F1: Binotto, o novo rosto da esperança vermelha?

Por a 7 Janeiro 2019 17:03

As notícias da saída de Maurizio Arrivabene da Ferrari foram chegando no dia de hoje, embora sem confirmação oficial. Arrivabene terá sido substituído por Mattia Binotto, decisão de John Elkann, presidente da Ferrari.

Segundo alguns meios de comunicação esta decisão já teria sido tomada por Sérgio Marchionne ainda antes da sua morte a meio do ano passado. Para alguns, Arrivabene era apenas um rosto, embora o cérebro por trás da reorganização da Ferrari fosse o próprio Marchionne.

Arrivabene chegou à Ferrari em 2014, no final da época, depois de um ano horrível a nível desportivo. A entrada na era turbo-híbrida correu da pior forma, com um carro pouco competitivo e sem capacidade para chegar aos lugares cimeiros. Stefano Domenicali não resistiu aos maus resultados e saiu para dar lugar a Marco Mattiacci, que poucos meses depois viu o seu lugar ser ocupado por Arrivabene.

A escolha de Arrivabene foi algo surpreendente, pois apesar de ligado há muitos anos à marca italiana, sempre esteve ligado ao mundo do marketing e entrou por essa porta na F1, chegando a ser representante dos patrocinadores na Comissão da F1. Havia dúvidas se teria a capacidade para levar a equipa a bom porto, mas em 2015 dá-se o início do ressurgimento da Ferrari. Sebastian Vettel entrou na equipa e três corridas após a sua estreia pela Scuderia, dava a primeira vitória à Ferrari, depois de um ano sem qualquer vitória. Sabia-se que era o início de um processo de reconstrução, mas ver Arrivabene emocionado a cantar o hino italiano com o resto da equipa era um sinal que a marca italiana dava passos certeiros. 2015 acabou por ser um ano positivo, dentro das expectativas criadas e a missão de Arrivabene parecia estar a ser bem-sucedida. Mas em 2016 essa evolução sofre um revés. O carro não deu o salto qualitativo que se esperava e a meio do ano a equipa ficava sem o seu diretor técnico, James Allison que regressa à Grã-Bretanha após o falecimento da sua esposa.

O trabalho feito pela equipa parecia ter ido por água abaixo, mas eis que surge Mattia Binotto. O engenheiro suíço naturalizado italiano, entrou na Ferrari em 1995 e desde então foi subindo na hierarquia da equipa até se tornar o responsável máximo pelos motores da Scuderia. Com a saída de Allison assumiu o cargo de diretor técnico e sob a sua supervisão, a equipa reorganizou-se e em 2017 apresentou um carro surpreendentemente competitivo com soluções inovadoras e ambiciosas, que começaram aos poucos a serem copiadas pelo resto das equipas. Binotto foi capaz de usar a qualidade do staff e começou a tirar melhor proveito do potencial humano da Scuderia, o que não terá passado despercebido aos olhos de Marchionne, que terá a olhado para ele como o líder certo para a equipa, sendo respeitado dentro e fora da Ferrari.

A morte do chefe supremo da Ferrari deixou um vazio na liderança e a relação entre Arrivabene e Binotto começou a azedar, e no fim de 2018 surgiram rumores de uma guerra interna entre os dois, com pontos de vista diferentes na gestão da equipa. Apesar das críticas de Arrivabene pela falta de evoluções no carro nas últimas rondas do ano, o clima de guerra nunca foi assumido de forma vincada e quando confrontado com a possibilidade da saída de Binotto, o até então chefe de equipa classificou os rumores como “fake news”. Surgiram notícias da possibilidade de Arrivabene assumir um papel na Juventus, algo que terá sido declinado pelo próprio, apesar de estar em fim de contrato com a Ferrari. Sabe-se agora que a história chega ao fim e que o futuro da equipa está agora à responsabilidade de Binotto.

Arrivabene foi importante no início da fase de recuperação da equipa. A forma como conseguiu unir a equipa depois de anos frustrantes não pode ser menosprezada e desde a sua entrada que o ambiente na equipa mudou radicalmente. Tem contra si dois campeonatos perdidos de forma algo caricata, apesar da equipa ter feito provavelmente o melhor carro da última década. Este ano a falta de liderança em alguns aspetos foi evidente e o episódio em Monza, em que do ponto de vista da equipa, as ordens de equipa teriam sido mais que necessárias para evitar o desfecho que se viu nas primeiras curvas da prova, é talvez o exemplo mais claro. Apesar das falhas, Arrivabene tinha caráter e embora tenha fomentado uma cultura de distanciamento em relação aos media, foi talvez o homem certo na altura certa.

Mattia Binotto tem o respeito e o conhecimento profundo da equipa. Soube proporcionar os meios para que a capacidade técnica da Ferrari se evidenciasse e diz quem sabe que tem uma visão objetiva e interessante do futuro para a equipa e para a F1, sendo até comparado em alguns aspectos a Ross Brawn. Talvez lhe falte algum traquejo nos jogos de bastidores e nas guerras surdas que por vezes são necessárias para ganhar influência no paddock, algo para o qual Arrivabene talvez estivesse melhor preparado. O cenário ideal seria a manutenção dos dois… caso a convivência fosse saudável. Assim, entende-se a opção tomada pelos responsáveis da marca, apesar de ser tomada numa fase pouco recomendável. A Ferrari continua a dar sinais de instabilidade, especialmente nas fases em que parece estar a recuperar.

Era fundamental que o trabalho feito até agora fosse aproveitado e talvez a permanência de Binotto garanta isso, ao contrário da permanência de Arrivabene que certamente resultaria na saída de Binotto, enfraquecendo a Scuderia, não faltando quem o quisesse receber de braços abertos, como o caso da Mercedes. Parece ter sido a decisão acertada… trocar um líder que falhou nas alturas cruciais de 2018 pelo homem responsável pelo ressurgimento ao nível técnico da equipa e um engenheiro respeitado.

Resta saber se esta mudança irá afetar de alguma forma a equipa. Todos esperam que a Ferrari se mantenha no topo e que continue a sua busca pelo título, dando luta a uma Mercedes forte a nível técnico e sobretudo ao nível da liderança. 2018 mostrou que faltaram apenas alguns pormenores para que a Ferrari chegasse ao sucesso desejado. 2019 mostrará se a mudança irá permitir que se aproximem mais desse objetivo.

Entretanto…

 

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