João Barbosa: A primeira vitória portuguesa nas 24 Horas de Daytona

Por a 28 Janeiro 2024 17:27

João Barbosa fez a escolha curiosa de correr na América do Norte, no estranho Campeonato Grand-Am. Com uma equipa completamente nova e tirando máximo partido de toda a sua experiência, Barbosa tornou-se em 2010 o primeiro português a ganhar as míticas 24 Horas de Daytona.

Aos 34 anos, o piloto luso chegou ao topo da sua carreira com este triunfo: “Passei o Montoya e vi que podia ganhar”, disse na altura, revelando depois a primeira coisa que lhe veio à cabeça quando viu a bandeira xadrez: “Um alívio enorme. Pensei apenas “Já está”. Fiz a última hora e 45 minutos e estava sempre a ouvir barulhos no carro devido a um problema na embraiagem. Depois foi um orgulho enorme e a sensação do dever cumprido” , disse Barbosa que a partir das onze horas da noite percebeu que podia ganhar: “quando passei para o carro e percebi imediatamente que estávamos a fazer tempos muito competitivos. Pensei que se o carro aguentasse teríamos sérias hipóteses de ganhar. Depois passei o Montoya por volta das 6h30 e foi aí que realmente comecei a acreditar”.

Um dia na América

Do outro lado do Atlântico, também há uma corrida de 24 horas. Na altura fazia parte de um campeonato estranho, chamado Grand-Am, onde se usavam carros que não corriam em mais lado nenhum, ao contrário de hoje, chamados Daytona Prototypes. Ah! A palavra mágica… podia já não ter as mais exóticas e espetaculares máquinas de competição do mundo, mas ainda conservava a mística das 24 Horas de Daytona.

Foi neste campeonato que João Barbosa escolheu fazer carreira nessa altura. Depois de duas épocas com a Brumos, lançou-se à aventura e aceitou fazer parte de um novo projecto Action Express Racing.

Os pilotos eram experientes, o chassis tinha rodagem, os mecânicos vinham da equipa que ganhou Daytona em 2009… só havia uma incógnita, o novo motor, um Porsche V8 desenvolvido pela Lozano Bros, sem apoio da casa-mãe. Mas este não causou problemas. Aliás, o Riley-Porsche quase não deu problemas nenhuns. Foi apenas nas últimas três horas que a embraiagem e o pedal do acelerador mostraram sinais de fadiga, mas nessa altura já Barbosa e os seus colegas tinham aprendido a controlar o seu novo carro e chegaram ao fim da prova com vantagem suficiente para serem os primeiros a ver a bandeira de xadrez.

Sempre a subir

Foi no início da segunda metade da corrida que a Action Express Racing mostrou as suas garras, entrando definitivamente para os três primeiros lugares e passando a lutar de igual para igual com os carros favoritos da Chip Ganassi Racing e da Michael Shank Racing (MSR). Barbosa e os seus três colegas, o americano Terry Borcheller, o escocês Ryan Dalziel e o alemão Mike Rockenfeller, rapidamente assumiram o comando das operações, com a equipas de boxes a garantir ganhos regulares na vantagem sobre os adversários. Sem ter o carro mais rápido em pista, a equipa liderada por Bob Johnson foi suficientemente regular para conseguir bater uma concorrência melhor equipada.

Quanto ao outro português em prova, Pedro Lamy, a sorte não esteve do seu lado, mas ainda assim conseguiu terminar no sexto lugar. A participar em Daytona pela segunda vez, com a equipa Suntrust Racing, Lamy viu o seu colega Max Angelelli fazer a pole-position, mas durante a corrida começaram logo os problemas, com sucessivas entradas nas boxes, a maioria motivadas por avarias no sistema de transmissão (o Dallara-Ford da equipa de Wayne Taylor trocou de caixa de velocidades três vezes). A isto junta-se um acidente de Lamy à saída das boxes, motivado pela baixa temperatura dos pneus, para um total de 44 voltas perdidas. Mesmo assim, o carro da Suntrust conseguiu recuperar de 19º para sexto, fazendo a volta mais rápida da corrida pelo caminho.

Outros ângulos

Nas 24 Horas de Daytona, a grandes perdedora foi a Chip Ganassi Racing. Com dois carros em pista e três vitórias consecutivas entre 2006 e 2008, era a grande favorita, mesmo tendo trocado os motores Lexus por BMW. Mesmo com um carro mais rápido, o Riley-BMW nº 01 ficou em segundo com paragens nas boxes mais lentas, enquanto o 02 havia desistido antes da nona hora com motor partido. A MSR de Michael Shank também perdeu, principalmente por causa do Riley-Ford nº 6, que a meio da corrida era terceiro na volta do líder, mas depois perdeu tempo com um furo e abandonou a menos de duas horas do fim com um incêndio no motor. Destaque também para o final inglório da carreira do lendário Hurley Haywood. Depois da primeira vitória em 1973 e da última o ano passado, 36 anos depois, o piloto e director da Brumos Racing não chegou ao fim da sua derradeira participação em Daytona, pois o Riley-Porsche da antiga equipa de João Barbosa partiu o motor na fase final da corrida.

Classificação Rolex 24 Hours of Daytona 2010, Perímetro 5729 metros, disputadas 755 voltas

1º João Barbosa/Terry Borcheller/Ryan Dalziel/Mike Rockenfeller Action Express/Riley-Porsche 24h00m07,601s

2º Max Papis/Scott Pruett/Memo Rojas/Justin Wilson Ganassi/Riley-BMW a 52,303s

3º Christophe Bouchut/Ryan Hunter-Reay/Lucas Luhr/Scott Tucker/Richard Westbrook NPN/Riley-BMW a 4 voltas

4º Colin Braun/Nic Jonsson/Tracy Krohn/Ricardo Zonta Krohn/Lola-Ford a 20 voltas

5º Brian Frisselle/Oswaldo Negri/John Pew/Mark Wilkins MSR/Riley-Ford a 29 voltas

6º Max Angelelli/Pedro Lamy/Ricky Taylor/Wayne Taylor SunTrust/Dallara-Ford a 44 voltas

7º AJ Allmendinger/Brian Frisselle/Mark Patterson/Michael Valiante MSR/Riley-Ford a 48 voltas

8º Jonathan Bomarito/Nick Ham/David Haskell/Sylvain Tremblay SpeedSource/Mazda RX-8 a 48 voltas

9º Jörg Bergmeister/Patrick Long/Seth Neiman/Johannes van Overbeek TRG/Porsche 997 GT3 a 52 voltas

10º Ted Ballou/Kelly Collins/Patrick Flanagan/Wolf Henzler/Andy Lally TRG/Porsche 997 GT3 a 64 voltas

Pole-position: Suntrust Racing, 1m40,681s

Volta mais rápida: Suntrust Racing, 1m41,101s

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