F1: As conclusões de Barcelona

Por a 12 Março 2018 12:51

Terminadas as duas semanas de testes, as equipas de F1 têm agora muito pouco tempo para alterar o que tem de ser melhorado, fazer as malas e partir para Melbourne. É uma época de trabalho intenso para toda a estrutura de uma equipa de F1, que passou os últimos meses a trabalhar contra o relógio para apresentar um carro a tempo e horas, e agora tem de analisar o trabalho feito para chegar à Austrália com o melhor pacote possivel. No entanto, já foi possivel entender algumas tendências iniciais do que promete ser mais uma época de F1 muito interessante. Estas conclusões são sempre arriscadas, pois apenas as equipas sabem ao certo o que fizeram e como o fizeram, não permitindo ilações sólidas, mas ainda assim interessa tentar perceber como está a grelha ordenada (teoricamente) neste momento.

 

Um top 3 acima dos restantes

A primeira conclusão que se tira destes testes é que continuamos com uma clivagem entre as equipas do topo e o restante pelotão. Mercedes, Ferrari e Red Bull estão claramente acima das das outras equipas, como seria de esperar. A Mercedes apresentou uma evolução do carro do ano passado e para já as indicações são muito positivas. Os especialistas são unânimes a apontar a Mercedes como a equipa mais forte do momento, e os stints longos de Hamilton e Bottas foram dignos de nota. A Mercedes não levou um pneu hiper-macio para os testes mas os cálculos mostram que o W09 poderia ter rodado em 1:16. A nova máquina já não é uma diva e embora vá ainda desenvolver, é uma base mais que suficiente para oficializar a candidatura ao título. A primeira grande questão surge na ordem das duas equipas seguintes.

A Red Bull apresentou um chassis fortíssimo e apenas a unidade motriz poderá evitar que os Bull´s lutem de igual para igual com a Mercedes. A Renault entregou aos clientes motores numa versão algo conservadora e espera-se que em Melbourne possam dar motores mais competitivos, o que poderá colocar a Red Bull em luta directa Nas qualificações, poderão não estar ao nível dos Mercedes mas em corrida terão argumentos para uma batalha saborosa. O chassis é mais uma vez soberbo e a Red Bull já não começava um ano de forma tão positiva desde 2013.

A Ferrari é apontada por alguns como a terceira deste grupo. Os dados GPS indicam que perdiam tempo em todas as curvas para a Mercedes e Red Bull. O ritmo nos stints longos não foi tão bom quanto o evidenciado pelos Mercedes mas foram os mais rápidos dos testes deste ano, tendo batido o recorde de pista de Barcelona.  A unidade motriz italiana tem uma potência muito próxima da unidade germânica mas apresenta níveis de consumo superiores o que poderá complicar a vida a Vettel e Raikkonen em corrida, Mas a Ferrari deverá estar certamente na luta desde início e em Melbourne poderemos ver algo mais da Scuderia. Para já os flechas de prata parecem continuar na frente.

 

Um pelotão muito compacto

 

Se infelizmente mantemos um top 3 demasiado rápido para os restantes, vimos que do quarto lugar para baixo, temos muitas novidades e acima disso, muito equilíbrio. A Renault pareceu a equipa mais forte e a clara quarta força nesta fase. Os franceses cumpriram um programa exaustivo de testes, em que o foco esteve na fiabilidade e nos últimos dias vimos um pouco mais de performance. Em Melbourne deveremos ter um carro com mais alterações e com mais ritmo ainda, mas para já a base garante qualidade e parece estar acima dos restantes.

A Haas apresentou um monolugar muito mais equilibrado que o antecessor e há quem diga, em tom de brincadeira, que é o chassis da Ferrari do ano passado com outras cores. A verdade é que os Haas apresentaram uma performance assinalável e tempos por volta muito interessantes. Serão provavelmente a grande surpresa destes testes e é apontada por alguns como a quinta força do pelotão na actualidade.

A Toro Rosso   foi outras das agradáveis surpresas destas sessões. A Honda apresentou uma unidade motriz muito mais fiável e agora sem a pressão da McLaren, poderá trabalhar mais ao seu gosto e quem sabe convencer a Red Bull a trocar de fornecedor. Veremos em ambiente de competição se esta máquina conseguirá aguentar o ritmo dos adversários mas para já, a Toro Rosso pode esperar um primeiro périplo pela Ásia positivo, onde poderá arrecadar muitos pontos. É um novo “casamento” que nesta fase parece estar a correr às mil maravilhas.

