Entrevista a João Filipe: Percorrer o mundo com a fotografia

Por a 28 Outubro 2021 13:00

João Filipe é mais um apaixonado pelos carros e pelas corridas, vivendo a sua paixão, um clique de cada vez. A máquina fotográfica tem-lhe permitido conhecer as grandes competições mundiais e falamos com ele sobre a sua carreira.

Todos sabemos que o mundo do desporto motorizado está recheado de talento em Portugal e a fotografia é um belo exemplo desse talento. Todos os fins de semana chegam-nos registos fabulosos de fotógrafos nacionais que cumprem de forma brilhante a sua função de contar histórias apenas com imagens. João Filipe é um desses talentos. Ligado às corridas desde cedo, juntou a paixão pela fotografia, com a paixão pelos carros e a mistura permitiu-lhe pisar “solos sagrados” e fotografar as melhores competições do mundo.

Desafiado a recordar como tudo começou, João Filipe falou das suas origens e do seu percurso:

“Eu estou ligado às corridas desde pequeno, pois o meu pai trabalha nos troféus nacionais como mecânico, portanto desde criança que estou habituado a estar num paddock. Uma coisa levou à outra e graças a isso começou a maluqueira dos carros. Depois a fotografia acabou por aparecer também como elo de ligação para estar perto das corridas. Como gostava da fotografia, juntei as duas paixões e ficou uma mistura mais perfeita. Há quatro anos que sou fotógrafo a tempo inteiro, neste momento não tenho contrato com nenhuma agência, mas trabalho mais com a DPPI e a @World, depois tenho outros trabalhos com outras agências, como em track days. Sou apaixonado por carros, gosto de fazer track days, tenho um carrinho para isso e gosto de ir mexendo, melhorando… É o meu escape, atualmente é o meu maior escape. “

O trabalho de João Filipe começou a ser notado e isso permitiu-lhe ir a provas como as 24h de Nuburgring ou 24h de Spa, mas há uma prova de 24h que todos querem ir ver e que ele conseguiu fotografar em 2017, que lhe abriu as portas para o WEC e para a F1:

“A minha primeira vez em Le Mans foi em 2017. Já tinha estado em Nurburgring e Spa em 2016. Os primeiros convites surgiram de forma natural e na altura, um colega meu trabalhava na agência que fazia as provas do WEC. Houve uma baixa para Le Mans e ele perguntou-me se queria ir. Acabei por ir e juntei-me à equipa no ano a seguir, como fotógrafo oficial do WEC na época 2018/2019 e ainda algumas provas em 2020. 2017 marca o arranque a sério. A ida para a F1 surge também naturalmente. No WEC fiz imensos contactos, conhecimentos, com outros fotógrafos tal como o James Moy, que é o fotógrafo da Toyota e também faz a F1 na agência XPB que trabalhava para a Renault e para a Williams. Em 2019 precisaram de mais uma pessoa para fazer algumas corridas. Ele perguntou-me cinco dias antes se queria ir a Monza e foi um convite que não podia recusar. Chegar à F1 não era o meu objetivo principal, sempre gostei mais de corridas de endurance, mas estar num paddock de F1 é uma experiência única e se conseguir conciliar algumas corridas de F1 com o WEC, é o cenário ideal para mim. Nesse ano fiz Monza, Suzuka e Sochi, no ano seguinte fiz Barcelona, primeira prova após o primeiro confinamento. Entretanto juntei-me à DPPI, que trabalha para a Alfa Romeo.

O Paddock da F1 é conhecido como o Clube das Piranhas, pelo ambiente hostil que muitas vezes proporciona a quem chega de novo, e o João Filipe sentiu as diferenças:

“Sim, sem dúvida que o nome Clube das Piranhas é bem atribuído e é uma diferença brutal. Na F1, o Fernando Alonso não consegue passar despercebido, tem sempre câmaras apontadas a ele, ninguém consegue andar lá sem ter dez fotógrafos à volta, o que é um grande contraste com o paddock do WEC, por exemplo. No primeiro ano no WEC, como era piloto de F1 todos tiraram fotos ao Alonso, no ano seguinte já se normalizou e era apenas mais um piloto. A nível de cobertura media, a F1 é um pouco diferente do que acontece noutras provas. Temos agências grandes a trabalhar e existe muita disputa entre essas agências. As pessoas dão-se bem, mas existe muita concorrência. No WEC diria que é um ambiente muito mais amigável, mais simples. Mas de um modo geral não tenho razão de queixa e até os pilotos na F1 são simpáticos, tirando um ou outro. De manhã, quando estamos a fazer as fotos da entrada no paddock, quase toda a gente diz bom dia  e cumprimenta. Admito que não fiquei intimidado porque tinha um trabalho a fazer e foquei-me nisso. Claro que tive de aprender muita coisa, mas tirando isso foi fazer o trabalho normalmente. A grande diferença entre o WEC e a F1 é que no WEC existe um ambiente muito mais leve, mais familiar diria, mesmo sendo um campeonato do mundo, mas a diferença tem como base o tratamento dos media. Basta ver a informação que sai todos os dias da F1 e do WEC para entender as diferenças.”

