Crónica Rui Soares (Engº WRC) México caliente!

Por a 18 Março 2020 12:26

Por Rui Soares (Engº da Toyota Gazoo Racing WRT)

Rui Soares

Sob uma enorme nuvem de inquietação devido à situação emergente por todo o Mundo, o Rali do México foi para a estrada (embora encurtado de forma abrupta) e marcou a entrada de cena dos pisos de terra que marcam a maioria dos ralis do campeonato.

Este rali é caracterizado por duas características específicas – o calor e a altitude – e é principalmente nestas áreas que as equipas são obrigadas a trabalhar para esta prova.

As temperaturas de um carro de rali já são de si bastante elevadas fruto dos esforços a que estão submetidas. Se adicionarmos a isto uma temperatura ambiente elevada, ficamos sem grande margem para arrefecer os carros.

A altitude é o outro fator importante. A matemática é simples, maior altitude, menos ‘ar’ disponível. Com menos ‘ar’ disponível, menor é a potência dos carros. Uma consequência direta desta fórmula é que os carros são mais lentos.

Ora, se juntarmos a alta temperatura com a falta de ‘ar’ e os troços com zonas bastante sinuosas e de terra muito solta (de velocidades muito baixas), características das especiais do México, temos um problema extremamente difícil de gerir: o aquecimento. Os principais componentes que sofrem com isto são os motores, a eletrónica e, o tema desta crónica, a gasolina.

Um dos troços mais famosos do rali é o “El Chocolate”. Para as equipas, é uma especial particularmente difícil, notoriamente “a escalada” para chegar ao km 18, um dos três picos com uma subida muito técnica. Aqui, todos os componentes suplicam por ‘ar’ para arrefecer, ‘ar’ esse que não existe e, dentro dos depósitos de combustível dos carros dá-se um fenómeno importante que leva muita atenção por parte da equipa, a vaporização.

Apenas existem três pontos que tiram o sono a um Engenheiro de carro – o peso do carro, o número de pneus utilizado e o cálculo do consumo de gasolina. Lembro-me em 2013, o meu primeiro Rali do México, que as contas de gasolina nunca encaixavam.

A inexperiência e o medo de ter um carro parado sob a minha alçada fizeram com que ignorasse o peso ideal do carro e aumentasse a quantidade de gasolina no carro de forma absurda, mas, ainda assim, o carro chegava às assistências com níveis alarmantes.

O que estava a acontecer era que o combustível evaporava pelo suspiro do depósito e, sem nenhum sistema de controlo, desaparecia.

Atualmente existem várias formas de controlar o aumento de pressão nos depósitos e a respetiva evaporação, mas não deixa de ser um ponto crítico de forma a conseguir ter um rali isento de problemas.

Num passado bem recente vimos alguns pilotos a trabalhar freneticamente para tentar evitar um carro “aos soluços” por causa do ar que chegava aos injetores, fruto deste fenómeno.

Na edição deste ano, a principal vítima do aquecimento extremo que se faz sentir na prova foi mesmo o carro do Esapekka Lappi que, infelizmente, viu o seu carro ser consumido em chamas.

Até à próxima

Rui Soares

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