WRC, Rali da Suécia: Triunfo de Ott Tanak no regresso da Ford

Por a 12 Fevereiro 2023 18:41

Ott Tänak/Martin Järveoja (Ford Puma Rally1) venceram o Rali da Suécia, naquela que é a primeira vitória da Ford no WRC em 385 dias. Craig Breen/James Fulton (Hyundai i20 N Rally1) terminaram em segundo, na frente de Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 N Rally1), mas os planos da Hyundai saíram furados…

FOTOS @World/André Lavadinho

Já se desconfiava desde o Rali de Monte Carlo, que o campeonato deste ano será bem diferente de 2022. O desfecho dos títulos até pode ser o mesmo, mas o que deverá suceder durante ano tem tudo para ser muito diferente. Desta feita, a Ford tem pilotos para vencer ralis a época toda e não só a espaços, e a Hyundai, já desde o meio do ano passado que encetou uma recuperação face ao atraso que tinha há um ano, e tem condições para vencer ralis e obter resultados bem melhor que em 2022, tal como atestam os dois carros no pódio.

Quanto à Ford, há muito se sabia que o problema não estava no carro e sim nos pilotos, o que não sucede agora como ficou provado.

Neste momento, apesar de felizes, Malcolm Wilson e Richard Millener sabem que a pressão que Ott Tanak coloca na equipa para esta melhorar é grande, e o estónio disse isso mesmo nas suas declarações.

Na M-Sport/Ford, este ano, é o piloto que pressiona a equipa e não contrário. Se as coisas correrem como devem, vamos voltar a ter um WRC como por exemplo no ano de 2018, em que todas as equipas venceram provas e o campeonato de pilotos terminou com pilotos de três equipas nos três primeiros lugares, alternância que também sucedeu nos lugares secundários. E isso é o mais interessante para os adeptos, emoção, competitividade. O WRC só tem a ganhar com isso.

Quanto à M-Sport/Ford, a última vitória tinha sido com Sébastien Loeb no Monte Carlo de 2022, e este regresso aos triunfos de Tanak pela Ford é a confirmação que o estónio fez a escolha certa. Curiosamente, esta é a terceira vitória de Tanak com a M-Sport. A última foi no Rali da Alemanha de 2017, ano em que venceu duas vezes com a equipa de Malcolm Wilson.

Se a Ford está a caminhar seguramente para lutar muitas vezes ou mesmo sempre, na frente, dois Hyundai no pódio são também um excelente sinal. Diversas condicionantes impediram que chegassem mais cedo à luta pelo triunfo, mas ficaram sinais claros que a equipa tem carro e pilotos para vencer várias vezes este ano.

Curiosamente, dois carros no pódio, mas não como a equipa desejava. Craig Breen/James Fulton (Hyundai i20 N Rally1) penalizaram 10 segundos no final da PE17, de modo a que Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 N Rally1) passassem para a sua frente, mas um erro do belga na Power Stage, atirou de novo para trás do seu companheiro de equipa, e nova penalização estava fora de causa, já isso iria promover Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota GR Yaris Rally1) ao pódio. Desta forma, Breen regressa aos bons resultados com a Hyundai, depois de um ano muito difícil com a M-Sport/Ford.

Quarto posto para Kalle Rovanpera, depois de um rali bem diferente do ano transato em que conseguiu vencer, mesmo com uma má ordem na estrada no primeiro dia de prova. Este ano, há muito mais equilíbrio e por isso não foi além do quarto posto, pois o andamento dos adversários foi igualmente forte.

A última vez que a Toyota não teve qualquer carro no pódio, foi no Rali da Acrópole do ano passado, sendo que a única outra vez que isso sucedeu foi na Sardenha, em 2022.

