Dakar: tática, estratégia, e Audi a ‘morder’ os calcanhares a Nasser al Attiyah

Por a 11 Janeiro 2024 09:28

Já se sabia que a etapa de ontem seria estratégia para alguns, se não todos os principais favoritos e a ordem final da tirada é sintomática: Nasser Al-Attiyah (BRX), que confessou não se ter preocupado com estratégia, venceu, na frente de Guerlain Chicherit (Overdrive Racing), Juan Cruz Yacopini (Overdrive Racing), Yazeed Al Rajhi (Overdrive Racing) Guillaume De Mevius (Overdrive Racing) Chaleco Lopez (Can-Am Factory Team) Giniel De Villiers (Toyota Gazoo Racing), Mattias Ekström (Team Audi Sport) Austin Jones (Can-Am Factory Team) Eryk Goczal (Energylandia Rally Team), etc., etc…

Não foram por acaso, estes resultados, tudo se deveu a estratégia para não sair hoje à frente para a etapa maratona de 48 horas que se realiza entre hoje e amanhã.

Ao contrário dos seus concorrentes, Nasser Al Attiyah não tentou jogar xadrez 4D na etapa 5. O piloto catari chegou a ‘casa’ com o tempo mais rápido, tornando-se assim o sexto vencedor em seis dias diferentes nas especiais deste Dakar, depois de Mattias Ekström (prólogo), Guillaume de Mevius, Stéphane Peterhansel, Lucas Moraes e Sébastien Loeb. A última vez que houve seis vencedores diferentes nas primeiras seis etapas foi em 2004, há 20 anos (e 4 dias, para sermos exatos). Nessa altura, Kenjiro Shinozuka, Josep Maria Servià, Giniel de Villiers, Ari Vatanen, Stéphane Peterhansel e Hiroshi Masuoka alternaram a liderança entre Clermont-Ferrand (França) e Tan-Tan (Marrocos). Todo o trabalho desenvolvido para tornar o 46º Dakar o mais imprevisível possível está a dar frutos!

Para Nasser Al Attiyah: “Não houve estratégia da minha parte” conquistando a sua primeira vitória de etapa neste Dakar, que foi também a 48ª vitória da sua carreira e a primeira com a Prodrive. Isto também significa que abriu a estrada no “48H Chrono” de hoje. “Não houve qualquer estratégia da minha parte. Queria ganhar a etapa, independentemente do que nos reservassem para amanhã (hoje). “São 600 quilómetros e não me importo de abrir a estrada. Mesmo que perca tempo, o que importa para mim é terminar estes 600 quilómetros.”

E o que temos hoje?

Como o nome sugere, o ‘Bairro Vazio’ não está exatamente repleto de atrações turísticas arquitetónicas ou culturais convencionais. No entanto, para os entusiastas dos rally-raids, é um tesouro impressionante com dunas que se estendem até onde a vista alcança. Milhões? Talvez! Os pilotos e as equipas estão dispostos a saltar dos seus sacos-cama na calada da noite para enfrentar um troço de estrada de 508 km e mergulhar neste mar de dunas para uma especial crucial de 118 km que preparou o terreno para a sua ‘estadia’ no Bairro Vazio. Nasser Al Attiyah, que aprendeu a arte nas areias vizinhas do Qatar, aumentaram a temperatura e adicionaram mais um ponto aos seus cintos.

Hoje, os pilotos estão a enfrentar um percurso separado, sem poderem beneficiar das pistas deixadas pelos pilotos de motos. Havia um sentimento palpável de preocupação entre muitos dos favoritos, com cada um a elaborar a sua própria receita tática para se defender dos concorrentes que se aproximam do seu espelho retrovisor amanhã de manhã. Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz, por exemplo, mantiveram a calma para terminar em décimo sexto e décimo sétimo na classe Ultimate, com apenas 14 segundos de diferença. O tempo dirá se esta foi a decisão correta.

Sébastien Loeb chegou ao ponto de falhar deliberadamente um ponto de passagem, o que lhe valeu uma penalização de 15 minutos e aumentou a sua diferença para o líder, Yazeed Al Rajhi, para uns assustadores 43 minutos. Isto é que é uma aposta!

Entretanto, o líder saudita não tentou a sua sorte, nem Nasser Al Attiyah, que aumentou a sua agressividade caraterística. Numa distância de 118 km, ultrapassou Guerlain Chicherit por 1m51s para conquistar a sua 48ª vitória em etapas, que é também a sua primeira num BRX Hunter, juntando-se a uma lista diversificada de vitórias que abrange BMW, Volkswagen, Hummer, Jefferies Buggy, Mini e Toyota.

É uma lista de sete construtores diferentes, a par de “Peter” na categoria de automóveis. Al Attiyah ficou em segundo lugar na geral, atrás do seu antigo colega de equipa Yazeed Al Rajhi por 9 minutos, e vai liderar o “48H Chrono” com gosto.

Na classe Challenger, Eryk Goczał cedeu mais de 2 minutos ao vencedor, Francisco “Chaleco” Lopez, no que não pareceu ser uma manobra calculada, mas o seu controlo da liderança continua firme como sempre.

Gerard Farres sofreu um desastre, caindo nas dunas e arruinando as suas perspectivas de vencer.

Entretanto, Xavier de Soultrait venceu a etapa, provando que a sua espetacular estreia na sua nova classe não foi um acaso. Por fim, os problemas de Aleš Loprais e Janus van Kasteren foram um bom negócio para Martin Macík, que venceu a etapa e está agora entre os dois favoritos no top 3 provisório.

Vamos ver como tudo se desenrola hoje e amanhã.

Para já, neste preciso momento, em que é feito este texto, 9h18 em Portugal, Carlos Sainz lidera a geral virtual com um pouco menos de sete minutos de avanço para Nasser al Attiyah, com Mattias Ekstrom menos de cinco minutos atrás do piloto catari, e Stephane Peterhansel 15 minutos depois de Ekstrom. No arranque da prova Attiyah disse que ao cabo de três dias os Audi já teriam ido todos para casa, mas a verdade é que ao cabo de cinco, lidera um Audi e os outros dois ‘mordem os calcanhares’ a Attiyah que é segundo.

Vamos ver como tudo evolui, mas para já a Audi está a fazer o que nunca fez nos últimos três anos. Mas é como tudo termina que importa…

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