Rali de Monte Carlo 2007: vitória muito especial de Sébastien Loeb na estreia do C4 WRC

Por a 21 Janeiro 2024 13:00

O Rali de Monte Carlo 2007 foi especial por duas razões: não só Loeb ganhou na estreia do Citroën C4 WRC, como este foi o primeiro rali após o sério acidente de BTT onde o francês deslocou um ombro. Mais uma exibição demolidora de “Seb”, com o companheiro Dani Sordo em segundo. A vitória de Sébastien Loeb poderia dar a entender que o problema com o braço que o afastou das últimas provas do Mundial de 2006 está totalmente resolvido. Contudo, o francês explicou no final que, «apesar de já me sentir muito melhor, ainda tenho algumas dores quando faço movimentos repentinos, o que, no entanto, não me impede de ser rápido!». Que o digam os adversários…

Doutro prisma, na sua estreia, o Citroen C4 WRC mostrou que veio para vencer e que poderá trazer ao Mundial de Ralis alguma monotonia. No meio de muitas dúvidas, ficou a certeza que Loeb continua a ser rei no Mónaco e que Sordo era o seu príncipe herdeiro, numa prova em que o Citroen C4 só não foi melhor na estreia que Alpine-Renault.

Com uma dobradinha no primeiro rali onde participou, o Citroen C4 WRC podia ser o carro mais bem sucedido do Mundial de Ralis na sua estreia. Podia… se o Mundial de Ralis não tivesse começado no Monte Carlo de 1973 e a equipa oficial da Renault não tivesse inscrito três carros (um para Jean-Claude Andruet, outro para Ove Andersson e um terceiro para Jean-Pierre Nicolas), conquistando os três primeiro lugares do pódio na estreia do carro francês. É verdade que esse será um recorde muito difícil de bater até porque, nos últimos anos, não há memória de uma equipa oficial colocar três carros a correr no seu rali de estreia e de, pelo menos, vencer com um deles.

Contudo, o feito agora alcançado pelo C4 WRC não deixa de ser meritório até porque, tirando a Alpine-Renault, só a Lancia conseguiu repetir tamanha façanha, precisamente há dez anos, quando estreou os Lancia Delta 4WD e “Miki” Biasion e Juha Kankkunen deram conta da vitória também em Monte Carlo, assinando igualmente uma dobradinha.

De resto, a Lancia foi também responsável pela estreia vitoriosa do Delta S4, no Rali do RAC de 1985, então pelas mãos de Henri Toivonen, enquanto 12 anos antes, a Mitsubishi viu Joginder Singh levar o Colt Lancer à vitória no Rali Safari, Depois disso, a história do carro vencedor no ano debutante só foi repetida em 1999, quando o Citroen Xsara Kit Car de Philippe Bugalski venceu no Rali da Catalunha de 1999.

Reviver o passado by Martin Holmes

O Rali de Monte Carlo de 2007 não é nada sem nostalgia. É verdade que só o tempo nos dirá se regressar à zona de Vercors e Ardeche foi uma boa ou má aposta, mas para quem tem mais de 21 anos é já tempo de avivar a memória. Eu tenho a minha própria memória. E ela podia-me levar até ao Monte Carlo de 1979 quando Bernard Darniche venceu. Mas vai mais longe. E já que me leva até Darniche, então deixo-a recuar até à Volta à França de 1978, onde lhe ganhámos um troço (eu era o navegador de Chris Sclater), mas talvez injustamente, porque o seu Lancia estava com problemas. Mas, mesmo assim, nos últimos três quartos desse troço, eu e o meu piloto tivemos a sensação de que não estávamos sozinhos no meio da noite. E, de facto, não estávamos. Sem luzes, o carro do Darniche aproximou-se do nosso Vauxhall Chevette, quase pára-choques com pára-choques. E a descida desse troço (que neste Monte Carlo os organizadores acharam mais seguro fazer a subir) foi de loucos. Tive a sensação que o mais pequeno erro colocaria a vida dos quatro em risco. Foi um alívio chegar ao fim! Good old days…

A análise da prova

Chegar, ver e vencer. O adágio não é novo, mas encaixa que nem uma luva à prestação da equipa Citroen Total que exerceu com Sébastien Loeb e Daniel Sordo, mas sobretudo com o recém-nascido C4 WRC, um domínio avassalador na edição das bodas de diamante do Rali de Monte Carlo. Uma hegemonia tão evidente, quanto preocupante para a concorrência protagonizada pela Ford e Subaru que cedo perceberam que, pelo menos nos ralis de asfalto, só beneficiando do fator “sorte” poderão ter uma palavra a dizer no que à luta pela vitória diz respeito. Um ano de trabalho intenso fora do “ring” por parte da Citroen Sport foi, afinal, suficiente para oferecer muitas noites de insónia à equipa técnica da M-Sport, liderada por Christian Loriaux, que terá agora que estimular a imaginação e arregaçar as mangas para tentar equilibrar o jogo. Quanto à Subaru foi notório que o “casamento” com os pneus BF Goodrich pode ter a harmonia que nunca teve com os Pirelli, mas, tal como acontece com a Ford, no alcatrão, o Impreza de 2006 não tem argumentos suficientes para rivalizar com os C4 oficiais.