Este foi um rali bem diferente do ano passado em que a equipa terminou em primeiro, terceiro e quarto. No entanto, isto não significa que a Toyota esteja mais fraca, longe disso, mas sim que o equilíbrio é bem maior e será nos detalhes de cada evento, que vai ficar determinado quem vence ou perde. Aliás, isso já começou a ficar claro, por exemplo, quando Kalle Rovanpera confessou no final, que não queria ganhar a Power Stage para não partir à frente no México. Já não conta só o evento atual, mas sim, tudo é pensado logo com olhos no futuro próximo. A penalização de Breen insere-se nisso, mas desta feita correu mal…

Tanak líder do campeonato

No campeonato, Ott Tanak é o novo líder e terá, como já referimos, a difícil tarefa de abrir a estrada no regresso do Rali do México ao WRC.

O estónio lidera agora a competição com 41 pontos, mais três que Kalle Rovanpera. Thierry Neuville soma 32, perdeu com o erro que cometeu três pontos, e ainda mais alguns que não conseguiu na Power Stage, onde foi sexto. Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota GR Yaris Rally1) fizeram uma prova pobre, sempre à procura de maior confiança no carro que guiaram e por isso terminaram apenas na quinta posição. Estão nessa mesma posição no campeonato, a três pontos de Neuville. Sébastien Ogier é quinto e regressa no México para a sua segunda prova do ano depois do triunfo no Rali de Monte Carlo. Pierre-Louis Loubet/Nicolas Gilsoul (Ford Puma Rally1) terminou em sexto, não sem um susto no troço final quando teve um problema mecânico que o fez rodar lentamente até ao final do rali. Ainda assim, tinha avanço suficiente para manter a posição.

Atrás de si terminaram Esapekka Lappi/Janne Ferm (Hyundai i20 N Rally1), que venceram a Power Stage, passaram Oliver Solberg no último troço, o que lhes permite serem sétimos no campeonato, apesar do pobre resultado. Takamoto Katsuta/Aaron Johnston (Toyota GR Yaris Rally1) abandonaram já no último dia.

Altos e baixos

Ott Tanak teve uma prova sofrida, várias vezes ficou claro nas suas entrevistas que não estava a tirar todo o partido do carro, embora nunca explicando claramente o porquê. Mas frases como “não tenho um bom feeling”, “não posso fazer mais” “ia saindo quatro vezes, não percebo porquê” “podemos fazer melhor” “desconfortável”, ajudam a perceber quão difícil foi para Tanak manter-se nas lutas na frente do rali. Isso diz muito do piloto. Mas cedo se percebeu que as coisas podiam acabar bem, ao fim ao cabo quando Tanak ascendeu à liderança isso era a primeira vez para a M-Sport/Ford desde o Rali da Nova Zelândia do ano passado. Acabou por ser a linha aberta pela limpeza de Rovanpera que abriu o caminho a Tanak, e depois disso o estónio não se fez rogado. Apesar de não ter a confiança que precisava no carro.

No segundo dia, alguns troços ‘serviam’ melhor ao Ford do que outros, e quando a noite caiu, Tänak fez emergir ainda mais o seu talento, chegando ao final do segundo dia com 8.6s de avanço para Craig Breen. Dificilmente perderia o rali, o que veio a confirmar-se, venceu e nem teve que se aplicar muito porque atrás de si a Hyundai preferiu a estratégia interna do que atacar o líder. E assim se confirmou a primeira vitória do ano para a Ford.

Segundo lugar para Craig Breen, que teve uma prova em que afastou os fantasmas que o assombraram em 2022. Mostrou o Breen já já se viu no passado com a Hyundai, que se soubesse que o irlandês era capaz de produzir a este nível na maioria dos ralis não lhe teria oferecido só um programa de cinco provas. O Campeonato de Portugal de Ralis agradece.

Liderava o rali a meio, mas a tarde de sábado correu-lhe mal. Não conhecia um dos troços (despistou-se o ano passado e não o realizou) e ficou sem sistema híbrido. Foi-se a possível vitória, que seria sempre muito difícil, mas ficou o 2º lugar, no que foi a sua reconciliação consigo próprio. Sabia que era capaz de muito melhor e mostrou-o nesta prova.

