KIA PICANTO GT CUP: SABOR ‘PICANTO’

O AutoSport vai contar-lhe as histórias em torno do mais recente troféu monomarca da Velocidade Nacional, o Kia Picanto GT Cup. Da desmontagem do Kia Picanto GT Line que lhe serve de base ao desenvolvimento de todos os elementos que resultarão na melhoria da curva de potência, rigidez da carroçaria e eficácia em curva, nada ficará por revelar numa competição que tem tudo para ‘apimentar’ o desporto motorizado português como há muito não se via!

Luís França

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Passam poucos minutos das 9h30, na que pode ser descrita como uma típica manhã fria de início de janeiro, e o aparato é indisfarçável nas amplas instalações da CRM Motorsport. Isto apesar da informação ditada pelo termómetro e os ponteiros do relógio, propícia a prolongarmos a estadia debaixo dos lençóis, caso houvesse essa oportunidade. A explicar o rebuliço está a chegada de sete unidades do Kia Picanto 1.0 T-GDI, com o vermelho ‘racing’ do kit ‘GT Line’ a despertar a carroçaria imaculadamente pintada de branco — a base certa, dizemos nós, de qualquer automóvel com ambições de se tornar numa grande máquina de corridas. O resto vem com o tempo… e com a ajuda dos parceiros certos. No Kia Picanto GT Cup há-os de sobra e na sua maioria portugueses, mas essa revelação vai ficar para outro dia…

ENORME PRIVILÉGIO

Acompanhar, de perto, o desenvolvimento e construção de um carro de competição é um privilégio muitas vezes desvalorizado. E nós, fanáticos pelo desporto automóvel, não poderíamos deixar passar essa oportunidade a troco da tentação de satisfazer a preguiça com mais umas horas de sono, como é óbvio. No entanto, não podemos ignorar que o cenário com que nos deparámos na Adroana, zona da freguesia de Alcabideche, a menos de 1 km do emblemático Circuito do Estoril, tem muito pouco de romântico, no sentido lato da palavra. Antes um encantamento mórbido, como nos filmes de Tim Burton (quem não se lembra de “Eduardo-Mãos-de-Tesoura”), em que, no fundo, conseguimos retirar prazer ao olhar de (e para) uma carcaça despida.

Após terem sido cuidadosamente descarregados do camião de transporte, um ‘giro’ rápido à roda dos carros comprova que os Picanto chegaram com tablier, bancos, cintos, fole da caixa de velocidades, volante, para-choques, grelhas e proteções dos guarda-lamas, apenas para referir alguns elementos. Mas volvidas pouco mais de três horas, da primeira unidade já só se viam as rodas, o chassis e a estrutura da carroçaria graças ao trabalho de mãos dos mecânicos da CRM Motorsport, Rui Almeida, Mauro Cabral e Rui Gomes, e da preciosa ajuda de Manuel Salgueiro, da Kia Portugal. Até toda a cablagem e o depósito de combustível tinham saltado fora, num processo que viria a ser repetidamente aplicado nos restantes modelos antes de seguirem para Vila do Conde — o local onde lhes seria montado o roll-bar.

A lista completa de peças e pecinhas, debitada sonoramente ao longo de extensos dois minutos pelo chefe de mecânicos da CRM Motorsport, Rui Almeida, a quem tiramos desde já o chapéu pela capacidade de armazenar tanta informação, acrescenta aos componentes já referidos as bonitas embaladeiras, as escovas e mecanismos dos limpa para-brisas, o sistema de sulfagem e radiador que o acompanha, e o tubo e a tampa do depósito de combustível. Mas também “a cobertura do tejadilho, a coluna da direção, as quatro portas laterais, os guarda-lamas e o próprio para-brisas”, contou.

Igualmente retirada foi a linha de escape, desta feita não para receber o roll-bar (a sua instalação não obriga à desmontagem deste componente) e sim para albergar um novo sistema, própria dos carros de competição, mais leve e com menos atalhos, chamemos-lhe assim, na ‘estrada’ que separa o coletor da ponteira. Pequenas alterações que, em conjunto com a nova admissão e a reprogramação da centralina, conseguirão elevar a potência do motor de três cilindros e 100 cv do Kia Picanto 1.0 T-GDI GT Line e torná-lo num “pequeno grande carro de corridas”, salientava João Seabra, diretor-geral da Kia Portugal.

