lugares como na grelha de partida. E, segundo um mecânico da Ferrari, se os Renault quebrassem – como viria a acontecer – as posições dos dois Ferrari manter-se-iam, para assegurar a dobradinha caseira da Scuderia.

Porém, Prost ficou apeado muito cedo, e quando as ditas ordens foram emitidas, Villeneuve tinha cometido um ligeiro erro e Pironi tinha tomado o comando. Pouco depois, já com Villeneuve de novo na frente, o diretor desportivo da Ferrari, Marco Piccinini, deu a célebre ordem para abrandar, já que Arnoux estava a perder terreno e não tardaria a desistir. Como disse mais tarde Mauro Forghieri, o sinal nunca foi explícito, fora apenas para manter posições, não indicava qual seria a ordem e que, no caso de estar lá, talvez se tivesse justificado apresentar o painel como ‘1- GV, 2 – DP’ para que não restassem dúvidas. O que a Ferrari não queria era que os seus pilotos forçassem demasiado para arriscarem ficar sem gasolina ou sofrer quebras mecânicas nas últimas voltas, e se se ultrapassassem entre si, era mais para gáudio dos adeptos do que para competir. Como a ordem nunca foi emitida e tanto um como o outro sabiam que estavam a lutar pelo título, cada um tomou a sua atitude natural – Villeneuve, numa certa ingenuidade, mas confiando em pleno na Ferrari, que era a sua casa desde o final de 1977, e no seu grande amigo Pironi, abrandou e acreditou até ao fim que as manobras do francês eram para dar espetáculo. Pironi, com uma mente muito mais ambiciosa e política, aproveitou o facto de ter passado pela liderança perto da altura da mostra do painel e do caráter dúbio deste para assumir o comando e garantir a vitória. Aliás, Harvey Postlethwaite veio defender Pironi, dizendo que ambos sabiam que estavam a lutar por um título, e que era legítimo que lutassem, desde que não comprometessem os carros.

Acontece que, dado o feitio de Gilles, este confiava plenamente em Pironi, apesar de, habitualmente, o colega de equipa ser o maior alvo a abater por parte de um piloto de competição. Mas, pelo contrário, a mulher de Villeneuve, Joann, considerava Pironi um animal político e achava que o francês estava claramente a querer manipular a equipa no sentido de lhe dar a liderança, e já havia avisado o marido várias vezes, principalmente depois de, pouco antes de Imola, Pironi ter ‘causado’ e convidado Marco Piccinini para seu padrinho de casamento, enquanto os Villeneuve nem sequer haviam sido convidados. Assim, quando Pironi passou o canadiano em Tosa naquela última volta, Villeneuve só viu corroborada a ideia que Pironi era, de facto, um traidor, e jurou nunca mais lhe dirigir a palavra. No entanto, atribuir a Pironi a culpa na morte de Villeneuve parece muitíssimo exagerado. Na verdade, Villeneuve era um profissional, e apesar de atormentado, provavelmente estaria muito focado em cilindrar o seu colega de equipa e todos os outros para ser campeão e, em Zolder, não terá estado propriamente a remoer em ‘bater’ apenas o seu colega de equipa. Simplesmente, ao dobrar Mass, ambos se desentenderam e acabaram no mesmo pedaço de pista e, por azar, Villeneuve acabaria por morrer. Se as coisas não tivessem ocorrido com tanta proximidade, talvez não se associasse tanto os dois eventos, mas infelizmente aconteceram… Ficou o triste mito.

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2 Comentários
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canam
canam
1 ano atrás

Nessa altura vivia-se o auge da luta entre os construtores ingleses e os grandes construtores (Ferrari/Fiat, Renault) em que a FIA apoiou os segundos, embora o Ecclestone tenha conseguido de algum modo dar a volta a isso. Este GP teve valor desportivo reduzido dado que os ingleses não foram, e eles eram a maioria dos carros. Os 2 Ferrari boys andavam picados era um facto. O team perderia os 2 pilotos nesse ano, dado que o Villeneuve morreria na prova seguinte, e o Pironi ficaria incapacitado na Alemanha, e tinham um carro wing car com qualidade para ser campeão. No… Ler mais »

Last edited 1 ano atrás by Canam
2020
2020
Reply to  canam
1 ano atrás

Isso quer dizer o “q”?… Ferrari e Renault andavam no colo da FIA?…
Hoje é muito melhor e mais honesto:
Tem-se malta de determinadas equipas na Federação com acessos a documentos técnicos, alteram-se regras a meio da competição, penaliza-se que mais convém ou não, autorizam-se aldrabices nos orçamentos com pagamentos de multas “em rebuçados” Mantendo-se os títulos das vergonhas…
E se calhar o melhor ainda está para vir…
“Muito mais interessante”.

Last edited 1 ano atrás by simiao jms
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