WRC: O que disseram os pilotos sobre a dureza do Rali da Arábia Saudita
O Rali da Arábia Saudita, que se estreou no calendário do Campeonato do Mundo de Ralis, dividiu os pilotos quanto à sua exigência. Os troços, extremamente rochosos e técnicos, resultaram numa série de furos e problemas de pneus ao longo do fim de semana, tendo todos os carros Rally1 registado, pelo menos, um incidente com pneus. Questionado na conferência de imprensa, Sébastien Ogier expressou-se de forma mais ponderada do que a severidade da prova indicaria: “Foi uma semana desafiante para nós, não há dúvida. Decidir o campeonato numa estrada tão dura, com estradas rochosas tão difíceis, foi complicado, mas acredito que a base dos troços que vimos, com algumas pedras, será ainda melhor no futuro. E é assim que devemos olhar, porque há sempre espaço para melhorias, e nunca é fácil fazer um evento pela primeira vez. Então acho que, nesse sentido, podemos dizer que foi uma boa semana, mas também acho que há provavelmente algumas ideias que poderia dar, como a super especial. Gostava que a fizéssemos no próximo ano na pista de Fórmula 1. Parece um traçado incrível. Por que não no parque de estacionamento? Talvez os fãs apareçam ainda mais. É apenas uma ideia, mas agora vamos fazer o debrief com as equipas e, se as pessoas trabalharem juntas, com os comentários que os pilotos e equipas vão dar, tenho a certeza que o evento vai continuar a crescer”, disse Ogier, que se mostrou cauteloso nas suas palavras, talvez por considerar que a conferência de imprensa, focada na celebração do seu nono título, não seria o local mais adequado para abordar o assunto em profundidade.
FOTOS @World
Contudo, houve quem se expressasse de forma mais veemente.
Pedido de encurtamento de troço perigoso
Um dos episódios mais marcantes ocorreu antes da prova, quando os pilotos solicitaram o encurtamento da especial de Wadi Almatwi (SS11/14) em cerca de três quilómetros. Sébastien Ogier liderou o apelo, afirmando: “Todos concordamos que aquela secção era demasiado perigosa. Não fazia sentido. Tudo ali era às cegas. Havia grandes declives e pedras por todo o lado. Nem sequer era possível parar se tivéssemos um problema.”
Kalle Rovanperä partilhou a mesma opinião: “A estrada é muito estreita, há muitas pedras soltas, e quase sempre há pequenas lombas ou algo semelhante. Não se consegue ver as pedras. Se houver algo na estrada, nunca se vai ver, e depois temos uma queda de cem metros ao lado esquerdo da estrada. Se acontecer o mesmo que nos aconteceu na Finlândia com uma pedra solta, não se quer saber onde se acaba…”
Opinião divergente de Fourmaux
Nem todos os pilotos concordaram com a redução do troço. Adrien Fourmaux foi o único a votar contra a alteração, defendendo que a gestão do risco faz parte dos ralis: “Para mim, esta é a razão pela qual somos pilotos de ralis, porque nos adaptamos. Penso sempre nos pilotos do Dakar, de mota, a ler o roadbook neste tipo de estrada com pedras por todo o lado. O que é mais perigoso? Aqui, em terra, se abrandarmos, conseguimos passar normalmente.”
Críticas à escolha do rali como final de campeonato
A principal crítica dos pilotos centrou-se no facto de um evento com tamanha imprevisibilidade servir de palco para a decisão do título mundial. Ogier foi claro: “É muito extremo e as estradas precisam de ser melhor preparadas para dar hipótese aos pneus de sobreviverem. Não estou a dizer que não devíamos vir cá, mas não para a final.”
Thierry Neuville, vencedor da prova, concordou que a Arábia Saudita merece lugar no calendário, mas não como última prova: “Para um rali decisivo do título, definitivamente não é o indicado. Não devia ser o último da temporada. O Elfyn [Evans] liderou o campeonato o ano todo e, ao chegar aqui, as hipóteses dele eram muito poucas [devido à posição na estrada], e depois com o furo tornou tudo complicado para ele.”
Rovanperä foi igualmente crítico, defendendo que os troços “não são para estes carros e pneus”, considerando o elevado número de falhas registadas.
