Entrevista com Cyril Abiteboul: “Acredito que vamos chegar mais fortes a Monte Carlo”

Por a 19 Dezembro 2025 14:45

O presidente e diretor de equipa da Hyundai Motorsport, Cyril Abiteboul, fez um balanço de uma época particularmente desafiante do WRC 2025. Embora a Hyundai World Rally Team tenha somado duas vitórias (Grécia/Arábia Saudita) e 15 pódios, o ano de defesa do título ficou aquém das expectativas.

A formação concentra‑se agora num plano técnico e organizacional reforçado para 2026, esperando começar forte já no Rali de Monte Carlo, em janeiro.

Como resumiria a época 2025 do WRC?

Cyril Abiteboul: “Foi um ano difícil e exigente. Entrámos na época depois de um 2024 muito bem‑sucedido e sempre soubemos que defender os títulos seria complicado, sobretudo com a reação da Toyota. Eles apareceram com cinco carros e um pacote muito sólido. Do nosso lado, comprometemo‑nos ainda em 2023 com um carro radicalmente novo para 2025, em comparação com o do ano passado. Essa decisão trouxe valor a longo prazo, mas também significou uma curva de aprendizagem acentuada esta época. Por isso, sim, ‘desafiante’ é a palavra certa — mas foi um desafio que aceitámos quando escolhemos esse caminho.”

Quais são os aspetos positivos que retira desta época?

“Há aspetos positivos, mais óbvios e menos óbvios. As duas vitórias foram plenamente merecidas; em ambos os ralis controlámos o ritmo. A atitude da equipa foi forte ao longo de todo o ano e nunca baixámos os braços apesar das dificuldades. Evoluímos também na forma como operamos e reagimos. O andamento do carro foi muitas vezes muito bom, mesmo que os resultados finais nem sempre o mostrassem. E o Adrien foi um ponto muito positivo. Trazer um piloto jovem é sempre uma incógnita, mas ele mostrou maturidade, profissionalismo e verdadeiro potencial. Ajudou‑nos também a compreender melhor o carro, algo que será importante à medida que entrarmos em 2026.”

Quão satisfeito está com o rumo do desenvolvimento do Hyundai i20 N Rally1 esta época?

“O caminho de desenvolvimento do Hyundai i20 N Rally1 foi um projeto de grande dimensão e, em retrospetiva, perguntamo‑nos sempre se o calendário foi o mais acertado. Quando cheguei, a equipa estava a ser dominada pela Toyota, por isso decidimos ser arrojados.

O plano inicial passava por um carro totalmente novo; por várias razões, acabámos por entregar uma grande evolução. O sucesso do ano passado foi quase uma surpresa, o que mostrou que, nos ralis, até uma pequena evolução pode trazer muito. Mas o nosso carro Evo já estava bastante avançado e mantivemos o compromisso.

O carro de 2025 trouxe ganhos de performance em algumas áreas, mas também incerteza, e a época transformou‑se numa curva de aprendizagem — perceber o seu comportamento, limites e como extrair consistência. Foi exigente, mas agora a vantagem é clara: temos uma visão precisa das fraquezas e um plano focado para o próximo ano.”

Este ano a Hyundai Motorsport geriu dois programas, no FIA WRC e em resistência. Que impacto teve isso e como continuaram a investir na equipa de WRC?

“Gerir dois programas é possível com a estrutura e as pessoas certas. O que tornou tudo mais difícil esta época foi a incerteza em torno dos nossos planos de longo prazo nos ralis e da direção da própria modalidade.

Assim que isso ficou resolvido, avançámos rapidamente. Implementámos uma nova estrutura de liderança, experiente, com o Andrew Wheatley e o FX Demaison totalmente focados no sucesso do programa de WRC.

A equipa continua comprometida e, com mais visibilidade sobre os regulamentos e um novo promotor, estamos a construir uma organização capaz de suportar objetivos de longo prazo.”

Para além do que já foi referido, quais foram os principais desafios deste ano, sobretudo no que toca a pilotos e duplas?

“Todos os pilotos tiveram desafios. O Adrien adaptou‑se bem e mostrou grande velocidade, mas, como qualquer outro, também passou por momentos difíceis — alguns sob o seu controlo, outros não. O que importa é a forma como aprendeu a lidar com isso; conseguir manter a força mental e gerir a situação é o que separa quem pode vencer. É provavelmente uma das grandes forças de alguém como o Sébastien Ogier. Ao longo da época, o Adrien mostrou uma curva de aprendizagem muito acentuada na forma como domina as emoções e sai por cima de circunstâncias adversas.

Para o Thierry foi diferente. O ano passado exigiu muito empenho e dedicação da parte dele. As épocas são muito longas e muita coisa pode mudar em pouco tempo. Como vimos com o Elfyn Evans este ano, é possível fazer uma grande época, liderar durante grande parte dela, mas com a ordem de partida e a ‘limpeza’ da estrada, qualquer vantagem construída até ao verão pode desaparecer como neve ao sol.

O Thierry teve de lutar até ao fim na época passada; a isso juntou‑se o facto de não ter havido pausa. Este ano, o conjunto de novos pneus e de um novo carro fez com que a carga sobre o Thierry fosse pesada desde o início. Ainda assim, manteve o profissionalismo, reconstruiu a energia ao longo do ano e não perdeu a confiança na equipa. Desafiou‑nos de forma construtiva, o que é importante. E, ao vencer o último rali da época, temos agora a dinâmica perfeita, ao contrário do ano passado, para um 2026 forte.

Com o Ott, houve muita frustração no ano passado. Penso que encarou esta época de forma muito diferente e, durante um bom período, tudo estava a correr bem, até, provavelmente, a dois momentos decisivos. O primeiro foi o teste na Finlândia, após a vitória na Grécia, em que o carro não estava onde esperávamos.

Foi um momento difícil para ele, mas também para toda a equipa, que já tinha dado tudo até ali. O outro foi o problema de motor que tivemos no Chile. Até então, o campeonato estava perfeitamente ao alcance.

Há muita coisa em curso que tornará a equipa mais forte e o carro melhor em 2026, e lamento que ele não venha a ver os resultados disso. No entanto, do ponto de vista pessoal, compreendo a decisão de passar mais tempo com a família.”

Olhando para 2026: vão chegar ao Rali de Monte Carlo com um pacote mais competitivo?

“Acredito que vamos chegar mais fortes a Monte Carlo. Em comparação com o ano passado, estaremos melhor preparados. A organização está mais estável, a estrutura de liderança está montada e ter a nossa base em Fechenheim totalmente operacional elimina uma grande distração. Podemos concentrar‑nos em extrair performance dos carros e das duplas. Claro que tudo é relativo face ao que os nossos adversários fazem. A Toyota e os seus pilotos serão fortes, especialmente em Monte Carlo. O que me dá confiança é termos um conhecimento e uma compreensão muito melhores do pacote, um plano focado e menos variáveis do que há um ano. Este ano lembrou‑nos que a performance absoluta não é necessariamente o fator determinante; é mais importante ter um produto controlado e bem compreendido, e uma organização focada. Se continuarmos a trabalhar desta forma, estaremos em melhor posição no arranque da próxima época.”

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