Cyril Despres teve de suar para bater Marc Coma no Dakar

Por a 23 Janeiro 2012 08:59

A história deste Dakar, no que às duas rodas diz respeito, poderia escrever-se com três letrinhas apenas: KTM. A diferença entre os dois ‘pontas-de-lança’ da marca austríaca – dominadores dos últimos oito anos – e a restante comitiva foi, desde o início, demasiado grande para qualquer momento de suspense. Despres e Coma não demoraram a expor os argumentos que lhes têm valido vitória após vitória e talvez tenham mesmo sido surpreendidos por não terem da parte de Hélder Rodrigues (Yamaha) e ‘Chaleco’ López (Aprilia) a esperada luta.

No entanto, não se pode falar num passeio do francês, pelo contrário. O primeiro ‘milho’ foi para López, numa etapa inaugural em que o futuro vencedor não foi além de 13º enquanto o rival catalão era segundo. A diferença no cronómetro não era grande e a partir do segundo dia ficou claro que, mais uma vez, tínhamos duelo Despres/Coma.

O terceiro dia de prova fica marcado por um duplo azar, ainda que com consequências bem distintas: enquanto Despres vê Ruben Faria cair e magoar-se, Coma engana-se no percurso (seguiu o trilho dos automoveis) e atrasa-se em relação ao adversário directo. Até ao dia de descanso, e com uma etapa anulada pelo meio, Coma tinha recuperado pouco mais de 2 minutos para Despres.

Preso na lama

É então que se dá o episódio do lamaçal nos primeiros quilómetros entre Copiapó e Antofagasta, no Chile. Ao km 10, Cyril Despres fica com a KTM presa e só depois de Paulo Gonçalves (Husqvarna) o ajudar é que consegue seguir caminho. O que fez… deixando o português entregue à sua (pouca) sorte. Entretanto, Coma atacou forte e acabaria o dia como líder, mas Despres viria a recuperar e manter a posição, vendo mesmo o adversário e colega de equipa ter que substituir (pela segunda vez) o motor da sua KTM no penúltimo dia, com problemas graves na caixa de velocidades. Já agora sabe quantas KTM terminaram entre os 20 primeiros? ‘Apenas’ 15…

No final, vitória justa para o francês, que acabou por manchar a sua imagem com o episódio ‘lamacento’ da oitava etapa, mas não mais que Stéphane Peterhansel, também neste Dakar, ao acertar num motard parado num ribeiro. A vida e o Dakar, dão muitas voltas…

Nos quads, também uma marca se destacou, neste caso a Yamaha, que colocou 8 quads entre os 10 primeiros. E por falar em primeiros, foi o clã Patronelli a ditar leis, com Alejandro a superiorizar-se ao irmão mais novo (e vencedor em 2010) Marcos, com os dois a rodarem juntos nas etapas finais e a remeterem Tomas Maffei para o lugar mais baixo do pódio, a mais de 2 horas.

Segundo pódio de Hélder Rodrigues

Com o resultado na chegada a Lima, foram 365 dias de sucesso para Hélder Rodrigues! No mesmo dia, em 2011, obteve o primeiro pódio de um português no mítico Rali Dakar. Depois, somou-lhe o primeiro título de campeão do Mundo absoluto (já o tinha sido na classe Junior), antes de regressar ao continente sul-americano para agora, pela segunda vez consecutiva, terminar atrás das duas grandes referências da competição nos últimos oito anos.

O piloto de Almargem do Bispo partiu esperançado em repetir o resultado de 2011 e, quiçá, até cometer uma proeza. Mas tudo começou mal: um arreliador problema elétrico condicionou os primeiros instantes da prova e apenas na terceira etapa conseguiu andar o que sabia.

Para além da sexta vitória em etapas – que o torna o motard que mais contribuiu para o pecúlio nacional, que totaliza 19 -, Rodrigues viu os principais adversários, López e David Casteu, terem vários pequenos problemas até ficarem pelo caminho, abrindo-se um fosso para quem o perseguia. A meio da prova, reconheceu que a distância para Despres e Coma era, salvo reviravolta inesperada, muito difícil de recuperar.

