As melhores corridas de F1/GP de Itália 1995: O desgosto de Alesi

Por a 2 Setembro 2023 15:13

Não faltou drama e emoção no GP de Itália de 1995, desde o despiste de Coulthard na volta de formação, ao embate de Hill em Schumacher. Quando se pensava que a Ferrari ia vencer, e logo com dobradinha, Gerhard Berger e Jean Alesi desistiram. Quem aproveitou foi Johnny Herbert…

Uma vez mais, Michael Schumacher e Damon Hill lutavam acirradamente pelo título. O piloto alemão vencera o Campeonato de 1994, num ano marcado pela tragédia e pela controvérsia, que tinham mesmo levado a um severo castigo ao piloto alemão e a suspeitas de ilegalidades no Benetton. Hill tinha conseguido lutar com Schumi até ao fim, mas em 1995 estava a ser um ano bem mais calmo e, desta vez, Schumacher e a Benetton pareciam estar claramente melhor…

Na verdade, a Williams aparentava estar alguns ‘furos’ abaixo da Benetton ao longo da temporada de 1995, enquanto Damon Hill também não estava a conseguir extrair o máximo rendimento do carro, ao contrário do ano anterior, tendo inclusive cometido dois erros – por falha mecânica, sabe-se com segurança – que pareciam ter mexido negativamente com a sua autoconfiança. Deste modo, à entrada do G.P. de Itália, Schumacher tinha uma vantagem que poderia gerir, mesmo se ainda faltavam seis rondas para o final do Mundial. Nos treinos, Coulthard fez a pole, na frente de Schumacher, enquanto Hill era apenas quarto, entre os dois Ferrari de Berger e Alesi, naturalmente ultra-motivados para uma exibição brilhante perante os tiffosi e que confirmasse o ciclo de recuperação da Scuderia.

Um arranque atribulado

Se a posição de Hill na largada era, só por si, um handicap, o erro de Coulthard na volta de aquecimento só tornou as contas piores para os lados de Grove e deve ter deixado toda a estrutura da equipa à beira de uma crise de nervos. Quando aquecia os pneus, como todos os outros, o jovem escocês derrapava e fazia pião na Variante Ascari e deixava o motor ir abaixo… Abandono ainda antes de começar. E, na largada, enquanto Schumacher disparava para o comando, Hill saía pavorosamente mal e ficava atrás dos Ferrari e do Benetton de Herbert. Mas os deuses da Fórmula 1 decidiram dar uma segunda oportunidade à Williams. Na segunda volta, Max Papis errou na Variante Ascari e colidiu com Jean-ChristopheBouillon, causando ali uma carambola que envolveu ainda Roberto Moreno e AndreaMontermini. A pista ficou bloqueada e a prova foi imediatamente interrompida, permitindo assim a Coulthard alinhar na segunda largada.

Na segunda partida, tudo correu bem e Coulthard aguentou o comando, enquanto Berger fazia um arranque-canhão e surpreendia Schumacher com uma manobra algo agressiva. Atrás do alemão, seguiam-se Hill, Alesi e Herbert, no outro Benetton. Desde cedo, o escocês parecia estar ao seu melhor nível e, tal como acontecera nos treinos, impunha um ritmo muito forte. Seria uma questão de tempo até o piloto, que estava de saída para a McLaren, conseguir a sua primeira vitória, mas não o iria conseguir no templo dos tiffosi. Na verdade, a desistência de Coulthard seria o início de uma série de abandonos em catadupa que pareciam destinados a eliminar tudo e todos que passassem pelo comando.

