WRC: As piores memórias do Mundial de Ralis

Por a 14 Abril 2023 17:36

Há 18 anos, a morte de Michael Park, navegador de Markko Martin no Rali da Grã-Bretanha de 2005 colocou em alerta máximo o WRC. O sucedido desencadeou, para além de uma impressionante onda de solidariedade, uma consciencialização dos perigos inerentes aos ralis.

A questão da segurança saltou na altura para a primeira linha das preocupações. Mas teria sido lícito pensar que os carros de ralis não eram suficientemente seguros quando, até à altura, em 32 anos de Mundial de Ralis se tinham verificado ‘apenas’ quatro acidentes mortais (que envolveram cinco vítimas)? Ainda assim esse quadro negro nunca poderia ser desvalorizado, porque ao longo da história da modalidade houve um número quase interminável de acidentes graves.

Depois de Michael Park em 2005, o último numa prova do WRC tinha sido Jörg Bastuck, navegador que morreu no Rally Catalunya da 2006 quando mudava um pneu furado.

Craig Breen, foi a primeira fatalidade num teste de pré-evento, ironicamente em condições muito semelhantes às da morte do seu navegador em 2012, Gareth Roberts, em que um rail entrou no cockpit do carro e matou o infeliz navegador. Quanto a Breen, passou-se algo semelhante, uma cerca de madeira, em que o Hyundai i20 N Rally1 bateu, um dos paus, entrou pelo pára-brisas e ceifou a vida a Breen.

Carros de ralis são seguros

O desporto automóvel não foi feito para matar ninguém e que por mais espetacular que seja, e por mais sentimentos que gere, não vale uma só vida humana. E, é precisamente nesse pressuposto que os principais intervenientes do Mundial de Ralis ainda hoje se baseiam para defender a sua própria segurança, conscientes que, mesmo sendo este um desporto perigoso e onde há e haverá sempre acidentes, é imperioso continuar sempre a reforçar os parâmetros da segurança.

Na altura logo se iniciaram discussões sobre a aplicação de reforços estruturais dos habitáculos, e também pela adoção de classificativas mais lentas. Muitos defendiam que os painéis laterais deverão aumentar de resistência com outro tipo de materiais de reforço, bem como os tubos dos “roll bar” serem ainda mais grossos para absorver melhor o impacto provocado por forças superiores a 1,4 toneladas, o que ao longo do tempo sucedeu. Hoje em dia os carros são mais seguros do que nunca, pois se há uma coisa que a FIA nunca parou de investir foi no melhoramento da segurança, não só nos ralis, mas em todo o desporto motorizado. Acidentes que por vezes sucedem hoje em dia, muito provavelmente redundaria em tragédias no passado, mesmo mais ou menos recente.

Foram quatro os acidentes fatais que fizeram história no Mundial de Ralis e que vitimaram pilotos profissionais. Em 51 anos de longevidade o campeonato fez a sua primeira vítima, Attilio Bettega, em 1985 na Volta à Córsega. E foi precisamente um ano depois, no mesmo dia e na mesma prova que Henri Toivonen e Sérgio Cresto perdiam também a vida, igualmente ao volante de um Lancia. Depois a segurança dos carros melhorou consideravelmente e morte só voltou a marcar encontro com o Mundial em 1993 para vitimar Roger Freeth, o navegador de Possum Bourne.

Em 2005, Michael Park foi a último navegador profissional a perder a vida numa prova do Campeonato do Mundo. Em prova, o Mundial de Ralis só viria a ter mais uma fatalidade, quando Jörg Bastuck foi atropelado no Rali da Catalunha de 2006 quando mudava uma roda após um furo. Craig Breen foi a última vítima, neste caso em testes pré-evento.

Attilio Bettega (02/05/1985 – Volta à Córsega)

Attilio Bettega encontrou a morte na edição da Volta à Córsega de 1985. No entanto, dois anos antes e já ao volante do Lancia Rally 037, o piloto italiano tinha sofrido um terrível acidente na prova corsa que lhe tinha deixado algumas mazelas físicas. Contudo, depois de recuperar, o piloto oficial da Lancia marcou encontro com o derradeiro destino na ilha francesa, quando o 037 foi violentamente travado por uma árvore à saída de uma curva. O impacto fez com que o pilar da frente do Lancia abatesse e o “roll bar” atingisse Bettega, enquanto o navegador, Maurizio Perissinot, escapava ileso.

Henri Toivonen e Sergio Cresto (02/05/1986 – Volta à Córsega)

Após ter participado em 40 provas do Mundial de Ralis, Henri Toivonen perdeu a vida na Volta à Córsega de 1986. Na era dos “super-carros”, o finlandês perdeu o controlo do “monstro” Lancia Delta S4 na prova francesa, em circunstâncias ainda hoje pouco claras. A única coisa que se sabe é que o seu carro explodiu mal se despistou e caiu por uma ravina, perdendo, nessa altura, a vida também Sérgio Cresto o navegador, uma das duplas mais promissoras de sempre dos ralis. Mas do acidente ficaram muito mais perguntas do que respostas: porque é que o carro se despistou naquele ponto? Porque é que explodiu no impacto e porque é que o que restou do carro foi imediatamente

enviado novamente para Itália? Provavelmente, nunca se saberá.