A COVID-19 trouxe muitas limitações ao trabalho de todos, fotógrafos incluídos, o que se sente com particular intensidade na F1, graças ao sistema de bolhas:

“Antes do COVID tínhamos acesso ao paddock e não tínhamos acesso direto às garagens, mas podíamos fotografar do pit lane para dentro da garagem. Com a COVID criaram-se as chamadas bolhas, que têm muitas restrições. Foram criadas duas bolhas e cada equipa tem dois fotógrafos, devidamente identificados, um está sempre com a equipa, ou seja roupa da equipa, hotel com a equipa, voos com a equipa, enquanto o outro fotógrafo faz apenas trabalho de pista, só tendo acesso ao media centre e à pista. Em Sochi, foi o meu primeiro fim de semana na garagem. Não é assim tão fácil como talvez pareça, pois temos muitos mecânicos à volta do carro, cada um com a sua tarefa, tudo é feito a correr, e temos de estar ali naquele ambiente, tentando fazer o nosso trabalho, mas ao mesmo tempo sem atrapalhar e claro, depende sempre dos pilotos com quem trabalhamos, há sempre alguns que são mais acessíveis que outros. Mesmo com os mecânicos, é preciso tempo e saber dar a volta para sermos aceites e não olhados de lado como aqueles tipos que estão só ali a tirar umas fotos. O trabalho na garagem é interessante para um fim de semana ou dois, mas mais que isso começa a ser sempre a mesma coisa e as oportunidades de fotografias são muito poucas. São 30 seg. quando o piloto entra no carro, mal entra no carro e depois os dez segundos em que ele sai do carro e entra dentro da box.”

A presença lusa faz-se sentir também na F1 e além de fotógrafos, temos pessoas que trabalham para algumas equipas:

“Temos um português na Williams, pois quando estava lá, creio que ele trabalhava no hospitality. Tenho um amigo fotógrafo que trabalha para a Mercedes e que me disse que há um engenheiro português, mas creio que não está a fazer o trabalho de engenheiro e claro temos o Luís Vasconcelos, que é jornalista e faz as provas todas. São estes de que tenho conhecimento para já. “

Sendo um homem mais da resistência, optar entre a F1 e o WEC pode ser uma tarefa complicada:

“Optar entre F1 e WEC? Isso é complicado e por isso gosto de trabalhar com várias agências que cobrem vários eventos e campeonatos para poder rodar. Já fiz Ralicross, WEC, ELMS, 24h Nurburgring, 24h Spa, TCR Europe. Gosto de ir variando. O WEC agora está um pouco parado, mas acho que em breve o campeonato vai melhorar muito e estou muito confiante que 2023 o campeonato vai ficar muito bom e estou entusiasmado com o que está para chegar.”

Quanto à pista que mais gostou, Nordschleife foi a resposta imediata:

“A pista que mais gostei foi Nordschleife. Monza não gostei tanto, os acessos são complicados, Silverstone também não é a minha preferida, Suzuka é porreira, mas não é tão fotogénica quanto parece. Portimão tem bons pontos de fotografias. O problema de Portimão, este ano, foi a hora a que fizeram a prova do WEC. Se têm atrasado um pouco a prova, conseguimos fotos muito boas com o anoitecer. A pista tem tudo para dar uma boa corrida para todos, fotógrafos incluídos. Como fã de endurance falta-me ainda Daytona e Bathurst.”

Mais um compatriota que dá cartas na arte de pintar telas carregando apenas num botão. Ao falarmos de João Filipe e do seu excelente trabalho, falamos também de todos os que fazem desta a sua arte, muitos deles colaborando diretamente com o AutoSport e celebramos o seu trabalho. Podemos ser pequenos mas o nosso talento permite-nos chegar longe, tal como João Filipe chegou. 

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1 Comentário
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garantia4
garantia4
2 anos atrás

Excelente.
Incontornável o lusco-fusco de le mans, é sempre especial.
Há mais portugueses e luso- descendentes na F1. Aqui fica um bom exemplo, João Filipe: o canal Star Action, ex- Fox, que transmite a F1 para aqueles países todos da América Latina , tem como jornalista principal um mexicano filho de português, de Santarém. Quando o vires, faz-lhe uma surpresa…

Last edited 2 anos atrás by jo baue
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