À 13ª volta, quando já rodava com 2.4 segundos na frente de Berger, Coulthard sofre uma falha no rolamento de roda e despista-se, perdendo a liderança para Gerhard Berger. O escocês regressou à pista e levou o Williams às boxes, mas não houve nada a fazer e foi forçado a abandonar. Com os fãs de pé nas bancadas, o Ferrari de Berger parecia rodar como um relógio, e muitos acreditavam que, não fosse uma eventual falha de fiabilidade por parte dos carros da Scuderia – algo que não era assim tão raro naqueles dias – poderia ser uma vitória fácil para Berger, que estava a rodar a um ritmo superior ao dos seus rivais, vingando assim a triste derrota de Alesi em Monza no ano anterior, quando liderou a prova destacado até a caixa de velocidades quebrar após a primeira paragem nas boxes. Cá atrás, Schumacher não conseguia sacudir a pressão de Damon Hill que, com 15 pontos de atraso, sabia ser fundamental ganhar pontos ao seu arquirrival. O que os adeptos não esperavam era ver a terceira colisão entre os dois pilotos em menos de um ano.

Schumacher vs. Hill – Take III

É de recordar que Schumacher, apesar de todos os seus méritos e de uma suspensão por duas corridas algo injusta – isto se se acreditar na idoneidade da Benetton, tema esse para outro dia – tivera uma oposição bastante intensa de Hill durante 1994, depois de a equipa recuperar da tragédia de Senna. Se a dita suspensão permitiu a Hill reentrar na luta pelo título, não deixa de ser certo que o inglês muito fez por isso, principalmente com uma exibição absolutamente maravilhosa no G.P. do Japão, e ambos chegavam separados por um ponto a Adelaide. A partir daqui todos sabem a história. Schumacher errou a meio da prova e danificou a suspensão num muro, e Hill tentou a ultrapassagem. Schumacher fechou a porta e os dois bateram, o alemão ficou logo ali, enquanto Hill desistia na box devido aos danos na suspensão, entregando o campeonato ao alemão, que nunca mais se livraria da imagem de piloto agressivo e um pouco “sujo” até ao final da carreira. Esses incidentes eram o raro reverso da medalha de um talento ímpar, que lhe valeu ser o piloto de Fórmula 1 com mais títulos vencidos e ter batido quase todos os recordes, só sendo agora ameaçado por Lewis Hamilton. Voltando a 1995, Hill e Schumacher tinham colidido novamente no G.P. de Inglaterra desse ano, quando Hill, batido taticamente por Schumacher e Ross Brawn, tentou ultrapassar o alemão numa manobra claramente otimista, principalmente sabendo da tenacidade do seu adversário. Com as pressas, Hill acabou por colidir com Schumacher, e ambos ficaram ali, entregando a vitória a Johnny Herbert.

Pois bem, no G.P. de Itália de 1995 Hill estava a pressionar ao máximo Schumacher quando, na aproximação à segunda chicane, apanharam com o Arrows de TakiInoue, um dos pilotos mais lentos do pelotão de 1995. O japonês abriu espaço para Schumacher e, inadvertidamente, bloqueou Hill, que teve de se desviar, falhou a travagem e atingiu em cheio a traseira do Benetton. Schumacher levantou-se e foi pedir explicações ao piloto inglês, já escaldado após a prova inglesa. Os comissários evitaram um confronto de imediato, mas Hill foi advertido por ter causado o acidente, até que Inoue assumiu plenamente as culpas, já que tinha sido o seu mau (para não dizer péssimo) jeito que tinha causado toda a atrapalhação, levando mesmo Schumacher a pedir desculpas a Hill. Assim, após 24 voltas, os pilotos que lutavam pelo título estavam fora, e os dois Ferrari na frente, para gáudio dos tiffosi.

