Q&A a Ricardo Porém: “Vou fazer a minha corrida e partir sem qualquer pressão”

Por a 2 Janeiro 2020 10:16

Ricardo e Manuel Porém são a única dupla lusa deste Dakar 2020, prova em que vão correr com um Borgward BX7 DKR Evo, fazendo equipa com o experiente Nani Roma. A fasquia não está alta e ’aprender’, sem descurar um possível bom resultado, é o objetivo

Ricardo Porém vai disputar o Dakar pela segunda vez, desta feita com um Borgward BX7 DKR Evo, um carro de uma marca que foi reavivada em 2008 e que se estreou no Dakar em 2017. Aos 30 anos, Ricardo Porém está confiante que ele e o irmão mais novo, Manuel Porém, podem chegar ao top 10 com o Borgward BX7 DKR Evo, algo que não sendo um objetivo assumido, vinha bem a calhar, ainda que o seu principal foco seja continuar a ‘aprender’ no Dakar. Seja como for, o Campeão de Portugal de Todo-o-Terreno de 2014 e 2017, tetra vencedor consecutivo da Baja Portalegre 500, e o seu irmão, têm pela frente um grande desafio.

Ricardo, de novo no Dakar…

“Tive uma estreia muito positiva no Dakar 2019. Correr num SSV permitiu-me compreender como se desenrola um prova complexa como o Dakar, ao longo de muitos dias de competição. Este ano, eu e o Manuel temos a sorte de correr juntos, e estou muito confiante de que faremos uma grande equipa, tanto dentro como fora dos Borgward.“

Até que ponto a aprendizagem do teu Dakar do ano passado num SSV te serve para esta prova?

“Eu penso que no Dakar, mesmo quem tem muitas edições feitas aprende em todas elas. Portanto, eu apenas com uma edição acho que me continuo a considerar um rookie, agora há alguns pormenores com os quais já podemos considerar que vou mais bem preparado. Quer queiramos quer não é uma corrida de uma grande dimensão e há muitas coisas que são diferentes dos Rally Raids.”

O que achas do Borgward face aos carros que já guiaste no TT?

“O Borgward é um carro que já tem três anos. É competitivo, bastante fiável, e embora eu acredite que não está ao nível dos carros mais evoluídos, como os Mini ou Toyota, está no bom caminho. Agora tem sido desenvolvido pelo Nani Roma e a Borgward Rally Team é uma equipa oficial, muito profissional e com muitas capacidades, e portanto são tudo fatores que vão contribuir para que a performance do Borgward seja cada vez melhor.”

Que estrutura vais ter no Dakar a trabalhar contigo?

“Em permanência no Dakar são três mecânicos, mais um engenheiro de motores e outro de chassis, que é partilhado pelos dois carros, mas teremos sempre três pessoas a trabalhar em privado no nosso Borgward.”

De que formas podes beneficiar da experiência do Nani Roma?

“Tenho a certeza absoluta que o Nani é um excelente piloto e está ao nível dos melhores do TT mundial, vai para o 25º Dakar e isso diz logo o que é a sua experiência em todas as provas do Campeonato do Mundo e os anos que anda nisto. Tem sido muito gratificante para mim poder aprender com uma pessoa com tanto conhecimento e tanta experiência, e só espero poder capitalizar isso ao máximo, poder evoluir enquanto piloto e adquirir mais dados para a minha experiência.”

Vais apanhar percursos de muitos quilómetros em que nada se vê, só areia e o horizonte. Não estás habituado, embora tenhas apanhado alguma coisa em Marrocos. Como se navega em zonas dessas?

“O ano passado (Dakar 2019) fizemos muita areia, mas eu acredito que na Arábia Saudita não vai haver tantas dunas. Muito terreno arenoso, sim, mas não tantas dunas, fala-se que pode ser muito como o Dubai, são muitos quilómetros mas um pouco diferentes do Peru.

Não é o terreno onde estou mais à-vontade, mas é um terreno onde cada vez tenho acumulado mais experiência e cada vez me sinto mais confortável e ao longo dos 8000 km de corrida que temos pela frente vou ter certamente a oportunidade de ir evoluindo nessas condições.”

Na América do Sul ainda se encontrava gente para ajudar, ali, na Arábia Saudita, no meio do deserto, duvidamos que seja assim. Como imaginas que será a prova a esse nível? Regressa a entreajuda que se via muito em África?

“Este ano fala-se que o espírito de entreajuda do Dakar vai voltar face às características da prova, vamos ter etapas muito longas, de sair cedo, chegar tarde, muitas horas dentro do carro. Na América do Sul o povo é super apaixonado pelo desporto automóvel. Não era em todos os quilómetros, lógico, mas não se passavam muitos quilómetros sem se ver pessoas, sem se ter público, e isso agora eu calculo que não vá existir, eu acho que vão ser etapas com muito menos público e onde vamos depender muito mais de nós.”