A Force India é para já uma incógnita. A gestão orçamental impediu que a equipa trabalhasse com as melhorias aerodinâmicas para 2018 e teve de improvisar. Para já ao nível mecânico o chassis parece ser melhor e se a equipa apresentar o trabalho habitual poderemos ter uma Force a lutar com a Renault pelo quarto posto.

A Sauber está a acusar as dores de crescimento normais nesta fase. Um carro com um conceito significativamente diferente e mais arrojado que os anteriores, que ainda precisa de tempo para amadurecer e render o que a equipa pretende. Há ideias inovadoras que poderão interessar outras equipas, mas nas primeiras corridas, esperar uma Sauber em lugares muito melhores que os vistos em 2017 é provavelmente demasiado ambicioso. Mas há potencial para se aproximarem da concorrência com o decorrer da época.

 

As grandes dúvidas 

McLaren e Williams em tempos dominaram por completo a F1. Em 2018 o que domina estas equipas é a incerteza. Começando pela McLaren, há claramente um problema no monolugar. A forma como a equipa  “empacotou”  a unidade motriz da Renault foi extrema. Diz-se que o carro é muito complexo por dentro… demasiado até. Tudo para poderem ter a traseira mais fina possivel, mas isso torna-se num pesadelo para os mecânicos quando há trocas de componentes. E como está tudo tão apertado a tendência para sobreaquecimento é superior. Se a McLaren conseguir resolver estes problemas, tem claramente capacidade para se juntar à luta com a Renault. A base do chassis parece tão boa quanto a do ano passado e há claramente potencial. Mas se estes problema persistirem poderá ser mais uma época penosa. Para já, as três primeiras corridas não deverão ser nada de mais e a equipa terá de trabalhar arduamente para resolver tudo. Uma nota: está agora confirmado o que todos no fundo sabiam… a McLaren também tem culpas no recente fracasso com a Honda. Os japoneses estiveram muito longe de apresentar um trabalho ao nível que a McLaren precisava, mas a equipa de Woking também não terá facilitado a tarefa de um fornecedor que começou com mais de quatro anos de atraso em relação aos concorrentes directos.

A Williams também deverá ter um começo fraco. A equipa apresentou tempos por volta longe da concorrência, e o novo chassis, à semelhança do Sauber, completamente diferente do antecessor, tem ainda muito trabalho pela frente. Para já parecem a equipa que está em maior dificuldade e que não está a conseguir extrair o que pretende da nova máquina. A dupla de pilotos também levanta algumas questões e ver o piloto de reserva fazer melhores tempos que os pilotos que estarão no grid deixa também algumas dúvidas. Para os fãs da Williams poderá ser um regresso à competição algo amargo.

 

Em resumo, temos um top3 que tendencialmente será dominado pela Mercedes com a Ferrari e Red Bull por perto e uma luta a meio da tabela muito interessante com novas dinâmicas, mas com uma Renault a mostrar algo mais em relação à concorrência. A F1 muda rapidamente e não será de espantar que aconteçam mudanças na ordem actual. Mas há potencial para termos um campeonato ainda mais renhido e interessante, e isso são excelente notícias para os fãs.

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12 Comentários
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so23101706
so23101706
6 anos atrás

Bom artigo. Eu complementaria esta leitura com a interpretação dos resultados dos testes feita por Mark Hughes no motorsportmagazine.com, que procede a uma análise exaustiva dos tempos nas simulações de corrida. Segundo ele, a Ferrari tem um problema evidente com o consumo – tal como FM refere -, mas os Mercedes desgastam em demasia os pneus mais macios e os Red Bull sofrem do mesmo problema, mas com todos os tipos de borrachas. A hierarquia, segundo M. Hughes, é Mercedes-Ferrari-Red Bull, mas esta última estará a maior distância da Ferrari do que esta em relação à Mercedes (embora seja uma… Ler mais »

rodríguezbrm
rodríguezbrm
Reply to  so23101706
6 anos atrás

Também fiquei com essa impressão, visto que se apurarmos o tempo médio nas simulações de corrida, o RB ( 1:22.567) esteve a mais de 1/2 segundo por volta do Vettel e a cerca de ´´3 do Kimi ( e + de 1seg dos Mercedes). Condicionados pelo desgaste dos pneus. Não será por acaso que o Ricciardo no fim do 2º dia estava claramente entusiasmado, dizia que a Mercedes estava próxima, para mais tarde já rectificar que a RB será a 3ª equipa do pelotão. —Quanto ao outro campeonato, e como também já o disse aqui ontem, e na linha do… Ler mais »