Pesadelo em Maranello

Os pilotos da frente estavam, claramente, a apontar para uma tática de uma paragem apenas, e Berger parou nessa mesma volta, mas a Ferrari trabalhou espantosamente mal, o que deixou o austríaco no sexto posto. Alesi herdou o comando até fazer a sua paragem, saindo na frente do seu colega de equipa. Sucessivamente, lideraram uma volta Rubens Barrichello (Jordan) e MikaHäkkinen (McLaren), até ser a vez do segundo Benetton, de Herbert, a tomar o comando, tendo optado por retardar ao máximo a sua paragem. No entanto, após a paragem do inglês na volta 29, Alesi ficava de novo na frente, seguido por perto de Berger, enquanto Herbert precisava de pressionar. Vitória de um Ferrari é sempre a vitória de um Ferrari, mas a possível vitória de Alesi – com o número 27, como o mítico GillesVilleneuve -, o mais italiano dos franceses, filho pródigo da Scuderia desde 1991 e eterno azarado (apenas venceria um Grande Prémio, no Canadá em 1995, numa carreira de mais de 10 anos) só deixava a multidão ainda mais ao rubro… até que os azares começaram.

Na 32ª volta, Alesi nem deu conta que uma das câmaras instaladas no seu carro se tinha soltado. Pior, a câmara atingiu diretamente a suspensão de Berger, que o seguia de perto, obrigando-o a abandonar de imediato. Esfumava-se assim as hipóteses da dobradinha. De seguida, foi a vez da brilhante exibição dos Jordan-Peugeot terminar prematuramente, quando Irvine partiu o motor (volta 41) e Barrichello viu a embraiagem rebentar (volta 44). Herbert tinha aumentado o ritmo, mas a vantagem para Alesi não estava a diminuir significativamente até que, na volta 45, uma falha no rolamento da roda obrigava Alesi a encostar. O desgosto foi imenso, principalmente porque o italiano estava de saída da Scuderia, por troca com Schumacher, e tinha perdido uma mais do que merecida vitória a menos de 10 voltas do fim. No meio de tudo isto, o sortudo foi… Johnny Herbert. O popular, mas azarado, piloto britânico tinha acabado de ser dispensado da Benetton, mas “vingava-se” e obtinha o seu segundo triunfo da carreira. Ironia do destino, ambos eram conseguidos devido à sorte, mas para quem ficou com as pernas e os tornozelos numa miséria após o acidente em Brands Hatch’88 na F3000, sem dúvida que mereceu ser compensado pelo imenso esforço para poder voltar e suportar as dores ao longo de uma longa e consistente carreira.

Classificação

1 Johnny HERBERT Benetton Renault 1h 18m 27.916s

2 Mika HäKKINEN McLaren Mercedes +17.779s

3 Heinz-Harald FRENTZEN Sauber Ford Cosworth +24.321s

4 Mark BLUNDELL McLaren Mercedes +28.223s

5 Mika SALO Tyrrell Yamaha + 1 volta

6 Jean-Christophe BOULLION Sauber Ford Cosworth + 1 volta

7 Max PAPIS Footwork Hart + 1 volta

8 Taki INOUE Footwork Hart + 1 volta

9 Pedro DINIZ Forti Ford Cosworth + 3 voltas

10 Ukyo KATAYAMA Tyrrell Yamaha + 1volta

NT Jean ALESI Ferrari Ferrari Rolamento de roda

NT Rubens BARRICHELLO Jordan Peugeot Embraiagem

NT Eddie IRVINE Jordan Peugeot Motor

NT Gerhard BERGER Ferrari Ferrari Suspensão

NT Luca BADOER Minardi Ford Cosworth Acidente

NT Michael SCHUMACHER Benetton Renault Colisão

NT Damon HILL Williams Renault Colisão

NT Olivier PANIS Ligier Mugen Honda Rotação

NT David COULTHARD Williams Renault Acidente

NT Martin BRUNDLE Ligier Mugen Honda Furo

NT Giovanni LAVAGGI Pacific Ford Cosworth Rotação

NT Pedro LAMY Minardi Ford Cosworth Diferencial

NT Roberto MORENO Forti Ford Cosworth Acidente

NT Andrea MONTERMINI Pacific Ford Cosworth Acidente

Guilherme Ribeiro

Fotos Arquivo AutoSport e DR

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