Rodger Freeth (18/09/1993- Rali da Austrália)

Decorria a terceira especial do Rali da Austrália de 1993 quando Possum Bourne não evitou um grave acidente, fatal para o seu navegador, Rodger Freeth. O Subaru Legacy

da dupla neo-zelandesa capotou, não evitando o embate numa árvore, no qual o navegador sucumbiu devido a lesões internas. Freeth havia sido campeão de motos e acabou por falecer com o tipo de ferimentos que normalmente tira a vida aos motociclistas.~

Michael Park (18/09/2005 – Gales Rali da Grã-Bretanha)

Mais de uma semana depois, as circunstâncias do acidente de Markko Martin que vitimou Michael Park são agora menos obscuras. Ao que tudo indica, o piloto estónio terá perdido o controlo do Peugeot 307 WRC na última curva de uma sequência rápida, indo embater numa árvore do lado oposto, situada apenas 30 cms fora da estrada. Como

a velocidade deveria rondar os 160 km/h a desaceleração foi enorme, tendo o impacto deformado o “roll bar” e atingindo mortalmente Park.

Jörg Bastuck (24/3/2006 – Rali da Catalunha)

Seis meses após o trágico acidente que roubou a vida a Michael Park, a morte voltou a ensombrar o Mundial de Ralis. Desta vez, as circunstâncias do acidente que vitimou Jörg Bastuck foram bem diferentes, já que o navegador alemão foi vítima de atropelamento, quando tentava solucionar um problema com uma das rodas do C2 S1600 tripulado por

Aaron Burkart, após despiste na segunda especial. O destino quis que o infeliz co-piloto fosse colhido pelo Ford Fiesta de Barry Clark que saiu de estrada na mesma curva. Prontamente assistido e levado para o hospital de helicóptero, Bastuck não resistiu aos ferimentos, acabando por falecer.

Outros acidentes mortais

Membros da equipa

No Rally Safari 1975, um carro de serviço com quatro mecânicos embateu contra um camião perto de Mombaça. Carlino Dacista, Brian Fernandez e Willie Uis morreram instantaneamente. No Rali Monte Carlo de 1978, dois mecânicos, Bernard Balmer e Georges Reinier, morreram quando a sua carrinha colidiu com um camião perto de Gap, Hautes-Alpes. No segundo dia do Rali Costa do Marfim de 1987, o Cessna 340 da Toyota Team Europe colidiu e explodiu, matando os quatro ocupantes. O antigo co-piloto, Henry Liddon, o seu assistente Nigel Harris, o piloto e o navegador. O diretor da equipa, Ove Andersson, retirou a Toyota do evento. No Rali Safari de 1996, prova que teve muito mau tempo, três mecânicos britânicos afogaram-se enquanto tentavam atravessar um rio com o seu Land Rover.

Oficiais de prova

No final da quarta etapa do Rally dos 1000 Lagos 1981, o piloto da Audi Sport, Franz Wittmann e o seu co-piloto Kurt Nestinger não se aperceberam do final do troço, permaneceram em velocidade de troço e seu Quattro bateu num grupo de pessoas que estavam frente a uma carrinha. Raul Falin, presidente da AKK, autoridade desportiva finlandesa para o desporto automóvel e representante do país na FIA, foi rapidamente levado para um hospital mas morreu pouco depois. Boris Rung, co-fundador e presidente da Associação Europeia de Rallycross e membro da Comissão Off-Road da FIA, sobreviveu ao acidente juntamente com o observador grego da FIA, Costas Glossotis.

Espectadores

No Rally Safari de 1978, cinco transeuntes e quatro espetadores morreram em acidentes não relacionados, ambos envolvendo equipas que disputavam provas. Na primeira etapa do Rali de Portugal 1986, Joaquim Santos perdeu o controlo do seu Ford RS200 e ‘entrou’ por uma multidão de espetadores, matando três e ferindo mais de trinta. Todas as equipas de fábrica, Audi, Austin Rover (MG Metro), Ford, Lancia, Peugeot e Volkswagen retiraram-se do evento.

No Rali dos 1000 Lagos 1996, numa especial que teve lugar no centro de Jyväskylä, um espetador morreu e 36 ficaram feridos quando o piloto dinamarquês Karsten Richardt perdeu o controlo da seu Mitsubishi Lancer Evolution, e foi bater em pessoas que estavam a 80 metros da estrada do troço. O carro entrou por uma estrada secundária e só parou após embater em dezenas de espetadores.

No Rali Monte Carlo de 2017, um espetador morreu depois de Hayden Paddon deixar deslizar a traseira do seu Hyundai i20 WRC, batendo num infortunado, e muito mal colocado espetador.

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