Loeb no “clube dos quatro”

Mas num rali onde a ausência de neve e gelo foram a grande surpresa e onde a escolha dos pneus deu também o seu contributo decisivo para o escalonamento da classificação, nem só o C4 foi a “estrela”. Na verdade, Sébastien Loeb arrecadou a sua 29ª vitória e, talvez mais importante, igualou o recorde de quatro triunfos na prova na posse de Sandro Munari, Walter Röhrl e Tommi Makinen. Mesmo com algumas escolhas erradas de pneus (borrachas demasiado duras no início da segunda etapa) e um pequeno toque na sexta especial, o Tricampeão Mundial provou que está totalmente recuperado da lesão, aproveitando para assinar o seu processo de candidatura a mais um título. Isto porque, se é verdade que Daniel Sordo apareceu psicologicamente bem mais forte que o ano passado, deixando inclusive a ideia de que pode colocar sob pressão o seu chefe de fila, o estatuto de segundo piloto que detém dentro da Citroen deverá servir sempre como um “escudo” protetor para Loeb nunca ter verdadeiramente o triunfo em causa.

Contudo, tanto Loeb como Sordo acabaram por gerir a prova a seu bel-prazer, desarmando, muito cedo, Marcus Gronholm que, quando sentiu que a caixa de velocidades do Focus não gozava de plena saúde, passou a jogar pelo seguro e deixou de tentar provar que a vitória conquistada em 2006 foi resultado de um simples golpe de sorte, assegurando o terceiro lugar.

Ao décimo de segundo!

Mas se para encontrar os três primeiros lugares do pódio não foi preciso esperar sequer até ao final do segundo dia, a luta pela quarta posição esteve sempre ao rubro, só terminando na derradeira Super Especial, disputada no circuito do Mónaco. Tratou-se, portanto, do ponto mais quente do rali onde Chris Atkinson mediu forças até ao último centímetro de asfalto com Mikko Hirvonen. Se à partida para o último confronto era o piloto da Ford que mais hipóteses parecia ter de se apoderar, definitivamente, do quarto lugar (tinha 0,8 segundos de vantagem), no último controlo foi já Atkinson que se sobrepôs, mesmo se por uns quase impercetíveis 0,2 segundos, após – e é bom não esquecer – 337,54 km disputados ao cronómetro. Nesta contenda também chegaram a estar envolvidos Toni Gardemeister e Petter Solberg. Mas dois erros graves – um toque numa ponte na quarta especial por parte do piloto do Mitsubishi e diversas opções erradas nas escolhas de pneus do lado do representante da Subaru – afastaram-nos da trajetória da quarta posição. Ainda assim, na parte final, Solberg conseguiu um lugar cativo na sexta posição, minimizando a humilhação de ser batido pelo seu colega de equipa Atkinson, que apresentava no currículo muito menos ralis de asfalto que o norueguês. Quanto a Gardemeister, a sétima posição acabou até por nem ser negativa, pois todos os pilotos que ficaram à sua frente tinham estatuto e condições que só as equipas oficiais podem oferecer.

Da mesma maneira, a prestação de Jan Kopecky, no único Skoda Fabia WRC presente, gozou também de alguma “simpatia”, ou não tivesse o piloto checo conseguido terminar na oitava posição, malgrado ter visto a sua vida infernizada por problemas de pneus, travões e falta de potência do motor.

Stohl e Stobart desiludem

No pólo oposto, o das desilusões, a lista acabou por ser preenchida com nomes como Manfred Stohl, Jari-Matti Latvala e Henning Solberg. Mas se para o austríaco, que reapareceu ao volante do competitivo Citroen Xsara WRC, os constantes problemas com o sistema de travagem atenuam um modesto décimo lugar, para os dois pilotos da Stobart não existiram grandes desculpas para o mau andamento evidenciado. De resto, na formação “satélite” da Ford, só Henning Solberg conseguiu terminar (foi 14º), oferecendo um ponto à sua equipa. Para Latvala, o saldo foi ainda pior, já que nem logrou terminar quando uma forte pancada danificou o “roll bar” do Focus WRC 06, pondo cobro a um rali onde nunca conseguiu, verdadeiramente, impressionar. A próxima prova é agora o Rali da Suécia, na estrada entre 9 e 11 de Fevereiro.

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