WRC: Como Oliver Solberg venceu o Rali da Estónia e as lições que deu… aos outros!
Quem tivesse apostado na vitória de Oliver Solberg no Rali da Estónia iria multiplicar muitas vezes o seu dinheiro.
É muito difícil olhar para o passado do WRC e lembrarmo-nos de uma prestação com este impacto, pois uma coisa é fazer uma grande exibição, como, por exemplo, Martins Sesks no ano passado no Rali da Polónia na sua estreia com um Ford Puma Rally1, outra é depois de 29 ralis do WRC com um Rally1, ‘agarrar’ num Rally1… e vencer.

Olhando para a última década no WRC, só mesmo Kalle Rovanpera teve este impacto, mas só venceu ano e meio depois da estreia. É verdade que Solberg já fez vários ralis na categoria principal, mas como já referimos, há 29 ralis que corrida de Rally2.
Há outras prestações impactantes de pilotos que subiram dos Rally2 aos Rally1 no WRC, Esapekka Lappi, em 2017, venceu com o Toyota Yaris WRC apenas no seu quarto rali nos RC1, na Finlândia 2017.
Adrien Fourmaux, está nos RC1 desde 2021, ainda não conseguiu vencer, Gus Greensmith subiu aos RC1, já voltou À casa de partida, os RC2.
Olhando mais para trás, Jari Matti Latvala, sim, causou impacto ao vencer na Suécia em 2008, mas já estava no WRC desde 2004 a tempo inteiro (ou quase) Ou seja, com grande impacto é preciso recuar aos tempos de Sébastien Loeb e sébastien Ogier, nem tanto pela idade, mas pela consistência do que fizeram a seguir e isso é algo que se tem de esperar para ver se Oliver Solberg lá chega. Que está preparado para subir aos Rally1, sem dúvida, depois do que fez na Estónia, não há volta a dar, mas o que faz no futuro é outra música…

Mas como conquistou esta vitória?
Foi sem dúvida uma vitória impressionante. É muito curioso vermos Ott Tanak, Kalle Rovanpera e Thierry Neuville a ‘queixarem-se’ dos seus carros, enquanto para Oliver solberg, foi chegar, ver, e andar na frente da PEC2 até ao fim. É verdade que a ordem na estrada, impactou, na 6ª feira. Mas no sábado, não!
O que acho que sucedeu é simples: Oliver Solberg chegou à Estónia com dois dias de testes, e o que ele e a equipa encontraram para a prova era para o sueco “o melhor carro que já alguma vez guiou na vida”, e com essa confiança, andou o que pode, depressa ficando surpreendido por ver os seus adversários atrás de si. E porquê?
Porque Ott Tanak, Kalle Rovanpera e Thierry Neuville (e não só) ainda andam à procura do “carro perfeito”, e então quando arrancam para os ralis, depressa ficam frustrados por isso ou por aqui. Em bom português “se não é do cú, é das calças”. Enquanto Solberg tinha na mão o “melhor carro de sempre”, os seus adversários já andavam à procura de algo nos seus carros que até aqui só Kalle Rovanpera encontrou no asfalto das Canárias…
Procuram uma janela de utilização – um carro perfeito em todos os momentos não existe – e por vezes têm carros bons em troços específicos e no seguinte já se estão a queixar outra vez.
E dessa forma vão acumulando frustração.
E neste rali, Oliver Solberg deu a todos uma enorme lição que pode mudar algumas coisas no futuro…
Que lição lhes ensinou Solberg?
Pensem comigo: Se Oliver Solberg chega a um rali com dois dias de testes e tem uma prestação dominadora, com uma experiência muito menor do carro e dos pneus que os seus adversários, o que é que ele fez que eles não são capazes de fazer?
Se calhar têm que aceitar que nunca vão ter um carro perfeito, mas pode tentar tirar partido de uma afinação de compromisso, que não é a perfeita, mas que é suficientemente boa para terem uma janela de utilização mais ampla e com isso não se queixarem tanto e andarem o mais para a frente possível.
Oliver Solberg não tinha quaisquer referências e simplesmente andou o que o carro lhe permitiu, e portanto Ott Tanak, Kalle Rovanpera e Thierry Neuville (e os outros) podem fazer o mesmo ao invés de andarem constantemente a queixarem-se. Mudem o seu estilo ao invés de constantemente esperar que o carro esteja perfeito.
Se não estiver perfeito, não conseguem bater um piloto que fez a primeira prova com um Rally1? A sério?
Para o provar, vejam as suas declarações (Ott Tanak, Kalle Rovanpera e Thierry Neuville), a seguir, e comparem-nas com as de Solberg.
Declarações de Neuville:
“Especial não muito limpa para mim. Surpreendido com o meu tempo. Muitas mudanças de aderência.”
“Sinceramente, luto muito com as mudanças de aderência, sem confiança nas mudanças de aderência. Com estes pneus nestas condições, é super estranho.”