Fica a ideia que com uma estrutura mais completa – por exemplo, um piloto que o apoie, como o caso de Faria com Despres – e um andamento mais agressivo, o sonho é possível.

Ruben Faria condicionado

Apesar dos condicionalismos conhecidos – ser a ‘sombra’ de Cyril Despres e sacrificar o resultado para não correr riscos -, seria de esperar um pouco mais por parte de Ruben Faria. O piloto algarvio evoluiu naquela que era uma lacuna reconhecida pelo próprio, a navegação e a correta utilização do roadbook, mas este ano as coisas não correram da melhor forma. Na terceira etapa não evitou uma queda ao km 190 da especial, ficando ferido na mão direita e falhando a passagem por dois waypoints, o que lhe valeu terminar a etapa em 17º e uma penalização considerável. Faria ainda foi terceiro no reatar da prova, depois do dia de descanso, mas na etapa 11 teve novo ponto mais baixo ao terminar o dia com mais 1 hora em cima da KTM que Despres, vencedor da etapa, após ter perdido um pouco mais de 30 minutos na transposição de umas dunas. Tudo somado, o algarvio viu Despres vencer mas terminou em 12º (segundo melhor português), depois de ter estado perto de assegurar um lugar entre os 10 primeiros.

Paulo Gonçalves surpreendeu

Uma das (boas) surpresas desta prova, com a vantagem de representar as cores nacionais, Paulo Gonçalves partiu para fazer esquecer a edição anterior, quando abandonou com uma clavícula partida na etapa de Copiapó. A principal alteração estava na arma escolhida, ao trocar a BMW por uma nova Husqvarna (do mesmo grupo) e agora com estatuto oficial.

O 26º lugar final não espelha, contudo, o que o piloto nortenho fez ao longo de perto de 9 mil quilómetros. A penalização de seis horas atribuída por auxílio irregular, somada ao famoso episódio ‘lamacento’ com Despres, acabou por afastar Gonçalves do lugar que, tudo indicava, seria dele: o quarto. Por quatro vezes foi mais rápido que Rodrigues e terminou duas vezes num pódio de etapa. Aliás, só mesmo uma vitória em especiais ficou a faltar para ter uma prestação muito positiva. A Husqvarna acabou por ser uma aliada e não um problema, ajudando o português a integrar o lote dos mais rápidos, permitindo a Portugal ter, em duas etapas, dois pilotos entre os quatro primeiros do Dakar. O andamento de Joan Barreda Bort também confirma que a marca sueca, caso mantenha o seu line up, será uma força a ter em conta no futuro.

Pedro Bianchi Prata voou sozinho

Desta vez, Pedro Bianchi Prata fez um Dakar sozinho. Ou melhor, a estrutura que moldou ao longo dos anos não prestou assistência a outros concorrentes e o piloto da Husqvarna acabou por correr sempre afastado dos restantes motards nacionais. Sem qualquer pressão em termos de resultado e com o único objetivo de terminar, se possível noutra posição que o 30º posto de 2009, 2010 e 2011 (!), Bianchi Prata foi o 42º da geral, a mais de 13 horas de Cyril Despres.

Preparou-se nos Sertões e em Marrocos para um objetivo ambicioso, o de terminar entre os 15 mais rápidos desta edição, visto não ter ninguém para auxiliar, fator que o penalizava sobremaneira em edições anteriores. Para tal, desenvolveu alguns componentes da sua Husqvarna (depósito de combustível e proteção de cárter), mas o ritmo nunca foi o melhor e o passar dos quilómetros equivaleu a muito tempo perdido para transpor dunas e navegar sem problemas. Tendo falhado o objetivo, preocupou-se em terminar sem outros problemas de maior.

 

 

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