Dakar de 2021 a 2023: o que nos ensinam as três anteriores para o desfecho da prova deste ano?

Por a 15 Janeiro 2024 14:57

Agora que o Dakar 2024 está na sua fase decisiva e porque o passado ensina-nos sempre muito relativamente ao que pode suceder no presente e no futuro, recordemos as últimas três edições do Dakar, que nos podem dar pistas quanto ao que pode suceder daqui para a frente.

É evidente que os principais protagonistas, estão em fases diferentes das suas carreiras, quer sejam pilotos ou equipas, e isso como é lógico, faz aumentar ou diminuir as probabilidades.

A Audi estreou-se há três anos e está agora em melhores condições de ganhar que nunca, a BRX Prodrive já o poderia ter conseguido, mas a Toyota e Nasser al Attiyah foram sempre fortes demais para que isso pudessse suceder e agora a Toyota tem carro, mas não tem al Attiyah, pelo que só pode almejar o pódio ou eventualmente, porque tem dois pilotos bem destacados à frente a quatro dia sdo fim, vencer.

Dakar 2021: 14ª vitória de Stéphane Peterhansel

Stéphane Peterhansel (Mini Buggy) venceu o Dakar! Ao lado do seu novo co-piloto, Édouard Boulanger, o francês susteve com êxito os ataques da dupla de Nasser Al-Attiyah e Matthieu Baumel e obteve o seu oitavo triunfo no Dakar nos autos e o seu 14º entre autos e motos. Além disso, este triunfo de ‘Mr. Dakar’ surge precisamente 30 anos após a sua primeira vitória, nas motos, em 1991. Nasser al Attiyah (Toyota Hilux) foi segundo a menos de um quarto de hora, na frente de Carlos Sainz (Mini Buggy) que desta vez se quedou pelo lugar mais baixo do pódio.

Em termos desportivos, o momento-chave da prova deu-se na etapa 9. À entrada desta tirada, Nasser al Attiyah rodava 5m50s atrás de Stéphane Peterhansel, e no final a margem subiu para 17m50s. Foi aí que o rali se decidiu apesar de duas complicadas etapas que ainda havia pela frente, entre elas a 11ª, que para o diretor de prova, David Castera, era a mais difícil deste Dakar, com cerca de 80 Km de difíceis dunas. Na etapa 9, Stéphane Peterhansel viu Nasser Al-Attiyah sofrer dois furos, e com a margem entre ambos a mais do que triplicar, as hipóteses do piloto da Toyota repetir o triunfo de 2019, diminuíram drasticamente. A partir daqui o piloto da Toyota só poderia contar com a má sorte de Peterhansel, mas há um dado em que se tem de refletir. A Toyota teve até esse momento, 48 furos entre os três carros, e foi aí que se fez a diferença. Independentemente do restritor do motor, entre o Mini Buggy da X-Raid e a Toyota Hilux, a verdadeira diferença fez-se na forma como os pneus dos Mini e das Toyota suportaram as dificuldades do percurso.

Como sempre, o Dakar ‘cai’ mais para um lado ou outro, entre os favoritos, dependendo do percurso que é escolhido, e este ano isso foi notório, com a agravante da questão das diferenças nos pneus. Este ano tivemos uma prova com diversas etapas de muito mau piso, pedra e trialeiras, e os buggy conseguem passar bem mais depressa, não só devido ao maior curso de suspensão mas também o tamanho dos pneus. Os Mini da X-Raid, têm um diâmetro maior e paredes laterais também maiores, por isso têm tendência a furar menos. O único contra é mesmo pesarem mais cerca de 10 kg.

E foi aí que se fez boa parte da diferença, só Nasser al Attiyah teve 16 furos. Stéphane Peterhansel teve quatro e Carlos Sainz, três. Uma diferença abismal para al Attiyah. Tendo em conta que a diferença final foi de 13m51s, imagine-se a importância que tem o tempo perdido em 12 furos, os que al Attiyah teve a mais que Peterhansel.

Para lá dos três homens da frente, exatamente aqueles que esperávamos poder terminar nos três lugares da frente, independentemente da ordem, o Dakar ficou ainda marcado pela estreia do BRX Hunter 4X4, de Sébastien Loeb, Nani Roma e da Prodrive e o quinto lugar do espanhol foi um bom prémio para uma prova em que a estrutura de David Richards provou que em poucos meses é capaz de construir um carro para uma prova tão difícil quanto esta e colocá-lo de imediato entre os melhores. Nunca o BRX deu quaisquer sinais de poder terminar no pódio, mas percebeu-se que há potencial para fazer mais e melhor no futuro.

Dakar 2022: Nasser Al-Attiyah vence Dakar pela 4ª vez

Nasser Al-Attiyah e Matthieu Baumel venceram o Dakar, no quarto triunfo do piloto do Qatar, que empatou com Ari Vatanen. Sébastien Loeb foi segundo e está cada vez mais perto de vencer um Dakar. Yazeed Al Rajhi foi merecido terceiro classificado, um pódio em ‘casa’.

Esta prova só não foi mais interessante nos autos, porque Nasser al Attiyah esteve a um nível muito difícil de bater. Resolvida a questão dos furos com os novos T1+, o piloto do Qatar esteve pouco menos que imbatível, deixando claro que tinha mais para dar se fosse preciso. Nunca há certezas de nada numa prova como o Dakar, mas Attiyah cedo deixou perceber que dificilmente perderia esta prova. Como sucedeu.

A Toyota esteve um nível acima da BRX Prodrive, que apesar de ter construído o seu segundo carro em dois anos, mostrou estar pronta para dar cada vez mais luta à Toyota.

