As aventuras de Lourenço Rosa e Joaquim Dias no Dakar

Por a 16 Janeiro 2021 14:36

Com o #442, nas portas do seu Can Am Maverick, Lourenço Rosa e Joaquim Dias tinham o sonho de disputar o Dakar, onde foram ‘rookies’: “Tinha este sonho de fazer um Dakar, e este ano surgiu a oportunidade”, disse-nos Lourenço Rosa antes da partida: Integrados na estrutura oficial da Can Am (South Racing) queriam terminar este enorme desafio, e conseguiram. Foi assim cumprido o objetivo que traçaram para esta que foi a estreia de ambos na mais mítica prova mundial de Todo-o-Terreno.

Tripulando um Can-Am Maverick XRS assistido pela South Racing, conquistaram a 15ª posição da geral reservada aos SSV T4, um resultado aquém do andamento que demonstraram, já que só um azar já perto do fim os atirou para o 15º lugar final.

Não foi uma prova isenta de dificuldades, contudo a fiabilidade do bem preparado Can Am chegou para enfrentar as agruras do Dakar, bem como a prestação da equipa e o trabalho prévio de preparação efetuado foram alicerces sólidos que permitiram construir este resultado: “Estamos cá, chegamos ao fim, foi duro mas superamos todas as dificuldades. É tempo de agradecer ao Joaquim Dias, o meu navegador que nesta prova nada fácil foi enorme, simplesmente fabuloso. Agradeço à South Racing que me entregou sempre um carro nas melhores condições, um grande trabalho de uma extensa equipa que não deixa nada ao acaso, obrigado igualmente a todos os nossos parceiros que connosco viajaram nesta grande aventura e uma palavra final para todos aqueles que de alguma forma nos fizeram chegar o seu apoio e motivação. Hoje é um dia intenso e pouco mais posso dizer.”

Recordar como tudo se passou:

Logo na Etapa 1 tiveram igualmente a sua dose de problemas, com duas paragens para trocar dois furos, tantos quanto as rodas suplentes que conseguiam transportar no seu Can-Am Maverick XRS, o que acabou por condicionar o ritmo de prova após terem esgotado as rodas suplentes para não correrem o risco de hipotecar a chegada ao final da etapa. Entretanto, após a chegada, a equipa foi informada de uma penalização de 6 minutos por terem excedido o limite de velocidade numa das zonas de controlo. Contas feitas terminam o dia no 18º posto por entre os concorrentes da sua categoria. “O Dakar é de facto uma prova duríssima, foi o desafio mais difícil que enfrentei até hoje, sentimos que agora sim começou a prova a sério, muito duro e muito esforço, para nós concorrentes. É incrível perceber a resistência que estes carros possuem para aguentar percursos como o que encontramos, com muitos e muitos quilómetros a passar sempre em zonas rochosas, fomos encontrando dezenas de concorrentes parados com problemas técnicos e com furos, sendo que nós furamos duas vezes, mas dentro do mau até correu pelo melhor pois conseguimos chegar ao final, embora com um ritmo muito mais lento após o segundo furo por segurança.

Chegámos a rolar em 8º, fomos 18º lugar da nossa categoria depois de uma distração que valeu uma penalização. Estamos satisfeitos e também por percebermos o quanto é importante estarmos cientes de quando devemos conceder e baixar o ritmo com os olhos no objetivo final. Sabíamos que poderíamos contar com um pneu emprestado por um nosso colega espanhol da equipa South Racing que rolava atrás de nós e não tinha ainda furado, mas felizmente não foi preciso e terminamos esta primeira etapa num resultado que nos deixa a ambos satisfeitos”.

No dia seguinte, a Etapa 2, o dia correu bem não fosse um furo a obrigar à perda de alguns minutos para trocar a roda já na fase final do percurso quando restavam menos de 8 quilómetros para percorrer: “Esta etapa correu-nos muito bem, andamos sempre com um bom ritmo, acabamos por furar a apenas 8 quilómetros do fim o que nos fez perder algum tempo, mas no geral foi muito bom. Passamos por muitos concorrentes durante a especial, muitas dunas numa etapa espetacular e muito menos cansativa que a de ontem.”