Nota-se que estás muito confiante, com muita vontade de começar a competir. No meio disto tudo, onde é que ficam os objetivos que tens para este Dakar?

“Eu acho que num Dakar temos sempre que ir com vontade de aprender e evoluir o máximo possível, principalmente quando é apenas a segunda edição, como é o meu caso. Neste momento não há qualquer plano definido pela equipa, mas tentarei cumprir com tudo o que me for imposto, e vou fazer a minha corrida e partir sem qualquer tipo de pressão, vou tentar fazer uma coisa inteligente, são muitos, muitos dias, quero tentar evitar ao máximo os erros, apostar na regularidade para tentar, quem sabe, se as coisas correrem bem, um lugar no top 10, mas não é nisso que vou estar focado nem com a pressão de ter que atingir esse objetivo. Acredito sim que, se tudo correr conforme planeado, sem grandes contratempos e apostar na regularidade, poderei conseguir esse objetivo. Mas, reforço, não é algo que seja uma prioridade.”

Terminares à frente do Alonso era giro, não? andares na luta contra ele, já que numa pista, seria difícil para ti…

“Fora das corridas damos-nos todos bem, lá dentro todos queremos dar o nosso melhor. Sem dúvida que é muito bom para o todo-o-terreno em geral, Dakar em particular, a presença do Fernando Alonso. Demonstra bem a qualidade de pilotos que o TT hoje em dia tem, acho que vai ser fantástico, até para os media, que vão falar muito mais da corrida. São mais valias que pode trazer. O Fernando tem feito muitos testes, vai estar competitivo, obviamente que lhe pode faltar um pouco de experiência de leitura do terreno e de gerir uma corrida com 8000 km, como é normal, mas de certeza que vai fazer um bom resultado, pois está a correr também por uma grande equipa.”

E tu andares na luta contra ele?

“Nunca fizemos nenhuma corrida juntos, não sei como é que pode estar o nosso andamento, semelhante ou não, logo se verá… se for para andar à frente, muito bem, mas também não será uma pressão, nem quero cometer erros devido a essa situação. Se surgir, claro que será positivo.”

Sentes que se deres nas vistas, podes ficar na mira dos patrões das grandes equipas, ou um piloto de um pequeno país como Portugal terá sempre mais dificuldades?

“Essa é uma questão um pouco difícil! É verdade que Portugal tem excelentes pilotos no desporto mundial, mas também é verdade que face à nossa dimensão muitos nunca conseguiram chegar à elite máxima do desporto mundial, outros ficaram pelo caminho, outros não conseguem viabilizar todos os seus projetos. É o país que temos, eu tenho muito orgulho em ser português, entendo que cada um tem que dar o melhor de si, vestir sempre a camisola e tentar fazer o seu melhor, e obviamente que se fizermos o nosso melhor e se a escolha não recair sobre nós, ficar de consciência tranquila, e eu acho que isso é o mais importante.”

Quais são as tuas apostas quanto à prova? É verdade que prognósticos ‘só depois do jogo’, mas tens algumas ideias?

“Já pensei um pouco nisso, e eu acho que vai haver surpresas. Confesso que com estas novas regras vamos ter um piloto muito rápido que pode andar à frente nos primeiros dias, que é o Yazeed Al-Rajhi (ndr.: um saudita, que corre em casa, muito rápido, e que já fez muitos ralis do WRC, entre 2008 e 2018; desde 2015 que corre no Dakar, onde foi sétimo o ano passado com a Mini), que conhece decerto muito bem o país e tem um excelente carro. O Nasser (Al-Attiyah, Toyota) também tem um excelente carro e a Mini também. O polaco Kuba Przygoński pode vir a fazer um grande Dakar (ndr.: Mini 4X4), tem evoluído muito nos últimos tempos, tem um carro muito bom e eu acredito que ele possa vir a fazer um bom Dakar. O meu colega de equipa, o Nani Roma, também, com a regularidade que já lhe é conhecida pode vir a surpreender. Vamos ver, temos que esperar pelo primeiros dias para perceber efetivamente como é que tudo se vai desenrolar e como é que estas novas regras de navegação são, como é que tudo vai acontecer.”

E quanto ao pós Dakar, em 2020, já tens alguma coisa em mente?

“Para já só tenho previsto o Dakar em janeiro e depois tudo dependerá do Dakar para ver o que posso fazer durante a época. Um bom ano para todos, na Arábia Saudita tudo farei para representar da melhor forma Portugal e todos os que me apoiam…”

Com 16 Válvulas/Gonçalo Cabral

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