A pioneira Audi cumpriu o seu caminho, cedo ficou claro que não seria chegar ver e vencer, mas as suas três equipas fizeram o suficiente para deixar claro que no próximo Dakar vai ter que se contar com a equipa alemã. Por fim, a Mini, sem piloto de topo já viu o conceito dos seus buggy ultrapassado, mas ainda capaz de lutar no top 10, tal como sucedeu.

A prova foi complicada em termos de navegação, os percursos foram duros quanto baste, numa prova marcada por polémica antes de começar com uma explosão de um carro de apoio, numa história muito mal gerida pelas autoridades locais e terminou com uma enorme tragédia, a morte de um jovem mecânico da PH Sport, Quentin Lavallée, devido a um acidente de viação numa ligação.

Nasser al Attiyah esteve um nível acima! O nativo de Doha arrancou para este seu 18º Dakar com a Hilux renovada com rodas e suspensão maiores e dominou primeiro, controlou depois, toda a prova. Venceu três etapas, liderou sempre, a sua maior vantagem foi alcançada na etapa 6, 48m54s, o dia antes do descanso e foi aí que estabeleceu a tática para a segunda semana: expetativa, controlo, gestão, fugir dos erros e ‘azares’ como o diabo da cruz. Pensou e executou na perfeição.

Pelo segundo lugar da geral durante a prova passaram Carlos Sainz, Sébastien Loeb e Yazeed Al-Rajhi, mas a liderança nunca esteve verdadeiramente ameaçada.

Sebastien Loeb/Fabian Lurquin(BRX Hunter/Prodrive Bahrain Raid Xtreme) terminaram no segundo lugar, e mais uma subida de degrau do francês face a um futuro triunfo no Dakar.

Sendo verdade que se esperava mais da Audi em termos de classificação geral, o facto de Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz terem perdido muito tempo, muito cedo na prova, deixou-os logo muito atrás e por isso não foi de estranhar que tenham sido Ekstrom/Emil Bergkvist (Audi RSQ e-Tron) os melhores da equipa, com o nono lugar. Todos tínhamos dúvidas face ao que a Audi poderia fazer, mas cedo se percebeu que chegar ver e vencer já não é para os tempos que correm, muito menos numa prova destas. A não ser que tivessem feito 10 Rali Dakar em testes, e mesmo assim nada lhes seria garantido. Tendo em conta o número de etapas que venceram, quatro, Carlos Sainz (2), Mattias Ekström (1), Stéphane Peterhansel (1), não lhes faltou performance apesar das queixas apresentadas. Foi pela fiabilidade que o carro quebrou, no caso de Peterhansel, uma das vezes, quando perdeu mais tempo ficando fora de prova, bateu e arrancou a suspensão traseira. ficou a servir de mochileiro para os colegas. Não nos admiraremos se voltarem para o ano na luta pelo triunfo.

Dakar 2023: 5ª vitória de Nasser al Attiyah, 3ª da Toyota

O que já se desenhava há algum tempo confirmou-se: Nasser al Attiyah ganha o seu 5º Rali Dakar, naquela que é a 3ª vitória da Toyota, todas com o piloto do Qatar. Sébastien Loeb (BRX Hunter Prodrive) foi segundo e o brasileiro Lucas Moraes (Toyota Hilux Overdrive) terminou no pódio.

Foi uma prova que ficou praticamente decidida nos autos, antes da paragem para descanso. Com os atrasos dos melhores pilotos dos Audi, Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz, e ainda Sébastien Loeb, no BRX Hunter da Prodrive, Nasser al Attiyah ficou com o caminho completamente desbravado para vencer, o que conseguiu.

Para o piloto do Qatar, uma prova em que o binómio piloto/carro estiveram quase perfeitos, saíram incólumes da terrível segunda etapa e sem nunca cometer exageros o piloto que chegou à liderança apenas na Etapa 3, não mais perdeu a posição, consolidando o seu avanço à mesma medida que os adversários baqueavam atrás de si, fruto de uma grande demonstração de bom andamento aliado a uma consistência inigualável.

Sébastien Loeb (BRX Hunter) repete o segundo lugar de 2022, terminando a prova a uma distância bem menor do que a que perdeu na fatídica etapa 2, quando furou três vezes, ficou sem rodas e teve de esperar por ajuda. Problemas, todos têm, mas furar três vezes e perder quase hora e meia costuma ser um momento decisivo e foi-o para o francês, que ainda assim recuperou bastante, chegou ao segundo lugar. Contudo, o francês provou que está pronto para vencer a prova, e o mesmo se pode dizer do BRX Hunter.

Sébastien Loeb bateu um enorme recorde nesta prova ao vencer seis etapas de forma consecutiva, um feito que fica para a história, entrando também diretamente para o top de pilotos com mais etapas ganhas num só Dakar, cuja liderança continua nas mãos de Pierre Lartigue, que em 1994 venceu 10 tiradas.

Espetacular terceiro lugar para o rookie brasileiro Lucas Moraes que com o experiente navegador Timo Gottschalk (Toyota Hilux Overdrive) fizeram um excelente Dakar, com o piloto a ser premiado com um fantástico pódio na estreia na prova.

A Audi esteve pior que em 2022. Mattias Ekstrom (Audi Team Audi Sport), foi o único Audi a terminar a prova. Foi 13º. Este ano foram passos maiores que a ‘perna’. Três carros perdidos ou muito atrasados por acidentes é ‘tentar’ demasiado. Foi assim com a Audi em 2023.

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