WRC/Rali da Jordânia 2011: 0,2s permanece recorde há 10 anos

Por a 20 Novembro 2022 13:12

Foi há 11 anos que Sébastien Ogier e Julien Ingrassia bateram Jari-Matti Latvala e Mikka Antilla no Rali da Jordânia de 2011, por 0,2s? O que se consegue fazer nesse ‘hiato de tempo’. Talvez pestanejar os olhos, mas para Sébastien Ogier também se pode ganhar um rali! A Citroën tinha voltado a bater a Ford, mas só recorrendo à estratégia, como pode perceber mais à frente no texto.

Há exercícios curiosos de fazer. Um papel e uma caneta servem de passaporte para atravessar a fronteira do tempo e viajar 24 anos para trás, altura em que a cronometragem digital e ao décimo de segundo foram introduzidas no Mundial de Ralis.

A conclusão é simples: se tivesse sido disputado em 1998, o Rali da Jordânia teria tido também Sébastien Ogier como vencedor, mas com uma margem de diferença face a Jari Matti-Latvala muito maior. O francês da Citroën teria chegado à vitória por uns confortáveis 19s e não por uns espremidos 0,2s, naquele que ainda é um recorde do Guiness, e da história da competição, na diferença mais pequena de sempre entre primeiro e segundo classificados numa prova do WRC.

Depois dos 0,3s com que, em 2007, Marcus Gronholm bateu Sébastien Loeb no Rali da Nova Zelândia, era difícil imaginar uma diferença menor, mas está visto que já não falta muito para que a parcela dos centésimos ou mesmo milésimos de segundo passem a fazer parte da equação da vitória (o que, de resto, teve já que voltar a acontecer na Jordânia para ordenar a classificação do Power Stage).

Recordando a prova: Estratégia Citroën bate Ford

Foi precisamente a competitividade levada ao limite que permitiu salvar a honra do Rali da Jordânia depois da organização se ter visto obrigada a anular o primeiro dia de prova devido à sucessão de atrasos no descarregamento do material das equipas e de também não ter conseguido controlar o comportamento do público que, no último dia, colocou pedras na estrada.

Num rali onde abrir a estrada é sempre uma dor de cabeça suplementar (que o diga, Mikko Hirvonen que só no segundo dia perdeu mais de 50s), as previsíveis jogadas estratégicas voltaram a ditar a história da prova, com a vantagem, no final, a sorrir à equipa de Olivier Quesnel… por um ‘cabelo’!

Ao reduzir drasticamente o ritmo no último troço do Dia 2, Latvala falhou a sua primeira vitória do ano por 0,2s, mas a margem é tão pequena que, na realidade, é difícil perceber onde deixou o finlandês escapar a vitória e, é justo dizer, que teria sido um vencedor tão digno como o foi Ogier. Ao assegurar o quarto triunfo na carreira (e segundo consecutiva), o mais jovem dos Sébastien ajudou a equipa Citroën a regressar ao topo do Mundial de Construtores, que passou agora a dividir com a Ford, num braço de ferro que está para durar.

Se depois do Vodafone Rali de Portugal, os analistas consideravam que o DS3 e Fiesta estavam empatados a nível competitivo e só a menor fiabilidade do carro projetado por Christian Loriaux fazia pender a balança para o lado da Citroën, o Rali da Jordânia veio devolver o equilíbrio que faltava, pois o Fiesta parece ter resolvido os problemas elétricos e de eletrónica que teimavam em perdurar. É por isso que daqui para a frente e, pelo menos enquanto os ralis de asfalto não aparecerem, há quatro pilotos – Loeb, Hirvonen, Ogier e Latvala – a ter em conta na luta para o título.

Fora desta luta, está Petter Solberg que voltou a mostrar andamento equivalente aos seus pares, mas uma capacidade de permeabilidade à pressão inferior, o que o colocou fora de estrada.

Loeb descola de Hirvonen

Se Ogier e Latvala fizeram provas quase imaculadas, o mesmo não se pode dizer de Loeb que nem sempre soube aproveitar da melhor forma a sua posição mais favorável na estrada, cometendo, inclusive, um pequeno erro que o obrigou a capitular no combate pela vitória. E, as más notícias não se ficam por aqui, porque agora o francês terá que abrir a estrada na Sardenha, como presente envenenado de ter conseguido sair do Médio Oriente na liderança do campeonato. Algo que poderia ter ficado também à mercê de Hirvonen se não tivesse sido anulada a primeira etapa e o finlandês não tivesse sido obrigado a limpar a estrada durante 72 km em vez dos 36 km que compunham a primeira etapa.

Excluindo os ‘quatro mosqueteiros’ oficiais, o resto foi mesmo paisagem, ainda que a prestação de Kimi Raikkonen tivesse sobressaído (só perdeu o quinto lugar para Matthew Wilson porque furou) e Henning Solberg e Mads Ostberg tenham, aqui e ali, rubricado tempos interessantes já depois de terem os respetivos ralis estragados com problemas nos respetivos Fiestas.

Onde foi Ogier buscar 0,2s?

É impossível responder à questão. No entanto, dar a palavra ao navegador de Ogier, Julien Ingrassia, e também a Miika Anttila (co-piloto de Latvala), pode ajudar a perceber que a tática no último troço do primeiro dia efetivo de prova foi decisiva. Para o navegador da Citroën, “antes do último troço, calculamos todas as possibilidades. Consideramos que se queríamos vencer tínhamos que estar pelo menos 20s à frente no final da PE 12 de Loeb ou Latvala. Como éramos os últimos dos candidatos à vitória na estrada, a estratégia foi dar tudo por tudo na PE 12 até perceber se o Loeb e o Latvala iam abrandar, sendo que já tínhamos tomado a decisão que se isso acontecesse íamos a fundo até ao fim do troço. A equipa fez todos os cálculos e disse-nos exatamente com que tempo tínhamos que cruzar a tomada de tempo. Depois disso foi só o Sébastien ‘afinar’ o acelerador!”. Por seu lado, Anttila explicou que “a decisão de abrandar na PE 12 foi simples. Queríamos sair em terceiro, atrás do Loeb, no dia seguinte porque se fossemos segundos, Ogier poderia penalizar propositadamente para nos obrigar a limpar a estrada. Mal o Loeb ‘cortou a meta’, a equipa fez os cálculos (tendo em conta que o que ganharíamos no dia seguinte nas primeiras passagens ao ser terceiro na estrada e tendo também em conta que ganharíamos mais nas primeiras passagens que nas segundas), informando-nos depois com que tempo devíamos também passar na tomada de tempo”. Uma informação tão precisa que só falhou por 0,2s!

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