F1: Os quatro 10 de setembro do Circuito de Monza

Por a 2 Setembro 2023 14:40

Nova Iorque e os Estados Unidos tiveram o seu 11 de setembro. Mas Monza teve quatro 10 de setembro, qualquer deles dramático e que, de uma forma ou de outra, alterou a fisionomia e o futuro da pista.

10 de setembro de 1933 – A tragédia de 1928, 9 de setembro, em que morreram o piloto Emilio Materassi, ao volante de um Talbot 700 e 22 espetadores, estava ainda presente neste dia 10 de setembro – a primeira vez, desde então, que a prova voltava a ter lugar no último mês de verão. Na verdade, o GP de Itália apenas regressou, depois do acidente, em 1931 – foi cancelado em 1929 e 1930 – e, então, teve lugar a 24 de maio. Em 1932, realizou-se a 5 de junho. Em 1933, a pista tinha já sido objeto de obras, em especial no que diz respeito à segurança, como novos desenhos das curvas, mas ainda não estavam completas, apesar da prova ter sido sucessivamente adiada até dia 10 de setembro. Entre elas, estavam os novos edifícios de apoio e das boxes.

Durante a manhã de domingo, teve lugar o clássico Grande Prémio de Itália, 50 voltas à pista completa de Monza, com dez quilómetros, incluindo o traçado de 5,5 quilómetros onde se encontrava a designada ‘Pista di Velocitá’, ou ‘Circuito Sopraelevato’, ou seja, o Anel. O vencedor foi Luigi Fagioli, ao volante de Alfa Romeo Tipo B 2.6, na frente de Tazio Nuvolari e de Goffredo Zehender, ambos em Maserati 8CM.

De tarde, decorreu a sexta edição do Grande Prémio de Monza, uma competição realizada em moldes diferentes. Desde logo, porque apenas utilizava a parte de 4,5 quilómetros da oval. E porque constava de três mangas de 14 voltas e uma Final com 22. Não existiam restrições quanto ao peso dos carros ou a capacidade dos motores. E foi aqui que a tragédia aconteceu, pois o evento foi marcado por uma série de acidentes muito graves, que tiraram a vida a três dos melhores pilotos de então.

Tudo foi despoletado ainda na primeira manga, que foi ganha pelo conde polaco Stanislaus Czaykowski, com um Bugatti T54 4.9, na frente de Guy Moll e Felice Bonetto, ambos em Alfa Romeo 8C-2300. Durante a nona volta, o conde Carlo Felice Trossi entrou nas boxes, abandonando, depois do seu Duesenberg 4.5 ter vazado todo o óleo na Curva Sud do circuito. O óleo derramado foi negligentemente coberto com areia pelos comissários no local e isso foi depois considerado como tendo sido o causador dos acidentes, que transformaram aquele num dos dias mais negros da história do desporto automóvel.

Pelas 15h00, sete carros deram início à segunda manga. O céu estava escuro e ameaçava chuva. E, logo no final dessa primeira volta, Giuseppe Campari, que comandava, perdeu o controlo do seu Alfa Romeo Tipo B, precisamente na mancha de óleo mal tapada. O carro embateu numa rocha e capotou numa vala, no lado esquerdo da pista. O piloto foi esmagado sob os destroços e teve morte instantânea.

Baconin Borzacchini, que o seguia a curta distância, no segundo lugar, tentou sem sucesso evitar Campari, entrando em derrapagem e saindo de pista praticamente no mesmo local em que o seu amigo tinha saído. Cuspido do seu Maserati 8CM, foi depois encontrado vários metros mais longe, pelos socorristas, desmaiado. Morreu menos de hora mais tarde, no hospital de Monza. Ferdinando Barbieri (Maserati 26C) e o conde Luigi Castelbarco (Maserati 4CM) também foram envolvidos no acidente, mas sofreram apenas ligeiras contusões faciais.

A corrida não parou e foi ganha por Renato Balestrero, num Alfa Romeo 8C-2300. Mais tarde, Marcel Lehoux, num Bugatti T51, ganhou a terceira manga. Pouco depois, começou a grande Final – e foi então que um terceiro acidente fatal ocorreu.

O conde Czaykowski e Lehoux, ambos em Bugatti, passaram as primeiras oito voltas a discutir a liderança da corrida, até que o polaco perdeu o controlo do carro, menos de 50 antes do sítio em que tinham ocorrido os dois acidentes anteriores. O Bugatti derrapou, capotou e pegou fogo. O piloto morreu de imediato, pois a sua cabeça bateu numa pedra escondida na erva, partindo o pescoço e ficando dentro do ‘cockpit’. Era já quase noite e os espetadores apenas eram capazes de ver a longa coluna de fumo negro a elevar-se nos céus da Curva Sud, ao longe. Por causa da falta de visibilidade, a prova foi reduzida das iniciais 22 voltas para apenas 14 e Lehoux foi o vencedor.

