Hélder Rodrigues: “Nunca estive tão bem preparado para o Dakar”

Faltam pouco mais de duas semanas para o inicio do Dakar e, pela primeira vez, Hélder Rodrigues surge no rol dos favoritos. O português preparou melhor do que nunca a edição 2011 desta grande aventura sul-americana, mas para chegar no próximo dia 2 a Buenos Aires nas melhores condições, despendeu milhares de horas em treinos. Como é que Hélder Rodrigues chegou a este patamar foi o que fomos descobrir. As instalações da Mig Tech (Cacém) – onde nasceu a Yamaha WR 450 “Dakar” -, foram o palco para o piloto de Almargem do Bispo contar todos os segredos, desde os treinos, à preparação da moto e aos aspectos logísticos de preparação do Dakar.

“A preparação para uma prova deste género começa… mal a edição anterior termina!”, começa por esclarecer. “Para todos aqueles que acompanham uma prova como o Dakar, é difícil conceber que um piloto demore um ano a preparar-se, mas trata-se de uma autêntica maratona, em que piloto e mota têm que estar sempre em condições, todos os dias, ao longo de duas semanas”.

Físico e não só

Em termos físicos, Rodrigues é forçado a repartir o seu treino por várias modalidades para poder aguentar as exigências diárias de fazer, em média, 400 km em cima de duas rodas. “Ando diariamente três horas de bicicleta, faço também corrida e ainda ginásio. Tenho utilizado as instalações de alto rendimento no Jamor, bem como a simulação de treino em altitude. Tenho ainda o treino de mota, praticamente diário”. As corridas em que participa ao longo da temporada, em Portugal e no estrangeiro, servem igualmente também para manter o ritmo das corridas e os índices competitivos que vão encontrar no Dakar.

O desenvolvimento técnico da mota ‘presta-se’ ao mesmo esquema, ou seja, é trabalhado ao longo de todo o ano. “As provas são os locais de excelência para poder testar novas soluções. Todo o trabalho de desenvolvimento da WR foi feito em Portugal e é algo que envolve muito tempo e trabalho, de modo a que a tenhamos fiabilidade e performance para podermos lutar pelos lugares da frente. E isto, mais do que todo o resto, é o que me deixa mais satisfeito”, confessou.

O trabalho é tanto e tão minucioso, que basta ver que na altura em que decorreu este trabalho o quadro da mota com que Rodrigues vai participar no Dakar está totalmente desarmado. “Está tudo dentro do planeado e este ano estou muito motivado para conseguir um bom resultado, pois a mota está fantástica e eu sinto-me muito bem”.

Outro dos aspectos abordado pelo piloto da Yamaha na preparação para o Dakar foi a importância do treino com GPS. Por isso, a partir de meio do ano este treino é intensificado com a realização de estágios de vários dias no deserto. A rápida interpretação do ‘road-book’ e o à-vontade a lidar com o GPS são fundamentais e podem fazer a diferença numa etapa… e no Dakar. E Rodrigues desenvolveu mesmo um sistema próprio de enrolamento do ‘road-book’!

 “Este projecto é a prova que em Portugal temos pessoas e condições para fazer bem as coisas. A minha moto do ano passado era melhor que a da Yamaha France e este ano as coisas estão ainda melhores, embora os veja como patrocinadores. Aqui, temos também muito o envolvimento da Yamaha Portugal, que tem à frente uma pessoa que é um visionário e  que me tem dado um apoio inexcedível. Este ano tenho uma mota muito competitiva. Tem velocidade de ponta, é fiável e tem uma boa estabilidade”.

A importância do apoio

No decorrer desta iniciativa a cargo da Red Bull, Hélder Rodrigues foi, como é habitual, simpático e profissional. Disponível para responder a todas as questões, o piloto de Almargem partilhou pormenores e vivências do seu dia-a-dia e alguns segredos do seu sucesso. “Este acaba por ser um momento marcante, sobretudo pelo interesse do público que se juntou em meu redor. Fiquei muito sensibilizado com o apoio de todos e tenho a certeza que esta sessão me ajudou a manter a motivação em alta, ao mesmo tempo que aliviou a pressão dos treinos e da preparação para a corrida”, reconheceu.

A força da técnica…

A Yamaha WR 450 que Hélder Rodrigues vai utilizar na próxima edição do Dakar é o perfeito exemplo que em Portugal se consegue fazer coisas tão boas ou melhores que em outros países. A partir de uma mota de competição de série, a equipa liderada pelo piloto de Almargem do Bispo conseguiu transformar a Yamaha numa das melhores do Mundo para o Dakar, capaz de se bater com qualquer mota de fábrica. Nas oficinas da Mig Tech, para além da montagem da mota, foram feitas as adaptações ao chassis de uma WR. “Pegou-se num braço oscilante de uma YZ de motocross no qual se colocaram extensões. O quadro passou a servir de reservatório para o óleo da lubrificação e a bateria foi acoplada à parte inferior dianteira do propulsor para melhorar o centro de gravidade”, explicou. Ao mesmo tempo, foram feitos novos suportes para os instrumentos de navegação, bem como para os depósitos de combustíveis suplementares, bem como um reforço em todo o chassis e fixações novas para as bombas de gasolina e bomba de óleo.

… e a técnica da força!

Esta é a terceira evolução feita na WR 450 pelos homens da Mig Tech, cujo trabalho despendido deverá rondar as mais de 500 horas. As carenagens e os depósitos frontais foram fabricados pelos portugueses da Dakar Tech, tal como o escape, também de fabrico nacional e o ‘software’ do CDI (gestão electrónica da moto). O trabalho de desenvolvimento das suspensões foi feito na MXT e de fora só mesmo as peças especiais para o motor, montado e revisto em Portugal. Desta forma, e apesar de Rodrigues ser o piloto oficial da Yamaha para o Dakar, através da Yamaha France, o apoio dos gauleses divide-se pelas facilidades logísticas para o transporte de peças e assistência, cedência de um piloto ‘mochileiro’ e um ‘manager’. Registe-se ainda que a mota do português vai ser assistida, ao longo da prova, por dois mecânicos (Miguel Nabais e Filipe Barbosa) da Mig Tech.