Na Etapa 3, um erro de navegação, levou a equipa a sair do percurso ideal por cerca de 5 quilómetros, tendo de percorrer esse mesmo percurso em sentido inverso para retomar a rota correta: “Foi um dia sem complicações, onde conseguimos ser bastante rápidos, e não fora o desvio adicional que fizemos estaríamos ainda mais bem classificados. Mas é absolutamente normal isto acontecer, é a primeira vez que estamos numa prova deste género, com especiais tão extensas e sem pontos de referência reais, portanto, estamos totalmente conformados e já esquecemos essa parte do dia. Estamos a ganhar experiência e cada vez com mais ritmo, e é o momento em que temos de começar a gerir a nossa confiança e redobrar a atenção pois seguramente temos ainda muitas surpresas e eventuais armadilhas no terreno para ultrapassar pois isto é o Rally Dakar. Esta etapa não era tão interessante, as dunas eram bem maiores e bastante pedra, muitos carros e muito pó. Paisagens fantásticas e não deixo de realçar o espírito de lealdade e entre-ajuda por entre os concorrentes, todos facilitam a passagem e sempre que é preciso ajudam-se mutuamente, e este é o verdadeiro espírito do Dakar com o qual nos identificamos também bastante.”

Na Etapa 4 Lourenço Rosa e Joaquim Dias perderam bastante tempo na etapa, tendo averbado o 24º tempo. Dois furos ao transpor as muitas zonas de empedrado por onde passaram, e a partir daí tiveram de dosear o andamento do Can-Am pois ficaram sem pneus: “Esta foi uma etapa muito dura, dois furos e a partir daí foi preciso controlar muito bem para não furar de novo, depois acabamos por ficar atascados numa duna muito grande em que levamos cerca de vinte a vinte e cinco minutos para desenterrar as rodas e conseguirmos sair dali, enfim, um dia que nos mostra o tal verdadeiro Dakar que já ouvimos falar mas que nos tinha deixado um pouco à margem desses problemas até hoje.

Chegamos ao fim da etapa, é certo com tempo perdido mas sabíamos que dias mais difíceis iam chegar, e isso faz parte. Tivemos de pôr em prática o que fomos aprendendo para nos libertar desta situação, ganhar velocidade para conseguirmos transpor a duna, no percurso fomos passando por muitos concorrentes com furos e também presos pela areia, portanto, toca a todos e hoje fomos também alvo destes desafios. Como equipa estivemos muito bem, entendimento perfeito entre mim e o Joaquim, e o carro de novo muito fiável com o trabalho que tem sido feito pela South Racing.”

A Etapa 5 era tida como uma das mais complicadas e logo desde o arranque isso acabou por se verificar. Lourenço Rosa e Joaquim Dias não estiveram isentos de problemas mas a equipa subiu posições na tabela de classificação: “Uma etapa muito difícil no início, com dificuldade em definir uma rota ideal, havia muitos carros perdidos e a circular ás voltas e acabamos por também perder ali algum tempo. Quando finalmente saímos e encontramos o trajeto ideal, a partir daí foi sempre a rolar. Hoje não tivemos furos, também porque tivemos cuidados adicionais numa etapa que se previa complicada, e muito longa. Ainda paramos para ajudar a equipa brasileira do Reinaldo Varela que furou várias vezes, cedemos-lhe um dos nossos pneus, e de resto correu bem com o carro a colaborar. Fomos até ao fim, chegamos já sem luz do dia o que não foi muito agradável. Uma etapa com muitas mudanças de direção, esforço adicional para nós, mas estamos cá e o objetivo de chegar ao fim já está mais perto, com mais um dia cumprido. O Dakar é uma aventura que temos de encarar com imenso respeito. É a primeira vez que participamos e temos apenas o objetivo de terminar, na melhor posição possível. Quando sentimos segurança arriscamos mais um pouco, e estamos a aprender a gerir o nosso andamento a cada dia que passa”

Na Etapa 6 registaram o oitavo tempo por entre os concorrentes da categoria T4 SSV e subiram à décima posição da geral: “esta etapa foi muito boa, viemos grande parte do tempo a par com o Tom Coronel, o que significa também muita diversão. Correu muito bem, tivemos dois furos lentos que fomos resolvendo apenas com o compressor que transportamos e assim perdemos menos tempo do que trocar a roda, ainda nos perdemos mas em um minuto resolvemos e retomamos o percurso ideal, e aqui estamos com mais uma etapa cumprida e satisfeitos com trabalho que fizemos , satisfeitos com o carro e com a equipa que tem sido incansável em garantir que o carro está sempre nas melhores condições. Estamos cada vez mais confiantes e a experiência a aumentar o que ajuda bastante para que tenhamos menos problemas e seja possível andar mais rápido e obter melhores resultados, em termos de navegação o Joaquim tem estado muito bem e a cada dia que passa sentimos que vai ficando mais fácil perceber os segredos da navegação e da leitura do terreno, portanto, o dia de hoje é também o capitalizar de todos estes factores que conjugados permitem melhores resultados no final do dia.