Thierry Neuville esteve doente antes da prova, perdeu um dia de testes, começou mal o rali, mas quando ‘encarrilhou’, foi sempre a melhorar. Se tivesse começado a prova ao mesmo nível em que esteve no segundo dia, teria lutado pelo triunfo. A ordem na estrada não o ajudou, uma afinação mal trabalhada, idem, e com esse handicap, atrasou-se irremediavelmente.

Terminou a 6ª feira em 6º a 36.8s da frente e no final de sábado já era 3º a 23.7s. O erro na Power Stage custou-lhe alguns pontos e foi o seu ponto mais baixo do rali. Ironicamente.

O quarto lugar foi mesmo o possível para Kalle Rovanperä. No final do 1º dia já estava a mais de 30s da frente e nunca recuperou muito disso. Mais segundo, menos segundo, por aí ficou, naquela que foi uma das piores provas que fez em algum tempo. A verdade é que o seu alto nível permite-lhe ainda assim, nunca cair muito na classificação e foi o que fez nesta prova. Esteve bem no sábado, recuperando posições mas não muito tempo, chegou a ser terceiro mas um pião fê-lo cair de novo para quarto de onde já não saiu, até porque chegou à fase decisiva do dia ‘sem’ pneus.

Elfyn Evans foi quinto e voltou a fazer uma prova muito pobre. Até esteve melhor em Monte Carlo, mas na Suécia voltou a cair. Desde o seu acidente na Nova Zelândia só mesmo no Japão deu um ar de sua graça. Continua sem se conseguir ligar na perfeição ao carro como já fazia com os WRC, e como não é um sobredotado, mas sim um bom piloto, precisa que tudo esteja ‘au point’ para andar forte. O que não tem conseguido e tarda a conseguir.

Fala em equilíbrio do carro e logo a seguir em confiança. É injusto compará-lo com Tanak, mas o estónio disse coisas semelhantes… mas ganhou o rali: “Lutei novamente para me sentir confortável ao volante” começa a ser a sua imagem de marca. Tarda em dar o salto para o que fez em 2020 e 2021. Se o fez perante Ogier…

Estava a ser bom demais para ser verdade! Esapekka Lappi esteve na luta pelos primeiros lugares até meio do rali, estava a produzir em linha com a obtenção de um pódio, mas depois estragou tudo com uma saída de estrada em que perde sete minutos para sair do ‘buraco’ onde se enfiou.

Como o próprio disse, o ritmo estava lá, não para vencer, mas para terminar no pódio, o que seria um bom resultado depois de um mau Monte Carlo, mas depois estragou tudo…

Pierre-Louis Loubet passou por este rali para aprender, não estragar o carro e se possível obter uns pontos para a equipa. Fez tudo isso, nada a apontar.

Já Takamoto Katsuta teve um dia de 6ª feira de altos e baixos. Venceu um troço, era 5º da geral, cometeu um pequeno exagero e capotou. Abandonou, regressou no sábado só para ganhar experiência, mas muito atrasado na geral. Desistiu antes do final do rali.

O campeonato regressa às Américas no próximo mês com o Rali Guanajuato México, com sede em León, que se realiza de 16 a 19 de Março.

MOMENTO CHAVE

O facto de Craig Breen ter ficado sem sistema híbrido na tarde de sábado foi determinante para que Ott Tanak, mesmo com um carro em que não confiava a 100%, nem perto disso, passasse para a frente do rali e quando o estónio se viu com uma margem de 8.6s sentiu que não precisava de arriscar tanto, o que lhe deu o conforto que precisava para se focar na diferença para Breen e não na sua desconfiança no carro.

FIGURA

Ott Tanak provou no Rali da Suécia que, até com um carro que está longe de estar ao seu gosto, produz sempre a alto nível. No Monte Caro percebeu-se que é preciso trabalho da equipa para ‘dar’ a Tanak o carro que o estónio quer, e isso voltou a suceder na Suécia, com a diferença que já deu para ganhar. Malcolm Wilson passou 2022 a pressionar os pilotos para darem mais. Agora é ao contrário…

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