Os troços mais longos da história do Rali de Portugal

Por a 20 Maio 2023 12:44

É verdade que no passado do WRC, ‘endurance’ era a ‘regra’. Isso entrou em desuso, mas de vez em quando os organizadores inovam, de modo a tentarem que a sua prova ganhe emoção e espetáculo com isso. Foi o que fizeram este ano ao trazer um troço de quase 50 Km para o WRC, o que já não se via há algum tempo. Em Portugal, este ano, nem se chegou aos 38 km. Mas já houve bem maiores…

Contudo, a história do Rali de Portugal fez-se de muito espetáculo, emoção, mas também de enormes desafios colocados aos pilotos e às suas máquinas. Por isso, relembramos o Top 10 dos troços mais longos da história do Rali de Portugal. Como não podia deixar de ser, com Arganil à frente…

1. ARGANIL

DISTÂNCIA: (56,50 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1983, 1984, 1985 E 1986

MELHOR TEMPO: HANNU MIKKOLA/ARNE HERTZ (AUDI QUATTRO A2) – 37M58S

Depois de seis edições a utilizar a versão curta de Arganil, com apenas 42 km, em 1983 foi acrescentado o troço do Salgueiro até Folques. Assim nasceu o troço mais longo que alguma vez fez parte do itinerário do Rali de Portugal, PE que curiosamente já tinha feito parte do Rali de Aveiro de 1978.

Em 1983, Hannu Mikkola liderava a prova com 1m54s sobre Walter Rohrl e 3m17s sobre Michele Mouton, mas furou! Rohrl passa a ter uma vantagem de 2m17s e a liderar a prova, mas também também ele furou. Foi Michele Mouton a vencer o troço! Em 1984, luta Alen/Mikkola ao rubro, 43 segundos a favor do primeiro. Mikkola tem problemas de transmissão, perde 33 segundos, chega à segunda passagem com 11 segundos de vantagem. Ganha-lhe mais quatro segundos e vence o rali.

Em 1985, Rohrl chega a Arganil com 6m22s sobre o Peugeot de Timo Salonen. O Audi sofre com problemas de caixa de velocidades, e Rohrl perde de 3m43s para Salonen. O alemão penaliza na Candosa e fura na segunda passagem perdendo mais 2m47s para Salonen, que vence o rali.

2. ALMODÔVAR

DISTÂNCIA: (52,30 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 2013

MELHOR TEMPO: SEBASTIEN OGIER/JULIEN INGRASSIA (VOLKSWAGEN POLO R WRC) – 32M39,7S

O troço de Almodôvar foi até hoje a mais longa PowerStage do WRC. As equipas recearam problemas com os pneus, mas não seriam estes a dar dores de cabeça aos pilotos da Volkswagen. Em Silves 1, Ogier queixou-se de problemas no carro e Latvala teve problemas na transmissão. Mas Mikko Hirvonen não aproveitou e Ogier, mesmo com problemas de embraiagem, ainda ganhou doze segundos a Hirvonen. 

3. CABREIRA

DISTÂNCIA: (49,30 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1981

MELHOR TEMPO: HANNU MIKKOLA/ARNE HERTZ (AUDI QUATTRO) – 37M08S

Um troço tão longo tem por certo muitas ‘estórias’ para contar mas nenhuma será mais interessante que a da equipa da Datsun. Com uma assistência montada a meio do troço, os três carros da marca nipónica tiveram , ironicamente, problemas após essa mesma assistência. Tony Pond saiu de estrada e perdeu nove minutos, Santinho Mendes e Timo Salonen chegaram ao final do troço com problemas.