“O ritmo está lá, mas estou a lutar. Estou a lutar com o carro neste momento.”
“Foi uma luta, sinceramente. Todos estão a lutar contra as condições e o carro, é o mesmo para nós. As condições mudam bastante. Difícil saber o que fazer.”
“Precisamos de trabalhar no equilíbrio, no geral uma sensação melhor.”
“Tive uma boa sensação com o carro. Gostei desta especial. Condições muito mais consistentes. Por vezes, perco o equilíbrio a meio da curva, preciso de trabalhar nisso.”
“Não se trata de ‘drifting’, trata-se de ser eficiente. Tentei ser o mais limpo possível. Especiais bonitas esta tarde, foi bastante bom. Por vezes, perco o equilíbrio a meio da curva e isso não dá muita confiança em alguns sítios.”
“A trabalhar no equilíbrio do carro e parece estar a funcionar melhor. O ritmo está bastante alto. Especial incrível, sorrimos o tempo todo, mas temos de nos manter focados. Não é fácil, mas gostei.”
“Pelo menos algo que podemos levar para casa daqui! Fizemos uma alteração no carro e precisei de algum tempo para me habituar, por isso lutei no início. Assim que ganhei confiança, senti-me bastante bem. Estou satisfeito. Vamos ver na próxima se conseguimos confirmar essa sensação. Trabalhámos no diferencial traseiro.” Salto: 37m
“Não é uma surpresa. Não confiei na aderência de todo, estava constantemente a travar e a soltar. (Próxima?) Não muito. É a nossa posição neste momento, fomos o terceiro mais rápido durante todo o fim de semana, não podemos ser mais rápidos do que isso.”
“Estou a lutar com a baixa aderência destes pneus, sempre que está escorregadio tenho de reduzir a velocidade. Vou dar o meu melhor e veremos.”
Declarações de Tänak:
“Não sei porquê, mas estou com uma luta enorme com o carro. Já era antes do rali. De alguma forma, luto muito para descobrir onde tenho mais dificuldades. A forma como gostaria de conduzir o carro não está a funcionar.
Sou demasiado ‘à moda antiga’ para aprender truques novos.”
“Condições obviamente diferentes. Geralmente a mesma luta.”
“Hoje, as coisas estão a acontecer de forma tão aleatória. Lutei para encontrar a sensação, por isso não sei qual é o meu ritmo. São apenas os sulcos que são muito traiçoeiros, de resto, não está muito mau.”
“A sensação estava melhor, mas está muito solto e sem aderência alguma. Esta tarde será um jogo diferente. Não é fácil a partir daqui, é um pesadelo para o Elfyn, tenho a certeza.”
“Obviamente, para o eixo dianteiro está bastante bem, mas para a traseira não há nada. Difícil manter a velocidade. Fiz tudo o que pude, é o que é neste momento. Sim, dia bonito…”
“Não tenho nada a fazer. Nesta também, preciso de ter muito cuidado.”
“Acho que a estrada está a melhorar agora. Havia muitas surpresas antes, está a ficar melhor e não estava tão mau. Sim – emocionante esta manhã!”
“Quando é consistente é guiável, se a aderência muda um pouco, então sabemos onde está a nossa fraqueza. Pode ser complicado às vezes.”
“Foi um evento muito difícil para nós. A minha mentalidade provavelmente não era a melhor. O Oliver estava muito confiante e um bom trabalho da parte dele. Vamos ver o que o futuro trará.”
Declarações de Rovanperä:
“Não foi a melhor especial para mim. Preciso de melhorar um pouco a minha condução para as próximas.”
“Esta foi complicada. Em pisos mais duros como este, ainda estou perdido, e não tenho a certeza do que posso fazer para corrigir isso, mas precisamos de continuar a tentar.”
“Poderia ser melhor, mas é tudo o que podemos fazer. Sem erros, a tentar o meu melhor. (A faltar?) Muitas coisas.”
“Acho que agora na assistência vamos tentar encontrar alguma tração. É mais fácil ir mais rápido se tivermos mais aderência, agora sinto que a aderência é bastante baixa.”
“Acho que esta vai limpar bastante para os que vêm atrás. Esse é o ritmo que consigo fazer agora. Fizemos algumas mudanças bastante decentes. Agora há aderência, mas no geral não está melhor.”
“Praticamente o máximo que podemos fazer com este carro e a sensação. Sem erros, condução limpa. Empurrei o tempo todo. Não consigo ser mais limpo do que isso.”
“Bem – acho que o fator espetáculo poderia ser maior, apenas tentei ser limpo. Mais um dia de luta como todos os dias este ano. Claro que vamos tentar encontrar algo para amanhã, uma melhor posição na estrada ajudará. Acho que vai ser de queixo no peito e em direção a mais uma desilusão, como sempre.”
“Um pouco mais difícil do que a primeira. Na parte inicial, lutei muito. Simplesmente não tive uma boa sensação. Base super dura na estrada, nas partes estreitas é macio e podemos ser mais rápidos.”