MAIS LEVE

Como se exige a qualquer bólide de corridas, o Kia Picanto GT Cup também apresentará menos ‘gordurinhas’ do que o modelo de série, cujo peso anunciado é de 993 kg. “Apesar do reforço da estrutura, queremos situar-nos abaixo dos 920 kg”, garantia Tiago Raposo Magalhães, responsável pela CRM Motorsport, antes de explicar o que sucederia com cada uma destas primeiras sete unidades do Picanto: “De modo a rentabilizar o tempo à nossa disposição, definimos que duas seguirão para o norte para a construção do roll-bar e que as restantes serão distribuídas pelos restantes parceiros, uma para amortecedores e suspensão, outra para fazer uma linha de escape nova e outras duas para se conduzirem testes de motor”.

Consequência de um casamento que já dura há oito anos, fruto da promoção conjunta do Super Seven by Kia, tanto João Seabra como Tiago Raposo Magalhães mostram-se entusiasmados com o salto dado na relação entre as duas empresas na figura do Kia Picanto GT Cup. Cientes dos desafios que acarreta (30 carros nas grelhas do calendário já revelado, e que contempla provas dos campeonatos nacionais de Velocidade e Montanha, não deixa de ser um objetivo ambicioso, principalmente para quem tem de fazer o investimento de raiz e angariar compradores que acreditem no projeto), partilham o olhar simultaneamente confidente e confiante de quem sabe o que tem em mãos: um troféu como há muito não existia em Portugal, apoiado diretamente pela FPAK e por uma marca de automóveis, e com uma filosofia inovadoramente dinâmica, desportiva e curiosa que premiará monetariamente os concorrentes pelos resultados obtidos, e ainda bonificará, com pontos que contam para a classificação final, os que melhor comunicarem a competição e o seu próprio desempenho. Melhor, parece difícil… As cenas do próximo capítulo esperam-no na próxima semana, aqui, no seu AutoSport.

ACESSÍVEL A TODOS

Destinado a promover e a dar um novo fôlego ao desporto motorizado nacional, o Kia Picanto GT Cup é um projeto modelado para ser acessível a todos os participantes. O carro terá um custo de 11.500€, com matrícula e IVA incluídos, a que se juntam 12.750€ + IVA do kit troféu. Além das inscrições para todas as sete provas do calendário, estão incluídos roll-bar com homologação FIA, fechos capot e mala, corta-corrente, uma bacquet Sparco, uma base de baquet, um kit de cintos Sparco, cintas de reboque, rede de janela, martelo de emergência, almofada de roll-bar, tubos travão em malha de aço e um par de faróis de fibra. A estes elementos acrescem os amortecedores Bilstein, as molas Eibach, jantes de competição, reprogramação da unidade de comando eletrónica, escape de competição, quatro pneus Hankook 195/50 R15, óleo de travões da AP Racing e volante de competição. Ao tratar-se de um veículo totalmente novo e com índice de fiabilidade elevado, apresenta o mais baixo custo de utilização do mercado, incluindo-se os pneus, com um custo unitário de 85€+ IVA. Com uma quantidade máxima permitida de 14 pneus para as seis provas do campeonato, tal significa que os pilotos gastarão 1190€ + IVA em pneus para completarem a época, com montagem e desmontagem incluídas. Pode consultar todas as informações sobre este projeto em www.kiapicantogtcup.com

A reter:

Despido de “preconceitos”, o Kia Picanto GT Line de série baixou de 993 para 920 kg.

O calendário do mais recente troféu monomarca nacional contempla quatro provas de velocidade e duas de montanha: dele fazem parte os três circuitos permanentes portugueses (Estoril, Portimão e Braga), a passagem por Vila Real em fim-de-semana de WTCR e as rampas da Falperra e do Caramulo. A entrega das viaturas terá lugar num evento designado por “Delivery Day”, permitindo que pilotos, equipas e patrocinadores obtenham o seu primeiro contacto com o Kia Picanto GT Cup no traçado Circuito do Estoril.

Os ralis não foram esquecidos, estando a ser desenvolvido um kit que permitirá ao Kia Picanto GT Cup lutar pelos triunfos na categoria R1B.

Rui Almeida, Mauro Cabral e Rui Gomes são os rostos responsáveis pela desmontagem e montagem dos Kia Picanto GT Cup preparados pela CRM Motorsport em parceria com a Kia Portugal.