Campari, Borzacchini e Czaykowski eram três dos mais valorosos pilotos dessa altura. A sua morte teve um significado muito especial pois, juntos, tinham ganho 15 das mais importantes provas de Grande Prémio/Fórmula Libre que se realizavam na Europa. Borzacchini, cujo nome de batismo derivava da paixão dos seus paris elo anarquista russo Mikhail Bakunin, venceu o GP de Tripoli de 1931. Por seu lado, Campari era piloto oficial da Alfa Romeo e tinha já ganho o GP de Itália em Monza (1931) e, em 1933, o GP de França, nove anos depois da sua primeira vitória na mesma prova, em 1924. Por sua vez, Czaykowski era um dos melhores pilotos privados, correndo com os melhores carros que comprava com o seu muito dinheiro da sua considerável fortuna e com eles tinha ganho já o GP de Casablanca de 1931 e o British Empire Trophy, em Brooklands, sempre com um Bugatti.

10 de setembro de 1961 – Decorria a segunda volta do GP de Itália e os carros estavam ainda num grupo compacto, apesar de Phil Hill, Ginther e Rodríguez terem aberto já alguma distância para os restantes pilotos. Então, Von Trips, que era o líder do campeonato e corria pela Ferrari, sendo por todos considerado o futuro campeão do Mundo, tentou ultrapassar Jack Brabham entre a primeira e a segunda curva de Lesmo. E, na saída de Lesmo, conseguiu também passar Jim Clark. Mas esta manobra custou-lhe tempo e Brabham recuperou e passou ambos de uma vez. Rodando muito próximos, os três carros fizeram a rapidíssima Vialone, uma esquerda feita de acelerador em baixo e onde Alberto Ascari tinha morrido em 1955, antes de entrarem na reta de acesso à Parabolica.

Os milhares de espetadores que estavam de ambos os lados da pista, por trás das frágeis redes, viram passar a alta velocidade e em rápida sucessão, Hill, Ginther, Rodríguez e, pouco mais arás, Brabham. Depois, a uma distância de uns cinco carros, Von Trips – com Clark mesmo ‘colado’ aos escapes do Ferrari, ligeiramente do seu lado esquerdo. Então, a uns 250 metros da entrada da Parabolica, Von Trips começou a preparar-se para travar e abordar a curva. Mas, muito mais leve, o Lotus era capaz de travar em distâncias mais curtas e, então, Clark, sabendo disso, tentou passar o Ferrari. E, quando subtilmente Von Trips se chegou um pouco mais para esquerda, preparando a trajetória ideal de entrada na curva, os dois carros tocaram-se – a roda traseira esquerda do Ferrari e a da frente direita do Lotus.

O Ferrari atravessou-se, bateu no Lotus e foi para a relva, derrapando no pavimento a velocidade elevada. Num ângulo de 45º em relação com o muro de terra que separava a pista dos espetadores, de frete para estes, começou a capotar rapidamente. Von Trips, sem cintos de segurança, foi cuspido logo na primeira, rebolando pelo asfalto como um boneco de trapos, até se imobilizar na parte esquerda da pista, já morto. Entretanto, o Ferrari acertou no topo do valado que limitava a pista, no lado direito – onde estavam as redes e, excitados pela corrida, dezenas de pessoas que se comprimiam contra ela. A parte da frente do Ferrari começou então a desfazer as redes, a alta velocidade, ceifando várias pessoas, antes de regressar à pista, parando bem no meio e na frente dos outros carros, que estavam a chegar. Mais sorte teve Clark, cujo Lotus bateu no muro de terra do lado esquerdo e continuou aos piões, até se imobilizar mais adiante, na erva, sem capotar e com o piloto, confuso mas ileso, lá dentro.

Os outros carros, com maior ou menor dificuldade, conseguiram evitar os destroços do Ferrari e o piloto jazendo por terra. Carel Godin de Beaufort, amigo íntimo de Von Ttrips, quase chocou contra o Ferrari, depois de reconhecer o corpo morto do seu amigo, mas evitou ‘in extemis’ o embate. O último carro a passar foi o lento De Tomaso F1/002 – OSCA de Roberto Lippi que, chocado, parou logo a seguir ao Lotus e foi a pé para as boxes.

Este foi um dos piores acidentes na História da F1. Para lá de Von Trips, morreram de imediato 11 espetadores. Três dos feridos morreram no dia seguinte e, a 15 de setembro, mais um, no hospital de Monza.

10 de setembro de 1978 – Foi neste dia que Ronnie Peterson sofreu o seu acidente, de que resultou o monumental erro médico que levou à sua morte, na manhã do dia seguinte. O acidente levou a alterações de fundo na zona da reta da meta, com o alargamento da pista e o afastamento, para mais longe, da primeira chicane, que tinha uma zona de travagem demasiado estreita e afunilada.

10 de setembro de 2000 – Durante a primeira do GP de Itália de F1, aconteceu um acidente entre vários carros, na Variante della Roggia. Um deles foi o Jordan de Heinz-Harald Frentzen, que perdeu uma das rodas, que voou para fora da usta, acertando em cheio no bombeiro voluntário Paolo Ghislimberti, de 33 anos. Com ferimentos graves no eito e a cabeça (ficou sem capacete de proteção com a força do embate), foi declarado morto no hospital de Monza, para onde de imediato transportado.

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