Campeões da F2 sem lugar na F1

Por a 29 Novembro 2023 14:51

Theo Pourchaire festejou no último fim de semana o título de F2. O jovem talento francês da Sauber foi o melhor jovem da F2, mas agora vê-se num momento da sua carreira em que a progressão se torna difícil. Sem vagas na F1, Pourchaire terá de esperar por uma oportunidade na F1… se ela aparecer.

Há um problema que começa a surgir nas categorias de iniciação. Os jovens pilotos que sonham com a F1 sabem que as hipóteses de chegarem ao Grande Circo são reduzidas, mas nos últimos anos as oportunidades escasseiam ainda mais. Dos vinte pilotos na grelha, apenas sete têm mais de 30 anos e, olhando para o exemplo de Alonso, com 42, a grande maioria tem ainda muitos quilómetros de F1 pela frente se assim o quiser. Os restantes pilotos jovens parecem ter lugar mais ou menos assegurado. Apenas Logan Sargeant tem o seu futuro indefinido com os restantes a já terem provado o seu valor. Neste contexto torna-se complicado para os jovens pilotos subirem à F1.

Olhando para o passado, o título de GP2 ou F2 dava excelentes perspetivas de uma subida à F1. Nos tempos do GP2 vimos Nico Rosberg, Lewis Hamilton, Timo Glock, Giorgio Pantano, Nico Hülkenberg, Pastor Maldonado, Romain Grosjean, Jolyon Palmer, Stoffel Vandoorne e Pierre Gasly subirem à F1. Da lista de campeões do GP2, apenas Davide Valsecchi e Fabio Leimer não correram na F1. Uma taxa de aproveitamento de 83%. Na F2 os primeiros anos também foram positivos com Charles Leclerc, George Russell, Nyck de Vries, Mick Schumacher, Oscar Piastri a conseguirem correr na F1. De Vries foi repescado numa fase em que se pensava que o neerlandês acabaria por não subir à F1, numa passagem sem sucesso. Felipe Drugovich e Théo Pourchaire, os mais recentes campeões, têm uma tarefa complicada pela frente. Drugovich é ainda hipótese para o lugar da Williams, se Sargeant for dispensado, mas Pourchaire parece ter muito poucas hipóteses de subir à F1.

A F1 deve pensar como pode dar hipóteses a estes jovens de se mostrarem ao mais alto nível, numa altura em que tudo faz para bloquear a entrada de uma nova equipa (e de duas novas vagas para pilotos). Será que deve ser a F1 a promover uma equipa de formação dentro da F1, uma equipa suportada por todos onde pilotos, mecânicos e engenheiros jovens seriam inseridos e onde aprenderiam até irem para as equipas maiores? Ou deverá a F1 encontrar uma forma de colocar os pilotos jovens a competir durante o ano (para lá dos testes) para as equipas poderem ver quem tem hipóteses de se afirmar.

O caso de Liam Lawson é o exemplo perfeito do que falta à F1. O neozelandês sempre foi como um dos bons talentos do programa de jovens da Red Bull, mas nunca teve uma oportunidade séria. Tanto que quando Nyck de Vries foi dispensado, a Red Bull não teve dúvidas em optar por fazer regressar Daniel Ricciardo (que tinha tido uma passagem com altos e baixos pela Renault e dois anos fracos na McLaren). Mas a lesão de Ricciardo abriu a porta para Lawson se mostrar. E o que fez foi a todos os níveis excelente. Sem qualquer teste, sem preparação, Lawson garantiu boas exibições e chegou a bater o pé ao muito mais experiente Yuki Tsunoda. Será que Ricciardo teria sido opção de Lawson se tem mostrado mais cedo? Nunca saberemos. Também Nyck de Vries nunca teria tido oportunidade na F1 se não fosse a corrida de Monza pela Williams, onde conquistou pontos.

Ou seja, a F1 não tem forma de colocar os jovens talentos saídos da F2 a teste e por isso recorre preferencialmente aos pilotos que estão na grelha e que têm experiência, a não ser que sejam pilotos do seu programa, já com um plano definido. Mas Lawson mostrou que a F1 pode ter perdido talentos válidos por não lhes dar oportunidade. De recordar que Lawson nem sequer campeão da F3 ou F2 foi. Os jovens podem ser parte do espetáculo, pode assumir algum do protagonismo, mas a F1 tem de criar espaço para os jovens talentos se possam mostrar e singrar. Ou arriscamos vermos um desinteresse crescente pela F2, muito cara e com poucas perspetivas de futuro, quando temos o mundo do endurance a crescer e a absorver cada vez mais talentos jovens, que conseguem condições muito melhores e ficam mais próximos das marcas e de se tornarem pilotos profissionais. O presente da F1 é tremendo com grandes talentos em pista. Mas é preciso que talentos fora do âmbito dos programas das equipas do Grande Circo tenham também a oportunidade de mostrarem que podem ser opção e que os jovens tenham uma janela de oportunidade que neste momento não existe de forma clara. E nestes moldes, vemos que nos próximos tempos não será fácil.

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Pity
Pity
5 meses atrás

Enquanto as equipas existentes resistirem à entrada de novas equipas, que criariam mais vagas, será muito difícil os jovens entrarem. Além disso, temos os casos de pilotos que se eternizam na grelha, alguns porque ainda merecem, casos de Alonso e Hamilton, outros que nada acrescentam. Há talvez uns dois anos (o tempo passa tão a correr que é difícil precisar) eu cometi a “heresia” de sugerir um limite de idade ou temporadas para os pilotos, abrindo assim vagas para os jovens. Ia sendo massacrada, mas a verdade é que algo terá de ser feito. Tomemos o caso deste ano: Sargeant… Ler mais »

Cágado1
5 meses atrás

As equipas de F1 não arriscam e prolongam indefinidamente pilotos razoáveis, porque lhe dão mais segurança que jovens com potencial vindos das fórmulas mais baixas (salvo honrosas excepções). A única forma de alterar a situação é dar rodagem a sério aos pilotos promissores de F2 antes de entrarem na F1, como fez por ex. a McLaren antes da entrada do Hamilton. Para isso é preciso que haja mais liberdade de testes.

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