No dia seguinte, na Etapa 7, a primeira parte de uma etapa maratona com 450 quilómetros de extensão, não estava prevista assistência técnica para os carros no final do dia, cabendo à própria equipa efetuar o trabalho possível na manutenção do Can-Am: “Voltou a correr bem, tenho de deixar uma palavra de agradecimento ao Joaquim Dias que fez um trabalho espetacular hoje, irrepreensível num percurso muito difícil para a navegação, e foi inacreditável ter tomado as decisões certas em cada momento, nas notas, na leitura do terreno , foi brutal.

Pena que a cerca de 90 quilómetros do fim acabamos por furar e perder mais de 4 minutos a mudar a roda, e terminamos de novo dentro do Top Ten, que é muito positivo para nós. Hoje é uma etapa maratona e temos de ser nós a tratar do carro, felizmente não há nenhum problema complicado para resolver e estamos prontos para amanhã continuar, tentar ser de novo rápidos mas sempre com uma margem de segurança, pois a prova é longa e o objetivo é terminar o rali. Em Dezembro já estivemos nesta região a disputar a Baja Hail em preparação para o Dakar e isso foi muito bom pois de algum modo, o tipo de percurso e decisões a tomar foram também suportadas na experiência e conhecimento obtidos nessa prova, e pudemos hoje tirar algum partido disso.”

Na Etapa 8 surgiram as primeiras grandes dificuldades para Lourenço Rosa e Joaquim Dias pois tiveram várias atribulações para ultrapassar e conseguir chegar ao final da etapa. Mais um furo, uma roda que empenou e um erro de navegação condicionaram o andamento e ditaram a perda de algum tempo, ao que se somou uma penalização de 20 minutos a adicionar ao tempo total de prova, com a equipa a cair para a 11ª posição da categoria T4 SSV. “Não foi uma etapa que nos tenha corrido bem, foi um dia complicado mas conseguimos acabar a etapa que é o mais importante. Tivemos um furo e depois um problema numa roda que ficou torta e tornou o carro muito instável nos últimos quilómetros. Não forçámos o ritmo, ainda assim acabamos por falhar na navegação, perdemo-nos e optamos por descartar a passagem num dos waypoint, falhamos esse ponto de controlo o que nos valeu uma penalização. Chegamos ao fim do dia, continuamos nesta nossa aventura do Dakar, terminamos a etapa e se algumas correram melhor, esta não foi mesmo a melhor.

No dia seguinte, na Etapa 10, já flatava pocuo para chegar a Jeddah, e para cumprirem o seu objetivo de terminar a dura prova no seu ano de estreia com o Can-Am Maverick assistido pela South Racing: “Cumprimos mais um dia, as maiores dificuldades prendem-se com o pó que é levantado pelos outros concorrentes, a nossa ordem de saída é agora um pouco mais para trás e isso leva a que tenhamos menos visibilidade. Estamos contentes com o resultado, rodamos bem, não furamos, viemos sempre prudentes e terminamos na décima quarta posição dos SSV, mas já temos os olhos fixados na chegada.”

Na Etapa 11, o azar: Lourenço Rosa e Joaquim Dias. Uma passagem atribulada de uma duna quando estavam a tentar retomar o percurso ideal, levou Lourenço Rosa e Joaquim Dias a ficarem parados na etapa com uma roda a menos no seu Can-Am Maverick, sendo auxiliados entretanto por um dos camiões de assistência da equipa, o que permitiu regressarem ao Bivouac e manterem-se em prova: “Foi um dia de grande aventura que não nos correu bem, numa altura em que estávamos na quinta posição da etapa da nossa classe, entramos numa zona de dunas bastante grande com mais de 40 quilómetros, e quando estávamos quase a chegar ao fim dessa zona, tivemos algumas dúvidas na navegação, perdemos um pouco a noção donde estava o percurso ideal, e entramos numa zona de dunas virgens onde ainda ninguém tinha passado, e a inexperiência do Dakar veio ao de cima, entrei muito rápido numa dessas dunas em que o ângulo de saída era bastante elevado, saltámos alguns metros. Aí o carro saiu desequilibrado, rodamos no ar, e aterramos apenas em uma roda que concentrou todo o peso, partindo o eixo e o conjunto de roda e ficámos parados. Aguardámos pela ajuda de um dos camiões de assistência rápida que seguia atrás de nós, demorou cerca de meia hora, tendo sido possível reparar o carro chegar ao final da etapa. Perdemos posições mas ficámos em prova. Foi mais uma experiência que tivemos neste Dakar, e a dureza é enorme”.

E assim terminou a história de uma grande aventura…

Caro leitor, esta é uma mensagem importante.
Já não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Oferta de um carro telecomandado da Shell Motorsport Collection (promoção de lançamento)
-Desconto nos combustíveis Shell
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI
Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas DAKAR
últimas Autosport
dakar
últimas Automais
dakar
Ativar notificações? Sim Não, obrigado