Elisabete Jacinto: “O Africa Eco Race é mais que uma alternativa, é o Dakar, só que tem outro nome”

Por a 26 Junho 2014 19:53

Desde 2010 que Elisabete Jacinto não falha uma edição do África Eco Race, e a meses de novo evento, prepara-se para a edição de 2015, onde vai participar novamente aos comandos de um MAN. Natural do Montijo, a piloto portuguesa – que tem como melhores registos, dois segundos lugares em 2011 e 2012 – esteve ontem presente na apresentação oficial do evento, em Lisboa, e falou-nos das dificuldades que espera encontrar nesta sua sexta participação, das diferenças face ao Dakar sul americano, dando particular destaque à organização de uma prova que tem em Jean-Louis Schlesser e René Metge os seus representantes.

Este ano mais uma participação no África Eco Race, quais as expectativas para esta prova?

Elisabete Jacinto: Estou entusiasmada, é sempre um desafio enorme, é sempre aquela prova que tratamos por sua excelência, nunca por tu. É uma prova que nos impõe muito respeito, este ano há novidades, vamos passar em sitos em que não passamos há muito tempo, vamos Chinguetti, vamos a Atar, vamos ter um formato um bocadinho diferente do rali, e isso é sempre um desafio, é sempre um entusiasmante por ser uma prova cansativa, que nos leva ao muitas vezes ao limite. O meu camião é um camião difícil, passa-se muitas dificuldades, todos os anos tento ir mais preparada, para que seja um bocadinho mais fácil, mas há sempre aquelas etapas em que agente vai e diz assim: não aguento mais, como é que eu vou fazer, com tantos quilómetros que ainda me faltam. Portanto esta prova continua a ser sempre um grande desafio, por isso parto sempre com aquele entusiasmo como se fosse a primeira vez.

E em relação ao percurso, novidades?

EJ: Não, penso que de uma forma ou de outra nos já passámos em todas as zonas, se bem que sei que há etapas muito difíceis e portanto estou há espera delas naturalmente.

A Elisabete é por formação Licenciada em Geografia, isso ajuda de algum modo neste tipo de provas, na leitura do terreno, por exemplo?

EJ: No princípio, quando comecei a fazer os ralis, a navegação era uma das coisas que me preocupava, mas naturalmente eu tinha aqueles conhecimentos teóricos todos, da navegação, como é que se formam as dunas por exemplo, eu tinha os conhecimentos teóricos de tudo aquilo que ia encontrar. De certa forma isso ajudou-me para me sentir um bocadinho mais confortável. Se bem que a navegação seja acima de tudo uma questão de concentração. Agora no camião não sou eu que faço a navegação, tenho um navegador que me vai ditando as notas todas (ndr, José Marques), mas nunca é algo que possamos tratar por tu, temos de estar sempre concentrados. Mas numa primeira abordagem, os conhecimentos de geografia sem dúvida que ajudam. Há coisas que não são um bicho-de-sete-cabeças, que compreendemos o porquê de serem assim.

O África Eco Race tem cumprido o papel de alternativa ao Dakar?

EJ: Eu acho que é mais que uma alternativa, é o Dakar, só que tem outro nome. Ao não ter o mesmo nome, não tem a mesma notoriedade. E tem uma coisa de que eu gosto muito, ou seja, não tem aquelas longas ligações como tinha o Dakar, com 400 ou 500 km de etapa e depois tínhamos 200 ou 300 km de alcatrão para chegar até ao acampamento, que normalmente era nos aeroportos. Esta organização optou por fazer os acampamentos no deserto, não temos que ir aos aeroportos, porque todo o equipamento é levado de camião. Portanto, esses quilómetros que tínhamos de fazer todos os dias já não os fazemos, isso torna a prova muito simpática, temos um bocadinho mais de tempo para descansar e isso deixa-nos mais folgados para as etapas, o que é muito bom. Agora, na realidade, em termos de dificuldades de percurso, são as mesmas dificuldades que nós tínhamos antes, continuamos a ter aquelas dunas dificílimas na Mauritânia, a areia mole, o camião enterra-se e custa sempre, onde passamos horas a cavar, temos aquelas particularidades do território marroquino, aquelas valas em que não nos podemos distrair um minuto, temos que acreditar que o navegador tem razão e temos de acreditar nele, porque os nossos olhos não estão a ver a vala e ele diz que ela está lá, e temos tendência a não acreditar, mas temos de lhe dar ouvidos. E isso, a nossa experiência, também nos ajuda a estar nesses sítios.

Pelo que disse, pode considerar-se o África Eco Race uma versão mais ‘familiar’ do Dakar?

EJ: Por ser um bocadinho mais pequeno, por ter menos equipas, embora seja uma prova completa a esse nível. Sente-se acima de tudo uma coisa muito especial que é o facto de a organização se preocupar connosco, sente-se que a organização do África Race está lá por nós, qualquer coisa temos à vontade suficiente para falar com as pessoas, expor os problemas, sabemos que eles estão lá, para colaborar connosco e para nos ajudar a resolver as nossas pequenas coisas. E no antigo Dakar não, nós estávamos muito distantes da organização. E se tivéssemos um problema, ainda bem, era mais num para desistir e ir para casa mais cedo. E essa sensação nós não temos com esta organização. Portanto aqui somos quase uma família, é muito giro porque vamos para o terreno absolutamente picados uns com os outros para ver quem chega primeiro, mas depois no acampamento conversamos e o ambiente é muito cordial, quase familiar porque todos nós conhecemos, é muito agradável.

Disse que no Dakar os concorrentes não são tão acarinhados, isso não pode dever-se ao facto de ser uma prova com outras dimensões e a organização não conseguir criar a mesma proximidade com os pilotos, não deixando de se preocupar obviamente?

EJ: Estamos muitos mais distantes, porque há tanta gente que é difícil as pessoas conhecerem-se, e é difícil a pessoa estabelecer relacionamentos humanos uns com os outros, logo, isso traz um afastamento enorme, não quer dizer que as pessoas sejam particularmente antipáticas no Dakar, não é isso, mas é de facto a dimensão da prova, que é tão grande que torna às vezes muito impessoal, enquanto esta não.

E nos próximos anos, O África Eco Race é uma aposta a manter?

EJ: Sim, o meu desafio é África. São as dificuldades do terreno, a solidão do deserto, é a necessidade de resolvermos os nossos próprios problemas, coisa que não acontece na América-Latina. A mim o que me seduz realmente nesta prova é o terreno africano, é isso que me seduz, e depois claro, a organização é simpática. Mas acima de tudo é o desafio da corrida em si, pela sua dimensão, pela sua densidade, por aqueles territórios fantásticos onde andamos, e onde eu posso andar com o camião.

As características africanas da prova são uma mais-valia, acrescentam algo à própria prova?

EJ: Exactamente, sim na minha perspectiva é, e é isso de que eu gosto realmente.

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