Caracterização como “o rali mais duro do WRC”
Oliver Solberg não hesitou em classificar o Rali da Arábia Saudita como o mais exigente do campeonato, superando o Safari: “O Safari é difícil por causa da estrada, da chuva e do fesh-fesh, mas aqui é difícil para a suspensão, para os pneus, para a transmissão, para tudo – é duro para o carro. Vê-se que não se pode ir sempre a fundo.”
A prova foi caracterizada como uma autêntica “lotaria”, segundo vários pilotos citados pela BBC, com o piso agreste e as pedras soltas a provocarem furos sucessivos e reviravoltas constantes na classificação. Ott Tänak foi particularmente afetado, sofrendo quatro furos em três troços numa sexta-feira desastrosa.
Reconhecimento do potencial do evento
Apesar das críticas, os pilotos reconheceram que o rali oferece paisagens espetaculares e um desafio único. Neuville resumiu o sentimento geral: “Este rali tem o seu lugar no campeonato porque é emocionante, as imagens são fantásticas e a condução é divertida, mas acho que precisamos de trabalhar na fiabilidade dos pneus e colocar o rali mais cedo na temporada.”
Outras perspetivas
Para quem acompanhou a prova de perto, especialmente nós, jornalistas, a intensidade dos acontecimentos foi notável, embora admitamos que, por vezes, excedeu o desejável. No penúltimo troço da prova, registar 10 trocas de posições no top 10 é um feito considerável. O rali sofreu uma autêntica reviravolta nesse troço, impulsionada pela mesma razão: quatro furos e uma saída de estrada.
Contudo, houve aspetos muito positivos. A variedade, por exemplo: a Arábia Saudita estreou-se no WRC com um rali que se distingue de tudo o que já existia, o que é um ponto muito a favor. Novas estradas, novos desafios, um ‘cheirinho’ a Dakar. O drama e a imprevisibilidade atingiram os níveis mais elevados do ano, superando até o Monte Carlo com a sua neve e gelo. O evento foi inequivocamente desafiante, repleto de intriga, mudanças de posição e imprevisibilidade. Para os adeptos, esta edição acrescentou um enorme nível de drama, refletindo o caráter singular do evento.
Este rali proporcionou um “sabor dos velhos tempos”, exigindo mais ponderação e não se limitando a um sprint de três dias. Acreditamos que o WRC deve integrar eventos com diferentes tipos de caráter, e este, como referimos, distingue-se de tudo o que se tinha visto. O Rali da Jordânia, que fez parte do WRC entre 2008 e 2011, não se aproximou desta dureza.
Organização e Staff
Em termos de organização e staff, não parecem ter existido grandes queixas, embora seja certo que haverá aspetos a melhorar. A super especial, por exemplo, foi claramente um ponto negativo. A observação de um público reduzido, sentado em sofás, também se revelou peculiar, mas, tratando-se da Arábia Saudita, onde o dinheiro abunda, torna-se compreensível.
O parque de assistência foi elogiado como um dos melhores, com food trucks, excelente organização e até atividades de entretenimento para crianças.
Desafios e Oportunidades
Um aspeto negativo foi a reduzida afluência de público. Contudo, é importante considerar a taxa de inscrição que a Arábia Saudita pagou para integrar o WRC, um valor essencial para que o Promotor e a FIA possam melhorar a competição.
Visualmente, o evento revelou-se muito interessante. Muitas das paisagens já eram familiares do Dakar, e os troços de montanha, sinuosos e técnicos, proporcionaram onboards bastante cativantes. As fotografias dos carros a levantar pó em cenários espetaculares são prova disso.
Conforme o esperado, houve aspetos negativos, como a já mencionada baixa afluência de espetadores, que se revelou desfavorável para uma final de temporada. Dado que os troços se situavam em zonas afastadas da “civilização”, recebemos relatos de participantes que referiam a necessidade de realizar o abastecimento em supermercados antes de se dirigirem aos troços, uma vez que no “deserto” não existiam quaisquer serviços de apoio.
Em suma, foi uma boa prova, embora talvez necessite de ser realocada noutra fase do campeonato e de uma seleção mais criteriosa dos troços, com menos pedras.
O Autosport já não existe em versão papel, apenas na versão online.
E por essa razão, não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Desconto nos combustíveis Repsol
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI







































[email protected]
1 Dezembro, 2025 at 23:14
Concordo com o Fourmaux!