“Perdi algum tempo nestas últimas curvas, alarguei numa delas. Fora isso, é o máximo que podemos fazer. A tentar forçar, não consigo fazer muito mais. Já estou a alargar em alguns sítios.”
“Nem sempre é a melhor sensação, mas também não há muito mais a fazer. Continua-se e tenta-se. Sem erros, uma condução bastante boa.”
“Fizemos algumas mudanças, mas… essa é a dura verdade, a velocidade é o que é. Tentámos ser rápidos, mas não está perto. Estou a forçar o tempo todo, sem erros.” Salto: 30m
“A estrada está sempre a limpar. Parece estar bastante suave agora em comparação com anos anteriores. Estamos a ter passagens limpas, estamos a tentar o nosso máximo.”
“Estamos a dar tudo o tempo todo, então não sei mais o que poderíamos dar – vamos ver quais são as condições e partir daí.”
“Primeira passagem a conduzir à chuva, nestas condições com estes pneus, fui um pouco cuidadoso, preciso de verificar como está tudo. A aderência é bastante boa, só preciso de me comprometer.”
“Novas notas, nova especial – bastante complicada para ser honesto. A secção do meio é a única fácil. Sim, está tudo bem, não há muito mais a acrescentar. (Powerstage?) Nunca se sabe, vamos tentar de certeza.”
“Não foi a melhor corrida para nós. Tem sido a tendência durante todo o ano, simplesmente não temos o ritmo em pisos de terra neste momento. Tentei muito este fim de semana, e se não conseguirmos aqui na Estónia, não sei se conseguiremos em mais algum lado.”
Agora as declarações de Solberg:
“O chassis é fantástico. Aqui provavelmente é mais fácil com o Rally2, mas na floresta este carro vai ser incrível.”
“É um sonho tornado realidade.”
“A sensação é boa. O carro é incrível de conduzir. O melhor carro que já conduzi.”
“Muito divertido. O tempo está surpreendentemente bom. Sempre demonstro emoção e paixão genuínas!”
“Cometi muitos pequenos erros, estava muito escorregadio. Estou a aprender.”
“Não era minha intenção no início, mas depois não compreendi o carro a 100% e pensei: vamos divertir-nos. Hoje foi o melhor dia da minha vida: liderar o rali, ganhar classificativas e ter esta sensação incrível no carro. Pensei: quero derrapar e divertir-me.”
“Experimentei algumas coisas novas no carro, a traseira está muito boa, mas está a subvirar. Não é fácil percorrer estas classificativas pela primeira vez, às vezes hesito um pouco, mas tudo bem, estou muito feliz.”
“O carro é incrível de conduzir. Agora vou acalmar um pouco.”
“O carro é fantástico de conduzir, estou a divertir-me muito.”
“É muito difícil. Eles são os melhores do mundo, estou apenas a aguentar!”
«Nada mau! O carro está a funcionar bem. É muito progressivo. Estou a divertir-me muito, apenas a tentar ser preciso, sem erros e sem sustos.”
É impressionante ter três Campeões do Mundo a queixarem-se dos seus carros quase constantemente e ter um piloto que corre pela primeira vez em 29 ralis com um Rally1 a dizer: “O chassis é fantástico”; “O carro é incrível de conduzir. O melhor carro que já conduzi.”; “ganhar classificativas e ter esta sensação incrível no carro. Pensei: quero derrapar e divertir-me.”; “O carro é fantástico de conduzir, estou a divertir-me muito.”
Isto não significa que, quando Oliver Solberg regressar aos Rally1, provavelmente de forma definitiva, seja sempre assim, longe disso, mas a verdade é que os pilotos da frente devem ter aprendido uma grande lição com este rali.
Não acho que Oliver Solberg seja um super-homem. Eles é que não estão a fazer o seu trabalho como deviam.
Voltando a Solberg, o que fez no Rali da Estónia, a sua primeira vitória no WRC com um Rally1, confirma que está preparado para lutar de igual para igual com os melhores.
A vitória é altamente motivadora, e também chancela todo o esforço que a família faz há largos anos, mas este ano não é nada provável que mude alguma coisa nos line up da Toyota para os Rally1, pois está tudo definido, sendo muito pouco provável uma revolução.
Mas abre outras perspetivas para 2026.
Resumindo, para Oliver Solberg, demorou cerca de três anos a regressar a um Rally1 e apenas três dias aproveitar ao máximo essa oportunidade. Agora resta-lhe ser Campeão do WRC2, e esperar pelas decisões da Toyota para 2026.
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ferdi_555
24 Julho, 2025 at 14:05
Grande Solberg!
Por vezes é preferível ter uma mente aberta, reconhecendo as limitações impostas pela falta de experiência na categoria superior do WRC e confiar na capacidade da equipa da Toyota, com excelentes técnicos e com a direção de Latvala. E para bom entendedor…