Como a inércia da FIA permitiu que o WRC chegasse onde está agora…

Por a 11 Janeiro 2024 18:35

Faz agora quatro anos que entrevistámos Michal Hrabánek, o grande timoneiro da Skoda Motorsport. Entre vários outros temas, falou-se da chegada da tecnologia híbrida aos ralis e a primeira preocupação do homem da Skoda tocou em dois pontos que são hoje em dia fundamentais na modalidade: os custos e a ausência quase total de pilotos privados ao mais alto nível: “é bom e lógico que cheguem novas tecnologias a esta modalidade. Aquilo que me preocupa é garantir que essa tecnologia, seja ela híbrida ou outra qualquer, possa ser usada também por pilotos privados, ou seja, pelos clientes. Para isso, é importante avaliar se a tecnologia é conveniente e se é comportável do ponto de vista de custos”.

A preocupação de Michal Hrabánek era que os custos afastassem os privados. O que a FIA está atentar fazer agora é trabalhar para baixar custos e está a criar novas regras para ‘recuperar’ esses mesmos privados.

Ou seja, na altura, a ideia da FIA e do Promotor do WRC em trazer a tecnologia híbrida para o WRC fez sentido, pois permitiu às marcas poderem fazer uso disso no seu marketing, mas houve um aspeto que a FIA falhou por completo e que está a afetar tudo o resto: os custos.

Ao deixar derrapar os custos dos Rally1, totalmente ao contrário do que dizia na altura em que os carros estavam a ser desenvolvidos, criou condições para o problema que se está a viver agora.

Em abril de 2020, a FIA e os construtores do WRC trabalhavam no futuro do Mundial de Ralis, havia duas correntes de opinião, mas chegou-se a uma plataforma de entendimento. Na altura, ficamos a saber que a M-Sport e a Hyundai estavam mais inclinadas para a utilização de um motor baseado nos carros de Rally2, como base para os próximos World Rally Cars (que acabaram por ser os Rally1), enquanto a Toyota se queria manter no atual Global Race Engine, dos WRC 2017-2021. Para que se perceba o que discutia, o motor de um Rally1/WRC custa, grosso modo, 150.000€ e o do Rally2/R5, 30.000€.

A decisão dos novos motores híbridos dos WRC de 2022, que ‘ficaram’ Rally1 recaiu nos atuais motores 1.6 litros turbo de 380 cv mas com o ‘acrescento’ de sistemas híbridos.

O problema foi o que se passou a seguir..

Yves Matton dizia: “Todas as grandes competições têm limites, é claro que um engenheiro aeroespacial trabalha sem limites, eu consigo entender isso, mas em termos técnicos estes carros são muito mais evoluídos que os WRC de 2004, 2005 e 2006, e se as pessoas que estão agora a falar em dar um passo atrás, eu se calhar aconselho-os a falarem com os seus Chefes de Equipa para estes lhes explicarem o que são constrangimentos de orçamento. Temos que manter os custos baixos de modo a que permitam um bom retorno do investimento para as marcas. E não me parece que hoje em dia essa relação custo/retorno permita que possamos ir mais longe quanto à tecnologia”, disse Matton, que ainda assim admitia que o objetivo do custo final do carro pudesse derrapar um pouco, Matton achava que parece ser possível chegar a um custo que rondava o meio milhão de euros: “De acordo com os cálculos que fizemos, e a informação que recebemos dos construtores, ainda conseguiremos chegar a um objetivo de 500.000€ por carro”, disse Matton. Caso o conseguissem isso equivalia a uma redução de 40% face aos WRC-2017-2021.

Sabemos bem o que aconteceu.

Apesar de toda esta conversa toda, “a FIA está muito empenhada em reduzir custos nos ralis”, Matton e ‘sus muchachos’ conseguir fazer exatamente o inverso: gastar ainda bem mais.

A FIA chegou a comparar as peças de um World Rally Car da altura com um Rally2 para depois perceber o que podiam partilhar em conjunto. Sabiam que isso iria enfraquecer o World Rally Car, mas também diminuiria muito a despesa. Nada disso sucedeu.

Mais uma vez, vejam onde estamos agora…

Tudo o que garantiam ter que fazer na altura para conter os custos, conseguiram permitir que tudo ficasse ainda pior. Agora, andam a correr atrás do prejuízo, estão aflitos e já se pondera usar os Rally2 como solução.

Não sabemos qual vai ser a decisão, mas sabemos o que disseram na altura estar a fazer, acabando por fazer precisamente o contrário. Convém referir que entretanto houve eleições e na FIA estão lá outras pessoas…

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2 Comentários
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Abarth
Abarth
4 meses atrás

“…estão aflitos e já se pondera usar os Rally2 como solução.”
Até que enfim que se ouve falar de uma solução inteligente, se bem que a melhor solução serão uns Rally2 um pouco mais apimentados.

jacinto-18
jacinto-18
Reply to  Abarth
4 meses atrás

Deixem as marcas trabalhar sobre um projeto Raly2 e em pouco eles ficam bem apimentados. Lembram-se da transição Grupo B/A. Foi aquilo que muitos diziam ser demasiado. Em quatro anos os grupo A eram tão rápidos como os grupo B. Não tinham a mesma espectacularidade, mas eram eficientes.

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