*RPMS*™
Reply to  so23101706
6 anos atrás

Quando o tendencioso forista so(i) fala bem de um artigo aqui no AS é porque algo se passa! Depois de ler o artigo é fácil constatar que a sua satisfação deve-se ao facto de ter sido escrito que a Mercedes é superior a Ferrari, algo que contraria os tempos obtidos, que levam a crer que as equipas se encontram niveladas este ano. Sendo assim, o piloto alemão da Ferrari e “heroi” oficial do forista so(i), já tem desculpa se perder e será o maior do mundo se ganhar! É esta a maneira de pensar destes foristas estilo foristas da “bola”… Ler mais »

no-team
6 anos atrás

Se na temporada passada tivemos um duelo de igual para igual entre Mercedes e Ferrari, este ano parece-me que a Mercedes surge num patamar acima. O chassis deste novo Mercedes parece ser muito mais eficiente e nem os pilotos disfarçaram o contentamento no final dos testes, classificando o carro como muito melhor que o do ano passado, com um comportamento em curva nunca visto. Essa tal eficiência em curva pode significar que o carro exige bastante dos pneus, desgastando-os imenso, mas com o ritmo demonstrado com os pneus médios, acho que podem estar bastante confiantes. Ferrari e RB estão logo… Ler mais »

Miguelgaspar
Miguelgaspar
Reply to  no-team
6 anos atrás

Não sei em que TV viram um duelo de igual para igual… as borradas que a Mercedes fez de inicio levou a uma ideia errada que a Ferrari estava ao mesmo nivel, como a tactica na Australia ( que ninguem percebeu), a entrada dos dois Mercedes ao mesmo tempo nas boxes no Bahrain, depois ainda no Monaco o Lewis foi afastado da Q3 por uma bandeira amarela… Na verdade a Ferrari só foi superior na Austria. Alem disso um piloto ser campeão 3 GPs antes do fim, ao terminar em 9 lugar… já mais será num campeonato equilibrado. Juntanto 12… Ler mais »

Frenando_Afondo™
Frenando_Afondo™
Reply to  Miguelgaspar
6 anos atrás

A Ferrari também cometeu uma bela quantidade de erros grosseiros, por isso a Ferrari não estava assim tão atrás como gostam de fazer crer.

*RPMS*™
Reply to  Miguelgaspar
6 anos atrás

Borradas vi mas foi da Ferrari e do Vettel quando chegaram as pistas asiaticas, como Singapura por exemplo… Não tivessem sido essas borradas da equipa e do alemão e poderiam ter lutado até ao fim pelo campeonato.
Superior só na Austria?! E o que dizer do Mónaco e Hungria?
Para não falar novamente de Singapura onde seria 1º e 2º quase certos…
Cumprimentos

Miguelgaspar
Miguelgaspar
Reply to  *RPMS*™
6 anos atrás

Cometi um erro… foi na Hungria e não na Austria ( este foi ganho pelo Bottas). No Monaco já referi, a situação de bandeiras amarela eliminou o Lewis, impedindo este de ir á Q3. As borradas do Vettel foi derivado ao facto de simplesmente sentir a pressão do Lewis… pois sabia que não tinha carro para lutar de igual para igual.

no-team
Reply to  Miguelgaspar
6 anos atrás

O amigo deve ter-se esquecido do monaco, Hungria, Singapura, Bahrein, México e todos aqueles, tipo Rússia e Spa, em que a vitória foi disputada até à última volta. Claro que foi uma luta de igual para igual, em certo circuitos houve vantagem da Mercedes, noutros houve vantagem da Ferrari. No fim ganhou a equipa/piloto mais competentes, a parceria que lucrou mais em situações desfavoráveis, e que não falhou sempre que teve condições para fazer a diferença.

*RPMS*™
Reply to  no-team
6 anos atrás

Muitíssimo bem escrito! Cumprimentos

rodríguezbrm
rodríguezbrm
6 anos atrás

Alguém manda isto ao Ron ? Dizem os italianos que aqui vemos um grupo de marinheiros, com forte dependência do Gin, recrutados no porto de Dover

https://www.youtube.com/watch?v=tTVfyZfXyNc

rodríguezbrm
rodríguezbrm
Reply to  rodríguezbrm
6 anos atrás

Desculpem lá, isto era para ir para o artigo do design do Boullier.

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