A equipa tinha no final do troço uma assistência reduzida, e perante a pressa em consertar o carro de Salonen, um dos mecânicos esqueceu-se de uma chave no motor do carro do finlandês. Essa mesma chave teve o condão de furar o radiador e após a mudança, Salonen desistiu com a junta da cabeça queimada. Santinho Mendes, que chegou ao final do troço com a embraiagem queimada, foi excluído por excesso de penalização quando era o melhor português, devido ao tempo que os mecânicos demoraram a reparar ambos os carros. Dario Cerrato foi uma das vitimas da versão longa da Cabreira e Henri Toivonen e Guy Frequelin também não se ficaram a rir, com um furo e uma saída de estrada respetivamente.

 

4. ARGANIL-ALDEIA DAS DEZ

DISTÂNCIA: (48,30 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1975 E 1976

MELHOR TEMPO: MARKKU ALEN/ILKKA KIVIMAKI (FIAT 124 ABARTH RALLY) – 35M29S

 

5. ALDEIA DAS DEZ ARGANIL

DISTÂNCIA: (48,30 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1975 E 1976

MELHOR TEMPO: OVE ANDERSSON/ARNE HERTZ (TOYOTA COROLLA LEVIN) – 35M52S

Os mesmos troços, mas feitos em sentidos opostos. Curiosamente, causou pouca mossa no pelotão da prova. Bjorn Waldegaard foi por certo o piloto que menos gostou de o percorrer. Em 1975 o sueco desistiu a caminho da Aldeia das Dez e no ano seguinte atrasou-se irremediavelmente na luta pelas posições cimeiras devido a um furo. Na versão Arganil-Aldeia das Dez de 1976, Carlos Torres conseguiu ultrapassar dez carros durante o troço tal era a camada de nevoeiro existente. Nesse ano nevou entre as duas passagens mas esta não chegou a acumular-se no piso. Nesse ano, os troços previstos para a Serra da Estrela (Gouveia e Manteigas) foram cancelados devido à neve.

 

6. FAJÃO-ARGANIL

DISTÂNCIA: (45,70 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1979

MELHOR TEMPO: HANNU MIKKOLA/ARNE HERTZ (FORD ESCORT RS1800) – 35M11S

A especial revelou-se decisiva para o escalonamento da classificação. Dois dos favoritos, ficaram no percurso que ligava a Catraia do Rolão a Folques. Bernard Darniche (Lancia Stratos HF) desistiu enquanto liderava. Outro dos favoritos (Gr. 2) Anders Kullang também ficava pelo caminho. Um dos protagonistas deste troço foi Jorge Ortigão: “O troço era particularmente do meu agrado, como a maioria das especiais daquela zona. A prova estava a correr muito bem e já na fase fi nal e quando chegávamos a Folques, sem eu perceber muito bem como, o carro caiu para dentro de uma curva para a esquerda e ficou virado de rodas para o ar! Como naquele sítio já havia muitos espetadores, estoicamente conseguiram ajudar-me e puseram novamente o carro na estrada! Os danos eram poucos, sendo o principal o vidro da frente partido. A Diabolique cedeu-nos um para-brisas de emergência e foi com ele que terminámos o rali, com uma muito boa recuperação que nos levou até ao nono lugar da classificação geral! O Joaquim Bessa ainda hoje refere este rali como um dos que mais prazer lhe deu, pela recuperação de “últimíssimos” quando saímos do buraco até ao nono lugar final!”

7. ARGANIL-PAMPILHOSA

DISTÂNCIA: (44,00 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1971

MELHOR TEMPO: JEAN PIERRE NICOLAS/JEAN TODT (ALPINE RENAULT A110 1600) – 51M21S

A primeira das grandes versões de Arganil realizou-se em 1970. Os concorrentes tinham 44 minutos para percorrer os 44 km do troço à média de 60 km/h no entanto como era prática na altura, os 44 km eram na realidade cinquenta e dois! Porém, a dureza do piso era tal que Alfredo César Torres decidiu levantar o controlo na Pampilhosa da Serra já que todos iriam ali penalizar fortemente como se pode verificar pelo melhor tempo realizado, que já estava sete minutos para além do controlo!

