Lisboa-Dakar: Quando o Alentejo e Algarve se colocaram no caminho de África

Há 15 anos, o dia 11 de maio ficou na história do automobilismo português como um marco notável. Foi nesse dia, na austeridade do CCB, que foi apresentado, com a pompa que a circunstância exigia, o Lisboa-Dakar: «Habituem-se a chamá-lo assim! » – exclamou, bem disposto e optimista, Laurentino Dias, o secretário de Estado do Desporto, quando foi a altura da sua intervenção, quiçá farto de ouvir os oradores anteriores a tratar apenas por Dakar a grande maratona africana! Que oficialmente, arrancou de Lisboa, a 31 de Dezembro de 2005. Na altura da apresentação, o local para o Prólogo, ainda se desconhecia, embora Mafra reunisse algum favoritismo (o que como se sabe não chegou a acontecer) – tal como sucedia com a etapa que seria realizada antes da caravana embarcar para o continente negro, via Málaga: «Ainda é cedo para estar a falar de locais. Vamos começar a trabalhar nisso amanhã», referiu, na ocasião, José Megre, consultor da ASO para a prova e quem estava encarregue de traçar os itinerários para a competição em território nacional: «Pela primeira vez, não só teremos uma enorme quantidade de veículos no terreno, como entre eles estarão os camiões, que exigem parâmetros específicos e com os quais nunca trabalhámos.» Uma certeza ficou, contudo, explícita: «Serão entre 200 e 250 quilómetros de especiais, no Alentejo e no Algarve. Agora, em que estradas, vamos agora estudar quais…»

Contudo, a hipótese de ser usado algum do percurso do Vodafone Rali Transibérico não foi descartado. Certeza também, a satisfação de Etienne Lavigne, director do Lisboa-Dakar que, desta forma, afastava o critério de pequenas especiais que, em Barcelona ou França, eram as possíveis, a favor de uma «verdadeira etapa, competitiva e com outra verdade desportiva.»

Além disso, iniciar a prova em Portugal aproximou-a de África, afastando o milhar de quilómetros, em estrada, que a caravana todos os anos fazia até Gibraltar, ponto de ligação com Marrocos.

A alegria do momento, partilhada por todos os presentes, com destaque ainda para Pedro Santana Lopes, presidente de uma edilidade que «desde cedo viu as vantagens da cidade ser o ponto de partida da prova», para Vasconcelos Tavares, presidente da FPAK e Jorge Viegas, presidente da FNM (hoje em dia preside a FIM), foi sublimada com o convite, feito por Laurentino Dias, para que «o desafio possa ser colocado nos anos próximos.» Ou seja, como João Lagos, emocionado, referiu, «as surpresas não terminaram. Vamos em frente!»

E fomos, até a política francesa a ‘meias’ com ameaças terroristas que se resolviam mais ou menos facilmente, tudo estragaram.

Uma grande surpresa chegaria dois anos e meio depois, tal como a surpresa que vivemos hoje com o coronavírus.