8. CHACIM

DISTÂNCIA: (42,59 KM)

ANO EM QUE FOI DISPUTADO: 2004

MELHOR TEMPO: PEDRO LEAL/LUÍS RAMALHO (SUBARU IMPREZA WRX) – 34M29,5S

O último troço disputado em terras transmontanas não foi fértil em acontecimentos relevantes no que diz respeito ao topo da classificação geral. A vantagem de Armindo Araújo era tal, que mesmo com a vitória no troço Pedro Leal pouco pode fazer para ameaçar a liderança do piloto de Santo Tirso. “Tínhamos um Subaru pouco evoluído na eletrónica, frustrante nas subidas, mas com um empenho destravado das descidas, acabámos por ganhar alguns segundos, mas o importante foi o termos tido o fantástico privilégio e prazer de atacar a fundo durante 42 km, que pareceram meia dúzia… o que é bom acaba depressa”, referiu-nos Pedro Leal.

9. ARGANIL

DISTÂNCIA: (41,63 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1977, 1978, 1979, 1980, 1981 E 1982

MELHOR TEMPO: MARKKU ALEN/ILKKA KIVIMAKI (FIAT 131 ABARTH) – 29M24S

Quando Walter Rohrl e Christian Geistdorfer estavam prestes a partir para a primeira passagem em Arganil em 1980, ainda não se sabia na altura mas umas das mais brilhantes páginas da história do WRC viria a ser escrita, consolidando o nome de Arganil no panorama do desporto automóvel mundial.

Rohrl e Alen, apresentaram-se no início do troço com uma diferença de 5m39s com vantagem para o alemão. Com um nevoeiro cerradíssimo, Rohrl decide que era altura de arrumar a questão e ganha 3m48s ao segundo mais rápido e 4m40 a Alen. O melhor português, Carlos Torres, fi cou a 9m51s do tempo de Rohrl. O nevoeiro era de tal maneira intenso que Jean Todt, navegador de Guy Frequelin, obrigou o piloto francês a parar e esperar por Bjorn Waldegaard para seguirem atrás das luzes do carro do sueco até ao final. O mesmo fizeram Pêquêpê que esperou por Américo Nunes para seguirem em cortejo até Folques. Na segunda passagem e já com 11m04s de vantagem, Rohrl não se dá por contente e ‘ofereceu’ mais 1m55s a Markku Alen para arrumar definitivamente a questão. Em 1981 problemas de transmissão levam Henri Toivonen a percorrer o troço em marcha lenta e a perder 6m44s para o líder Markku Alen. Em 1982, Santinho Mendes ‘conseguiu’ furar quatro vezes e teve de recorrer a espetadores e aos pneus sobressalentes dos seus Datsun para conseguir chegar ao final. Mesmo assim, chegou a Folques com mais um furo, elevando-os para cinco em 42 km de troço!

 

10. NOSSA SENHORA DA GRAÇA

DISTÂNCIA: (40,10 KM)

ANOS EM QUE FOI DISPUTADO: 1978, 1979, 1980 E 1981

MELHOR TEMPO: HANNU MIKKOLA/ARNE HERTZ (AUDI QUATTRO) – 30M01S

Ao longo da história o troço da Senhora da Graça teve várias versões e diferentes quilometragens, no entanto a versão mais longa não foi pródiga em decisões importantes ou acontecimentos relevantes. Com uma dureza assinalável, esta versão reclamou algum protagonismo no filme da edição de 1981. Precedido do troço da Cabreira, algumas das mossas só viriam a ser ‘pagas’ no sopé do Monte Farinha e Jean Luc Terier foi um dos desistentes. Um tubo condutor de gasolina soltou-se o que fez com que o francês ficasse sem gasolina. Per Eklund destruiu o Toyota Celica numa saída de estrada e abandonou a prova de ambulância a caminho do hospital no Porto.

https://youtu.be/TEnMpmvhJFI
https://youtu.be/NHdlw_DwfTc
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